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🎩02. - Não fui fiel.🍂

Dedicatória.

Dedico este livro à você, leitor, que já se deixou apaixonar por um personagem fictício, com existência alimentada pela sua imaginação alinhada à criatividade daquele que o criou. O autor.

🎩🍂

Não fui fiel.

Durante as trezentas e noventa e cinco páginas que compunham o romance no qual fui inventado e descrito com demasiada destreza e maestria através das palavras de meu excelentíssimo autor, proferi juras de amor à Julieta, declarações essas que tempos depois já não mais eram verdadeiras. Arrisco-me até mesmo dizer que essas jamais vieram a ter singela sinceridade, pois Julieta, destinada à mim pelas páginas de um livro velho e judiado pelo passar das décadas, em tempo algum despertara em mim em sua mais pura essência, aquilo que eu a proferia em páginas com sentimentos vazios de um personagem que, até então, nunca veio a conhecer o verdadeiro sentido de suas falas.

Sendo assim, não fui arduamente devoto. Nem ao meu escritor e suas palavras dignas se um romancista, e tão pouco à Julieta, que se apaixonou por mim todas as vezes em que alguém lera as páginas velhas que nos deram vida há anos atrás. Mas quem poderia culpa-la? Foi assim que o literato decidiu que seria o seu destino, fadada à um amor que deveria, entretanto não poderia ser efetivamente correspondido.

Eu perguntei-me em diversas ocasiões como tal façanha poderia ser possível. Desejei que pudesse trazer a bela leitora que chamara minha atenção para o meu mundo, e mostrar-lhe as maravilhas de um cosmo criado pela imaginação de uma mente longínqua, e dado pelo número de vendas, destinada ao fracasso. Todavia, esse parece-me o verdadeiro significado de um relacionamento impossível, duas dimensões distintas que jamais poderiam vir a se encontrar, a literária e a realidade. Indaguei-me se o que me ocorria não era simplesmente uma brincadeira muito bem elaborada de meu cronista, uma maneira de reacender a glória de uma obra que por anos chamou a atenção somente de poeira e traças. Contudo, cheguei a conclusão que as circunstâncias jamais poderiam vir a ser feitos de meu autor. Ele já havia escrito minha história, então porque eu não conseguia segui-la? O que fez -me cogitar, talvez haja um escritor tão poderoso quanto meu literato. Enquanto um me deu a vida, o outro muda o destino que aquele que me criou designou para mim.

Me senti sufocado após um tempo, mas não pela poeira que outrora dominara as páginas onde eu protagonizava a história, entretanto pelo tamanho da minha infidelidade para com o meu cronista e aquela que me era prometida em cada frase e trecho como meu verdadeiro amor. Porém que outra alternativa me restaria além do contentamento? Sabia bem que aquela que andava a sondar meus pensamentos não poderia vir a ser como eu, ou até mesmo ser capaz de dispor-me de um romance posteriormente tão sonhado por mim ao seu lado. Ela era real, e eu nada além de um personagem de uma história que mal pude acreditar que um dia ela fosse terminar de ler.

Ah se soubesse que todas as minhas juras agora são pronunciadas com o pensamento em ti...

Porém, antes da minha deslealdade, que martirizou-me durante toda as leituras e releituras da jovem moça que me chamara a atenção, eu nada mais era do que um personagem consumido pela angústia e com as expectativas suprimidas em um canto qualquer do peito, a espera de que a desesperança consumisse-me por completo. Por anos, tive certeza que meu namoro com Julieta jamais voltaria a ser lido novamente, que não tornaríamos a vivenciar as desavenças e as tramas que por ventura, as vezes acabavam por nos separar, mas eu estava errado. Estava enganado, pois em algum momento ela decidiu nos procurar, e acabou por encontrar-nos.

Já havia se passado cerca de uma década desde que um leitor pegara em nosso exemplar pela última vez. Lembro-me vagamente, porém com um pouco de clareza, da sensação de alegria que vagou pelas mentes cansadas de todos os personagens de William, iríamos finalmente sair das prateleiras. Mas nossa felicidade logo deu espaço ao sentimento de desilusão, quando mais uma vez o leitor colocara-nos novamente jogados ao esquecimento; nas frias prateleiras de uma estante umedecida qualquer, a qual não era nem ao menos o lugar de onde ele havia nos retirado, deixando-nos perdidos em meio à tantos títulos literários. Não ficamos surpresos ao notar que nem ele e tão pouco os funcionários do recinto, ousaram colocar nosso magnífico exemplar em seu devido lugar. Mais tarde, pude por fim entender que não haviam em tempo algum dado a devida atenção ao sumiço repentino de um livro velho e indesejado. Não tínhamos importância. Julguei que o problema talvez não fosse o estado em que o exemplar se encontrava, mas sim o fato de que a história talvez não o tivesse atraído, contudo não tardei a concluir que não iria demorar até que sucumbíssemos ao nosso fim aparente.

As frases logo perderiam seu significado, e não passariam de palavras soltas ao acaso, servindo de alimento para as traças que fazem morada na grande biblioteca. Além disso, quando a escrita já não tivesse mais um sentido ou até mesmo não existisse mais por ter virado alimento para insetos, tornar-nos-íamos moradia para os pequenos flocos de sujeira, os quais as faxineiras já não se importavam em limpar.

Haviam desistido de nosso exemplar. E não os julgo pela desistência, levando em conta que eu mesmo já havia desistido mais de uma vez. Contudo, não poderia deixar de nutrir um resquício de esperança todas as vezes que alguém se aproximava do nosso setor. Ansiava veementemente pelo dia em que poderia sentir-me novamente preenchido pelo prazer de se estar sendo lido e ter sua história amada por alguém, sensação essa que há muito já havia se tornado desconhecida para o meu personagem.

Já não existiriam mais apreciadores de uma boa história de amor?

Contudo, foi em uma manhã de segunda feira, às 9:35 para ser mais preciso, que seus dedos, finos e delicados, agarraram com afinco a capa dura e envelhecida de nossa obra. No instante exato em que sua pele entrou em contato com o objeto, pude contemplar o olhar distante de Julieta ganhar um brilho especial e único, tão lindo que recordei-me imediatamente da primeira vez que a vi se apaixonar por mim. Naquele dia, em que juramos amor eterno um ao outro, ela mostrou-me o mesmo brilho e expressão entusiasmada. Olhar esse que se sustentou durante todas as vezes em que ela entregou seu coração para mim. Naquela manhã, Julie, como a costumava chamar carinhosamente, me acompanhava em um desjejum saudosista, em um restaurante na quinta avenida nos meados das páginas duzentos e duzentos e um; lembrávamos com felicidade dos tempos em que nossa história ainda estava sendo escrita, enquanto aguardávamos inquietos pelo futuro incerto que nos esperava no fim daquela longa jornada. Portanto, seja pela saudade traga por uma memória póstuma, ou pelo medo de que nossa novela não voltasse para as mãos de um leitor jamais, Julie nutriu mesmo que sem querer, a esperança de que seria lida mais uma vez.

Sentimos sua mão, em um misto de agilidade e delicadeza, limpar com a ajuda de um sopro fino e suave, a capa escurecida e empoeirada da obra, enquanto passava levemente o polegar pelas letras douradas que exibiam o dela, que por ventura, era o mesmo que fora destinado à minha persona. William.

Apesar da empolgação notória, olhei para todos de maneira tranquilizadora e desesperançosa. Já havíamos sido alvo de tantas falsas expectativas, que busquei evitar mais uma decepção desanimadora para todos os presentes. Portanto, com pesar, sobretudo triste por ver os brilhos aos olhos de Julieta se dissiparem tão repentinamente quanto quando haviam aparecido, orientei com soberania e delicadeza que todos os personagens voltassem a seus afazeres costumeiros e esperassem que aquela que havia pego nossa história, a colocasse novamente no lugar habitual, e nos deixasse fadados ao esquecimento por mais algumas décadas, até que deixássemos de existir. Todavia, nenhum gesto de devolução fora identificado da parte de nossa compradora em potencial, e por mais que eu me forçasse a acreditar que ela retornaria a nos pôr na prateleira, ela não o fez.

Encarei um tanto assustado a mulher à minha frente, em um misto de alegria e excitação, afinal, e se na verdade ela apenas estivesse indo jogar-nos fora? Ou queimar para que já não restassem resquícios da existência de um livro e personagens que já não mais vivenciam seus momentos de glória? Porém, apesar da preocupação crescente, procurei afastar tais pensamentos e suavizei minha expressão para que pudesse reparar enfim em Julieta, que havia parado de beber o café que pediu momentos antes e agora exibia em seu pequeno rosto um sorriso magnífico e sincero em deleite pela reação inesperada de uma leitora desconhecida por nós até então. Julie estava feliz, e por isso, permiti-me compartilhar de sua alegria.


- Oh meu Deus, nós vamos ser lidos, William! - Exclamou enquanto levantava-se as pressas e agarrava-me os ombros.

Nos entreolhamos, e após um beijo apaixonado repleto de sinceridade e alegria devido às boas novas, saímos apressadamente do ambiente, sem ao menos nos darmos ao luxo de pagar a nossa conta, correndo pelas páginas para que pudéssemos enfim chegar nos respectivos capítulos os quais deveríamos estar no momento em que a nova leitora iniciasse a leitura.

Pressupondo que a nossa salvadora começaria sua aventura pelas declarações iniciais, despedi-me de minha antiga amada por volta da página vinte e oito, situada no segundo capítulo, onde ela deixou-me envolto de ternura entre as linhas de suas descrições apaixonadas acerca de minha aparência e personalidade, não tardando a seguir em frente para que pudesse por fim alcançar seu destino final, as primeiras páginas do livro, onde começaria a protagonizar a nossa história.

Curioso para saber quem havia nos resgatado da escuridão de estantes úmidas e do esquecimento literário eminente, atentei-me quando uma voz doce e delicada informou à bibliotecária que levaria para casa o meu exemplar. O único exemplar. Surpreendi-me ainda mais quando com um sorriso em sua face, julgo eu pelo modo como pronunciara sua fala, informou que há tempos buscava por esse livro, o meu livro, e que em nenhum lugar conseguira o achar. Por alguns momentos, pensei na breve possibilidade de correr até o capítulo inicial, e perguntar para Julieta se ela escutara o mesmo que eu, ou se a fala não havia passado de uma vaga ilusão de minha mente cansada. Todavia, permiti-me acreditar naquilo que havia ouvido.

A fim de dissipar a ansiedade, concentrei-me nas palavras de minha amada, descrevendo-me com brandura em palavras carregadas de paixão. Julie analisou-me melhor do que eu mesmo poderia o fazer algum dia. Cada descrição era tão minuciosa que quase me fez crer que ela pudesse me conhecer até mesmo melhor do que eu mesmo. Seus dizeres contavam com detalhes que nunca atentei-me até ler seus delicados pensamentos, de forma que não pude deixar de pensar que a pessoa da qual ela falava de forma tão adorada viesse a ser outro que não eu.

Ouvi então a melodiosa voz soar novamente, confirmando sua curiosa intensão de levar-nos consigo para seu lar. Então não me deixei hesitar, e fiquei feliz, seria lido, amado, adorado mais uma vez, e talvez outras dezenas de vezes quando nossa tão inesperada compradora se dispusesse a compartilhar a história com outros leitores tão vorazes quanto ela.

Todavia, seja por obra do acaso, ou daquele autor que insiste em desfazer o destino designado à mim por aquele que me criou, nossa perspicaz e adorável dama decidiu, de modo não convencional, abrir nosso livro em uma página qualquer, creio eu, a fim de verificar se estava levando aquilo que há muito tempo procurava. Foi quando a vi pela primeira vez, quando ela leu-me em voz alta de maneira clara e objetiva, com os lábios carregados por um sorriso fraco porém verdadeiro. Página duzentos e trinta, não me recordo o capítulo exato, pois enquanto a mulher lia com afinco a narração, eu apenas deixei que minha visão se perdesse em sua beleza. A ouvi descrever o cenário onde eu me encontrava, um celeiro sobre a luz do luar ao lado de meu cavalo. Ademais, deixei que minha atenção se voltasse para sua leitura acerca de meus pensamentos, que segundo meu autor, estavam em Julieta e na possibilidade de ela estar a observar o mesmo céu estrelado que eu, abaixo de uma infinidade de estrelas brilhantes e pensando em como nosso amor poderia ser capaz de iluminar a escuridão assim como os astros iluminam a noite. Todavia, meu caro, contradizendo o texto, não era em Julieta que eu pensava naquele momento.

Senti meu corpo e minha mente sucumbirem ao prazer de ser lido por uma dama tão encantadora e de voz tão magnífica. Observei ela apreciar de forma cautelosa cada trecho daquela página em específico, muito embora sua leitura ora ou outra fosse interrompida para que pudesse passar sua mão pelas páginas amareladas e sorrir maravilhada com o toque.

Estupefato, a analisei minuciosamente. Diferentemente de Julieta, a moça apresentava um rosto pouco menos afinado, olhos azuis como o oceano e lábios vermelhos como sangue. Pude reparar que parte de seu cabelo estava solto em um penteado onde a outra metade se encontrava presa. E seu sorriso, esse era completamente estonteante, e ela o fazia com destreza e leveza, imaginando, possivelmente, a cena descrita pelo cronista.

Não demorei a sentir a sensação de como era ser lido e amado novamente.

- Vais levar, querida? Este exemplar já está a anos guardado. - Ouço uma voz e a atenção da mulher é desviada do capítulo, fazendo com que aos poucos, fosse fechando o livro.

Será que iria nos por novamente junto aos demais esquecidos?

- Há uma semana procurei por ele, mas não o encontrei. És sortuda por ter encontrado, querida. - Continuou.

- Ele não estava na estante certa. Demorou um pouco para o encontrar. - Ouvi a moça de cabelos castanhos falar. - Levarei. - disse por fim.

E parado na página em que ela havia aberto, observei novamente as estrelas, e ao longe, correndo feliz ao longo do livro para que pudesse me encontrar e enfim comemorar, pude ver Julieta correndo sorrindo em minha direção.

Contudo, devido a uma ilusão momentânea, por alguns segundos o rosto de Julie deu lugar para as características daquela que havia lido-me minutos antes. Durante poucos segundos, não era Julie chegando perto para que pudesse festejar em meus braços. Era ela.

Balancei a cabeça a fim de espantar os pensamentos inoportunos os quais, como um personagem apaixonado, não poderia vir a ter. Então não tardei a abrir meus braços e caminhar apressadamente em direção à Julieta, até que pudesse a alcançar e beijá-la sobre a luz do luar.

Mas foi naquela simples ilusão, que minha traição começou. E é sobre ela que vos venho falar.

Até o próximo. Xx

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