Parte VIII
POV Sebastian - Nunca soube o que precisava
Assim que cheguei na estrebaria, caminhei até o compartimento que a égua estava e entrei, me sentando do lado dela.
-Oi Di. – A cumprimentei se nem bem saber como começar a falar com ela. -Isso está sendo duro, Di. Não sei mais com que hei-de falar... - Desabafei e tentei encontrar no mais fundo de mim palavras para descrever o que sentia.
E então elas fluíram e eu comecei falando de Evelyn, do quanto ela mexia comigo, do quanto eu estava confuso em relação aos meus sentimentos, quanto à incerteza de que ainda amava minha mulher.
Foi de Cassie que eu mais falei, do como eu estava confuso com as novas atitudes dela, de como eu ficava cada vez mais desconfiado de sua índole. Falei da Epilégetai e de como ele estava perdendo o efeito, se isso realmente era possível.
E de novo voltei a falar de Evelyn.
- Porque eu estou tão confuso? Porque eu não paro de pensar nela e em seus lindos olhos? Porque eu me sinto tão hipnotizado quando ela está por perto? E porque eu fico com raiva da minha própria mulher cada vez que eu descubro mais e mais coisas sobre o seu passado? – Bravejei comigo mesmo, repuxando meus curtos fios de cabelo. -Estou confuso e minha única solução para tentar desvendar um pouco de todo esse mistério que me ronda é voltar para Ikaria o quanto antes. – Desabafei sentindo uma pontada triste por ter de me afastar.
-Não!
Minha linha de pensamentos foi interrompida com o irromper daquele monossílabo e com o aparecimento de Evelyn, que estivera o tempo todo atrás da égua, escondida, me escutando falar de coisas que eu mesmo tinha medo de admitir. Coisas sobre ela...
-Você não pode ir embora! – Ela falou com uma nota de desespero na voz.
-Evelyn...você estava aí? – Ok, não foi a coisa mais inteligente a se dizer, mas foi a única coisa que consegui em meio a todo o meu estado de choque.
-Sebastian, você não pode ir embora. Eu preciso de você aqui...quer dizer...eu posso não me dar muito bem com minha irmã, mas não quero que ela parta de novo. – Ela se corrigia, atrapalhada.
-Nem estava pensando em levar Cassie comigo...
-Você a vai deixar? – Ela me interrompeu de novo.
-Não! Só preciso...eu voltarei rápido. – Me vi prometendo.
-Sério? – Ela perguntou com um estranho brilho nos olhos e eu apenas assenti.
Então Evelyn baixou o olhar e de seguida me estendeu a mão sobre a égua, para que eu sentasse do seu lado. Meio relutante eu o fiz, me sentando na cama improvisada que ela tinha construído ali, sobre o feno.
-Você ia dormir aqui? – Questionei e ela apenas deu de ombros.
O silêncio nos cobriu por alguns minutos e nesse mesmo tempo ficamos olhando para as estrelas, que se via na pequena janela que havia sobre nossas cabeças.
-Como vocês se conheceram? – Eve perguntou, rompendo o silêncio.
-Er... - Será que eu devia contar pra ela que eu a salvei de se afogar? – Na praia. – Não menti de todo, apenas omiti a parte mais relevante da história.
-Foi amor à primeira vista? – Perguntou.
-Foi. – Sorri me lembrando e percebi, pelo canto do olho, seu rosto se fechar em tristeza.
-Então começaram logo namorando...
-Não. Sua irmã fugiu de mim muito tempo, até perceber que não tinha mais saída a não ser ficar comigo. – Contei e ela gargalhou.
-Você é insistente, já vi? Acho que a conquistou pelo cansaço. – Ela fez piada e eu me senti tão bem por ver seu sorriso.
-Sou persistente quando quero muito uma coisa. – A corrigi.
-Você quis muito minha irmã? – Franziu o cenho.
-Quis. – Suspirei, voltando a olhar o céu.
-Não quer mais? – Me pegou desprevenido, me fazendo olhá-la de olhos arregalados. – Me desculpe, eu ouvi a conversa...Tem outra mulher? – Ela questionou num sussurro.
Fiquei sem saber o que responder. Pelos vistos, apesar de ter escutado tudo o que eu disse, ela não se percebera que a "outra" mulher era ela.
-É complicado, Eve...eu não sei mais o que estou sentindo.
-O que você sente por minha irmã? – Ela perguntou.
-Eu a amo. – Falei mas as certezas não faziam parte dessa afirmação.
-E o que você sente por essa...outra mulher? – Ela perguntou a custo, engolindo em seco a meio da frase, como se lhe custasse perguntar aquilo.
-Ela mexe comigo de uma forma incontrolável. – Me vi dizendo, sem conseguir controlar.
-Então você gosta dela. – Eve constatou, sem qualquer resquícios de questão ou dúvida.
-É...acho que sim. – Era estranho estar afirmando isso para ela, quando era ela que mexia comigo. Era dela que eu...gostava?...
-Você precisa de escolher... - Ela suspirou, fechando os olhos e encostando a cabeça na égua.
-Eu sei disso. Por isso eu tenho de voltar para a minha terra. Lá eu encontrarei as respostas.
-Ela é de lá? – Eve perguntou tão baixo quanto o sopro do vento.
-Não. Ela é daqui. – Falei também baixo, me apercebendo que Evelyn adormecera.
Fechei os olhos também, apenas para descansar um pouco, mas acabei adormecendo também.
POV Evelyn - Meu herói
Eu tinha feito a burrada de me mostrar para Bast e agora não podia voltar atrás. Me enrolei um pouco explicando o porque do meu "Não" e acabei me vendo mentindo. Ele iria achar eu ainda mais louca se eu dissesse que eu precisava dele ali, comigo.
Vi em seu olhar, enquanto me tranquilizava dizendo que voltaria, que ele queria falar algo mais. Ele realmente precisava desabafar.
Lhe estendi uma mão para que ele viesse sentar do meu lado, na minha cama improvisada, o fazendo se sentir à vontade perto de mim e não com vontade de fugir, como aconteceu na última vez.
Ficamos em silêncio por vários minutos.
Era tanta coisa que eu queria lhe perguntar. Eram tantos os segredos que eu queria lhe explicar. Como se houvesse uma necessidade profunda de me fazer entender pra ele, de modo a que ele não achasse que eu era louca ou algo do género.
Ok, aquela data de remédios não eram apenas para me manter saudável. Eram para me controlar. Controlar meus ataques de raiva e minhas tentativas suicidas. Mas eu já não tentava nada há meses. Eu estava melhorando. Eu sentia isso dentro de mim.
Mas uma questão ainda se sobrepunha a todas as minhas tentativas frustradas de me manter calada e de não me intrometer no assunto.
-Foi amor à primeira vista? – Senti curiosidade em perguntar.
Era tanta coisa que eu tinha perdido de minha irmã nestes últimos anos. Tanta coisa que eu não sabia. Precisava de saber algo sobre...ele.
Sebastian assentiu de imediato, meio pensativo, como se recordasse aquela época, com um sorriso nos lábios.
Ele contou que Cassie o rejeitara e que ele correra atrás dela.
Fiz uma piada com esse tema, dizendo que ele a conquistara pelo cansaço.
E foi tão bom escutá-lo rir com vontade por algo que eu tinha dito. Não tinha como não sorrir de volta.
Mas então eu trouxe ao assunto o que escutara. O questionei, sem rodeios, se havia outra mulher além da minha irmã, o que o pegou totalmente desprevenido. Mas ele não o negou...nem o confirmou. Apenas disse que era complicado.
Como eu sabia bem o significado dessa palavra.
Complicado.
Minha vida sempre foi complicada e tudo apenas tendeu a piorar cada vez mais desde a chegada de Max. Custava sequer pensar no nome dele...custava ainda mais recordar dele.
Mas eu continuei a nossa conversa. Ou melhor dizendo, o meu interrogatório. Eu precisava saber o que ele sentia. Não só por aquela mulher, que ele mencionou enquanto desabafava, mas também por minha irmã.
Suspirei derrotada pelo fato de saber que ele amava as duas. Talvez uma mais que outra, mas ainda não sabia dizer qual delas. E eu sem um espacinho para mim.
Mas sermos amigos me bastava. Estar com Bast assim como estávamos agora era o suficiente para mim. Por agora.
-Você precisa de escolher... - Falei me recostando em Diana e fechando os olhos.
-Eu sei disso... -Ainda o escutei dizer mas comprimidos começavam fazendo o seu efeito.
Lembro de ter perguntando mais alguma coisa a ele e dele ter respondido de volta, mas tudo era uma mera névoa, algo bem lá no fundo que eu não conseguia recordar.
O sono me envolvera em uma bolha me impedindo de continuar aquela conversa. Mas senti que Bast emergira nessa mesma bolha, do meu lado. Sei disso porque o calor ameno e confortável do seu corpo continuava lá, acariciando minha pele sem que ele nem me tocasse.
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