Parte II
POV Sebastian - Faça seu coração parar de chorar
Depois que Cassie entrou, eu fui descarregar as malas da carrinha. Minha cabeça martelava em dúvidas e questões que teimavam ser respondidas. Mas eu não podia ser precipitado. Não queria me precipitar em conclusões e julgamentos. Mas eu tinha urgência em quebrar toda a redoma de segredos que Cassidy criara e colocara entre nós.
Fiz o serviço de descarregamento o mais lentamente possível, me permitindo a inúmeras viagens entre a carrinha e o hall da casa de Cassie.
Tessa havia desaparecido sem me dar satisfações. Não que ela precisasse fazê-lo, mas acho que como convidado, merecia alguma cortesia. Ou talvez ela já me considerasse da casa por ser marido de Cassie e achasse que seria pouco elegante ficar atrelada a mim, me dando assim espaço e liberdade. Logo que cheguei a essa conclusão, apreciei o gesto.
Quando, por fim, coloquei a última mala sobre o monte no chão do hall, Tessa surgiu ao pé da escada com sua típica pose formal. Teria de me habituar a isso.
-Apetecia-lhe um lanche, senhor Kamber?
-Por favor, Tessa. Sem essa de senhor. Me trate apenas por Sebastian. Bast se preferir. – Lhe sorri amável.
-Tudo bem, Sebastian. – Acentuou bem meu nome.
-Sim aceito um lanche. – Afirmei passando a mão por minha barriga.
Tessa sorriu curtamente e me indicou com gestos que eu a seguisse.
Dei o primeiro passo em sua direção, mas logo estagnei quando escutei o grito de Cassie.
-CHEGA!
Eu e Tessa olhamos para cima e eu apurei meus ouvidos para escutar o resto. Quando dei por mim estava subindo os primeiros degraus da escada, mas a mão áspera e enrugada de Tessa me parou.
-Eu tenho de ir lá. Ela é minha mulher! – Exasperei para a expressão dura e repreensiva da governanta.
-Elas são irmãs. Elas se entendem. – Me garantiu.
-SAI DAQUI! VAI EMBORA! SAI DAQUI! – Escutamos outra voz feminina gritar.
Olhei arregalado para Tessa, que soltou meu braço, e subi até o topo da escadaria tentando perceber onde Cassie estava. Do fundo do corredor lateral, ela surgiu descendo de outra escadaria mais curta e estreita, correndo em minha direção aos prantos.
Meu coração se apertou ficando do tamanho de uma ervilha, me fazendo sentir impotente por não conseguir aplacar a dor de minha mulher ou sequer retirá-la de seu peito e colocá-la no meu. Cassie soluçava e tremia em meus braços e minha única vontade era de ir atrás dessa sua irmã e de lhe dizer umas poucas e boas, que no futuro a faria repensar bem antes de fazer Cassidy chorar desse jeito.
Logo Cassie, que nunca a vi derramando uma só lágrima. Nem mesmo no nosso casamento, onde EU chorei que nem um bebê, mesmo que tentando disfarçar. O que essa irmã lhe disse deve ter sido bastante cruel.
-Já passou. Eu estou aqui. – Apertei um pouco mais meus braços em torno do corpo frágil dela, tentando ao máximo construir um forte de proteção, onde ela se sentisse segura e amada.
Enquanto a abraçava ela me conduzia por um outro corredor lateral à escadaria principal. Entramos em um enorme quarto, todo moderno e despojado, apesar do estilo vitoriano da casa. Bem cara de Cassie.
Caminhamos até uma gigantesca cama de dossel, onde nos sentamos. Eu me ajeitei, ficando parcialmente deitado, com as costas encostadas na cabeceira, e Cassie se aninhou em meus braços, deitando sua cabeça em meu peito.
-Esse lugar não faz bem a você. – Comentei depois de um tempo em silêncio, onde apenas se escutavam seus soluços.
-Eu sei. – Murmurou, limpando o rosto com a barra da sua blusa. – Mas eu não posso ir embora. Não de novo.
-Porquê? – Questionei me erguendo e me virando para olhá-la nos olhos. – Cassie, - Suspirei. – acho que está na hora de você parar de guardar seu passado para si. A verdade é que eu pouco sei de você. Sei apenas que seus pais morreram, que você era de Ohio, que cursou pediatria e que saiu de casa com vinte anos. Mais nada. Não sei de que seus pais morreram, nem sabia que você tinha uma irmã! Problemática, pelo que me parece.
-Não! – Me interrompeu. – Não a julgue. Você não sabe nada dela! – Me repreendeu com o indicador apontado para o meu rosto.
-Então porque você não me conta? – Pedi afagando seu rosto.
-Me dê tempo. – Murmurou, tornando a deitar em meu peito. – Me dê só um pouco de tempo para criar coragem.
Eu assenti em silêncio, trancando dentro de mim a vontade de dizer que não iria esperar mais por explicações.
POV Evelyn - Não Pode Cair
Bati com a porta da "torre" depois de ter expulsado Cassie, respirando sofregamente.
As lágrimas teimavam em cair e por mais que eu as enxugasse elas tornavam a banhar o meu rosto.
Encostei meu corpo na porta batendo com as mãos na cabeça, me odiando - mais um pouco por me ter permitido expor meus sentimentos dessa maneira a uma pessoa que eu julgava ter podido, alguma vez, confiar.
Mas como eu disse antes, o mundo é uma grande máscara que esconde a verdadeira face das pessoas. E a máscara de minha irmã acabara de cair.
A caixa de música ainda tocava e a música já não me fazia mais bem. Corri até o criado mudo, ao pé de minha cama, e fechei o tampo da caixa com certa brutalidade, acabando logo com a melodia.
Me sentei na ponta da cama e abracei meu corpo, olhando em volta. O meu forte havia sido corrompido.
Por hora ele não me trazia mais boas recordações ou paz.
Caminhei até o meu pequeno closet e peguei a roupa de equitação, me trocando rapidamente. Prendi meus fios ondulados rebeldes em um coque alto e mal feito e, no final, calcei as botas de hipismo.
Saí do quarto e desci as escadas o mais discreta e silenciosamente possível. Quando cheguei no rés-do-chão escutei o tilintar dos cristais vindos da sala de estar, que ficava do lado esquerdo da casa. Tessa estava limpando o pó, o que me dava caminho livre para sair pelas traseiras.
Corri pelo corredor lateral à escadaria, do lado direito da casa, que dava para a sala de jantar, a cozinha e a saída das traseiras.
Quando por fim me vi fora de casa, corri até a estrebaria, que ficava do lado esquerdo da propriedade, a uns cerca de 50 metros. Do lado de direito da propriedade, havia uma lagoa enorme, ladeada por uma floresta.
Assim que cheguei na estrebaria fui juntando as correias e a sela para selar Diana, a minha égua de "guerra". Uma Mustang de pêlo escuro e olhos cor de mel, que só permitia que eu a montasse. Era a mais selvagem de todos os outros cavalos que eu tinha e dei um duro para que ela me respeitasse.
Era a única que não precisava de máscara para se esconder. Ela era verdadeira e pura.
Cheguei no resguardo de Diana, o mais afastado possível dos outros resguardos, e me empoleirei na comporta de madeira que a trancava lá dentro, depois de ter pousado a sela e as correias sobre a mesma.
-Ei, Di. Pronta para um passeio? – Perguntei olhando no fundo de seus belos olhos e ela relinchou abanando o focinho e batendo os cascos no chão. – Linda menina. – Sorri abrindo a comporta e me aproximando lentamente da égua.
Acariciei seu lombo em sinal de reconhecimento e ela fungou no meu rosto, me reconhecendo também.
-Tive tantas saudades suas. Me desculpe por ter demorado a vir ver você. – Murmurei encostando minha testa na cabeça dela.
Depois de um abraço, fui pegar a sela e as correias e as coloquei nela. Quando tudo estava bem preso, a montei e dei com as esporas do calçado da sela, no lombo dela para a incitar a andar, juntamente com a o estalar da língua no céu-da-boca.
Logo ela começou a trotar até à saída da estrebaria.
Depois disso gritei 'Ya' e bati com as correrias em seu dorso, para que ela começasse a galopar.
A guiei em direção à floresta. Iria atravessá-la até chegar ao dique da lagoa, que ficava do outro lado da floresta, fora da propriedade Clarke.
A sensação do vento chicoteando o meu rosto era indescritível. Era como ser um pássaro e voar em liberdade, sem destino ou preocupações.
Assim que adentramos a floresta uma escuridão assomou o caminho que percorria a galope.
A densidade das copas das árvores era tal que me era impossível vislumbrar céu aberto. Sabia apenas que era dia pelos pequenos raios de sol que furavam através das diminutas e numerosas frestas entre as folhas e os galhos das copas.
O percurso até ao dique fora cerca de uma hora e quando lá cheguei foi como se tivesse saído das sombras e chegado ao paraíso, depois de ter percorrido um caminho sombrio e guerreiro.
Aquelas terras eram abandonadas e o meu sonho era comprá-las e construir uma casa de árvore. Uma casa que comporta-se dois quartos, uma casa de banho, uma cozinha e uma sala. Um verdadeiro sonho.
Nas árvores da floresta isso era impossível de se fazer, mas perto do dique havia uma única e singular sequóia. Ela era baixa e com ramos tão grossos e extensos que dava perfeitamente para construir a casa que eu sonhava.
Desci de Diana e a puxei até à margem da lagoa, para que ela bebesse água. Atei as correias ao cabo de madeira do dique e caminhei pela passadeira até chegar ao único barco que havia lá. Um barco a remos velho e abandonado. Desfiz as amarras e subi nele, pegando nos remos e empurrando o barco para o centro da lagoa. Remei até o canto mais afastado do dique e, quando lá cheguei, voltei a guardar os remos.
Como ritual, que esporadicamente fazia, me deitei no centro do barco vendo o sol se pôr em um crepúsculo magnífico.
Senti meu rosto ser lavado por lágrimas sujas de dor e culpa.
Cassie tinha razão, eu só destruía a vida de todos à minha volta. Destruí a vida de meus pais, destruí a minha vida, a de Tessa...Cassie não podia ser mais uma vítima. Ela merecia ser feliz.
Casada. Era surreal pensar que Cassidy estava casada. Logo ela que odiava compromissos. Mas se aquele anjo a havia conseguido conquistar, era porque ele era merecedor de seu amor.
Mas também, quem não haveria de se apaixonar por aquele deus?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro