- Oi, Milk, muito obrigada por ter aceitado fazer essa entrevista comigo. - Charlotte agradeceu quando encontrou Milk à esperando no hall da empresa.

Milk veio até ela e à abraçou. Ela era alguém calorosa, e gostava de abraços aparentemente.

- Sem problema, Engfa. - Milk respondeu.

As duas entraram dentro do elevador e Milk apertou o andar onde, provavelmente, seu escritório ficava.
Quando chegaram, ambas saíram do elevador e caminharam pelo grande corredor.

- Confesso que fiquei surpresa por você ter me ligado para marcar outra entrevista. - Milk comentou, com um sorriso. - Você não parecia tão interessada nas minhas aranhas.

- A-ah, não! Como assim? E-eu estava super interessada! - Charlotte gaguejou, com o rosto vermelho. Ela achou que havia disfarçado bem naquele dia.

Milk riu.

- Tudo bem, Char. Ciências Biológicas não são para pessoas comuns. - Milk brincou, recebendo uma careta de Charlotte.

- Ouch! Essa doeu! - Charlotte resmungou, fingindo estar magoada pela fala de Milk, mas logo riu com ela.

- Bem, mas o que você queria conversar comigo? Não é sobre a mudança genética que estamos fazendo com as aranhas. - Milk supôs. - Tenho lido suas matérias e, ultimamente, você tem postado muitas coisas sobre a Mulher Aranha, minha prima vai ficar com ciúmes.

Aquela simples menção à Engfa quase fez a teoria de Charlotte cair por terra.
A Mulher Aranha estava, descaradamente, flertando com Charlotte. Se Milk fosse a heróina, ela estaria dando em cima da mulher que Engfa gostava. Milk não era esse tipo de pessoa. Pelo menos, Charlotte esperava que ela não fosse.

- É exatamente sobre ela que eu queria conversar com você. - Charlotte disse.

- Sobre a Engfa? - Milk perguntou.

- Não, sobre a Mulher Aranha. - Charlotte respondeu.

- O que você quer falar sobre ela comigo? - Milk parou no meio do corredor, olhando para Charlotte com curiosidade. - O que ela tem a ver comigo?

Se ela fosse a Mulher Aranha, disfarçava muito bem. Era o que Charlotte pensava.

- Bem, pra início de conversa, na semana passada a Mulher Aranha foi até o prédio onde eu trabalho, no Clarim Diário. - Charlotte relatou, sob o olhar atento e curioso de Milk. - E ela me levou até o alto do Empire State, e..

- Você teve um encontro com a Mulher Aranha? - Milk perguntou, e a sua expressão de completo desgosto fez Charlotte desistir de sua teoria. Milk, definitivamente, não era a Mulher Aranha.

- E-eu não chamaria aquilo de encontro, Milk. - Charlotte se apressou em corrigir Milk, com muito medo de ela contar aquilo para Engfa. - Ela só queria conversar comigo, somente isso!

Milk analisou Charlotte de cima à baixo por alguns segundos, então se virou e continuou caminhando até o fim do corredor, até uma porta que ela abriu e entrou, deveria ser o seu escritório. Charlotte à seguiu.
Ela entrou na sala e foi se sentar junto de Milk, no sofá que tinha ali no escritório.

- Ok. Continue. - Milk pediu.

- Certo.. Ela me levou até o Empire State e ficamos conversando por alguns minutos, e ela acabou me dando uma dica para saber sua identidade. - Charlotte explicou, vendo Milk arregalar os olhos, surpresa com aquilo.

- Sério? - Charmosa assentiu. - E qual a dica?

- Ela disse que foi picada por uma aranha, e que ela deu os poderes que ela tem agora. - Charlotte respondeu. - Na mesma hora, eu lembrei de você e dos seus estudos com as aranhas, e..

- Você acha que a Mulher Aranha está aqui? - Milk gritou a pergunta, com tanta animação que deixou Charlotte assustada.

- É.. Pra falar a verdade, num primeiro momento, achei que fosse você. - Charlotte revelou. - Sabe, como você trabalha com elas, achei que, acidentalmente, você tivesse feito um experimento, e ter sido picado por alguma delas.

- Quem dera eu fosse uma heróina. - Milk murmurou. - Quando eu era criança, eu era muito nerd, lia tudo sobre heróis e essas coisas. Meu sonho era ser uma. Mas, como não sou eu, você desconfia de outra pessoa?

- Não. - Charlotte bufou, um tanto frustada, mas também aliviada por Milk não ser a Mulher Aranha. - Pode ser, também, uma de suas funcionárias, que também trabalham com as aranhas.

- Se alguma das minhas funcionárias for a Mulher Aranha, eu vou dar um aumento no salário dela. - Milk declarou, e Charlotte viu que ela falava sério. Ela sorriu, achando fofo que Milk fosse fã da Mulher Aranha. - Você quer ajuda?

- Ajuda? - Charlotte repetiu, vendo Milk assentir freneticamente com a cabeça.

- Sim. Eu posso te ajudar com isso de descobrir a identidade dela. Posso ficar de olho nos meus funcionários e, se ver alguma coisa suspeita, te aviso. - Milk sugeriu.

Charlotte queria recusar a proposta, era arriscado demais que duas pessoas soubessem a identidade da Mulher Aranha. Charlotte não iria divulgar, nem que lhe pagassem, era apenas uma missão que ela tinha à cumprir consigo mesma. Mas ela não tinha certeza sobre o que Milk faria de soubesse quem a heróina era.

Porém, quando ia recusar a sugestão de Milk, deu de cara com grandes olhos ansiosos e animados. Charlotte se sentiu culpada por querer estragar aquela euforia de Milk.

- Ok, eu aceito sua ajuda. - Charlotte disse com um suspiro derrotado, vendo surgir, nos lábios de Milk, um grande sorriso. E ela lhe deu um outro abraço super apertado, que tirou o ar de seus pulmões. - Mas tem uma coisa.

- O que? - Milk perguntou.

- Se descobrirmos a identidade dela, não devemos contar para ninguém. Ninguém mesmo, ok? - Charlotte viu Milk assentir.

- Eu sei que não. - Milk concordou. - Se revelássemos sua identidade, ela talvez pudesse ser presa, já que ela é ilegal, digamos assim.

- Exatamente. Obrigado por entender, Milk. - Charlotte agradeceu.

- Não precisa agradecer, eu nunca faria nada para prejudicar ela. - Milk garantiu, recebendo um sorriso de Charlotte. - Mas e então... Como andam as coisas com minha prima?

Charlotte deu um sorriso sem graça, se ajeitando no sofá para uma postura mais relaxada.

- Não andam. Na verdade, está empacada. - Charlotte respondeu, recebendo uma risada de Milk. - Ela não me chama pra sair, estou começando à ficar irritada.

- E por que você não pode pra sair com ela? - Milk questionou. - Ela é muito insegura.

- Exatamente por isso que eu quero que ela de o primeiro passo: pra perder toda essa insegurança. - Charlotte explicou. - Sinceramente, não sei porquê ela é insegura, eu tô completamente na dela.

- Com todo o respeito, Char, mas você é uma mulher linda e gostosa, pessoas gostosas deixam as outras pessoas inseguras. - Milk pontuou, vendo Charlotte ficar um pouco vermelha.

- A Engfa, por acaso, não tem espelho em casa? - Charlotte perguntou. - Ela é a maior gostosa que eu já vi na minha vida. Eu que deveria me sentir insegura por querer alguém seis anos mais nova que eu.

- Parece que eu vou ter que te ajudar com algo além de descobrir a identidade da Mulher Aranha. - Milk comentou, com uma risada, sendo acompanhada por Charlotte

[...]

Charlotte estava sentada em sua mesa, na frente de seu computador no Clarim Diário. Seus olhos estavam em uma foto da Mulher Aranha, tirada e enviada por uma civil para o jornal. Essa foto foi usada por Kaene para sua matéria sobre ela ter empurrado uma senhora.
Mas no contexto em que a foto fora tirada, a heróina apenas empurrou a velhinha para poder salva-la de ser atropelada. Claro, ela não havia pensado direito na forma que iria salva-la, mas foi nas melhores das intenções.

Charlotte estava com a testa franzida e um bico nos lábios, sua cabeça trabalhava à mil, pensando em quem poderia ser a heróina.

Depois de descartar Milk, ela começou à pensar que, para poder se disfarçar, a heróina deveria ter uma personalidade totalmente diferente da que ela apresentava para o público.

A Mulher Aranha era alguém gentil, brincalhona e falava bastante. Milk era exatamente assim, não tinha como ela ser a heróina.
A persona civil da Mulher Aranha poderia ser alguém tímida, alguém que ninguém nunca desconfiaria.

Mas quem?

- Oi, Char.

Charlotte levantou os olhos de sua tela e avistou Engfa.

- Oi. - Charlotte sentiu seu rosto se modificar em um sorriso instantaneamente. Era quase impossível não sorrir quando Engfa estava por perto.

- Tá tudo bem com você? Tava com uma carinha meio brava. - Engfa comentou.

- Ah, não é nada. Só tô pensando em algo. - Charlotte respondeu. - E você? Também não tá um exemplo de felicidade.

- Pois é, tem algo de errado com a minha câmera. - Engfa comentou, levantando sua câmera até o campo de visão de Charlotte.

- Que coisa. Se você quiser, eu te levo, depois do trabalho, pra algum lugar que possa ver o problema dela. - Charlotte sugeriu, rezando para que Engfa aceitasse.

- Claro! - Engfa gritou, atraindo os olhares de seus colegas de trabalho. - Digo.. Claro. Combinado.

Engfa deu um 'tchauzinho' com sua mão e se afastou da mesa de Charlotte, que tinha as bochechas doendo por ter um sorriso enorme nos lábios.

- Nem acredito que vou ter um encontro com a Fa! - Charlotte sussurrava, enquanto olhava para a foto da Mulher Aranha. - Tomara que a câmera não volte à...

Charlotte parou por alguns segundos, olhando da foto da heróina, para Engfa. Se lembrou dos devaneios que estava tendo há poucos minutos.
Seus olhos dobraram de tamanho e seu queixo caiu, uma pura expressão de surpresa e incredulidade em seu rosto.

- Nem fodendo.