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Whittier - Alaska
Inverno de 2002
Seria pedir demais morar sozinha em Connecticut? Nem ouso a perguntar, porque sei os motivos do porquê seria demais.
1° É Connecticut, fica do outro lado do país, e não em outro bairro.
2° Nossa casa já havia sido vendida, eu não teria onde ficar.
3° Tenho quinze anos, mas me considero bem responsável, infelizmente somente eu me considero assim.
4° Sou uma boneca de porcelana inútil.
Estacionamos em frente ao único hotel visível em toda cidade era imenso, ocupava facilmente cinco quarteirões e possuía vários andares que se revezavam em um tom de amarelo ocre e rosa salmão. Percebo a profundidade da minha frase, eu consigo ver toda a cidade daqui. Mas que merda viemos fazer em Whittier? Sério, não há nada aqui. Entramos no hotel, e descobri que na verdade não era bem um hotel, possuía sim um saguão mas a constante de pessoas que entravam e saíam dele era exorbitante. Comecei a andar pelos corredores enquanto meus pais resolviam as coisas quanto ao apartamento, e em meio a minha pequena caminhada pelos corredores percebi que não eram apartamentos empilhados eram casas empilhadas. Não demorou muito para que conhecêssemos todo mundo e com isso quero dizer realmente duzentas e dezoito pessoas, eu li o guia local que estava no f-100 mas achei que fosse um erro de digitação, como a porcaria de uma cidade funciona com duzentas e dezoito pessoas? Repito a pergunta que fiz a mim mesma mentalmente "Que merda viemos fazer em Whittier?"
Ficamos com um apartamento pequeno na ala oeste, décimo quarto andar número cento e noventa e seis. Felizmente era o terraço e infelizmente era o terraço, não que eu tenha algo contra mas se a cidade inteira ficar sobre esse teto como eu bem imagino o terraço não será esse lugar calmo e tranquilo que eu estaria imaginando. O apartamento era pequeno, mas como disse antes eu não tenho perspectiva alguma sobre esse lugar, era basicamente uma sala pequena, uma cozinha dois quartos e um banheiro.
- Vamos não é tão ruim assim, né? - diz meu pai analisando o local - Seguinte eu deixo você escolher com qual quarto que ficar, okay?
- Mais do que justo! - respondi ironicamente.
Mas no fim das contas os dois quartos eram iguais, tanto em dimensões quanto em ornamentação, havia uma cama de casal, uma cômoda de aparência antiga, uma escrivaninha e duas prateleiras. Mas um deles tinha um diferencial, somente aquele em que eu estava tinha uma janela mesmo que dando para a escada de incêndio, então minha escolha estava feita.
Desfiz minha mala da forma mais irregular possível, eu teria problemas para encontrar uma roupa pra sair mais tarde, mas para onde eu iria mesmo?
Agora da minha janela eu tinha uma vista real de toda a cidade que não passava de algumas lojinhas de conveniência, cafeterias, casas de penhores, oficinas mecânicas - não que alguém precisasse de um carro para circular pela cidade - e de algumas casas de peças para barco, julgo eu porque ficavam perto do cais. Terminei de desfazer a mala, coloquei meu notebook sobre a escrivaninha, eu não tinha certeza se havia internet naquele povoado inóspito, mas mesmo assim eu o liguei tentando encontrar alguma esperança furada.
No fim eu tinha razão, não tinha internet. Voltei para a sala para dar uma olhada melhor no apartamento, meu pai havia saído para resolver os assuntos sobre sua transferência, foi o que minha mãe havia me dito, quem transferência alguém de West Haven para o Alaska? Pelo visto os chefes do meu pai, minha mãe disse que ele receberia mais por isso, mas eu não esperava menos afinal deixamos nossa vida para trás para virarmos picolés, merecemos algo por isso.
- Não faça essa cara, não é tão ruim assim! - disse minha mãe enquanto estava vasculhando a cozinha - Olhe! Eles nos deram todos os eletrodomésticos, não precisamos comprar nada!
- Yuppie! Quer dizer que eu não tenho que voltar para Anchorage o que estraga totalmente minha chance de comprar uma passagem e me enfiar em um avião econômico e sumir desse cubo de gelo? Não me diga - respondi ironicamente novamente.
- Hilária você - respondeu minha mãe me acertando com um pano de prato, acabei tossindo com a poeira, aparentemente os panos vieram com o apartamento também - O que você acha de dar uma volta e conhecer os vizinhos? É bom que eu ganho um pouco de paz e silêncio.
- Mãe, nos mudamos para uma cidade de um teto, você nunca terá paz ou silêncio - ela me lançou um olhar feroz, e me mandou sair.
- Aproveitando que você vai sair, espontaneamente, passa na Kozy Korner e compra a janta, eu soube que eles têm um nos primeiros andares.
- Espera, tem uma franquia dentro do hotel? - ela afirmou com a cabeça e me deu o dinheiro - Retiro o que disse, na verdade nos mudamos para o pior shopping dos Estados Unidos.
- Não esquece de trazer alguma bebida! - gritou ela enquanto eu saía.
Pessoas surgiam de todos os lados, em todos os corredores em que eu entrava, nas escadas por que passava até mesmo o elevador que peguei estava cheio. Eu estava perdida e não era pra menos a cidade ficava dentro do hotel, eu não preciso de um mapa e sim de um atlas inteiro e bem detalhado, passei por um corredor que era aberto e arejado, com janelas enormes de vidro de onde se via o porto, uma senhora estava regando alguns vasos de flores que estavam próximos a janela, eu sabia que não iria chegar até o Kozy sem uma ajuda, mas não queria conhecer os vizinhos que era o que minha mãe queria que eu fizesse, por um lado não fui eu que comecei aquela conversa.
- Você vai ficar me olhando o dia inteiro ou poderia me ajudar? - a senhora que estava regando as flores, estava em minha frente carregando um vaso com rosas, eu havia entrado em outro sonho acordado - Se não for incomodo poderia pegar aquele outro vaso ali? - ela apontou com a cabeça para outro vaso com rosas.
- Desculpa é que eu preciso ir ao Kozy Korner, e...
- Que bom! O caminho é o mesmo, agora vamos nos apressar, pega o vaso e me acompanhe, sim - eu peguei o vaso, não porque queria ajudá-la, mas porque precisaria de sua ajuda.
Entramos novamente no elevador ela apertou o botão do segundo andar, a porta se fechou e um frio na barriga tomou posse do ar. Segundos depois fomos despejados no segundo andar, continuei seguindo a senhora que descobrir se chamar Helena, ela era gentil de certo modo. Entramos numa estufa e a ajudei a deixar as rosas em suas paletas.
- Obrigado pela ajuda! Me desculpa, mas você não seria a menina nova, ou seria?
- Sim sou eu - respondi revirando os olhos - Desculpa, quer dizer sim sou Emma Johnson, foi um prazer te conhecer.
- Helena Mileto, o prazer é meu - ela respondeu fazendo uma mesura cortês.
- Sim, está escrito no seu crachá - ela olhou para seu o bolso na camisa no lado superior esquerdo e lá estava o crachá da estufa orgânica.
- Ah sim! Sempre esqueço que isto está aqui, mas mudando de assunto minha vez de cumprir nosso trato, a Kozy Korner fica virando o corredor. E obrigado novamente, aparece lá em casa qualquer dia desses eu moro no cento e oitenta, seria ótimo ter uma boa companhia para o chá.
- Apareço sim, até mais - me despido e a senhora entra novamente no elevador desaparecendo em seu interior.
Entrei no mercadinho que realmente descrevia bem o local, minúsculo e apertado, como uma vendinha. Uma senhora baixa de cabelos grisalhos que um dia já foram pretos cuidava do caixa, ela usava um moletom cinza tinha uma estampa redonda ao centro com a imagem das montanhas e sobre esse círculo estava escrito Alaska, ela me esbanjou um pequeno e acolhedor sorriso.
- Boa tarde, em que posso ajudar? - ela me parecia realmente alegre, mas eu não poderia ter sido a única pessoa a entrar ali durante o dia, ou poderia? - Espera, você não e a nova...
- Sim - interrompi antes dela terminar a frase - Sou Emma.
- Prazer em conhecê-la! - aconteceria mais cedo ou mais tarde, afinal Whittier é minúscula - E aí, em que posso ajudar?
- Ah sim - e lá estava eu, viajando novamente em meus sonhos - Vou levar... Três cup noodles, um desses bolos de baunilha, e um pacote de café.
- Okay, papel ou plástico?
- Papel, Ah! E coloca também três lápis e duas pilhas das maiores.
- Essas? - perguntou ela apontando para um pacote de pilhas AA.
- Sim! Obrigado - paguei pelas compras e saí do Kozy Korner, entrei no elevador e apertei o botão di décimo quarto andar.
A porta do elevador se abriu antes de chegar ao décimo quarto, um garoto entrou carregando uma pequena escada, a porta se fechou. Ele era uns três ou quatro centímetros mais alto do que eu, mas aposto que era por causa das suas botas marrons. Ele encostou a escada na parede do elevador e apertou o botão do décimo quarto, em seguida tirou um lenço do bolso da sua camisa e limpou o rosto e guardou novamente, sua camisa preta combinava com seu gorro, os dois tinham um pequeno triângulo amarelo, depois de toda aquela cena seus olhos azuis me fitavam.
- Ah, desculpa pela falta de educação, boa tarde - disse ele fazendo uma mesura cortês que para seu porte físico me pareceu engraçado.
- Boa tarde - respondi exibindo um sorriso. Ficamos quietos por alguns segundos.
- Desculpa o incomodo, mas por que eu nunca a vi antes?
- Deve ser porque sou nova, acabei de chegar. Connecticut - percebo em seguido que talvez tenha soado grosseiro da minha parte.
- Connecticut para o Alaska, caramba que mudança! Imagino que não deva ser fácil.
- Sim, eu normalmente diria que as desvantagens são maiores que as vantagens, porém como não encontrei nenhuma vantagem eu diria que é só ruim mesmo. E você seria?
- Noah, Noah Foster do cento e cinquenta e dois. As pessoas me chamam de faz tudo, e você?
- Emma, Emma Jonhson do cento e noventa e seis, conhecida por todos ou pelo menos, pelos que me viram como "Você não seria a novata?" - ele riu com minha pior imitação da senhora com rosas, Helena.
- Então, conheceu a senhora Mileto - ele sorriu novamente, e acabei percebendo o como seus dentes eram brancos.
- Digamos que fui posta numa estufa - retribui o sorriso. O elevador abriu.
- Acho que é aqui que descemos.
Saímos do elevador e ele pegou o acesso ao terraço, desaparecendo atrás de uma porta de aço. Entro no meu apartamento, minha mãe havia feito sua mágica no local transformando ele em um lugar habitável e a mesa estava pronta para o jantar.
- Onde estão as compras? - ela me perguntou enquanto terminava de limpar um dos abajures.
Olho para o chão como um reflexo e me toco de que não havia pego as sacolas, somente pagado por elas.
- Droga! Deixei na Kozy Korner.
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