✦ 04 ✦๋࿆࣭
Ela não se lembrava de nada.
Ela não sabia qual era seu nome, não sabia se tinha família, não sabia se alguém estava procurando por ela.
A primeira coisa que ela se lembra, além da dor imensurável em todo seu ser, era de lutar, lutar muito.
Contra o quê? Ela não sabia.
A segunda coisa que ela se lembra, era de estar deitada, praticamente nua, em um barco que agora estava chamuscado, como se tivesse pegado fogo, no meio do vasto oceano.
Uma tempestade estava a caminho.
As ondas se tornaram mais e mais altas a cada minuto.
O pequeno barco acabou virando e ela caiu no oceano.
A água a envolveu, o pânico se fez presente.
Ela estava se afogando.
ㅡ Acorda, bela adormecida. ㅡ alguém cutucou seu braço repetidas vezes.
Ela abriu os olhos levemente assustada, visualizando Frederick em sua frente, seus olhos castanhos brilhando com divertimento.
ㅡ Fred está perturbando Julie novamente? ㅡ uma voz veio do outro lado do hidroavião, era Stephanie.
ㅡ Um dia a Julie vai acabar chutando a cara dele. ㅡ Theo murmurou, seus olhos no livro que ele ainda estava lendo, um livro sobre a fauna e a flora da floresta amazônica.
ㅡ Ela nunca faria isso. ㅡ Frederick se jogou no acento ao lado de Theo, roubando o livro do rapaz.
Stephanie revirou os olhos verdes enquanto prendia o cabelo ruivo e se virava para Julien.
ㅡ O dia que você for chutar a cara dele, me avisa antes, pra eu preparar a câmera. ㅡ a ruiva disse e Julien riu tentando se esquecer de tudo que a importunava à tanto tempo.
Julien White, bióloga, especialista em flores exóticas, e líder do pequeno grupo de biólogos que estava partindo em uma expedição para a Amazônia, para encontrar uma espécie de flor nativa da Babilônia, e que parecia que entraria em extinção muito em breve.
ㅡ Será que a "Gaia" é tão bonita como as fotos e desenhos dos pesquisadores? ㅡ um outro rapaz, esse mais jovem se aproximou, era Justin, irmão mais novo de Theo.
Um arrepio passou pelo corpo de Julien ao ouvir o nome da flor mais linda que ela já havia estudado.
Esse nome, Gaia.
Ela sempre se sentia estranha ao escutar ele.
Bom, Julien ficava estranha muitas vezes, já que ela não se lembrava de seu passado, além disso, haviam se passado mais de trezentos anos dês de que ela acordou no mar.
E ela ainda era a mesma.
Jovem e ao que tudo indicava, imortal, eterna.
Eterna.
ㅡ Jule? Você está aí? ㅡ Stephanie perguntou preocupada.
ㅡ Estou bem. ㅡ Julien murmurou saindo de seus pensamentos.
ㅡ Eu quero ser o primeiro a tirar uma selfie com a "Gaia", vou publicar no meu Instagram assim que encontrarmos um sinal bom o suficiente. ㅡ Frederick disse enquanto folheava o livro de Theo.
ㅡ Eu estou torcendo pra uma onça pintada encontrar você e arranhar essa sua cara feia. ㅡ Theo empurrou Frederick para longe.
ㅡ Eu? Feio? ㅡ Frederick perguntou indignado. ㅡ Isso se chama amor incubado, meu caro.
ㅡ Eu te odeio muito. ㅡ Theo resmungou e se virou para os outros. ㅡ De quem foi mesmo a ideia de trazer ele?
ㅡ Foi da Julien. ㅡ Justin disse e deu de ombros quando a White o fulminou com o olhar.
ㅡ Eu não tenho culpa por ele ser tão bom fazendo relatórios e fotografando às espécies. ㅡ Julien deu de ombros.
ㅡ Finalmente alguém que reconhece meu talento! ㅡ Frederick exclamou.
ㅡ Ele vai falar disso o ano todo. ㅡ a outra garota reclamou com as mãos cobrindo o rosto.
ㅡ A "mãe natureza" me elogiou, eu tenho direito de me gabar.
ㅡ Frederick disse.
Julien ofegou levemente.
Odiava quando a chamavam assim, sempre a dava uma dor de cabeça infernal.
ㅡ Não me chame assim. Eu já pedi pra não me chamar assim. ㅡ Julien murmurou, procurando seu fone de ouvido e o conectando no celular depois que o encontrou.
Frederick corou envergonhado. Era mania deles chamar Julien assim, já que a garota se dava imensamente bem com a fauna e a flora, como se fizesse parte da natureza selvagem.
ㅡ Sinto muito, Julien. ㅡ ele se desculpou.
Julien assentiu enquanto fechava os olhos e colocava sua playlist no aleatório.
Ela não percebeu a tempestade que se aproximava.
Aquele era mais um dia como qualquer outro para ele.
Os dias dele não tinham nada mais que monotonia, ele sempre fazia as mesmas coisas.
Toda manhã, antes do sol nascer ele se levantaria e se sentaria ao lado da flor que tinha o nome de sua amada.
Depois da morte de Gaia, ele havia destruído a maior parte das flores de mesmo nome, cego pela raiva.
Porém, anos depois, quando a raiva foi substituída pela tristeza e a saudade avassaladora, era um pouco tarde, a maioria das flores já estavam mortas, e as que continuavam vivas demoravam mais de setenta anos para desabrochar agora, não mais um mês.
Então, toda manhã, Druig se sentaria ao lado da flor. Esperando ansiosamente pelo dia em quê ela iria desabrochar.
A floresta Amazônica era linda, tão verde e cheia de vida, tão cheia de espécies ainda desconhecidas para os humanos, tão cheia de beleza.
Mas até mesmo um lugar tão lindo parecia feio aos olhos de Druig, porque Gaia era a natureza, e agora que ela estava morta, ele achava frustrante como a natureza poderia parecer bonita, ela não deveria parecer.
Porque a personificação dela havia morrido, todos os lugares naturais deveriam ter sentido sua perda, deveriam ter adoecido e morrido em respeito à Gaia.
Mas isso não aconteceu. A natureza continuava a mesma, e Druig odiava esse fato, porque parecia que Gaia não fazia diferença.
O sol nasceu e a flor não desabrochou.
Druig sorriu amargamente.
Amargo.
Era assim que Druig estava há centenas de anos, dês de que deixou Gaia, dês de que ela morreu.
Ele estava amargo e triste, cheio de culpa e dor.
ㅡ Você pode enrolar o tempo que quiser florzinha. ㅡ ele tocou uma folha azulada da flor. ㅡ Pode demorar o tempo que for, eu sou eterno. ㅡ ele zombou.
A flor pareceu zombar de volta, ficando alí, parada. Sendo a coisa mais próxima que ele tinha de Gaia.
Druig odiava aquela maldita flor.
Ele estava alí, na Amazônia a muitos anos, mais de setenta anos, e a maldita flor havia se recusado a desabrochar.
Druig a odiava. As vezes a queria morta.
Veja bem, Druig não estava em seu juízo perfeito, anos de dor e sofrimento fazem isso com alguém, então para ele, ter uma rixa com uma flor que nem ao menos poderia o responder, era algo deverás aceitável.
Muitas vezes ele ficou tentado á colocar fogo na flor.
Porém, sua mente traiçoeira o lembraria do primeiro beijo que ele compartilhou com Gaia, a primeira vez que ela o beijou. Tudo havia acontecido por causa da maldita flor roxa. Essa era a única razão para existir algumas delas por aí.
ㅡ Flor idiota. ㅡ Druig disse e se virou andando pela floresta como ele costumava fazer, ele costumava caminhar quase todo o dia, tentando se manter ocupado e evitar pensar em Gaia.
Nunca funcionava.
Gaia estava sempre em sua mente.
E ela nunca ia embora.
ㅡ Gaia! Gaia! Gaia! ㅡ alguém chamava, uma voz vinda da escuridão que a cercava. ㅡ Por que você se esqueceu de quem verdadeiramente é Gaia? Por que você não continua lutando Gaia? Por que você se esqueceu Gaia?
ㅡ Quem diabos é Gaia? ㅡ Julien gritou para a escuridão, se sentindo incomodada e estressada com o nome.
A voz riu amargurada.
E de repente Gaia estava no oceano.
Naquele estranho dia, no dia que ela acordou sem saber quem era, no dia em quê ela se afogou.
Julien tentou nadar, chegar até a superfície, mas parecia longe demais.
A voz voltou a rir.
ㅡ Pobre Gaia, tão perdida. Tão triste. Tão confusa. Tão patética. Tão poderosa mais ainda assim, fraca. ㅡ a voz parecia vir de todas as direções.
ㅡ Quem é você? ㅡ Julien gritou em sua mente, porque ela temia se afogar se abrisse sua boca.
A voz riu novamente e de repente Julien foi rodeada por uma névoa arroxeada.
Alguém estava nadando até ela.
Com espanto Julien viu que quem nadava até ela era uma mulher, idêntica à ela, mas ainda assim diferente.
Ela estava vestida em um traje lilás, com detalhes em roxo e dourado, seus cabelos loiros como uma coroa acima dela, seus olhos?
Seus olhos estavam roxos, brilhando com tamanho poder que Julien teve que lutar para ignorar a vontade de se encolher.
A sua gêmea a encarou, a olhando pensativa.
ㅡ Eu sou Gaia. ㅡ um arrepio subiu a espinha de Julien quando a mulher respondeu. ㅡ Eu sou você.
Depois disso a mulher se foi, e o oceano parecia rir de Julien, enquanto lentamente ela ia para mais fundo dentro dele, enquanto lentamente ela se afogava.
Julien tentou gritar, mas sua voz se foi e seus pulmões estavam se enchendo de água.
Assim como da última vez.
Ela temia que não sobreviveria ao afogamento uma segunda vez.
Ótimo, uma tempestade, exatamente o que Druig precisava.
Agora ele estava molhado, furioso e ainda triste.
Ele ficou sentado embaixo de uma árvore centenária, chateado demais para voltar para casa.
Ele se perguntou se um raio era forte o suficiente para matá-lo.
Ele teve sua resposta quando um raio o acertou minutos após ele pensar nisso.
Ótimo, toda a natureza, e não só a flor maldita, zombava dele agora.
Não que ele achasse que não merecia, ele merecia e muito.
Um barulho nos céus chamou a atenção dele, o tirando de seus pensamentos, e ele olhou para cima.
Era um hidroavião.
E ele estava caindo.
I. Oiiee pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. O capítulo ficou curto mas prometo compensar no próximo.
III. Sei que tem coisas que não estão fazendo sentido por agora, como o "afogamento", o nome Julien, a flor estar demorando pra desabrochar e etc. Mas prometo que tudo será explicado, vai fazer sentido. Confiem em mim kkkkk.
IV. Alguma nova teoria? Eu adoro ler as teorias de vocês, me diverte bastante kkkkk.
V. É isso, nos vemos em breve. Prometo não demorar muito, eu simplesmente não consigo parar de escrever essa história kkkk.
Byee ♡.
BY: Duda
2021.
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