秋 (Fuyu) - Fechar de cortinas (Parte I)
Aviso
O meio/final do capítulo possui cenas mais íntimas entre as personagens do livro e uma abordagem diferente minha para essas cenas. Era apenas esse o aviso.
Presente (26/12/2020 – inverno) / Murano Hoshino
— Pronta para entrar lá?
Ouvir tais palavras escolhidas nessa má hora soa como uma ofensa a minha pouca coragem, talvez até seja uma implicância de minha parte após tantos encontros e mudanças… contudo… tais palavras pesam como incomodo para mim.
No fundo, acredito que tantas mudanças tornaram a mim tão desconfiada de tudo, preço que paguei caro com o sonho de que seria barato.
— Existe algo assim quando se trata de família? — respondo tornando a encarar sua face. Às vezes invejo sua distância com os seus pais biológicos. — Quando se trata de um Hoshino não há muito o que ser feito.
— Tem razão, não existe um termo como “pronto” quando se trata deles. Havia me esquecido deste detalhe tão único a vocês.
— Hanzo, antes de entrar, quero que saiba que perderei tudo que possuo… não acredito na bondade de meu pau. Penso o oposto, sei que meu pai irá manter aquilo tudo que construí em domínio de seu nome como punição.
— A cláusula de nosso casamento, havia me esquecido desta assinatura. Mas ainda que ocorra acredito que fará de novo seu caminho, estarei aqui, nossa filha também e ainda tem Naomi.
— Não gosto de pensar assim.
— Duvido que seja renegada por todos, eu não virarei as costas para você assim como tantos outros.
— Mesmo assim ainda me sinto pesada, é estranho pensar que agora não passo de uma renegada para eles.
— Murano. Mais calma, agora, será necessário ter ela e convenhamos que você não pode tentar adivinhar tudo e tão pouco prever as razões humanas.
— Vamos entrar… e acabar de uma vez com esse casamento.
No acatar de meu desejo deixa o carro, o fechar de sua porta o traz até mim e por gentileza abre a porta trazendo até nós um vislumbre do que este casamento sempre foi… diante deste prédio onde iniciei tudo vejo que no fim foram longos anos de conversas e negócios. Nada, além disso, apenas isso no final das contas.
O lugar onde esse casamento começou, no restaurante que trabalhei e onde construiu meu legado pensando no que deixaria para minha filha quando partisse deste mundo. Foi bom enquanto pude manter você, mas hoje terminará para sempre nosso laço como imagino.
Seguro seu braço fazendo-o de meu apoio, pela entrada juntos cruzamos e pelos olhares de todos os funcionários sou recebida.
Sinto certa tristeza ao encarar essa imagem como um adeus em definitivo, não posso mudar nada disso e tão pouco desistir daquilo que agora possuo ao meu lado. Seria injusto comigo e com ela que ainda me espera voltar para seus braços.
— Por aqui madame Hoshino.
— Obrigada.
A anfitriã nos conduz até o salão de jantar tomado pelas faces de pessoas mais cultas que o comum a parte da sociedade. E dentro tudo isso a grande mesa que destoa de todas as outras. Seu olhar é o que recebo junto dos sussurros abafados de tantas faces solitárias.
Aqueles que partilham deste sangue juntos a mesa, como os urubus que agouram a carne morta, não mudam mesmo com o passar da idade. São uma lástima ao que um dia foram pessoas, trocaram seu caráter por pouco mais de dólares numa conta e ações empresárias.
— Mesa cheia. — ouço Hanzo. Não é como se eu esperasse algo diferente desta família. — Tem certeza?
— Vou ouvir ele e depois partir.
A cadeira oposta a sua pessoa puxo sentando-me diante de seus olhos, em minhas costas de pé Hanzo permanece.
— Sente-se idiota, ficará de pé até quando?
Uma das cadeiras puxa sentando-se próximo de meu irmão. Me sinto tensa, não pensei que um dia passaria por isso, mas também não odeio essa situação na qual agora estamos presos.
Nunca ninguém, além de Kana, havia feito isso com ele, e cá estou eu, tomando os passos de minha irmã para por um fim em meus tormentos.
— Qual dos dois começará a falar sobre a canalhice que fizeram por minhas costas? Espero que tenham uma boa desculpa, afinal, minha filha rebelde perdeu tudo e você perderá a proteção de seu pai biológico.
— Fiz o que achava certo pai. Não existem desculpas para serem dadas.
— E eu não julgo sua atitude, as pessoas infelizmente são livres para serem as detentoras de atitudes tão burras. Nesse caso se parece com sua mãe, com escolhas tão falhas que acarretam uma série de frustrações.
— Sou como ela, sim, não nego e digo com clareza que prefiro ser assim do que assumir algo que não sou apenas para que você se sinta feliz num castelo inexistente.
— Murano até onde acha que o amor que dizem sentir vai? Será que ela apoiaria você? Uma divorciada com uma criança e viverá sem um emprego ou nome porque ninguém aceitaria.
— Tenho tempo para refazer isso, não é como se tivesse tido escolhas burras e inconsequentes antes. Na verdade, isso apenas existe porque me empenhei e estudei tudo que pude.
— Claro, sua mãe pensava o mesmo até que passou por sua mente fugir para viver com outra mulher e terminou daquela forma.
— Diferente dela, eu não tenho medo do senhor. Não direi que não me ajudou, mas hoje, eu entendo e sou grata pelo que fez de bom, enquanto o resto desprezo por ter se mostrado um ser humano capaz de infligir o mau conscientemente.
— Bom que não tenha, nunca almejei o mau de vocês aquém chamo de filhos. Até mesmo uma renegada como Kana teve uma razão para mim, e no final nenhum deles além de você teve a competência para gerir.
— Não cuspirei no prato, isso é graças a você, seu apoio me tornou capaz e agora quero ser capaz de me tornar uma pessoa feliz sem mais amarguras causadas por você também. Essa vida que imprimiu para mim não será a que desejo viver para sempre, não, ela acabará aqui.
— Amor não pode sustentar alguém, verá isso.
— Suas palavras estão certas pai, nunca esteve errado nisso e admito que seu apoio será uma perda grande… no entanto, eu tenho algo que me alimenta a persistir e assim farei.
— Você e esse assunto infundado de laços. Tem razão quando diz que não é minha filha, uma Hoshino teria aprendido seu lugar e não tentaria confrontar aquele que possibilitou apalpar o mundo todo.
— Seu mundo é falho. O que vê diante de você é uma prova disso, mesmo punições não mudaram minha mente e agora almejo ser livre dessa escravidão imposta pelo nome “Hoshino”.
— Alguém que pensa como a Kana não pode jurar estar sã, mas é como disso… — a mão paira sob um envelope. — não tenho poder sobre você.
A mim ergue seu braço trazendo o envelope, mais uma de suas surpresas imagino, não seria nada surreal de se imaginar. O lacre que representa aquilo que um dia fui, uma cega, vazia tomada por escolhas que não pude fazer.
— E eu espero que cumpra com essas, o que esta presente nessas folhas será meu último ato de boa-fé para com você.
Abro o lacre retirando seu conteúdo, uma única folha… agora entendo suas palavras… se assim é o desejo, então assim eu farei.
— Farei como o senhor desejar, não serei mais Murano Hoshino. O sobrenome de solteira de minha mãe, levarei o “Umezawa”, e serei a figura que deseja em prol dela.
— Um dia se arrependerá de sua desastrosa escolha, vejo isso, mas será tarde. Você é uma falha, uma negação, e ainda assim a melhor que tive em minha casta… espero que Suyen seja melhor do que você é e foi por muito tempo.
— A partir de hoje irei tomar distância, como deseja, não sou mais sua filha e você tão pouco é meu pai. E diferente do que pensa, deixarei que a veja, se sinta livre para visitar sua neta quando a saudade lhe assombrar.
Mesmo de onde o vejo sinto que esse rumo que escolhemos talvez não fosse preciso se no passado ele não tivesse optado pelo erro. Ao mesmo tempo, aceito que este rumo de agora seja o melhor dos caminhos, não para mim ou você, mas para ela que com o tempo saberá escolher seu caminho.
O erro de ignorar não apenas a mim, mas, principalmente, a minha mãe qual mais sofreu com isso será seu fantasma e aqui farei diferente.
Viver distante de sua filha mais velha, precisar seguir os rumos que não desejou e por fim terminar morta em um quarto de hospital.
E quando penso nisso lembro da dor que senti quando a encontrei, o sangue em sua vestimenta, a expressão dor e suas últimas palavras ainda são marcas presentes em minha mente.
— Logo morrerei, então talvez não tenhamos outra oportunidade de encontro. Quero que saiba que sua mãe era importante, mesmo que tenha terminado naquele estado.
Encaro seus olhos encontrando abaixo do semblante baixo algo que pouco vi por tantos anos, lagrimas, no final a solidão é o que recebeu em troca.
— Não peço que acredite em mim, pois sei que não irá, não importa o que eu diga, certifique-se apenas de manter nosso trato.
— Adeus.
— Que essa mulher não lhe faça passar pelas lástimas quais tanto lhe são comuns.
E pensar que essas seriam suas últimas palavras para mim, me espanta, ao mesmo tempo, em que assusta a minha mente. Esperar deste homem em minha frente algo é estranho, mas desta vez, não houve brigas ou discussões que me fizessem encarar a ele com temor ou dor.
Olhar para ele agora me traz aos momentos onde estive sozinha, quando me senti humilhada, nem mesmo o homem a quem chamava de marido na época estava ao meu lado.
Suyen havia acabado de nascer quando isso me ocorreu, não posso dizer que amava minha filha, seria errôneo dizer isso quando eu mal podia ver sua expressão na área de entubação.
Meses foram se passando, todos eu estive sozinha, perdida em um labirinto qual não podia sair mesma que assim desejasse, e como um corpo que pelo mundo dos vivos vaga sem ter alma alguma, fiquei inerte em pensamentos tão sombrios.
Naqueles dias de inverno foi onde conheci uma mulher incomum, num atípico dia de inverno, a neve cobriu tudo do lado de fora enquanto eu esperava pacientemente para mais sessão onde minha filha qual mal me importava naquele instante estaria.
E como a mãe que não tive após sua morte, os seus conselhos me libertaram ainda que por pouco instante, agora posso entender um pouco daquelas palavras.
Deixo o salão sem a companhia de Hanzo segurando o documento em mãos, abaixo da proteção permaneço, não esperava uma chuva tão repentina agora. Antes, quando passava por aqui, sentia que cada som agudo atormentar minha mente, as luzes pesarem em meu olhar e lentamente sentia que estivessem se apagando uma por uma até não sobrar nada além de escuridão.
— Essa era minha solidão… agora… me sinto livre de todos vocês.
Sento-me no banco abaixo das flores, aqui era onde passei horas em lágrimas, não tenho mais culpa aqui dentro. Quero apenas ser alguém bom, uma mãe capaz de protege sua filha. Espero não decepcionar ela, é, isso é tudo que desejo agora e espero conseguir entregar uma vida boa com problemas simples para ela.
O buzinar atrai minha atenção, o carro preto para em minha frente e no abrir da porta corre até mim como naquela época onde éramos jovens. Seu abraço, esse calor, então é isso que quer dizer amar alguém e ser amado.
— Vai pegar um resfriado ficando aqui.
— Não precisava ter vindo… pretendia voltar amanhã.
— Senti que precisava vir, e bem, todos os jornais agira falam de você e seu casamento.
— Imaginei que isso fosse acontecer, mas passou.
Aconchego-me em seu abraço partilhando do úmido que desce por minhas vestes tomadas por pequenas gotas, estar dentro de seu conforto traz confiança e afasta toda a solidão, como se cada luz apagada voltasse a brilhar uma por uma.
— Vamos embora daqui.
— Para onde vamos? Esta chovendo tanto e dificilmente teríamos espaço para um quarto de hotel sem sermos julgadas.
— Nossa casa. É para lá que devemos ir.
— Nossa casa?
— Sim.
Seu sorriso inocente brilha mesmo com uma fala tão madura. Naomi, você me faz pensar diferente e eu gosto disso.
26/12/2020 (inverno) / Naomi Minamoto
Abaixo da proteção estaciono o carro, desvio meus olhos a encarando, é incrível como mesmo desacordada consegue ser bela como nenhuma outra nesse mundo.
— Esse lugar… — manhosa, é engraçado lhe ver nesse estado tão delicado. — é um tanto diferente daquele que vi.
— Um amigo meu, dono de um bar, sofreu uma perda recentemente, eu apenas dei a ele aquele lugar… seria melhor para ele nesse momento.
— Bom que pensa assim… gosto de ver você ajudando aos outros.
— Agora comprei essa casa, Nakamura fica bela durante a primavera.
— Tem razão. Os corredores do rio meguro são belos, mas na primavera, possuem um charme incomum.
Alço seus fios revoltosos desfazendo seu emaranhar, os olhos, talvez seja apenas o sentimento comum a quem está apaixonada, mas eu realmente amo observar o brilho gentil neles.
— Naomi. Como faremos agora que estou sem nada além de minha dignidade?
— O que desejar. Sei que terá de começar tudo de novo como se fosse a primeira vez.
— Sempre foi tão difícil e agora parece um pouco mais difícil.
— Sei bem como a vida pode ser difícil, mas, até aqui foi forte, então não será difícil como talvez imagine. Apenas conte comigo, não importa o conflito, farei meu melhor.
— Isso é algo que eu jamais vou poder pagar.
— Não quero que pague nada, tudo que desejo é ser alguém capaz de confortar a você, não importa o quão ruim seja o momento.
— Você está se saindo uma namorada melhor do que esperava…
O toque em minha face busca aconchegando seus dedos em minhas maçãs, em minha pele o roçar dos fios umedecidos… sei que talvez não seja esse o melhor dos momentos, mas meu corpo clama, cada centímetro deste meu ser grita almejando estar com você.
— Quando está tão próxima impossibilita não desejar beijá-la.
— Também sinto o mesmo quando estou tão perto de você. Me sinto mais feliz, não sei explicar tão bem, mas é como se uma parte ausente estivesse comigo novamente.
— Prometo que jamais te deixarei novamente, nunca mais estaremos afastadas.
E no cair da chuva permanecemos paradas no próprio tempo, nem mesmo sei, mas agora que reparo estamos juntas diante da garrafa pela metade e taças cristalinas.
Encarar sua expressão pelo reflexo do espelho me remete ao estado no qual a encontrei, não havia brilho, tão pouco pude ver alegria por enfim encerrar com seu pai.
— Pensa em algo sobre. — a encaro recebendo seu fraco sorriso. Será tão evidente assim? — E sim, seus olhos a deixam mais evidente.
— Não posso te enganar, então, estamos indo pelo correto.
— Estou bem, acredite, por muitas vezes estive em piores momentos. — bebe de sua taça num gole, no abaixar deixa-a sob borda da banheira.
— Não vou mentir, parte de mim está morrendo de preocupação para saber como foi na reunião.
— Sua inquietude é transparente.
— Negar que seja é algo que não farei, mas para ser honesta com você, quando encontrei você naquele estado de espanto perdi minha compostura. Sufocada, foi como estava, presa ao ponto de invejar a coragem.
— Você foi até mim, isso é um ato de coragem qual quase nenhum o faria.
Término minha taça tomando a garrafa em minhas mãos, sua taça torno a encher e posteriormente a minha deixando ambas próximas.
Nas costas tomadas pelo sabão deslizo sentido sua pele, e no murmúrio se move para trás ficando entre de minhas pernas.
— Sei que não deseja me contar sobre sua noite, imagino que tenha sido ruim… ainda assim sei que se está aqui comigo está decidida.
— Naomi, por que tudo entre nós duas é tão difícil quando não deveria ser?
— Uma pergunta difícil, sempre busquei lógica nela e ainda assim nunca entendi o motivo pelo qual nós sempre estamos em caminhos diferentes.
— Hoje, nessa noite, eu apenas pensei em duas coisas distintas… “Me abrace forte” e “eu quero desaparecer para algum lugar”… um lugar tão longe como o rio Meguro.
— Entendo como se sente, aqueles importantes se intrometeram e agora tudo que nos resta é a visão do que resta. E no fim apenas nós podemos definir aquilo que sentimos.
— “Não se vá”, era isso que ecoava em mim quando me encontrou. Meu pai deseja algo que apenas eu posso entregar, um último desejo, esse sendo um que não posso negar.
— Por isso segredo?
— Tenho um trato, assumir seu legado. Em troca, algo pontual, encerrar como tudo começou.
— Sua mãe.
— Indecisão é o que estou sentindo.
Os olhos quais representam meu ponto mais fraco encaram a mim pelo espelho, aquilo que tanto tentei esconder e no final aprecio. A força capaz de roubar cada segredo, capaz de aniquilar toda defesa, isso é o que pode com tão pouco.
Extinguir a distância entre nós duas, e aqui dentro algo palpita crescendo de pouco em pouco.
— Murano, eu nunca mais irei te esquecer.
— Conforta a mim ouvir suas palavras.
— Jamais serei capaz disso, hoje, eu sou incapaz de tal ato, desde que você marcou meu corpo naqueles dias de verão. Nunca poderei esquecer daquele dia.
— Naomi.
Sua mão escorrega por minha face, esse seu toque conduz até meus lábios sua presença ausente de timidez. Da calmaria a força, voraz é seu anseio sob meus lábios, a língua convidativa se envolve a minha trazendo os sabores do álcool.
— Eu não esperarei mais, fugir, isso não me interessa.
Seus olhos fitam os meus… eu havia esquecido do quanto ela fica bela quando se impõe. Nesta noite essa é a primeira vez em que a vejo de verdade, essa é a primeira vez em que me sinto completamente dominada.
— Quero ser clara, não tenho mais medo ou receio do que irão pensar, dizer o que sinto deveria ser minha prioridade desde o começo.
— Vejo isso em seus olhos Murano.
— Desejo te contar sobre as milhões de emoções inexplicáveis que sinto ao estar com você, emoções que você nunca soube. As milhões de razões que me fazem desejar estar aqui e agora… eu apenas não desejo mais perder tempo quando possuo a certeza de que te amo.
Frente a mim, sem mais reflexos para intermediar seu olhar, em seu inclinar conduz a mim seus lábios intensos. O calor que antes sentia entre minhas pernas se espalha, inconstante meu coração bate a cada avanço intenso.
Sutil desfaz o toque de nossos lábios, em seus olhos o brilho terno, aqui começaremos então… não serei mais a tola de antes, agora, serei a mulher que estará nos seus momentos mais alegres e difíceis.
— Murano, eu só quero ficar onde você estiver pelo resto minha existência. Não me importo com quem irá se opor desde que você fique ao meu lado.
— Faremos assim então, juntas, como namoradas e não almas solitárias.
— Juntas…
Levanto-me dá banheira deixando suas águas, o roupão busco no cabide e ao seu deixar das águas a envolvo dando um laço para que não caia.
Pela porta a vejo sair enquanto busco a rolha entre a água, no puxar das correntes o som, gradualmente a água desce e deixando o objeto acima da pia.
Frente ao espelho vejo meu reflexo, não me pareço em nada com a Naomi de meses atrás, não, eu mudei tanto em tão pouco tempo.
Estranho pensar nisso agora, me faz lembrar de um verso que certa vez ouvi dela, “Foi você, foi você quem me ensinou. Que se a escuridão brilhar, ele se tornará um céu estrelado, não esconda sua tristeza por trás de um sorriso porque cada uma dessas estrelas brilhará sobre você”.
— Acho que agora posso entender você. Murano.
No banheiro entra mais uma vez, recebo sob mim seu olhar, me sinta estranha, como apenas um olhar para você pode mexer tanto comigo.
Abraço suas costas sentindo o perfume adocicado de flores, cerejeiras, aperto-a sentindo a nudez de sua pele contra meu corpo.
— Naomi, — sussurra próxima de meu ouvido. Meu corpo estremece apenas em tê-la coladas a minhas costas. — quero fazer tudo que você quiser.
— Dizer tais palavras nesse momento, são perigosas.
— Está tudo bem, hoje a noite posso correr todo e qualquer perigo… inclusive esse…
Rendida por sua pegada em meu queixo, meus lábios alcançam mordiscando suavemente a eles.
Murano, quem é essa você que se apresenta assim…
Meus olhos feche deixando seu toque conduzir a mim, nossos lábios num súbito instante e como mágica se separam trazendo sua fatal presença.
Seus passos sigo e sob o colchão me empurra ficando acima de mim.
— Naomi.
Sob mim fica, meu queixo se torna a diversão de seus lábios manchados. O mordiscar inquietante segue até minha orelha, arrepio me toma, sinto seu tenso respirar a cadê toque. Seus lábios repousam em minha maçã, minha face mordisca pairando os lábios ardentes acima dos meus.
— Naomi… — sussurra meu nome. Minha face queima apenas em olhar para sua expressão.
Em minha cintura, o pressionar de seu toque, meu corpo estremece. Os lábios molhados se ocupam de meu busto, seu toque em meus pontos mais sensíveis. Difícil resistir a isso, sufocante. Meu corpo não pertence mais a mim, não, me sinto entregue a suas mãos.
Incapaz de me controlar enquanto me sinto flutuar entre as emoções. Seguro os lençóis com força ao sentir seu toque em meu seio.
Meus lábios abro deixando com que meus anseios escapem tão aveludados, respirar é tão difícil, sinto-me perdida em seus gestos. A face encontro recendo seu olhar arrisco, o toque em meu queixo, esse sorriso em sua face…
— Você é tão linda assim… me faz desejar…
Os lábios molhados descem por meu corpo, meu pescoço me traz devaneios, o busto anseio, meu abdômen se torna seu. Sinto o toque em meu quadril, suave trazendo o arrepio. Murano, quando se tornou tão voraz.
— A última vez eu estive em seu lugar. — sorri. Tortura é tê-la na visão que possuo.
— Murano… — minha voz, tão fraca…
Murano segura minhas pernas afastando-as enquanto se inclina para baixo. Seu rosto lá embaixo, encaro seu olhar violeta num último instante antes do súbito fechar. A língua quente toca a mim, o espasmo consome a meu corpo, não existe mais nenhum controle em minha posse.
— É tão…
Os anseios que escapam de mim, me sinto perdida num vale onde nunca estive. Entrelaço meus dedos a seus fios segurando sua cabeça, mesmo que implorasse a ela jamais pararia.
Tento fechar minhas pernas, mas seu toque me impede… me sinto estranha… prestes a...
— Murano…
A tensão se explode, corpo arde em calor… me sinto relaxada. Tento afastar-me, mas me impede domando meu corpo… ela sorri com astúcia, essa é a nova face de Murano.
— Passo a passo… tudo bem?
Sinto um leve choque por dentro entregando a ela o controle, meu corpo nem mesmo resiste, tão facilmente assume controle e nem mesmo deixa de fitar a mim. Seus lábios selam minha voz. O momento me faz agarrar a ela, nos ombros, o marcar de minhas unhas. Gentil é o beijo que deixa, meu peito se acalma e diante a ela encaro por mais uma vez esse olhar vibrante mergulhado em desejo.
— Com calma… vamos com calma…
Guiada por sua voz me deixo controlar, a estranheza já não me domina mais… o toque gentil começa tão lentamente. Me sinto unida a Murano, quando a olho nos olhos sinto.
Precisos são os toque que despertam minha ansiedade, seus lábios se unem aos meus e logo encontro sua orelha.
— Mais… rápido… — o sussurro rouco escapa de meus lábios.
Assim realiza meu desejo, meu corpo se envolve a tensão que lhe envolve por cada centímetro. Não aguento mais, e no último toque, meu limite, não há mais tensão, tão leve que me sinto afundar no colchão. Seu corpo aquece ao meu, sua face se esconde entre meus fios de cabelo, tão molhados, o seu perfume de cerejeiras destaca.
— Naomi…
— Fizemos bem, — entre os fio que protegem sua pele deixa meus lábios. Um beijo, tudo que posso fazer agora. — somos boas nisso.
— Eu te amo, Naomi.
— Eu também de te amo, Murano.
No pesar de meus olhos busco seu fechar encarando o sorriso gentil…
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