秋 (Fuyu) - Despedidas (parte I)
Presente (25/12/2020 - inverno)
Mesmo que anos tão longos assim como solitários tenham surgido em minha vida, eu realmente não importo mais com suas consequências.
Idas, vindas, passagens de tempo tão longas quanto estações repletas de questionamentos por vezes errôneos.
- Naomi.
No perder-me em seu olhar é onde posso encontrar a certeza ainda que mínima de algo que julguei mal desde o começo, eu não gosto da Naomi, nunca foi sobre gostar.
Desde o primeiro encontro isso cresceu dentro de mim, quase que um literal germinar... sim... gostar não é uma palavra que possa definir essa sensação tão indomável.
- É estranho estar aqui, pensando em como tudo passou. Admito que me sinto feliz, mas tenho medo, apesar da coragem esse receio não foi embora de meu coração.
- Fala sobre o "nós"?
- É. Nunca pensei o quanto essa palavra fosse ser difícil como um todo.
- Não irei mentir apenas para confortar você, também me sinto assim. Penso em como farei para lidar com essa realidade, mesmo que seja tão cedo muitas coisas estão mudando.
- Seja seu mundo ou o meu, ambos estão se unificando para o momento exato onde....
O gesto sutil realiza ao segurar minha mão, na curva de seus lábios a visão de seu sorriso.
Seus lábios tocam a pele de minha mão, estão quentes, agora que percebo ela está quente como um todo.
- Naomi. Sua temperatura... o nariz...
O vermelho escorre pela narina, o lenço busco em meu bolso e ao balançar desfaço seu amarrotar.
Contra a face pressiono o pano testemunhando aos poucos o mudar de sua cor.
- Naomi, - desfaço nosso toque. - está na hora de partir. Você precisa descansar pelo que estou vendo em minha frente.
- Estou bem...
- Então façamos por outra razão, amanhã terei de até Tóquio para resolver algo.
- Família?
- Sim, tenho afazeres pela noite, afazeres esses que são de extremo desgosto. Não desejava fazer, mas assim será.
- Sinto que não deveria ir. Não ganhará nada indo até eles.
- Concordo que não ganharei, mas preciso fazer ainda mais agora que desejo manter você comigo para o resto da minha vida.
- Não quero ver você magoada.
- Garanto que não irei ficar.
O toque sinto sob minha palma, seu calor destoa por completo deste clima frio. Em seu olhar percebo a incerteza, mesmo que em baixa, seu esverdeado puro não perde seu poderoso encanto.
- Também irei precisar ir para Tóquio, mas não agora, contudo imagino que não possa adiar para que eu posso ir com você.
- Não posso, e mesmo que fosse possível eu ainda precisarei enfrentar a realidade sozinha por enquanto.
- Eles não sabem sobre seu divórcio?
- Ainda não, mas tenho dúvidas, meu pai jamais deixaria algo assim passar. Tudo isso me faz acreditar que seu silêncio significa uma conversa.
- Posso ir com você, arrumo uma forma de adiar o que preciso amanhã. Não tenho muito o que fazer além da audiência, posso adiantar ela, não sei...
- Naomi, - reclino-me tocando a ponta de seu nariz. - irei ficar bem naquele ambiente. Lembra que agora eu tenho alguém para retornar.
- Confio em você, mas não naquele homem.
- Meu pai não fará nada que possa se arrepender, e tenso isso em mente irei dizer o que penso.
- Hanzo irá?
- Todos nós iremos. Por hora também não irei contar para Suyen, não quero que ela fique com raiva de você por minhas escolhas.
- Se ficar entenderei perfeitamente, sou uma estranha qual pouco conhece e no final estou com a mãe dela por mais tempo que muitos outros.
- No momento direi, mas por agora vamos com calma quanto a revelações. Temo que sejam muitas informações para ela, o divórcio ainda é um problema para ela.
- Respeitarei seu tempo seja ele qual for, isso é o que eu farei. Ter você ao meu lado é apenas o começo, farei meu melhor para ser a mulher certa para você.
- A pessoa certa não existe Naomi, mas você sempre foi e sempre será a única pessoa com quem desejo construir um futuro. Por isso fui capaz de suportar tantas coisas, no fundo eu sabia que seria você.
- Isso me faz lembrar da nossa época de escola onde fazíamos coisas que julgamos comum a garotas, mas que no fundo, sabíamos que era algo apenas comum a nós duas.
- Nosso relacionamento sempre foi, e provavelmente sempre será assim. Nós temos nosso propósito comum enquanto todos os outros seguem em frente sem um.
- Essas emoções são o que tornam ele único, mesmo que tenhamos percorrido um longo caminho nossa resposta nunca mudou.
- Mesmo que fosse necessário passar por tudo isso de novo, enfrentar todos os problemas, todo o caminho que percorremos, faria ele todo do início se isso me trouxesse aqui.
Seus olhos brilham, Naomi, desta vez é você quem porta o marejar no olhar. Suas mãos seguro, e perante aos olhos abro um sorriso.
- Se tudo isso fosse uma provação, eu a faria do começo apenas para ter você ao meu lado.
- E eu faria o mesmo por você.
Meus olhos são envolvidos na balada singela que emana de seu caridoso esverdeado, ao pesar de minhas pálpebras me inclino buscando o calor que apenas a escuridão pode me trazer. O toque gentil se apossa de meus lábios, em meu peito calor, este coração tão veloz parece gritar ao mundo.
A dança de seus dedos sinto em minha face, este tocar suave, isso que vivemos apenas me traz ao desejo mais contido em minha alma, o de possuir seu calor para mim para enfim extirpar o frio.
Sob meu peito o toque que afasta a minha presença com cuidado, aos poucos a luz retorna a meus olhos trazendo a mim a imagem inquebrável da mulher por qual tanto tempo almejei estar.
As mãos levo até meus fios incapazes de se manterem organizados, estar aqui e agora diante de toda essa plenitude que exala me faz desejar ser melhor para seu futuro.
- Agora eu vou com você até sua casa.
- Não, irei sozinha hoje, preciso disso Naomi.
- Apensar de tudo estou curiosa com o motivo.
- Não existe um motivo.
- Tudo bem, mas eu realmente queria ser importante para você agora.
- Você é a segunda pessoa mais importante para mim depois de minha filha.
- Isso basta.
Sinto seus braços me envolverem, essa Naomi em minha frente traduz algo qual pouco vi, uma mulher afastada de suas frieza e capaz de aceitar alguém como que acaba de se tornar uma mãe solteira. Parte de mim ainda se assusta, acredito que ainda posso pesar em seu futuro apenas por existir nele e isso apesar de tudo ainda me incomoda profundamente.
No separar de nossos corpos o entrelaçar de seus dedos aos meus, pelo festival que aos poucos se esvazia seguimos indo de encontro ao seu compromisso da noite. Diante da visão de uma mureta decorada paramos observando com cautela a garota junto de um rapaz, provável que possua a mesma idade.
- Essa é minha responsabilidade. - sua voz muda, o timbre suave, quase afavel. - Amanhã eu tenho um grande encontro com o juiz, decidirei seu futuro, estou disposta a adotar uma garota como ela apenas por simpatizar com sua causa.
- Não a conheço, mas acredito com fidelidade mas palavras que diz. Sei que ela é uma pessoa boa e que você certamente possui seus motivos para estar assim.
- Por toda estação que passei nunca cogitei isso, adoção, sempre julguei como algo que não faria e agora estou disposta a fazer. Bom que com sua ajuda poderei ter uma experiência melhor.
- Adoraria ajuda você nisso, mas nem sempre sou uma boa mãe. Possuo atitudes questionáveis, mas venho aprendendo com o tempo... farei meu melhor para te ajudar.
- Isso basta para mim, acredite, apenas de ter você comigo me sinto completa.
- Prometo que voltarei logo.
- Estarei te esperando, apesar de aceitar o pedido ainda temos que ter nosso primeiro encontro.
- Quando voltar, vou pensar em algo.
- Eu tenho uma ideia, esperava e verá.
- Que assim seja. Até Naomi.
Sem que tempo lhe fosse cabido cruzo a linha estalando sob os lábios um leve toque, e pelo afastar abro um sorriso seguindo meu caminho em direção a saída do festival. Onde encontrei ele mais cedo espero, minutos seguiram e logo o carro para permitindo minha entrada.
- Como foi?
- O que?
- Você está diferente, sorrindo.
- Foi normal, o que um festival deveria ser.
- Meus pais vão ficar com nossa filha.
- Eu havia pedido a sua mãe, mesmo que nosso casamento tenha sido falso eu realmente gosto dela e de como trata minha filha.
- Sempre será bem vinda naquela casa, em minha casa quando eu estiver em uma é claro. Todos nós iremos te acolher, é importante em nossas vidas Murano, talvez mais do que você mesma acredite.
- Obrigada por tudo Hanzo, mesmo nosso casamento sendo uma droga qual eu jamais dedo experimentar novamente sou grata por ter sido você.
- Amanhã vamos partir, irei te ajudar a acabar com tudo que lhe prende. Se precisa de defesa serei seu escudo, caso ataque serei sua espada e caso desejo ultrapassar a tudo serei suas asas.
- Hanzo.
- Não fui um bom marido, reconheço todas as minhas falhas não apenas com você como também para com a nossa filha. Suyen não merecia um pai como eu, desatento, inconstantes, preso a raizes e trabalho.
- É um bom pai, mesmo que digo contrário.
- Não acredito, mas meu melhor passo a fazer sempre visando não apenas meu lado como o de vocês duas agora.
- De verdade Hanzo, eu agradeço seu esforço.
- Agora tem algo que preciso perguntar para você. Foi capaz de ser sincera com seus sentimentos desta vez?
- Se refere a Naomi?
- Sim. Eu encontrei ela e disse onde você estaria.
- Isso explica algumas coisas, mas, em resposta a sua pergunta posso dizer que nunca fui tão sincera em toda minha vida.
- Fico feliz em ver que pode ser clara com ela.
- Estamos namorando, quero que seja o primeiro a saber disto antes de todos os outros afinal você foi meu marido. Por enquanto é apenas um pedido informal que planejo melhorar.
- Vivam esse momento, aproveitem, mesmo que o mundo diga que está errado sigam em frente sempre lembrando daquilo que desejam possuir.
- Farei desta forma não importa o estado em que eu chegue. Farei desta forma.
O silêncio retorna, mas não o ruim, um agradável qual não mais me incomoda. A madrugada passou, o amanhecer lhe trouxe até mim e ao entardecer o interior havia ficado para trás dando espaço a cidade que nunca dorme.
Em suas mãos deixo minhas coisas seguindo para um caminho diferente, um ponto específico onde apenas eu saberia como encontrar e para lá vou.
A entrada cruzo recebendo os olhares, como é comum o caminho sigo até uma sala reservada onde encontro sua foto ao lado de uma estranha garota qual nunca pude conhecer. Em outro lado uma foto minha ao seu lado carregando flores.
- Obrigada por me receber mãe. Faz tempo desde minha última visita, espero que esteja bem.
Do jarro retiro as folhas sem vida colocando-as numa sacola e em seu recipiente ponho novas flores brancas. Crisântemos.
- Espero que você esteja bem aonde estiver, eu estou me virando como posso. Amanhã a noite eu tenho algo importante para fazer, serei feliz, serei livre de nosso pai.
Puxo o pequeno banco de madeira sentando-me em sua frente.
- Agora eu estou na namorando uma mulher, por isso preciso do divórcio, quero fazer tudo do jeito certo com ela. Prometo que a trarei aqui, graças a ela eu tenho me alimentado bem e aprendido respeitar meu próprio tempo.
Os passos ouço, o estalar da porta condi meu olhar até a figura que surge no canto da porta carregando em suas mãos flores. Um sorriso sem graça surge nos lábios carnudos da presença de cabelos castanhos e ao seu lado o olhar distante ainda que sereno esse qual anos de distância separam nosso encontro.
- Olá... - a castanha se pronuncia roubando minha atenção. - não sabíamos que tinha alguém.
- Imagino que tenha vindo visitar ela assim como eu, mas, não esperava encontrar você.
Eu não a vejo desde minha ida para a França após o casamento com o Hanzo, mesmo naquela época apenas nos vimos por estamos no mesmo aeroporto em um mesmo instante.
Ainda que tanto tempo faça eu tenho plena certeza de que posso reconhecer esses olhos distintos em qualquer lugar... afinal são como os dele em essência.
- Sim, vim visitar nossa mãe.
- Não sabia que vinha fazer visitas a ela, mas não é como se ela fosse estranha no fim.
- Kana... como tem...
Seu olhar carrega a singular reprovação, perguntas como esse não são tão bem-vindas para ela quanto eu imaginei.
- Podemos conversar depois, agora eu vim cumprimentar minha mãe e espero que possa fazer isso antes de você me questionar sobre algo.
- Tudo bem, estarei lá fora... irei esperar.
- Termine primeiro, após você sair farei meus cumprimentos.
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