季節 (Kisetsu) - Meu retiro
Aviso!!!
Este é um capítulo especial que possui seu foco em personagens secundários, desde a versão antiga da história tinha interesse em produzir esse tipo de capítulo entre um grande momento e outro, mas acabou que a ideia foi jogada para escanteio. Com o decorrer da história outros personagens terão seu foco nesses capítulos.
Esse é o aviso, boa leitura!
Presente (12/12/2020 — outono) / Tatsuo
— No final todos foram embora, Hanzo acompanhou Chie de táxi... Naomi e Murano voltaram juntas para casa e aqui está você sendo a remanescente.
— Deseja que eu vá embora?
— Jamais, não sou louco de cogitar uma possibilidade dessas ainda mais quando busquei tanto por sua presença.
— Te devo desculpas.
— Sabe que eu entendo seu lado não é? Tudo bem, sério mesmo.
— Não está tudo bem e você sabe disso.
— Você me afastou quando achou necessário e eu respeite como julguei ser o certo, não irei mentir sobre, tenho lembranças de ti e isso não irá mudar.
— Sempre fui correspondida e quando deveria corresponder eu fugi como uma garota com medo do mundo a sua volta.
— Eu entendo, entendo perfeitamente.
— Eu quis o encerrar de nosso relacionamento, você aceitou e eu não pude cumprir a única coisa que você me pediu... coordenadas.
— Eu te pedi para ficar, estava disposto a lidar com seu lado mais sombrio. Hanzo me aconselhou a deixar você ir, pressionar você teria sido um desastre e não era o meu desejo.
— Tatsuo, você sabe que eu sempre gostei de você não é? — vejo os lábios abrirem um sorriso e com eles o saltar de suas covinhas tímidas. — Até hoje eu me arrependo daquela decisão errônea.
— Agora você está aqui em minha frente, temos tempo e cabeça agora. Não é tarde para criarmos uma família como desejávamos.
— Um relacionamento desse não pode ter a fórmula ou duração que almejo, não com essa distância tão grande entre nós dois.
Desfaço o laço de meu avental, cruzo o balcão segurando a garrafa em minhas mãos e como o interesse sugere sento-me à sua direita recebendo de seu olhar uma bela visão de sua face marcada pela beleza natural.
— O que acredita que será diferente se reatarmos agora? Não acredita ser uma volta válida para nós?
— Minha vida é corrida, você agora construiu um bar e minha presença certamente vai atrapalhar.
— Posso vender o bar ou deixar sob a custódia de outra pessoa, não existe um problema em fazer isso e se for seu desejo podemos realizar.
— Não quero que abdique de sua vida agora por minha causa, seria egoísmo com uma dose de loucura pedir algo assim.
— Temos essa possibilidade.
— Tatsuo, me sinto culpada em pedir algo assim quando a causa do acidente não foi você.
Vejo as lágrimas em seus olhos se formarem, é como naquele dia onde tudo foi tirado de sua vida numa fração de segundo.
Passado (12/12/2010 — outono) / Tatsuo
Apago o cigarro deixando sob o cinzeiro os resquícios de sua utilização, volto minha visão para trás recebendo um belo sorriso em retorno, essa imagem tem uma beleza incomparável.
Natsuki envolve em seu abraço Reii abrindo um sorriso enorme, gosto de ver como ambas são unidas apesar de todas as complicações familiares.
— Tatsuo! — sua voz ecoa pela noite, essa garota é alegre. — Minha irmã disse que te ama muito!
— Diz para ela que eu amo muito ela também!
Vejo seu sorriso se abrir enquanto Reii esconde sua face entre os fios de cabelo escorridos claro como mel, a última mala é colocada no carro para enfim entrar. Natsuki assume seu assento no banco traseiro enquanto Reii caminha em minha direção com seus passos levianos e tão encantadores.
— Podemos ir agora.
— Tem certeza que não deseja ir pela manhã?
— Tenho, — repousa sua mão por meu peito. — é uma entrevista de emprego importante.
— Sim, eu sei que é importante para você. Mas pode esperar não acha?
— Poderia se não estivéssemos necessitadas.
— Posso continuar cobrindo vocês duas, podem vir morar comigo.
— É um apartamento pequeno, mal consegue ficar sozinho.
— Isso é o de menos quando eu poderei ter a presença de vocês duas ali.
— Mesmo que seja meu namorado não desejo ficar vivendo as suas custas sem promover nada em retorno.
— O maior retorno que posso obter é seu amor, não desejo nada além dele Reii. — afago sua bochecha avermelhada. — Eu não sou nada sem vocês duas Reii.
— Bobo, não pode se apaixonar assim por mim. Posso acabar te decepcionando.
— Não vai, mas caso ocorra seremos maduros o suficiente para lidar com a situação.
— Você sempre se mostra o mais racional entre nós dois, gosto desse contraste.
— Sou racional pela presença que você tem em minha vida, me provoca essa sensação com senso de responsabilidade.
Laçada pelo meu abraço roubo um beijo de seus lábios levando um sorriso suave a eles, com o afastar de nossas faces busco sua mão conduzindo a passos lentos sua presença ao carro. No passageiro abro a porta permitindo sua entrada e logo sigo para o assento do motorista.
Ponho meu cinto e ligo o carro recebendo seus olhares tão brilhantes, incrível como posso chamar ambas de família. Fazem parte de meu presente e quero que siga sendo assim até o dia em que eu morrer de velhice.
— Eu amo vocês duas, são importantes para mim. — recebo seus olhares. — Sei que não falo muito sobre, porém eu amo cada detalhe em ambas.
— Maninha, você encontrou o homem perfeito.
— Também penso que encontrei ele.
Entre seus sorrisos e conversas seguimos de carro em retorno para Takayama, a serra pouco a pouco ganhava a neblina junto do breu mais bruto do anoitecer e por eles a baixa iluminação.
Entre um segundo e o outro buscava seus olhos baixos e na traseira a sonolenta a dormir.
— Está cansado desse final de semana?
— Nem um pouco, me sinto revigorado nada verdade. Gosto desse tempo que passamos juntos.
— Podemos acampar novamente depois dessas entrevistas.
— Poderíamos ter ficado, posso suprir vocês duas tranquilamente até que encontrem aquilo que desejam de verdade.
— Para com essa ideia, eu adoro que se preocupe, mas não precisa por mais pressão que isso em seus ombros.
— Não é pressão, eu estou disposto a fazer isso.
— E por quê? Não somos casados, não precisa assumir meu mundo dessa forma.
— Eu quero fazer isso, já disse que te amo, continuarei amando e para sempre irei te amar.
— Eu também me sinto assim, apenas não quero que você se sobrecarregue.
— Eu não irei, afinal eu desejo algo.
No console do carro busco a pequena caixa e noto sua presença, antes que fosse possível pegar a caixa ouço sua voz me chamar. Viro-me em sua direção e o sorriso foi a última coisa que vi antes que meus olhos se fechassem para a fonte de luz.
O estrondo seguido da pressão jogam-me para cima, aéreo busco sua mão... nada fez sentido e quando abri meus olhos sirenes soavam, luzes vermelhas bordam o céu e numa maca um corpo coberto pela capa cinza.
Passado (20/12/2008 — outono) / Reika (Reii)
A porta do estabelecimento se abre, carregando as flores brancas sua figura se aproxima portando no rosto algo que há tempos não buscava presenciar, um sorriso, um terno e aberto sorriso.
— Bom que recebeu alta. Estava preocupado.
— Serei breve em minhas palavras para que não haja uma dor maior que a necessária entre nós dois.
— Tudo bem, queria te contar algo antes, mas prossiga.
— Vamos terminar aqui.
— Oi? — o sorriso some de sua face. — Não entendo.
— Por favor, disse que iria respeitar minha visão sobre isso e assim eu espero que faça.
— Por quê? Pode me explicar? Prometo que farei, apenas desejo entender seu motivo por trás dessa ação.
— Eu não consigo, foi bom enquanto durou, mas agora acabou junto daquele acidente de carro.
— Foi minha culpa, não precisa carregar esse fardo... eu estava dirigindo.
— Não, apenas acabou.
Presente (08/12/2020 — outono) / Reika (Reii)
Eu não sabia o que pensar ou como agir, se meu mundo iria suportar sua ausência e sequer se meu próprio psicológico iria manter-se estável com essa decisão. Eu apenas disse e assenti de cabeça baixa escutando os sons de carros, pessoas e de meu fragilizado coração.
Sua deixa foi clara e sob aquela mesa sem vida me deixou as flores vermelhas, as favoritas de minha irmã falecida, assim foi por anos e mais anos até que eu finalmente recebesse uma mensagem numa noite qualquer de verão dizendo que ele sentia minha falta.
Aquilo partiu meu coração como as ferragens cortaram minha pele naquela madrugada, mas eu apenas permaneci calada recebendo a cada dia suas mensagem. Uma após a outra, assim se sucedeu um por um longo ano até que finalmente pudéssemos nos encontrar há dois anos em uma festividade de Tóquio.
— Foi culpa minha aquele acidente, se eu não tivesse te chamado nada daquilo teria ocorrido na rodovia.
— Impossível prever, a culpa é minha por não ter conseguido manobrar melhor o carro.
— Pare de tentar amenizar meu erro, são minhas escolhas que causaram aquilo e dizer que foi você não vai mudar.
— Assumir a culpa também não altera, — toca meu ombro. — desde aquele período eu venho buscando um meio para equilibrar as coisas e somente agora eu finalmente pude entender sua distância.
— Destruí sua vida, deixou de participar das olimpíadas por minha causa, há dois anos poderia ter ido para o Brasil treinar uma equipe com a sua namorada e simplesmente deixou tudo por minha causa.
— Não pode destruir o que não existe mais.
— Tatsuo, voltar para você é algo que eu desejo e ao mesmo instante é algo do qual tenho muito medo devido às circunstâncias.
— Sabe como isso funciona não é? Uma aposta onde podemos errar ou acertar e tudo estará bem não importa qual seja o resultado.
— Não somos como Murano e Naomi, tão pouco como o Hanzo e de longe somos a essência de Chie... é difícil pensar em algo quando não possuo um parâmetro.
— Talvez não ter nada como parâmetro seja o necessário para nós, vejo desta forma desde que você se foi.
— Por que manter viva essa esperança? Não sou nada que uma mulher não seja, trouxe muita dor até você e ainda assim insiste em esperar.
— Gosto de você, isso basta para que qualquer decisão minha não seja convertida em arrependimento no futuro.
— Algo tão simples, não entendo.
— Você realmente não precisa, contanto que saiba sobre minhas emoções mais genuínas eu ficarei feliz. Esse sou eu, Reii, um homem que não conseguiu superar o passado que teve a seu lado.
— Às vezes eu acredito que você me superestima.
— Caso seja isso estará tudo bem também! Minha emoção é genuína e o laço que carregamos é forte... o elo que me mantém ligado a você é algo inquebrável.
Puxo o pingente abaixo de minha blusa revelando o cristal azul, com o balançar da joia um sorriso terno em seus lábios. O último presente que me deu sem que eu recusasse, um colar de lápis-lazúli feito especialmente para nós dois.
— Tatsuo, o que houve com aquela mulher? — busco a visão de meu copo meio vazio. — Foi por minha causa?
— Se eu disser que sim serei um vilão para ela e se eu disser que não serei um mentiroso para você... no fim a escolha é apenas minha.
— Viu? Sempre que, eu apareço em sua vida algo de ruim ocorre. — busco minha bolsa levantando do banco. — Estou indo.
— Vai partir assim?
— Eu atrasei sua vida, não posso me dar o direito que permanecer aqui como se nada tivesse o ocorrido.
— Reii espera.
— Por favor, apenas pare de insistir em mim.
— Reika!
Sua voz ecoa em meus pensamentos, o toque em meu punho é seguido pelos braços que envolvem meu corpo. Sinto a ponta de seu nariz repousar sob minha nuca, os lábios buscam minha pele e nela deixam o toque que por tanto esperava.
— Reika, faz tempo que não me chama pelo meu nome... é estranho.
— É algo que preciso fazer, Reii pode ser um apelido comum para seus ouvidos, mas ouvir Reika é algo que sempre te para.
— Sou tão importante assim para você? Ao ponto de trocar o certo por um duvidoso?
— Eu troquei alguém legal e divertida, por alguém que amo verdadeiramente... não fiz nada que uma pessoa que ama não faria, Reika.
Suas palavras pesam meu coração, são como uma canção que há tempos não escutava, um lugar distante que mal poderia lembrar, a estação favorita de minha existência. Essas são as experiências que poderiam descrever de ponta a ponta como sinto essa emoção, algo tão vivo e marcante como as cores deste mundo.
— Isso me machuca.
— Não precisa se sentir ferida, saiba que você é àquela por qual eu irei persistir e lutar até o final de minha vida. Não importa onde você esteja, meu coração ainda será seu lar.
— Como pode ser tão idiota?
— Não é idiotice, mas sim, amor.
— Sua irmã desaprova essa sua visão, sua mãe eu imagino que pense o mesmo. No final eu não quero ser um problema para você Tatsuo.
— Apenas aceite esse momento, por favor.
— Não posso.
Pelo mover de meu corpo busco nosso desvencilhar, mas diferente das outras vezes em que parti sou solta por um breve instante e agarrada logo após. Nossos olhares se encontram e pela calmaria sinto meu mundo se agitar com tão pouco, esse é o homem que tanto luta por min mesmo que eu seja sempre tão incisiva para evitar sua estadia em minha vida.
A carícia percorre minha face, me sinto quente e pela primeira vez em algum tempo posso dizer que alguém conseguiu evocar essas emoções que guardo escondidas de todos os seres possíveis.
Por muitos anos eu tenho sido pega de surpresa pelas emoções mais distantes, essas as quais sempre me mantive cega negando sua existência com todas as forças que posso.
Como eu me sinto frente a ele? O que meu todo pensa sobre esse sentimento? As promessas que fizemos abaixo da luz prateada da lua?
Tantas questões elaboradas e todas se resumem na complexidade desse relacionamento que vivemos por anos, eu sinto ser tarde para dizer sobre isso que habita em meu coração.
— Lembra de quando prometi que estaria ao seu lado para sempre? Permaneço com essa ideia.
— Tatsuo, eu tenho medo.
— Não vai estragar minha vida, tire essa ideia da cabeça.
— Eu julgo ser tarde para dizer sobre como me sinto, você sabe não é? Sua falta, eu sinto ela diariamente e continuo ansiando por aqueles dias distantes que vivemos alegres.
— Mesmo que diga que eu esteja cego, que te superestime ou que vivo em dependência, saiba que posso afirmar meus mais sinceros sentimentos por você, atestar todas as noites em que chorei por você e as estações sem vida que eu segui vivendo durante tantos anos.
Eu sinto mesmo, ele sempre esteve em meu coração durante todas essas estações que vivi distante. Agora eu entendo como Murano se sente quando quem está do outro lado é Naomi, sinto-me como ela neste instante, estou parecendo uma tola tentando negar o quanto eu sinto falta de sua existência em minha vida.
— Você sempre esteve em meu coração Reika, por mais que suas palavras naquela tarde tenham sido um adeus nunca senti que fosse o momento da despedida.
— Tatsuo... será que ainda poderá olhar em meu rosto mesmo após tantos invernos distantes?
— Não tenho dúvidas de que posso fazer isso Reika, admito que o tempo foi cruel conosco e que nossas questões ainda não foram finalizadas corretamente.
— Tenho medo de que eu possa fazer com que você se machuque mais uma vez.
— Eu confio em nós, sem mais arrependimentos ou sofrimento como imaginávamos ainda jovens.
— É difícil acreditar que isso seja possível.
— Apenas pare e escute a voz dentro do seu peito, verá como eu estou certo nessa afirmação que faço. — sinto meu coração correr. — Sua confiança irá aumentar quando entender que essas palavras não são meras conjunções vazias.
— É difícil pensar em outra coisa quando eu lancei tantas emoções ruins sobre você, sobre mim.
— Eu sei, mas por mais difícil que seja... acredite em nós.
Pelo toque de dedos balanço nesta tensão, em seu olhar navego por emoções que busquei constante evitar e olhe agora, prestes a mergulhar. O silêncio da noite se afugenta por sua respiração mais densa, ouço o correr de meu coração e a palpitação inerente que me persegue.
Minhas pernas travam, por suas mãos sinto o calor em meu rosto e impossibilitada de andar apenas me reclino de encontro a sua face.
Em todos esses anos tudo o que eu realmente desejei era que você olhasse-me e nota-se o quão destemida eu havia me tornado, mas apenas afastei você incontáveis vezes, e mesmo assim aqui estamos nós. Frente a seus lábios busco o obscuro no fechar de minhas pálpebras, como uma explosão de tinta em tela branca, essa é fomra como enxergo o selar de nossos lábios.
Sinto-me caindo por um céu marcado pelo sol no ápice de seu poente, em queda livre para as emoções que percorrem meu peito.
Vejo o horizonte brilhar como tanta esperei e nunca alcancei nesse tempo reclusa, liberdade, essa é a expressão que realça meus sentimentos para com você e por ela que eu seguirei até o final de minha pacata vida.
O toque se desfaz pelo desencontro, meu peito passa a palpitar cada vez mais forte e a cada instante que se passa essa euforia cresce.
Suas mãos percorrem minha face trazendo para meu olhar uma destemida visão, você, tenho certeza de que mais destemido do que certo dia eu havia julgado ser.
— Você sentiu? — seus lábios se abrem no mais belo sorriso que poderia receber. — Todas as noites eu rezei por esse momento, por você, por mim, agora finalmente estamos aqui.
— Senti falta disso, — enxergar se torna difícil, as gotas se acumulam em meus olhos. — obrigado por não me esquecer.
— Eu jamais faria isso, disse antes e posso dizer novamente, eu te amo Reika.
Nota!!!
A flor que citei é a mesma do capítulo anterior, a Gerbera, são um género de plantas herbáceas ornamentais pertencente à família das Asteraceae, a mesma do girassol e das margaridas.
季節 (Kisetsu) significa estações, todos os capítulos que possuírem essas marcações serão para personagens secundários.
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