03
Capítulo 03
Um observatório, a deusa das estrelas e sua rinite
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DUAS LUZES VIERAM SE MOVENDO PELA ESTRADA, como duas lanternas tortas e descompensadas até encontrarem um equilíbrio e seguir em linha reta na direção de Aurora e Percy. Conforme as luzes se aproximavam no escuro, a forma de um velho táxi foi se materializando diante deles. O estado do automóvel era deplorável e de uma segurança bastante duvidosa, Aurora podia jurar que viu um pneu se perder e rolar em direção à floresta. O táxi freiou de frente para eles e a placa do veículo caiu bem diante dos pés de Percy.
— É a Carruagem da Danação, vai nos ajudar a chegar mais rápido. — Ele disse abrindo a porta do táxi para ela, mas Aury sabia que a porta cairia do carro a qualquer momento.
Ela colocou primeiro o violão em sua capa dentro do automóvel e entrou em seguida. Percy sentou ao seu lado e eles encararam as três mulheres sentadas no banco da frente, elas estavam de costas, mas Aurora percebeu que havia algo de não humano nelas.
— Sejam bem-vindos à Carruagem da Danação! Qual o destino? — Perguntou a mulher da direita.
— Centro de Nova York… — E o carro deu uma arrancada antes que ele completasse a frase.
— Ah, nós adoramos Nova York! — Disse a mulher do meio levantando as mãos acinzentadas. — Deveríamos fazer uma parada para passear pela Broadway!
O táxi seguia em alta velocidade fazendo curvas bruscas sem diminuir, Aurora ergueu a cabeça para espiar o painel e viu que a velocidade aumentava continuamente e era tanta que o painel não conseguiu contabilizar.
— Percy… — Ela chamou em um tom preocupado, mas não conseguiu continuar a frase achando que se abrisse a boca de boca poderia colocar o jantar pra fora.
— Fizemos uma dedetização para melhor satisfazer os nossos clientes. — disse a que estava no volante o girando desastradamente até que ele se soltou do painel fazendo Percy gemer de desespero. — Essa porcaria quebrou de novo!
Mas o táxi não parou ou diminuiu, Percy podia já imaginar o que estaria escrito na sua lápide.
PERCY JACKSON
MORTO EM UM TÁXI DECADENTE ABRAÇANDO UM VIOLÃO
Ele tinha o pressentimento de que Harry do chalé de Apolo faria uma boa música em sua homenagem.
— Não precisa ir tão rápido, não estamos com pressa de morrer! — Aurora falou para as motoristas. — Assim nem vão enxergar a estrada…
— Ah, mas nós enxergamos muito bem! - Falou a ponta no banco do carona. — E isso me lembra que é minha vez de ficar com o olho!
As três começaram a brigar entre si e uma pequena bola branca saltou para o banco de trás caindo bem no colo de Aurora. A garota esticou a mão no instante que Percy esticou a dele para a tentar impedir de segurar o que não era uma bola e sim um olho. Ela segurou o enjôo e entregou o olho para as três irmãs que se viraram para a encarar. Elas tinham os globos vazios e fundos, pele cinzenta e nenhum dente.
— Elas são as Greias… as Anciãs Cinzentas do mito de Perseus. — Aurora olhou para Percy que concordou, ele sempre ficava impressionado em como ninguém nunca precisava lhe explicar nada.
Aury sempre tinha uma percepção bastante aguçada, enquanto ele sempre recorria à Annabeth para explicar a mesma coisa três vezes.
O táxi freou bruscamente jogando os dois adolescentes contra o banco da frente e o violão bateu no teto do carro. Percy fez uma nota mental:
SEMPRE USE A PORCARIA DO CINTO DE SEGURANÇA.
— São três dracmas pela viagem! — As três disseram juntas.
Aurora tirou as moedas de ouro do bolso e entregou para a do meio que tinha cabelos curtos e vermelhos. Então o veículo abriu as portas e os bancos saltaram jogando ela, Percy e o violão para fora. Eles caíram na grama na beira da estrada, Percy felizmente conseguiu sobreviver à viagem sem vomitar apesar da vertigem.
— Aproveitem Long Island! — Gritou a irmã que segurava o volante solto.
— Long Island? — Aurora gritou enquanto o táxi acelerava, mas quando ela conseguiu se afastar a Carruagem da Danação já se afastava. — A gente disse “centro de Nova York”!
O táxi se tornou duas luzes se afastando pela estrada e uma das Greias gritou:
— É o destino que dá as coordenadas!
A garota se virou para Percy com o olhar preocupado.
— Suponho que não possamos contar com a mesma carona pra voltar… — Ela murmurou.
— O bom é que não saímos de Long Island, se quiser dar um passeio de barco na volta eu dou jeito. — Ela tentou acalmar a garota, apesar de ter tido a intenção de sorrir estava nervoso demais na presença dela pra conseguir um sorriso tranquilizador e não um esquisito. — O que é aquilo?
Do outro lado da estrada havia uma placa:
OBSERVATÓRIO E INSTITUTO CUSTER
Uma trilha percorria até a distância levando a uma grande casa que parecia uma fazenda. De longe era possível ver as luzes do local e uma torre em uma das extremidades da casa, Aurora não esperou pelas sugestões de um plano - que ele sinceramente ainda não tinha, e seguiu na frente atravessando a estrada segurando a mochila nas costas e a case do violão na mão.
— Está escrito em grego… — Percy disse ao perceber as letras quando chegaram mais perto. — Deve ter algo por aqui.
Os dois atravessaram a estrada vazia e seguiram a trilha. Aurora mantinha os olhos na casa que se estendia com a torre e conforme ficavam mais próximos da estrutura, Percy percebia que a torre era grande e perfeita para observar o céu. Atrás da propriedade havia um lago que se estendia por todo o perímetro. E eles se aproximavam da entrada onde havia um grande pátio a céu aberto com a estátua de uma mulher no centro.
— Sabe quem é? — Percy perguntou enquanto Aurora examinava a estátua.
A garota prendeu os longos cachos escuros em um rabo de cavalo e caminhou ao redor da estátua observando seus detalhes. Os olhos da menina brilhavam com algo como curiosidade e ansiedade.
— Eu acho que sim… — Ela murmurou se abaixando e lendo as letras em grego na base.
Αστούρια
— Asteria. — Aury sussurrou. Ela passou os dedos pela base da estátua para tirar todo o pó do nome.
Os olhos da garota brilharam em expectativa enquanto ela se aproximava do rosto da mulher esculpida.
Percy e Aurora trocaram um olhar. Ele podia ver ela de perguntando "será que é ela?", e Percy torcia para que fosse.
— Devemos invocar ela? — Aury perguntou voltando a avaliar a estátua.
A mulher tinha cabelos compridos envoltos por uma túnica, sua expressão era de olhos bem abertos e a boca também como se ela estivesse pronta para declamar alguma coisa.
— Será que tem alguma dica na profecia? — Percy sugeriu ao lembrar que a garota tinha visto o oráculo.
Aurora sussurrou de novo a profecia:
O que procuras no céu encontrará
Entre os astros refletidos no mar
Sozinha começará, mas acompanhada voltará
E o céu mais uma vez pelo oceano irá se apaixonar
Com uma melodia a estrela será invocada
A filha perdida finalmente será achada
A garota sorriu esperançosa e pegou o violão, parecendo aliviada por agora saber o que fazer, ela tirou o instrumento da capa e colocou a alça sobre os ombros.
— Talvez funcione. — Ela olhou para Percy com os olhos brilhando, ele sentiu algo dentro dele parar - talvez fosse o coração, mas na hora não teve certeza. — Vai ser improviso, pode ficar ruim.
— Impossível ficar ruim… eee, han, você é boa nisso. — Percy falou e quase se amaldiçoou por soar ainda mais idiota quando abria a boca perto dela.
Aury começou a dedilhar algumas notas, até que encontrou o ritmo de uma melodia suave e quando a voz dela entoou as palavras, tudo parecia se encaixar numa mistura de prece e poesia.
Aí em cima nos céus,
você pode me ouvir?
Não encontro mais ninguém,
nem sei se devo estar aqui
Uma pequena luz prateada começou a surgir envolvendo Aurora conforme os dedos dela deslizavam pelo braço do violão, em meio a luz havia pequenos feixes brilhantes como estrelas, elas começaram a dançar lentamente como se seguissem a melodia de Aurora e fluíram dela até a estátua.
Onde eu cheguei?
Você pode me contar
Quem eu sou? Quem eu sereeei?
No meio da noite
Em algum lugar
Podereeeei te encontrar?
O poder da melodia e da voz de Aurora conduziram feixes de luz prateada que envolveram a estátua da deusa. Conforme as notas soavam, a estátua ganhava cor. Uma brisa suave passou entre eles e repousou no rosto da mulher que ganhou a forma humana ao final da música. Ela esbugalhou os olhos e a boca que já estava aberta se abriu ainda mais quando ela soltou um grande e audível espirro.
— ATCHIM!
Pequenas estrelas cadentes saíram do nariz da deusa, Percy e Aurora foram jogados para trás com a força do espirro.
— Oh, me desculpe! — A mulher lamentou enquanto ajeitava a túnica azul sobre o cabelo, ela falava com a voz analisava como se estivesse com o nariz congestionado. — Toda essa poeira ataca a minha rinite.
Percy ajudou Aurora a se levantar.
— Tudo bem, eu sei como é. — A garota disse pendurando o violão nas costas. — Eu sou Aurora e esse é o Percy. Será que poderia nos ajudar.
— Prazer em conhecê-los, semideuses. Há séculos eu não via um de vocês. — A deusa coçou o nariz freneticamente. — Eu sou Asteria, regente das estrelas cadentes, das profecias noturnas e astrologia.
— Estou procurando pela minha mãe e achei que talvez você pudesse… não sei, sabe… ser ela? — Aurora arriscou sem graça. Ela deu um passo inseguro na direção de Percy, ele pousou a mão nas costas dela na tentativa de acalmá-la.
— Ah, criança, você parece ser adorável, mas eu não tenho filhos. — Asteria se inclinou para Aurora e estendeu a mão. — Mas deixe-me ver uma coisa, talvez eu possa….. — A deusa virou o rosto e espirrou de novo soltando pequenas estrelas pelo nariz e arrancando um banner da parede. — … ajudar.
Aurora esticou o braço e segurou a mão da deusa. Uma luz prateada percorreu as veias da menina.
— Eu sou a deusa das estrelas cadentes, especificamente. Estrelas em geral surgiram antes de mim, não é um poder que possa ser dominado. Mas o sangue celestial corre por suas veias, isso é um fato. — Asteria coçou o nariz mais uma vez. — Há uma profecia que caminha com você, eu consigo lê-la. Ela diz que você precisa estar "entre os astros refletidos no mar". Um lugar sem poluição luminosa e com muita água vai te ajudar.
Asteria soltou a mão de Aurora e a expressão no rosto da garota era de um desânimo contido. Percy apertou carinhosamente ela em um meio abraço e tentou pensar em uma resolução.
— Tem um lago enorme que se estende por todo o observatório, deu pra ver quando chegamos. Podemos tentar lá. — Ele sugeriu.
Aurora afirmou com a cabeça depois de pensar por um segundo.
— Como podemos te agradecer, Asteria? — Percy perguntou.
— A próxima vez que vierem, poderiam trazer um antialérgico? É realmente muito difícil com essa poeira… — Asteria espirrou de novo. — … difícil.
Percy não fazia ideia se deuses precisavam de antialérgicos especiais, mas prometeu encontrar um para uma próxima visita. Ele e Aurora saíram do pátio principal e seguiram para o fundo do observatório cercados por pequenas estrelas cadentes de espirro divino.
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notas: eu senti tanta saudade de escrever essa shortfic. ela contém tanto amor, eu queria poder escrever ela quando eu tivesse tempo pra mergulhar na história da Aurora de novo, e eu precisava estar bem pra isso. não queria oferecer uma escrita ruim. precisei dividir o último capítulo, então teremos mais uma parte. muito obrigada por lerem e incentivarem essa fic com tanta empolgação. me sinto em casa aqui 💕
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