Capítulo 01

Uma banda, semi-deuses dançantes e uma filha perdida

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ERA SÁBADO E FIM DE TARDE NO ACAMPAMENTO. Todos estavam prontos para iniciar o primeiro fim de semana das férias com algo diferente, bem, diferente de lanças, espadas e hematomas. Todos haviam treinado, lutado e feito todas as tarefas de um semi-deus naquela semana. Agora os jovens estavam prontos para uma diversão no fim de tarde, e um pouco de música no pôr do sol era perfeito.

Seria a primeira apresentação oficial da banda de semi-deuses e eles já haviam pensado em uma centena de nomes ruins. Por mais que faltasse dez minutos para a apresentação e eles fossem muito bons na música, eles ainda estavam discutindo qual seria o nome. 

Todos do acampamento já sabiam que tinha uma banda ensaiando, algumas meninas do chalé de Afrodite faziam questão de tentar invadir o ensaio pra dar uma olhada no vocalista. Harry Smith era filho de Apollo, e claro, vocalista e guitarrista base da banda. Seu cabelo castanho claro tinha ondas que dava inveja a Poseidon, e seus olhos verdes conquistavam toda criatura viva. Harry era muito perfeccionista e a banda ensaiva há um ano, e só então fariam sua primeira apresentação. 

Harry era legal, descolado, e poético - até demais. 

— Eu queria que o nome tivesse alguma profundidade. — Ele disse quando todos estavam reunidos atrás do palco improvisado. — Eu pensei em algo como "Sociedade dos Poetas Mortos".

— Essa banda já existe. — Jamie disse pensativa. Ela era a baixista, filha de Hefesto e quem cuidava de toda a manuntenção dos instrumentos também. Ela era de ascendência coreana, com longos cabelos escuros e Aurora precisava se esforçar pra não perder a concentração. 

Jamie era muito habilidosa com música porque compreendia a técnica melhor do que qualquer um da banda. Ela entendia de compasso e improvisava na base muito bem. Era um bom equilíbrio para os integrantes, e bem, era impossível não querer dançar depois de ouvir Jamie controlando o baixo.

— Na verdade é de um filme, que é ótimo por sinal. — Aurora corrigiu espiando os campistas enquanto eles sentavam nas arquibancadas de madeira. Não era um espaço muito grande, estava mais para um festival improvisado. 

Mesmo assim ela estava um pouco nervosa. 

— Vamos chamar de Sangue no Tártaro! — Sugeriu Dhalia com seus olhos escuros penetrantes que fez todos se arrepiarem. Ela tinha uma força e determinação que faria Aurora a seguir para qualquer lugar.

Se Dhalia dissesse " vamos nos jogar do décimo andar", Aurora ficaria feliz em fazê-lo. Dhalia tinha a pele escura retinta, longos cabelos negros e uma postura nata de uma líder. Ela era filha de Ares, e com certeza era alguém que começaria uma guerra com classe. 

Dhalia era a baterista e Aurora tinha certeza que ela poderia muito bem jogar as baquetas nos olhos de qualquer monstro que a criatura ainda iria pedir pra Dhalia pisar nele. 

— Eu achei incrível, mas muito enfático em sangue e …. Monstros. — Aurora disse com cuidado. — Não sei se é de fato a mensagem que vamos passar. 

Os quatro se olharam pensativos. 

— Gente! — Chamou Charles Beckendorf, conselheiro chefe do chalé de Hefesto e meio-irmão de Jamie. — Hora do show! Preciso do nome de vocês pra apresentá-los!

Os quatro se olharam, todos bastante ansiosos. 

— Ah, subam logo! — Charles indicou o palco e os guiou até o centro. 

Aurora correu até sua guitarra enquanto Harry se posicionava no centro. Jamie se colocou do outro lado com o baixo e Dhalia sentou na bateria empunhando as baquetas como se fossem adagas. 

Os campistas encararam eles, havia olhares de expectativa, mas também havia muitos olhares de "o que esses perdedores estão fazendo aí?". 

Aurora olhou para seus amigos e então seu olhar parou em Harry, ela imediatamente soube que se o deixasse falar primeiro, eles ficariam para sempre conhecidos como "Poetas mortos". Então ela disse a primeira coisa que veio em sua cabeça: 

— NÓS SOMOS OS BASTARDOS DO OLIMPO E VAMOS FAZER A ORELHA DE NOSSOS INIMIGOS SANGRAR! 

E foi instantâneo, uma onda de gritos entusiasmados partiu dos campistas que se aproximaram do palco. Harry deu o seu melhor sorriso de vocalista encantador, Jamie jogou seu longo cabelo e Dhalia gritou: 

— UM, DOIS, TRÊS, QUATRO.

E BUM. A música inicou sacudindo todo o Acampamento Meio-Sangue, a voz de Harry guiava a primeira estrofe e Jamie sabia exatamente como fazer todos os corações seguirem a batida do seu baixo. Na ponte da música, Aurora e Dhalia deram um peso pra música trazendo a sensação que eles sentiam antes de uma batalha: coração palpitando, o suor escorrendo devagar, a atenção focalizando e o mundo todo estava em câmera lenta. 

E então chegou o refrão e eles dominaram todos os ouvidos com sua música que trazia elementos do punk pop. 

Eu domino com sabedoria
Sacudindo os esqueletos do Mundo Inferior
Vamos fazer barulho até o Olimpo ouvir
Não podem nos calar agora, não senhor

A voz de Harry era hipnotizante e sua guitarra encantada fazia a pessoa a dançar quando ele apontava a guitarra. Os campistas estavam dançando, balançando a cabeça e gritando de entusiasmo.

Eletrizante como os raios de Zeus
Meu som faz inveja nos deuses
Fazendo até um troll se contorcer
Com esse solo nada pode me deter

E esse era o momento de Aurora, ela iniciou seu solo de guitarra. A banda se virou para ela acompanhando a batida com palmas, os campistas começaram a gritar seu nome animados. A melodia aumentou a intensidade gradativamente e ela nem mesmo precisava pensar, seus dedos produziam música tão fácil quanto magia. 

O som parecia ser uma extensão de seu corpo, era uma sensação que revigorava a alma, que a fazia esquecer de todas as ansiedades e de todos os problemas. Aurora se sentiu como Marty Mcfly tocando Johnny B. Goode em De volta para o futuro. 

Então foi a vez do solo de Jamie e em seguida de Dhalia. E eles tocaram o refrão de novo para finalizar a música. 

Os campistas aplaudiram e pediram por mais. Eles tocaram outras duas músicas: Carruagem de Apollo, e A fúria de Ares. E então encerarram a apresentação depois de até mesmo Quíron ter se balançado um pouco no ritmo da música. 

Satisfeitos e orgulhosos, eles desceram do palco para se juntar aos outros campistas e com o anoitecer acenderam a fogueira. Todo o clima do acampamento era acolhedor a animador, havia praticamente um banquete para todos. Néctar, ambrosia e frutas que alguns queimavam usariam para oferecer aos deuses. 

Harry olhou para um grupo de campistas.

— Desculpe, meninas. — Ele disse. — Vejo vocês mais tarde. 

Ele saiu desviando de um grupo de meninas e Jamie se virou para Dhalia e Aurora sorrindo: 

— Eu tenho certeza que Harry vai falar com um menino do chalé de Hermes. Ele não parava de falar sobre isso. 

E era verdade, Harry tinha uma queda por um campista havia tempo. 

— Sim, ele estava pior do que você babando na Annabeth! — Dhalia disse rindo e Jamie ficou extremamente vermelha. 

— Fica quieta. — Jamie resmungou colocando as mãos no próprio rosto sabendo que estava corando violentamente. 

— Devíamos fazer uma música sobre isso. — Aurora disse implicando com Jamie. — Sobre amar uma semi-deusa, ou se apaixonar por um filho de Hermes. Você e Harry podem cuidar da letra. 

Dhalia riu tanto que derramou seu néctar.

— Eu Dhalia faremos uma melodia. — Aurora continuou. — Vai ter uma batida legal.

Aurora começou a dançar e Dhalia começou a fazer um beatbox improvisado. Jamie começou a rir deixando o desconforto de lado e se sentindo mais à vontade. 

Do outro lado do acampamento, Percy Jackson observava Dhalia, Jamie e Aurora. Ele estava com Grover e Annabeth ao seu lado e ele realmente não estava prestando atenção no assunto. 

— A banda mandou muito bem! — Ele disse tentando não parecer muito por fora da conversa. 

— Percy, já é a quarta vez que você fala isso. — Annabeth disse se virando para ver quem Percy estava olhando, mesmo sabendo quem era. — Por que não vai lá dizer pessoalmente pra elas?

— Eu?! — Percy perguntou piscando. Poderia ter enfrentando as maiores loucuras, mas aquilo seria loucura demais. — Eu nem consigo formar uma frase coerente, Annabeth. 

A loira sorriu sabendo que era verdade. 

— Percy você já enfrentou monstros e criaturas assustadoras. — Lembrou Grover. — Flertar não deve ser tão difícil.

Mas era, e só aquela palavra o fizera arregalar os olhos.

— Eu vou com você. — Ofereceu Annabeth. — Eu quero falar com elas também. 

Percy soltou o ar nervoso e seguiu Annabeth depois de Grover ter lhe dado um aperto amigável no ombro. 

Eles passaram por campistas e sátiros que conversavam e comiam ao redor da fogueira e chegou na arquibancada perto do pequeno palco. Aurora estava dançando enquanto Dhalia fazia uma batida improvisada. Jamie foi a primeira a notar que os dois se aproximavam. 

— Oi. — Annabeth disse se aproximando e Jamie sorriu.

Jamie era uma garota que corava facilmente e Annabeth sempre comentava que achava aquilo muito fofo. 

— Vocês mandaram muito bem hoje. — Percy disse coçando a cabeça, não sabia muito bem como continuar o diálogo depois daquilo. Só tinha planejado o começo da conversa. 

— Obrigada. — Dhalia agradeceu passando os dedos pelo cabelo. — Ensaiamos um tempão até o Harry concordar com a apresentação.

Uma música começou a ecoar fazendo alguns meio-sangue saírem das arquibancadas para dançar. Dhalia se levantou com os braços erguidos para puxar todos consigo. Aurora previra aquele movimento e rapidamente desviou, Percy fez o mesmos discretamente porque não queria dançar. Então Dhalia acabou puxando Annabeth e Jamie.

— Essa música é ótima. — Ela disse puxando as meninas para mais perto da fogueira. 

Aurora e Percy observaram as meninas se distanciarem. Annabeth e Jamie pareceram deslocadas no começo, mas começaram a dançar e aos poucos pareceram estar mais confortáveis. Jamie era assim, quando se soltava fazia os outros sentir que eram a melhor companhia do mundo. 

— Hey… — Disse Percy com o coração saltando ele não tinha planejado o resto da conversa. — Você quer…?

— Dançar? — Ela completou e em seguida balançou a cabeça de forma negativa. — Não tenho nenhuma habilidade nisso. 

— Sentar. Eu ia perguntar se você não quer sentar. — Ele disse indicando a aruibancada e os assentos de madeira. 

Aurora sorriu concordando e eles se sentaram no banco mais próximo. 

— O nome da banda ficou muito legal! — Percy comentou e ao ver a expressão de surpresa de Aurora ele continuou. — Foi bem criativo!

— Sério? Porque essa ideia só veio no momento em que eu falei no microfone. — Ela deu um sorriso tímido. — Eu fiquei com receio de soar idiota, sabe?

Percy riu, sabia exatamente o que era aquele sentimento. 

— Ficou ótimo! E você toca guitarra e canta muito bem. — Percy disse sincero. — A banda toda foi muito bem, Harry tem pinta de vocalista.

— Obrigada, Percy. — Aurora sorriu contento colocando um cacho atrás da orelha. 

Percy não percebeu que estava observando todos os detalhes da garota. 

— Sabe, Harry é um pouco intenso demais. — Aurora murmurou como se contasse um segredo para ele. — Ele queria que o nome da banda fosse "sociedade dos poetas mortos". 

— Igual ao filme?! — Percy começou a rir com Aurora. 

E ele não precisou se preocupar com o resto da conversa não planejada, ela fluiu naturalmente. Aurora fazia parecer fácil, como se todo o peso e pressão ficasse fora da bolha que ela criava quando estava por perto. Tudo que Percy conseguia pensar nas últimas semanas era na profecia e no fim do mundo. Aurora o lembrou de que havia outras coisas, simples e bobas. 

Uma luz surgiu no meio dos campistas causando uma comoção. O símbolo de Afrodite brilhou sobre a cabeça de um meio-sangue que havia chegado ao acampamento no começo da semana, agora ele havia recebido a benção de sua mãe para ficar incrivelmente belo nos próximos dias. 

Percy riu da reação dos outros campistas, era sempre algo divertido de ver. Quando se virou para Aurora viu que ela estava sorrindo, mas havia um tom de tristeza em seus olhos castanhos. 

Ele sabia, havia três anos que ela chegara ao acampamento e ela ainda não sabia quem era sua mãe. 

— Você está bem? — Percy perguntou depois de um período em silêncio. 

— Estou. — Aurora respondeu balançando a cabeça fazendo os cachos se moverem. — É que às vezes… ah, deixa pra lá. 

Ela olhou ao redor para os campistas dançando, para a fogueira e os chalés ao longe. Ela estava procurando uma forma de sair de lá, ele percebeu porque também costumava fazer aquilo. 

— Se quiser conversar, tudo bem. — Ele acrescentou se inclinando na direção dela. 

Ela parou por um momento hesitante e então disse: 

— Eu amo esse lugar. — Ela suspirou. — Amo toda essa magia, a história, e as pessoas. Eu amo meus amigos. 

— Mas…? — Percy perguntou franzindo a testa pensativo.

— Mas eu não sinto que eu pertenço, sabe? — Ela murmurou se virando para Percy, o joelho dela encostou no dele e tentou desesperadamente não ficar muito consciente com aquilo. — Falta parte de mim e eu tenho medo de nunca me sentir completa. 

Os dois se olharam e Percy balançou a cabeça mostrando que entendia. 

— Eu já até considerei me juntar às Caçadoras de Ártemis quando eu tiver a chance. — Ela confessou fazendo Percy se lembrar de sua amiga Thalia. — Mas não sei se isso ajudaria a preencher o vazio ou se só me faria ignorá-lo. 

— Você tem alguma pista sobre a sua mãe? Talvez isso ajude, se você começar a procurá-la… — Ele sugeriu pensativo, mas Annabeth era melhor com planos e estratégias. 

— O oráculo me disse algo quando chegamos no começo da semana. — Ela se aproximou ainda mais e sussurrou. Percy soube na hora que era um segredo. — Mas Quíron disse que é muito arriscado sair agora pra esse tipo de missão, você sabe… com todo esse lance do Olimpo sendo ameaçado.

Percy suspirou, há pouco tinha sobrevivido ao Labirinto e não queria uma experiência de quase-morte tão cedo. 

— Que saco ser um meio-sangue, todo mundo quer nos matar e temos pais ausentes. — Percy disse sarcástico e conseguiu fazê-la sorrir novamente. 

— Mas tudo bem, eu tenho um plano. — Ela deu uma piscada para ele e Percy tentou não engasgar com o ar. 

Ela contou a ele sobre os outros nomes ridículos que pensaram para banda e sobre as constelações que estavam visíveis naquela noite. Percy quase esqueceu onde estavam e de todas as pessoas ao redor, como se por um momento fosse só ele e Aurora falando sobre estrelas e piores nomes de bandas da história. 

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notas: aaaaaah esse capítulo foi muito divertido de escrever, espero que tenham gostado. Um agradecimento mais do que especial a muffinywolf e winter-soul que me aturaram a tarde toda enquanto eu desenvolvia o capítulo. Aurora e Percy tudo pra mim.

O Harry eu imaginei como o Harry Styles, a Jamie como a Joy do Red Velvet, e a Dhalia como Ryan Destiny. Vou atualizar o cast com eles. ❤️