春 (Haru) - Antes da tempestade (Parte III)
“Não conheço ela, nunca me contou sobre essa tal amiga…” ouço suas palavras, não sei se isso envolve o ciume que tanto dizem acompanhá-las, mas gosto da sensação de ser uma vítima de suas perguntas. “Você nunca me disse que tinha uma amiga tão especial, Yoru. Se bem que nunca me contou sobre sua família, então acho que estou sendo muito emotiva.”
“Ela é uma garota interessante, seria legal levar você um dia até ela, tenho certeza de que vocês se dariam muito bem. Tanto Xinyu quanto Yiren são pessoas incríveis de se ter ao seu lado para lidar com toda e qualquer situação.”
“Acho que nunca conversamos sobre isso, descobrir agora sobre sua família me levanta mais dúvidas ainda.”
“Sou todo ouvidos, o que deseja saber de mim. Comida, bebida, membro da família favorito? São coisas sem sentido para mim, mas posso responder elas para você.”
“Por que pensa assim? Nem mesmo faz sentido dizer que isso é sem graça, são partes importantes de sua vida e algo que pelo menos é importante para mim.”
“Tentarei me esforçar para entender isso melhor, acho que eu e meu irmão somos bem parecidos nisso. Nunca fomos muito de dizer aquilo que sentíamos para os outros, acho que por isso raramente namorávamos.”
“Ele namora?”
“Apesar de não parecer ele namora, Akechi é bem famoso quando se trata de arte. As más línguas o chamam de Murakami de Shenzen. Um apelido forte e sua namorada é alguém tão importante quanto ele.”
“É impressionante, nunca pensei que conheceria um pintor renomado.”
“Isso que ainda não conheceu a namorada dele. Wang Xinyu, seja em revistas, pôsteres, comerciais ou vitrines de marcas. Tudo possui seu nome, muito por isso que ela agora possui seus próprios negócios espalhados por todo mundo.”
“Bem impressionante, sua família é realmente cercada de pessoas famosas. Até mesmo você tem sua fama.”
“Um dia, quem sabe, por enquanto sou apenas um jogador comum. Nada perto de meu irmão e sua namorada, nem mesmo chego perto de meus mais nessa disputa. Porém, foi o que senti melhor.”
“Eu me sentiria pressionada em seu lugar, quando eu quero mais nova, perdi minha mãe para um acidente de carro e após a senhorita Naomi me adotar, me senti muito pressionada por saber que a minha vida havia mudado tanto em tão pouco tempo para ser honesta. ”
“Entendo como você se sente, mas, é bom saber que agora você está em boas mãos.”
Paro o carro na vaga encarando sob o raio do farol o passar de sua figura, não é que seja incomum encontrar sua presença assim. Apenas me espanta que ela tenha tanta disposição para chegar tarde sabendo que tem compromissos, mas talvez nesse dia em específico eu não seja a melhor das pessoas para aconselhar alguém sobre a ética de horário.
“Às vezes eu me pergunto como ela consegue ficar até tarde fora. Mesmo sendo amigas, eu pergunto se não seria melhor ficarmos juntos em outro lugar para não precisar passar por isso.”
“Ela estava com a professora Riho, dá um desconto para ela. Natty não faz por mal, o fato dela querer se provar e voltar para buscar a mãe me faz pensar no quão incrível ela é.”
“Não a julgo, apenas me pergunto se vale a pena carregar tantos rumores nas costas sem nem revidar eles.”
“Se ela diz que não liga, confio nela, além disso, o que os outros dizem não importa muito. Por exemplo, me falavam que você era insuportável, mas quando te conheci vi como era diferente de tudo que diziam ser.”
“Desculpa, julguei ela mal mais uma vez. Porem fico preocupado que as pessoas possam sofrer com rumores, nunca te disse, quando mais novo eu e Akechi brigamos por conta de gostarmos da mesma garota e não foi qualquer briga.”
“Serio?”, seu olhar de curiosidade se perde num que beira a tensão, talvez por nunca ter um irmão não saiba bem como irmãos podem ser. “Foi logo após ele viajar para casa de praia de nossa avó. Conhecemos uma menina chamada Mai e apostamos quem conseguiria ser amigo dela primeiro, e como pode imaginar ele foi o amigo dela, porém eu quem recebi um beijo na bochecha e sendo uma criança achei aquilo foi um máximo.”
“E depois daquilo vocês ficaram mudos?”
“Na verdade, brigamos de fato, desde cedo praticamos esportes e acabamos lutando desnecessariamente. Naqueles dias o Akechi não era tão certinho quanto é hoje, e eu posso dizer que gostava de atentar contra ele, o que culminou em nossa briga.”
“Crianças…”
“Nós sempre levávamos muitos problemas para nossa mãe. Akechi nunca soube lidar muito com isso, até que certo dia ele mudou e se tornou mais serio assim como responsável. Ver ele nesse estado mexeu comigo, e tudo piorou quando eu descobri quem era nosso pai, aquilo foi um choque para mim, saber que o homem com quem eu morava não era meu pai se tornou um pesadelo em pouco tempo.”
“Eu nem posso imaginar o quanto, vocês passaram por muitas coisas juntos.”
“Akechi aceitou tranquilamente, porém eu, fui revoltoso como uma tempestade de verão e acabei estragando tudo com minha mãe e meu pai. Hoje é um dia especial, pois posso ver como pequenas coisas que fazia são ruins não apenas para mim como para muitas pessoas ao meu redor.”
“Mas você cresceu, e a pessoa que vejo agora soa diferente dessa que está me contando com certo pesar. Posso não saber muito sobre as pessoas, nem conseguir ler elas como minha mãe, mas ainda assim sei que esses momentos que enfrentou fora importantes para seu crescimento pessoal.”
“Ouvir falas como essas me fazem ver que realmente existem no mundo aqueles que apoiam você mesmo que as coisas não estejam indo tão bem ou quando elas se encontram no melhor momento de sua vida.” encaro a seus olhos, sob as madeixas furiosas que insistem em cair deixo meu toque alçando-as e as prendendo atrás de sua orelha. “Obrigado por aceitar ir nesse jantar, mesmo tendo ficado com medo de encarar minha desconhecida família até então. Você foi muito forte ao fazer isso por mim, saiba que isso fez meu coração bater mais rápido.”
“Yoru, falar isso com tanta grandiosidade, não foi nada de mais. Fora que sua família foi bem legal comigo.”
“Sendo sincero com você,” afago seu rosto encontrando o brilho em meio as poucas luzes do carro. Seus olhos brilham como orbitas, talvez isso que sinto seja o amor que tanto perguntei se poderia existir. “Acho que estamos perto de algo que eu ainda não sei bem quem ou o que será para ser honesto. Tudo que sei e sinto é que deveria ao máximo olhar para você nesse instante antes que eu possa me arrepender de não dizer tais palavras.”
“Yoru, por que faz assim?”
“Porque eu te amo, mesmo que eu não saiba bem quais são as questões que envolvem o amor. Droga, acho que ainda sou inexperiente quanto a esse assunto.”
“Somos dois para ser honesta.”
“Faz um ano que namoramos então, acho que não preciso me segurar tanto quando for dizer essas palavras.”
Afago seu queixo contornado seus lábios com meus dedos, o desenho de uma deusa, rompo a distância aproximando-me com carinho. Fecho meus olhos sentindo o peso de sua respiração, e no gentil avanço cruzo seus lábios tocando-os com os meus, sentindo o sabor único que os contorna.
Sua pressão sob meus braços se esvai, o toque, o perfume e no devolver do beijo sinto sua emoção diante dele.
E com o sutil afastar encontro-me nela, o fervilhar de suas maças e o sorriso tímido que se forma sob os lábios manchados. Se houvesse um mundo onde você tivesse sido a primeira, talvez, apenas talvez, eu não tivesse sido tão mau com aqueles que me são importantes.
“Obrigada pela noite Yoru, mas eu devo ir.”
“Cuidado na subida.”
“Pode deixar.”
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