春 (Haru) - Antes da tempestade (Parte II)
Katsumi, é estranho pensar isso e agora poder dizer que reconheço o quanto você mudou nesses anos.
"Ela é bonita como havia me dito, parabéns, irmãozinho."
"Lembra que eu havia dito sobre meu irmão ser uma pessoa complicada? Pois bem, Akechi é responsável por diversas obras de arte que com os dias recentes ganharam fama."
"Não sou tudo isso, mas alguns me conhecem desta forma. O filho de Shenzhen."
"Não vamos conversar aqui, vamos para o salão."
"Tudo bem."
Agora entendo o motivo do porque queria me contar naquela noite, entendo o motivo dela ser tão incrivel agora.
Passado (07/09/2023 – setembro)
Meus dedos repousam sob a bacia e dentro dela o largar dos pincéis, o pesar de meus braços me faz sentir a angústia, o amargor que traz o desejo de desistir de tudo.
E como se caminhasse apresenta-se em minha frente, seus olhos semelhantes me encaram e com um sorriso apoia a bola laranja contra seu corpo na parede.
"Vamos jogar uma partida, estou ansioso. "
"Com o quê? Que eu saiba, você não tem com o que se preocupar."
"Meu jogo será em duas semanas, eu já disse que preciso me esforçar para ele. E você me prometeu um jogo antes de meu retorno ao Japão."
"Entendo, mas por que jogar antes de ir embora? Poderia simplesmente me chamar para ir com você."
"Diz isso, mas não iria, fora que o porquê você é o melhor entre nós dois."
"Como pode ter tenta certeza?"
"Vamos logo."
A noite serena em Shenzhen, às vezes me esqueço como esse lugar pode ser frio mesmo em uma estação mais quente. A quadra de basquete, iluminada apenas pela luz da lua, e das lanternas que penduramos, nosso santuário secreto. As flores flutuam no céu, como se dançassem ao som da bola quicando.
"Tem certeza de que quer jogar? Xinyu não está aqui para te acudir se perder.", digo a ele atraindo seu sorriso sem graça. "Ela disse que irá demorar um pouco, que deseja buscar algo para me mostrar antes de enfim dizer que está pronta para isso. Mesmo que ela seja minha, ainda se preocupa demais com meu frágil irmão."
"Até eu faria isso, vocês foram muito rápidos, mais rápidos do eu, e ainda assim acabaram terminando em problemas."
"Yiren não pode esperar para sempre não acha?"
"Não me interesso mais por ela, ela só sabe falar de você e do trabalho quando está comigo e bem, ela é diferente quando está com você."
"Arrumou outra pessoa então?"
"Quase isso, conheci uma garota curiosa recentemente, mas isso fica para depois, quero uma partida honesta com você"
"Às vezes eu vejo como somos irmãos." deixo de lado meu casaco jogando-o contra a quadra. As flores que ficam entre nós, será um jogo bom. "Vamos então cabeça dura."
Sozinhos aqui. Nossos olhos se encontraram, e o desafio mais uma vez lançado. Yoru com a bola é ágil, seus movimentos fluidos são impressionantes mesmo, por vezes me pergunto o motivo dele demorar tanto para reconhecer isso.
E num drible passa por mim marcando a primeira cesta, não vai ser nada fácil, em nenhuma das outras vezes foi.
A cada passe, uma coreografia perfeita. Yoru me dribla com agilidade, mas mesmo assim não desisto. A lua como sempre é a testemunha de nossos jogos, e as flores parecem torcer por nós.
Dez a dez, quem marcar primeiro ganha. Yoru avança, driblando entre minhas pernas. Ele é um demônio, me viro seguindo seus passos, em meus músculos sinto o queimar a cada passada. E então saltou rumo a cesta, o sigo, e no choque contra a bola bloqueio seu ataque fazendo-o cair.
Roubo a bola, agora é a hora! Esforço-me, o ar carregado pela tensão, fazia tempo que não me sentia vivo desa forma. Corro contra a cesta sendo perseguido por ele que nem mesmo demonstra o cansaço de competir contra mim, minhas pernas tremem e o vejo ultrapassar a mim.
"Te peguei!"
E num salto evito a queda sendo perseguido por ele, para trás lanço meu corpo e enquanto caía no chão, arremesso a bola. O arremesso irregular, desafiando as leis de meu próprio corpo. A bola girou, um arco improvável. E então, o som da rede sendo rasgada encheu meus ouvidos.
"Droga! Como você é irritante."
Sinto minhas costas baterem no chão, Yoru me olha com admiração e frustração. E mesmo assim ainda demonstra um sorriso radiante por baixo da face molhada.
Enquanto me levantava, encontrei sua mão erguida em minha frente, a seguro podendo enfim sentir a terra sob meus pés. Yoru estendeu a mão, e eu a apertei. Não importa quem ganha ou perde. Somos irmãos, ligados e isso é o que importa.
"Você é incrível, Akechi", disse Yoru, seus olhos ainda brilhando com a intensidade da partida.
"Nunca vi um arremesso como esse, espero conseguir fazer isso um dia."
"Você é o melhor entre nós dois, apenas mantenha essa velocidade em dia e será um demônio tão rápido quanto qualquer um."
"Agora que me acalmei, posso perguntar algo?"
"Claro!"
"Yiren, gosto dela, mas sinto que não podemos fazer isso com nossa mãe."
"Sinto muito por causar isso a vocês, sinto que meu relacionamento com a Xinyu atrapalhou vocês mais do que pensava.", encaro a seus olhos. "Porém, eu não quero dar minha opinião sobre seu caso, se você for presente, e escolher ela, vai precisar lidar com o mundo que cairá sob suas costas. Algo que eu não sei se pode fazer."
"Lidar com modelos não é a coisa mais fácil do mundo, primeiro nosso pai e depois você... prefiro ser simples. Ela é estudante de letras, e diz que sou bonito, não preciso de muito mais que isso."
"Quero ver quando ela comer seu macarrão o que vai dizer, se não terminar com você aí terá certeza de que ela te ama.", e entre seu sorriso sinto o toque em meu ombro, nossos olhos se encontram e logo me dispara o sorriso." Somente a Yiren comeu ele."
"Falando assim me faz ficar triste. Mas quero tentar esquecer tudo isso, não quero sofrer como você sofreu, depois daquele acidente a sua vida e a dela mudarão muito em tão pouco tempo."
"Fique com sua garota simples, será melhor e não me diga nada sobre ela..." apanho meu casaco do chão voltando a encará-lo. "Quando eu a conhecer, farei questão de perguntar para ela."
"Farei isso acontecer, irmão, você verá."
Presente (01/04/2024 — primavera)
Me sento à mesa junto a todos eles, e não esperava que isso fosse estar neste estágio onde todos estão unidos em refeição por eles. Reservo-me a bebidas, e o descer das bolhas me faz sentir a queimação estonteante, algo que já sinto apenas em olhar.
Era inevitável que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde, não importando o tempo. Ela iria me deixar para trás, assim como eu a deixei antes de desaparecer por completo, por isso não sinto que deva falar sobre isso com ela.
Às vezes me perguntava se a escolha que fiz era a correta, quando decidi ter a confiança de conhecer o mundo de minha mãe não esperava que fosse ficar maravilhado com ele. Que iria me perder nele sem nem mesmo me importar com o restante do mundo fora ele. É, agora vejo que tive um preço pela escolha, um preço que agora não desejaria pagar se pudesse voltar no tempo.
Foi nos primeiros anos que cheguei lá onde conheci uma garota, e logo conheci uma mulher, minha mãe adotou como acólitos duas meninas e ambas perderam seus pais num acidente.
Yiren não é a mais calma das mulheres, mas foi aquela para quem dei meu ombro amigo e para a outra a distância até que fosse impossível deixar as coisas à distância.
No tocar do telefone deixou a sala, e para fora do estabelecimento caminho atendendo a chamada longe dos olhares e ouvidos alheios.
Apoio-me na sacada encarando a vista para o rio, as luzes brilhantes, às vezes queria apenas poder ser uma delas e evitar todas as escolhas que fiz.
"Está tudo bem? Você parece preocupado.", ainda em um momento de arrependimento, sua voz soa diferente até mesmo para mim. "Tem a ver com a entrevista que você deu mais cedo?"
"Não deveria me fazer essa pergunta, ela é perigosa. Quase todas são, na verdade, e quanto a você, está melhor?"
"Por favor, sabe que não existe melhora para mim, não posso fazer o mesmo que vocês ainda que eu queria e muito. Porém, eu te liguei para avisar que já cheguei no Japão."
"Hotel? Se sim, apenas me diga e irei te buscar. Fique comigo, tem espaço suficiente em minha cobertura para nós dois e meus quadros."
"Não quero te atrapalhar, você está enfrentando um momento difícil por minha causa e ainda quer mais um pouco. Posso achar que isso é amor."
"E se eu disser que talvez seja, virá comigo? Não é sempre que as pessoas recebem uma proposta para morar comigo e você está recebendo uma agora."
"Isso é muito tentador. Só que se me lembro bem, disse que iria me escutar e seguir o que falei sobre retornar ao Japão e reconquistar a garota ainda em seu coração. Não posso tomar um lugar que não pertence e nem mesmo vai ainda que eu goste muito de ti."
"Digamos que as coisas estão complicadas, não vai ser simples, e eu quero apenas deixar isso de lado. Seria bom prestar mais atenção em você ao invés de perder tempo com os outros que já não têm mais prioridade."
"Se está tão triste venha me encontrar, estou no Nyu Plaza."
"Estou indo para lá agora. Apenas me espere, está ouvindo?"
"Não é como se eu pudesse simplesmente sair daqui, não é?", ouvir tais palavras me fazem duvidar de mim mesmo... nada teria acontecido se tivesse ouvido minha razão naquela noite.
"Não digo isso para que se cale, nem para que a tristeza o pegue, apenas quero que não se culpe pelo que houve no passado."
"Xinyu, me espere e peça aos empregados que faça as malas. Voltará comigo para a cobertura e eu prometo que te farei feliz."
"Estarei esperando, mas saiba que você já me faz feliz, apenas não sabe disso ainda."
Para dentro retorno encarando aos olhares de todos, menos o dela que se faz ausente, o único ao qual não pude deixar de encarar nesse tempo todo e que agora será melhor assim. Evitar ela até não poder mais. Um erro meu, e continuará sendo até o fim de tudo isso.
Sem nem mesmo me sentar, desperto a atenção de todos, entregando a eles um sorriso ameno.
"Terei que ir mais cedo, uma visita chegou de viagem e eu gostaria de ir vê-la ainda hoje. Portanto, terei de ir mais cedo. Me desculpe pela presença quase que temerária, prometo que ainda iremos nos encontrar com frequência."
"Quem chegou? Xinyu?"
"Sim, ela chegou. Quero poder ser alguém importante para ela agora que vive um período complicado."
"Diga que irei visitar ela amanhã."
"Vamos morar juntos, na verdade." e minha fala cai como uma explosão na mesa, seus rostos carregam o pesar e eu sei de onde vem. Contudo, ela não estar presente me ajuda. "Ela é uma mulher incrível, gostaria ao menos que não precisasse sofrer tanto."
"Tenho de ir, foi uma honra rever todos e diga que foi divertido conhecer Katsumi. Espero que ela faça meu irmão muito feliz."
E assim deixo o lugar, parte do motivo pelo qual voltei já não existe mais e agora tudo que encontro é essa nova realidade à minha frente. Katsumi. Quando decidi voltar, você era quem estava em minha mente, era o sol que vivia acesso e agora não passa de uma memória antiga que agora possuo.
Minha estadia aqui acabou, não existe mais nada que eu possa aqui fazer, não, nem mesmo uma única fagulha me resta quando ele é quem tenho de enfrentar.
Yoru merece nem que seja por um mísero instante ser feliz, e não serei eu que irá confrontar isso. Jamais iria ferir meu irmão, mesmo que isso signifique abandonar aquilo que tanto desejei nesses anos todos que se passaram.
Sei quem sou, e por saber isso que posso afirmar. Não irei contra ele ainda que meu coração deseje estar ao seu lado.
Adeus, Katsumi...
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