Narradora:

A jovem, tomando uma xícara de chá, tentava trabalhar o seu raciocínio, em favor de um meio para escapar-se dali.
Seus olhos focavam na figura de Namjoon. Fingia estar concentrada em suas palavras.

Já ele, tentava ser cauteloso com o que dizia. Sabia que Isabel estava assustada. Sabia também do risco que seria, se ela saísse de lá sem saber o básico de sobrevivência daquele mundo.

Taehyung a olhava de soslaio, era uma moça bonita, esteticamente falando.
Pena que isso não tenha tanto valor em Wonderland...

-- Iremos te hospedar em um dos quartos do palácio. Enquanto isso, eu farei o possível para conseguir te levar de volta para casa. -- disse o mais velho dali.

-- Como assim, "farei o possível"? -- Depois de escutar o breve anúncio de Namjoon, se arrependeu de não ter prestado atenção em tudo o que ele disse antes.

Ele suspira.

-- Bem. Como eu já tinha dito, um dos pouquíssimos humanos que entrou aqui e saiu em perfeita circunstância, foi uma jovem cheia de astúcia. Seu nome era Alice. Isso só foi possível, porque sua vida tinha um laço de heroísmo com o mundo subterrâneo. -- Namjoon pega um pergaminho. -- Essa jovem foi o caso mais conhecido de invasão e de contato com o mundo de cima.

Alice...

Isabel logo familiarizou-se com o nome. Se lembrou de sua mãe e do digníssimo instinto de coragem que ela tem.

Todas as mulheres batizadas com esse nome, devem ter o mesmo instinto. --
Pensou.

-- O que eu estou tentando dizer é, -- Continuou o rapaz -- se um humano entrar aqui sem um propósito, ele pode até conseguir voltar, mas -- Isabel o encarou mais ainda. --  não vai conseguir sair daqui inteiro. Você pode voltar sem alguma parte do seu corpo, por exemplo. -- A jovem arregalou os olhos.

-- Essa é a lei de Medlyn! Isso nos protege de ter a visita constante dos Humanos. Se entrarem, serão punidos; com exceção àqueles que possuem uma verdadeira razão para entrarem, ou um laço ligado aos seres daqui. -- Taehyung intrometeu.

"Medlyn? Aish."

Pobre menina! São tantas informações...

-- Você é boa em alguma coisa? -- Tae tentava especular a menor.-- Se for boa em limpar, talvez seu propósito seja dar uma faxina no porão daqui, que nem os deuses sabem como é que chegou naquele estado... Enfim, se esse for o caso, o problema está resolvido! Você ganha imunidade para ir embora e eu, ganho uns créditos a mais com o rei! -- Ele riu.

Namjoon atirou o pergaminho em Taehyung, que resmungou algo em uma língua desconhecida por Isabel.

Ao reparar no semblante de desespero da moça, em relação às chances mínimas de sair dali do jeito que entrou, Namjoon logo interviu seus pensamentos.

-- É por isso que preciso de tempo! Deve haver um jeito de um intruso sair daqui, sem sofrer danos! Por favor, não fique assustada. Eu vou encontrar  uma solução. Você estará segura aqui, no Reino de Espadas. -- Ele tentava acalmar os nervos da mais nova.

O coração de Isabel falhou uma batida. Sentia-se fora da razão.
Nada ali havia resquícios de razão!
Imaginou-se presa naquele ambiente, até o fim dos seus dias. Sentiu toda a sua vida tranquila escorrer como água, no vão dos seus frágeis dedos.

[...]

-- Majes... quer dizer, Jungkook. -- O oficial feiticeiro de Copas se aproxima do trono.

-- Sim?

-- Recentemente, venho fazendo umas pesquisas cautelosas em torno da estátua de  Medlyn e..

-- Você invadiu o reino de Espadas?? -- disse o rei, pasmo.

-- Não, majestade. Eu a observei de longe, escondido entre as brechas da floresta.

-- O que você viu?

-- Lágrimas. A água da fonte está mais corrente do que nunca! Sua mãe estava certa. Alice está aqui.

Jeon estremeceu-se por completo. Sua mãe havia abandonado o trono por uma missão. E esta chegou mais rápido do que imaginava.

-- Ordene os guardas à uma grande escolta. Capturem qualquer desconhecido que esteja perambulando nas redondezas! -- Por mais que este fosse um assunto pessoal de sua mãe, ele precisava assegurar-se de que, a tão falada Alice, não trouxesse problemas ao seu reino.
Jungkook conhece suas histórias, conhece mais ainda o risco de deixá-la pisar em suas terras.

-- Sim, majestade. -- Hoseok curvou-se.

O rei o encarou com uma expressão irritada.

-- P-perdão, Jungkook. Ainda não me acostumei com essas reverências informais.

Jungkook calou-se.
Tudo o que ele mais queria, era uma companhia que não o temesse, mas sim que compartilhasse afeto devido entre amigos.

Ele está cansado de se sentir sozinho...

[...]

-- Isabel, este é seu quarto. -- Taehyung abriu as portas imensas, entrando dentro do cômodo, sendo seguido pela garota, que admirava o espaço do lugar.

Havia uma cama espaçosa no centro, com um criado-mudo na esquerda e em cima dele, um suporte de Prata que no seu topo, agarrava uma pedra de cristal.

Isabel deslizou os dedos na pedra e imediatamente ela ascendeu.

-- Isso é uma espécie de lamparina? -- imaginava o tamanho brilho que a peça faria, ao anoitecer.

-- Sim! É só tocá-la que ela apaga de volta.  -- Taehyung ria da moça. Isabel estava parecendo uma criança curiosa.

No outro lado da parede, havia uma penteadeira e um grande armário. Isabel o abriu. Só haviam cabides...
Como ela se hospedaria em um lugar, sem roupas?
A jovem reparou na vestimenta de Taehyung e, inocentemente subiu o olhar para o seu rosto.

-- Ah, não precisa me olhar com essa cara de cachorro desabrigado. Mais tarde, eu arranjo umas roupas novas pra você, prometo! -- o rapaz coçou a nuca.

O quarto que Taehyung escolheu para ela, era um lugar extremamente lindo e atrativo.
Sentiu-se confortável naquele ambiente e pela primeira vez, imaginou-se passando uma ótima temporada ali.

A jovem seguiu para o lado oposto do cômodo, onde havia uma porta adornada.
Tentou afastar os pensamentos negativos e focar na descoberta da nova porta.

-- Este é o toalete? Wow... A banheira é de prata também? Por que há tantas toalhas aqui? Vocês recebem visitas frequentemente?

Escorado no batente, ele observava a ansiedade da jovem, e sua incrível habilidade de questionar.
Suas perguntas eram tão ágeis quanto as flechas do arco de Taehyung.

É.. quem sabe agora, os dias no palácio não sejam tão rotineiros, com a chegada dela.

O anel azul, no dedo indicador da mão do rapaz, começa a brilhar.

-- Isabel, terei que te deixar vasculhar o ambiente por conta própria. Preciso cumprir ordens, agora.

-- Seu anel brilha sempre que precisa trabalhar?

-- Digamos que sim. Isto é um alarme, dizendo que o rei precisa de mim para fazer alguma coisa.  -- Os olhos da menina se fixam no anel.

-- Entendi. Muito obrigada por me apresentar-- Isabel dá um giro pelo banheiro -- ...isso aqui!

Ele sorri.

-- Com licença, senhorita. O dever me chama. -- O rapaz deixa um selar na mão da moça.

Ao escutar o barulho da porta do quarto se fechar, Isabel se apoia na porta do banheiro e senta no chão.

Pequenas lágrimas invadem o seu rosto.

"E se Namjoon não conseguir me tirar daqui? "

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