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.37.

Isabel:

-- Ei, você está bem? -- Justin tinha a respiração entre cortes. Me aproximei e peguei o punhal do chão. -- O que aconteceu?

Eu estava ficando preocupada, ele não dizia nada, só olhava para o vazio, perdido nos próprios pensamentos. 

-- Justin, fala comigo! -- Toquei o seu braço -- E quem é Hoseok? 

Apertei a sua mão com força e virei o seu rosto para mim, tentando o chamar para a realidade. Depois de dez segundos, ele finalmente parece retomar os sentidos.

-- Um amigo.

-- O que aconteceu com você agora? Por que ficou paralisado desse jeito? -- Alterei o tom de voz -- Isso me assustou! -- Suor frio surgia em seu rosto.

-- Eu não sei... e-eu... me lembrei de algo, mas não de tudo. Era uma memória perdida, que eu nem sabia que tinha. -- A última frase saiu como um sussurro. Sendo confessada mais para ele próprio do que pra mim. E sua expressão continuava confusa.

-- Uma memória perdida? -- Ele acenou devagar -- Com esse Hoseok? 

Seus olhos se fecharam com força. E ele os esfregou como se tentasse desembaçar a visão. Passamos logos minutos apenas em silêncio, com ele processando o que quer que tenha passado em sua cabeça. 

-- Eu não quero falar sobre isso. -- Disse ele, depois de respirar profundamente. -- Vamos, antes que escureça. -- Justin pegou o punhal da minha mão, mas dessa vez não olhou para o objeto uma vez sequer.

Respeitei sua decisão. Seja lá o que estivesse acontecendo em sua vida, não deveria ser de minha importância. Era melhor assim.

Enquanto subíamos a montanha, a cena de minutos atrás ainda rodava em minha mente, por mais que eu tentasse me policiar em relação à isso. Eu queria muito perguntar, mas tinha noção dos meus limites. Mas, por que aquilo o transtornou tanto? A curiosidade me corroía os ossos.

Chaerin tinha dito uma vez, no Palácio das Fadas, que alguns objetos são importantes para a nossa vida, que possuem uma ligação forte com quem somos e que se os unirmos, poderíamos recuperar memórias perdidas. 

Será que isso aconteceu com Justin agora? Mas só tinha um objeto...

"Esses três objetos juntos, você deve deixar longe dele..." -- Foi o que a princesa tinha me dito uma vez, quando estava possuída por um fantasma. Chaerin falava sobre o punhal, a pulseira e a cartola que eu usava; que eu precisaria deixar esses três objetos longe do Rei de Copas ou ele lembraria de algo. 

"Se ele descobrir, vai te matar. Jungkook vai te matar, Isabel." -- Senti um tremor quando recordei de suas palavras.

Balancei a cabeça tentando afastar esses pensamentos. Foco no elfo, Isabel, o ajude!

Para Justin, deveria estar faltando o restante, por isso ele não consegue se lembrar de tudo. Só que, o mais esquisito era o fato de que um dos objetos mais importantes pra ele era justamente algo que eu carregava durante todo esse tempo. Porque o punhal o fez recordar de algo.

O vi caminhando na frente, as costas rígidas, com passos largos e segurando o punhal com a mão firme. Por que aquele objeto era importante? 

"O punhal não é seu, mas quem usará será você. O dono dele irá te ensinar a manusear de forma sagaz." -- Eu me recordava também dessas palavras. Quando recebi o punhal, quando o vi pela primeira vez, enquanto ainda estava lá em cima. Enquanto estava no mundo humano, participando daquele Festival das Maçãs. Foi quando conheci aquela velha venderora de língua afiada, que me insultou e me entregou a pulseira e a arma que eu levava comigo desde que cheguei aqui, em Wonderland.

Então, o punhal poderia ser de Justin? Pertencia à ele? Mas o que fazia no mundo exterior? 

Mordi a língua, como forma de conter a minha vontade imensa de perguntar tudo isso para ele. 


Jungkook:

Eu me lembrava de ter conhecido Hoseok quando tinha 10 anos, nas aulas de hipismo e esgrima. Ele apareceu em um dia chuvoso, quando eu estava treinando sozinho, depois de ser xingado e humilhado mais uma vez por meus professores, (sim, eu era um fracasso naquilo).

Hoseok ficava sentado no chão de canto, me observando errar várias vezes. Então, em mais um dia de treino, se levantou e tomou finalmente a coragem para falar comigo. Me ajudou a montar sem cair ou perder o equilíbrio, e fez tudo com tanta calma e confiança que me pareceu que ele já nasceu praticando montaria. 

Comecei a dar melhores resultados aos meus instrutores, graças ao meu novo amigo. 

Ele era filho dos criados do castelo, mas tinha comportamentos tão refinados que, se não fosse por suas roupas esfarrapadas e pelo estado do seu corpo desnutrido, as pessoas achariam que ele era o príncipe dali e não eu. Acabamos ficando muito próximos um do outro; e implorei para minha mãe o hospedar em um dos quartos reais. Assim ele poderia estar comigo na maior parte do dia. Mas ela não o aceitava ali, sentia indiferença ao passar por ele. E ele sentia raiva, eu conseguia ver em seus olhos, por mais que sua postura fosse calma para tentar disfarçar. Com relutância, depois de três semanas suplicando para ele ficar conosco, ela concordou, mas se afastou de nós dois gradativamente.

Começamos a ter aulas juntos, e ele sempre se sobressaía em tudo. Em Matemática, História, Literatura... mas principalmente em Química, estudar composições complexas para a criação de poções e remédios se tornou o fascínio dele. Quando nos formamos, decidiu focar os seus estudos apenas na alquimia e eu segui com as minhas obrigações de príncipe. Hoseok havia se tornado o meu ajudante, meu braço direito, Bruxo pessoal do castelo, o único amigo que tive desde então.

Mas, aquela memória, no quarto... não! Nós não tínhamos dez anos. Tínhamos metade disso.

Eu o conheci com 5 anos? Isso não faz sentido. E ainda tinha minha mãe... Por que a tratei como uma desconhecida? Por que motivo Hoseok estava comigo naquele quarto de cor verde? Eu detesto verde. E por que pedi socorro ao meu pai? Minha mãe disse que eu nunca o conheci... 

Mas aquelas palavras que eu disse, quando criança, me pareciam tão reais. Tão sinceramente convictas. Eu senti naquela memória, que conhecia o meu pai, que ele havia me dado uma missão: proteger a arma sagrada.

O punhal. Este punhal.

Encarei o objeto, esperando que as peças que faltam na minha cabeça se encaixassem milagrosamente, me dando a oportunidade de entender, mas nenhuma outra memória surgiu.

-- Estamos quase lá! -- Não percebi que Anastácia tinha me ultrapassado quando eu estava perdido nos meus pensamentos. Ela, que agora caminhava na frente, virou-se para trás e sorriu. Depois voltou a andar.

Eu sabia que ela estava tentando tirar o clima constrangedor que eu causei, e percebi mais ainda que sua vontade de perguntar era grande. Só eu não podia dizer nada. 

Os sóis de Wonderland descontavam sua ira no início desta tarde, mas graças a forte ventania daqui de cima, não estávamos morrendo de calor. Os músculos das pernas ardiam e os pés já mostravam sinais de dor conforme a subida ia ficando mais íngreme, deixando nossa caminhada um pouco mais lenta. Contudo, aproveitei o tempo para apreciar o lugar. Diferente da conturbada cidade, ali era calmo. O ar era limpo, estávamos tão no alto que as casas ficaram minúsculas e as pessoas viraram formigas. Pude enxergar com mais exatidão todo o território lá embaixo e notei que havia um grande porto, onde vários navios transportavam cargas e pessoas para fora daquela ilha maldita. Era perfeito. Seria como eu e Anastácia voltaríamos para casa.

-- Olhe pra sua esquerda, lá embaixo. -- Ela virou o pescoço -- Já temos carona -- sorri.

-- Um porto? Ah, claro... com a quantidade de piratas que tinha naquele restaurante era certeza de que tinha um porto para os navios. -- Seu sorriso se alargou. -- Justin, você é um gênio.

-- Eu sei! -- Ela riu.

E com a tensão aliviada entre nós, subimos o restante da montanha até se deparar com uma casa de cor amarelo vibrante, onde a suposta  artesã morava.




[...]




Chaerin: 

A carruagem parou na estrada, à uns metros da floresta dos perdidos. Daqui pra frente iríamos a pé.

Meus amigos começaram a descer da carruagem. Seokjin pegou a sua maleta, Yoongi desceu com o cesto de comida, Taehyung e Kwang levavam mochilas e Namjoon segurava o mapa.

-- Hmm, -- murmurou Namjoon -- agora entendi o porque você disse que teríamos de ir a pé. -- Nam seguiu a trilha até alcançar a entrada da floresta. Avaliou o chão de lama grudenta, notando que já seria difícil para caminhar, quem diria então se fosse para passar uma carruagem lá dentro. -- Esse lugar parece um chiqueiro, só que para porcos mortos!

-- E agora, está na hora de virarmos os porquinhos. -- Disse Taehyung, com uma expressão irritada e tediosa.

-- Eu não quero ser um porco morto! -- Exclamou Yoongi. 

-- Não ligue pra ele, Yoon. -- Jin estalou a língua. 

A floresta estava do jeito de que eu me lembrava: mórbida, fedida, gosmenta, radioativa e intimidadora. Mas eu tinha os meus amigos e todos a atravessaríamos juntos, para chegar no castelo de Copas, assim como Jimin fez.

-- Ele é mais corajoso do que imaginávamos. -- Namjoon murmurou. Todos acenaram positivamente, sabendo de quem ele estava falando.

A brisa da floresta nos tocou, levando o odor de podridão nas narinas de cada um, nos convidando indiretamente a entrar. Yoongi vomitou e sujou o sapato de kwang.

-- Ah, cara... -- Kwang tentou limpar as botas com um pouco de água do cantil que carregava na mochila.

-- Bela equipe! -- Seokjin suspirou. -- Vamos, enquanto está de dia.

Começamos a dar os nossos primeiros passos no solo disforme daquele lugar. E por mais que nas árvores não houvesse folhas, a floresta parecia cheia, grandiosa, e se exibia apenas com os seus galhos escuros e cogumelos fluorescentes espalhados pelos troncos.  As raízes traiçoeiras vez ou outra tentavam cortar as nossas botas ou enrolar os nossos calcanhares, mas todos já estavam preparados para esse tipo de situação, segurando lâminas pequenas e grandes para cortar as correntes orgânicas.

Namjoon conferiu as horas no relógio que tinha ganhado de Minah. A filha do coelho branco nos garantiu que independente de onde estivermos, o relógio nos ajudaria a poupar tempo, ou acelerá-lo se fosse preciso.

Já haviam se passado cinquenta minutos de trilha naquele lugar.

Foi então que ruídos começaram, sons de madeira se retorcendo e burburinhos pareciam sair dos troncos de todas as árvores. Por um momento me esqueci daquelas almas; todas presas de forma trágica naquele lugar. Seres que morreram ali, que tentaram um dia atravessar a floresta, mas ela acabou tirando suas vidas e os deixando encarcerados aqui.

-- Bem vindos á Floresta dos Esquecidos. -- Disse uma voz animada, que parecia ser de uma menininha.

-- Vieram buscar o seu amigo? Ele não está aqui. -- Outra voz, dessa vez grave e adulta.

-- Ele conseguiu atravessar! Até mesmo o cavalo saiu com ele, quem diria?! -- A voz de outro ser soou impressionada.

-- Yoongi, lembre-se, sem gritar. -- Seokjin advertiu e o jovem com orelhas de gato acenou freneticamente com a cabeça, claramente se segurando para não desobedecer o mais velho.

 Os galhos das árvores passaram a se fechar mais e mais, escondendo de nós o céu. Sem a luz do dia, ficava ainda mais difícil caminhar e todo o trabalho de Namjoon em nos manter na claridade foi por água abaixo.

-- Ih, a floresta reconheceu vocês! Andem mais rápido, saiam depressa daqui! -- Disse a voz da menininha.

-- Jin, trouxe lanterna? -- Perguntei.

O feitiçeiro parou e abriu a sua maleta, tirando de lá uma esfera de luz e conjurou-a. A luz azulada passou a flutuar em cima de nossas cabeças.

-- De todas as cores de estrelas por aí, por que escolheu a azul? Enxergaríamos ainda melhor se tivesse uma branca ou amarela. -- Taehyung reclamou. 

Seguimos o olhar de Seokjin, que se encontrava na única pessoa que não prestava atenção na conversa: Namjoon.
Ele analisava o mapa e o relógio ao mesmo tempo, fazendo quaisquer sejam os cálculos para sairmos dali o mais rápido possível. O rapaz estava tão imerso que nem percebeu os seus cabelos azuis começarem a brilhar e sua pele se realçar, aparecendo desenhos e símbolos turquesa em seus braços, rosto, pescoço e onde a luz da estrela conseguisse alcançar.

Namjoon era filho de Absolem, e lagartas azuis reluziam á luz das estrelas da mesma cor. Por isso, são consideradas uma das criaturas mais belas de Wonderland. Quando entram em contato com a iluminação da noite, conseguem mostrar todo o encanto de sua espécie, as tatuagens turquesa aparecem, a pele vibra e cintila, os cabelos ficam em um tom resplandecente e os olhos, principalmente os olhos, se tornam esferas infinitas, exibindo todos os tons de azul existentes do nosso mundo.

O cérebro dele deve tê-lo avisado de que tinham muitos olhos em sua direção, por isso nos encarou, confuso. 

-- Péssimo momento para tentar ser romântico, Jin. Estamos numa floresta que fede a merda e putrefação, céus! -- Tae grunhiu.

Namjoon arregalou os olhos, finalmente notando a sua pele e os desenhos em seu corpo. 

-- Não haviam muitas reservas de estrelas na minha prateleira. Era essa lanterna azul ou veríamos tudo em um vermelho cor de sangue. E isso com certeza faria Yoongi desmaiar. -- Jin disse tranquilamente, não deixando que o temperamento de Taehyung o afetasse.

Cada um de nós tinha uma maneira de descontar as nossas frustrações. Yoongi jogava pra fora o seu almoço junto com bolotas de pelo, Kwang ficava roendo as unhas, Namjoon (que antes descontava no fumo), ultimamente se concentrava em qualquer tarefa e esquecia do mundo ao seu redor, Jin se distraía apreciando uma boa vista, eu fazia silêncio absoluto e Taehyung criticava tudo e todos.  Essa sempre foi a nossa maneira de lidar com os nossos problemas. E por já sabermos disso, ignoramos completamente o comportamento agressivo de Taehyung. Era a forma dele de dizer que estava um caco por dentro, e nós entendíamos, pois todos estávamos.

-- Que bonitinho, agora temos um "vaga-lume" de um metro e oitenta de altura. -- Yoongi brincou, fazendo Namjoon corar, um pouco constrangido.

-- Nam, não era minha intenção... -- Jin começou a se explicar, mas foi interrompido pelo rapaz azulado.

-- Eu sei que não, conheço você. -- Ele lhe deu um sorriso sem mostrar os dentes, sua covinha ficou aparente. -- Você pode me ajudar com o mapa? -- O filho de Absolem o encarou.

Vi o feiticeiro ficar hipnotizado pelos olhos de Namjoon. Mas qualquer um ficaria sem fôlego com isso. Eram de um azul espetacular, os tons escuros se misturavam com os mais claros, dançando cores em sua íris.

Encarar os olhos de Namjoon era como se pudéssemos ver o mar habitando ali dentro, fazendo ondas mágicas se moverem conforme ele piscava.

-- Ah, claro. -- Jin sorriu, contente por terem mudado de assunto.

Prosseguimos por mais meia hora em silêncio. Quanto mais entrávamos na floresta, mais o cheiro tóxico ia nos deixando lentos e tontos. As vozes nos acompanhavam, murmurando, pedindo socorro, nos alertando a voltarmos pra casa e outras nos incentivando a continuar a atravessar aquela floresta. 

Estávamos quase chegando no centro da floresta, quando notei fumaças pretas dançarem de forma medonha por nossos corpos.

Reconheci aquilo, eram demônios do Jaguadarte. 

-- Não deixem eles te tocarem. São demônios que se atraem por emoções negativas. Seja lá o que estiverem sentindo, espero que seja coisa boa ou eles irão atacar. -- Enquanto eu alertava os meus amigos, aquelas criaturas nos rodeavam.

Os demônios do Jaguadarte são o que sobrou da magia obscura daquele monstro, antes de Alice o matar. Se tornaram criaturas sedentas por carne viva e trevas, mas desde que perderam o seu hospedeiro maior, só conseguem se alimentar com a escuridão de outros seres. Basta um sentimento maligno para que um deles invada o corpo da pessoa e sugue suas emoções, sua vitalidade física e, depois de não sobrar mais nada para absorver, eles se alimentam com a sua alma.

Mas há quem consiga escapar. Os que fogem, acabam ficando com uma marca terrível em seu corpo. Os demônios possuem tanta energia pesada, que onde tocam, deixam uma marca escura, seja nos objetos, plantas, animais, goblins, fadas ou pessoas. A criatura perde a cor natural da pele onde ocorreu o contato direto. E ela fica tão escura, que dá a sensação visual de que parte de seu corpo morreu e entrou em decomposição infernal logo em seguida. 

Era estranho dar de cara com eles aqui. Os demônios costumam seguir a rainha, aonde quer que ela vá. Se eles estavam por perto, quer dizer que ela também poderia estar. Era muito cedo para dizer isso aos meus amigos, então preferi guardar essa informação por enquanto e contar para Namjoon quando saírmos daqui. Ele saberá o que fazer.

-- O quê? -- Kwang se assustou quando finalmente notou a nossa nova companhia.

-- Mas que desgraça... -- Tae desembainhou a sua espada e apontou na direção da densa fumaça macabra.

-- Vamos lá, Yoongi, pense em camundongos fofinhos. Em você dormindo feliz na sua caminha de gato. Os petiscos em dia. Pense naquele chapéu lindo que a Isabel te emprestou e pediu pra você cuidar dele. -- Yoongi tremia e dizia pra si mesmo -- É uma cartola estilosa, você vai poder usar ela no casamento dela, se caso ele acontecer. Ai, caramba. Quer dizer, se caso sairmos vivos... -- O jovem-gato abraçou a cintura do feiticeiro. Tremendo.

--  Ai, Yoongi, cale a boca e pare de me apertar! -- Jin gritou. No mesmo instante, um demônio se aproximou dele.

-- Jin, cuidado, a raiva é um sentimento negativo. -- Tentei dizer enquanto controlava a minha respiração e afastava o meu medo, para os demônios não farejarem.

Quando me virei para trás, percebi que haviam três demônios cercando Taehyung. Ele mal estava percebendo, seu olhar estava vago e distante. A espada caída no chão, sendo engolida lentamente pela lama.

-- Taehyung! -- Gritei.

-- Casamento... -- suspirou -- ele ainda vai se casar? -- Sussurrava para si mesmo. 

-- O coração partido dele está chamando a atenção das criaturas ainda mais rápido, Chae. -- Namjoon disse e tentamos alcançar o nosso amigo, mas a lama e as raízes prendiam os nossos pés como uma cola no chão.

-- Taehyung, olha pra mim! -- Gritei novamente. Mas os seus olhos continuavam opacos. -- Tae, estão tentando te confundir! Não deixe que te toquem!

Seokjin finalmente conseguiu se soltar, jogou sua adaga mais afiada em nossa direção e correu para ajudar o nosso amigo.

-- Taehyung, me escuta -- Colocou suas mãos ao redor do rosto dele -- Isabel ama o Jungkook. Os escolhidos são eles. O casamento é deles. Jimin está livre. Não deixe os demônios distorcerem os seus sentidos! -- Ele dava pequenos tapas no rosto do outro. -- Acorde, Taehyung!!

Eu cortava as raízes com desespero e quando terminei entreguei para Namjoon, que logo foi soltar os outros. A lama tinha conseguido engolir todas as armas que tínhamos derrubado no chão.

-- O quê... -- Quando me aproximei, vi que Tae recobrava os sentidos. Mas seguido de suas palavras, veio um longo e pungente gemido de dor.

-- Não! -- O pavor tomou conta de todos, quando o demônio o tocou. Seu antebraço bronzeado foi perdendo a cor, dando espaço para uma mancha absurdamente grotesca, como se a morte o tivesse beijado.

Suas veias escureciam, suas unhas também. Era como se a criatura estivesse se alimentando dele aos poucos. Até que eu ouvi outro grito, e não era de Taehyung.

Yoongi se contorcia no chão, em seu pescoço começava a nascer a marca preta de outro demônio. Lágrimas desceram dos meus olhos, porque eu sabia que poderia ser a próxima. Meu pânico estava tão forte que logo seria farejado também. 

-- Chae, não olhe e nem pense. -- Kwang tocou a minha mão trêmula. Mas era impossível, meus amigos uivavam e soluçavam. Vê-los naquele estado estava me destruindo, eu senti uma brecha se abrir em meu coração, e como sinal de aprovação um demônio começou a se aproximar de mim, pronto pra alimentar a sua fome. Os gritos de dor dos meus amigos aumentavam mais e mais. -- E, principalmente, não ouça! Não ouça os gritos, Chaerin!

Fiz o que ele pediu e tapei os ouvidos. Se eu não os escutasse gemer, talvez conseguisse conter o temor do meu coração. Antes de fechar os olhos, vi Namjoon abraçando Yoongi enquanto ele se torcia de dor no chão. A expressão do filho de Absolem era calma. Ele tentava controlar as suas próprias emoções para conseguir afastar o restante dos demônios. Seokjin começou a fazer o mesmo com Taeyung, o abraçando forte e controlando a respiração.

Precisávamos nos acalmar e pensar em algo, mas a situação não nos permitia clarear a mente. 

-- Saiam! -- Grunhiu Taehyung. Ele fazia tanta força para falar que as veias do seu pescoço saltavam. -- Vão embora e procurem Jimin! -- Com o rosto molhado de lágrimas, Tae me encarou. Ele estava disposto a se sacrificar para nos dar tempo de correr.

Jin balançou a cabeça negativamente várias vezes. Yoongi chorava, empurrando Namjoon com dificuldade, para que ele o soltasse e fosse embora.

Troquei olhares com Kwang e Namjoon. O que poderíamos fazer?



[...]




Isabel: 

Meus joelhos doíam pela caminhada, o suor escorria por todo o meu corpo e a situação do meu vestido era mais que desastrosa.
Exausta, sentei no gramado, no alto da montanha, olhando a frente daquela casa. Justin colocou as mãos na cintura e levantou o rosto pra cima, claramente cansado e suando como um porco. Precisávamos de um banho urgentemente.

A situação de nossas roupas também não era nada favorável. De um vestido com tecidos suaves e claros, se tornou um pedaço de pano duro e lamacento. Já as vestes pretas dele estavam tão desbotadas e com manchas de terra que ele parecia até um andarilho.

-- O que você está olhando? -- Incomodado com o fato de eu estar o observando, Justin perguntou.

-- Nada demais, só estou apreciando esse seu visual. Você fica lindo usando o estilo mendigo. Realçou a sua aparência, sabe?

-- Gostou? -- Ele deu uma volta. -- Estou curtindo também, a barba também está ficando maravilhosa, não acha? -- Justin acariciou o próprio queixo, exibindo a pequena pelagem que crescia ali.

-- O dia está demorando para acabar... Conseguimos chegar no alto e o sol mal começou a se pôr.

-- Também percebi isso, que estranho. -- Ponderou ele.





[...]

Chaerin: 

Seokjin começou a deitar delicadamente o corpo tenso de Taehyung no chão lameado. Namjoon fez o mesmo com Yoongi. 

Respire fundo.
1...2...3 e respire de novo. 

Namjoon e Jin se levantaram, se aproximando de mim e de Kwang e se afastando de Tae e Yoongi.

Não olhe para o chão, Chaerin.
Não olhe. Não ouça.

Mais um gemido, seguido de soluços. Depois um grito de sofrimento, e a mancha crescendo nos corpos deles...

-- Vamos, Jin -- Namjoon exclamou. 

O feiticeiro começou a procurar a sua maleta, tentando não soar desesperado. Quando a encontrou, tirou de dentro um frasco médio com um líquido transparente. Era suor de gigante: o líquido mais inflamável de Wonderland. Namjoon já segurava o isqueiro que também tinha tirado de lá dentro.

Kwang se metamorfou, e com o corpo ágil de raposa, ficou esperando a próxima ordem. Coloquei as minhas asas para fora, aguardando também. 

Seokjin começou a pingar o conteúdo do frasco em todas as árvores ao nosso redor. 

-- Agora, -- ele olhou para mim e Kwang -- e cuidado ao se aproximar...

Depois de nos transformarmos, com cautela, começamos a chegar perto dos nossos amigos no chão. Os dois demônios ainda estavam grudados em sua carne, sugando pouco a pouco a vitalidade deles. Por um segundo, o meu coração falhou, mas logo me concentrei novamente. 

Passei os meus braços pelas costas do Kim, tomando cuidado para não encostar na marca. Kwang, começou a conversar baixinho com Yoongi, ele logo entendeu e fez o que a raposa pediu, se transformando lentamente em um gato. Com cautela, Kwang mordeu a nuca do felino e o ergueu, depois acenou para o feiticeiro, avisando de que estava pronto. 

Me levantei, com Taehyung em meus braços. Minhas asas farfalharam e foi minha vez de acenar para Jin. 

-- Vamos, Namjoon.

O azulado olhou no relógio. Eu tinha oito minutos para fazer tudo.

Acendeu o isqueiro e a chama rapidamente tomou conta da casca podre das árvores. Kwang começou a correr, com Yoongi em sua boca. Eu esperei o fogo atingir os galhos, que despencavam com as cinzas no chão, abrindo espaço no céu. E voei.

Voei.

Exasperadamente voei para fora dali. Quando olhei para baixo, consegui enxergar o feiticeiro e o rapaz azulado no meio da fumaça das chamas e da poeira das cinzas. Eles apertaram a mão um do outro. E sorriram, com fé.

Quanto mais rápido eu ia, mais o mar de galhos podres ia sendo deixado para trás. Apertei o corpo pesado de Taehyung em meus braços e continuei firme. 

Quando cheguei perto das últimas árvores, vi uma grande raposa fugir com velocidade para fora da floresta, segurando um gato azul por entre as presas. Meus amigos estavam a salvo.

O animal alaranjado depositou o gato em um lugar seguro. Uma espécie de rocha que ficava à uns metros de distância da saída da floresta. 

Logo me aproximei, deitando Taehyung ao lado de Yoongi. Os dois desacordados, mas ao menos tinha uma notícia positiva: os demônios tinham ficado para trás. 

Voltei para o céu, deixando Kwang cuidar dos dois enquanto eu voltava para buscar o restante da equipe. Minhas asas doíam com a força que eu fazia contra elas. Pedi para que resistissem apenas mais um pouco. Eu ainda tinha três minutos.

Quando os encontrei, estavam fugindo do fogo, indo para o sul da floresta. Desci com pressa, planando perto dos galhos trançados, procurando um espaço entre eles para conseguir entrar na floresta novamente. 

Quando notei a madeira queimada despencando, vi um buraco perfeito para ultrapassar. O calor lá dentro estava insuportável! 

-- Ela conseguiu voltar! -- Seokjin parou de correr e puxou a mão do companheiro, fazendo-o parar também.

Desci com os braços abertos e segurei o corpo de Seokjin. Namjoon se transformou em borboleta e pousou no meu ombro.

Chiados e mais chiados. A floresta gemia de dor. Demônios gritavam.

Quando comecei a subir, um galho em chamas caiu sobre nós, nos derrubando no chão lameado.
Raízes surgiram, começando a prender as minhas pernas no chão e imobilizado as minhas asas.

Seokjin tentava cortá-las, mas a floresta estava com ódio. E parecia que iria descontar tudo em meu corpo.
A lama subia, tentando me cobrir e foi então que não consegui mais me controlar.
Eu gritei, berrei de pavor, de pânico. Estava totalmente entregue ao medo de morrer e então pude sentir o toque gélido e quente como o inferno nas minhas asas.
Um demônio havia me beijado. Tocado em minhas asas.

A dor era indescritível. Senti os meus nervos das costas se esticarem e torcerem.

-- Não, não, não! -- Jin chorava, não conseguindo assistir aquilo.

Namjoon se transformou em humano novamente. Tomou o frasco da mão do feiticeiro e despejou sobre as raízes que me amarravam. Depois tateou fogo.

As correntes orgânicas iam recuando, e parte do meu vestido também pegou fogo. Namjoon jogava lama nas minhas pernas para apagar a chama que tinha provocado. Senti minhas coxas perdendo a pressão. As raízes não estavam mais ali.

Meus músculos das costas falharam. Consegui sentir o demônio entrando na minha carne.

Eu gritei ainda mais alto, dessa vez era um grito de audácia, de destemor.
Eu não morreria ali, não mesmo.

Tentei me levantar, sentindo ainda o demônio me devorar pelas asas, que agora estavam escuras nas pontas.

-- Segurem em mim.

-- Mas Chaerin, suas asas... -- Namjoon exclamou.

-- Não temos outra escolha.

Jin me abraçou e ficou pronto para subir. O azulado se transformou em borboleta e pousou no meu ombro.

Fiz força para bater as asas, e a dor foi tanta que foquei atordoada por uns segundos.
Eu não desistiria, não por eles.

Abracei o corpo de Seokjin ainda mais forte e flutuei.

Passei pelos galhos de cima, e depois pelos quilômetros de árvores novamente. Os músculos das costas ardiam, imploravam para cessar o voo.

-- Só mais um pouco, Chae -- Seokjin suspirou.

Só mais um pouco.

O estalar dos galhos devorados pela chama dava pra ser ouvido de longe. Os demônios tinham sido espantados por ela e o que antes agarrava minhas asas, havia ficado para trás com os demais.

Agora, longe do perigo e no ar, Seokjin se permitiu soluçar.
As nuvens iam umedecendo minhas asas, deixando-as mais pesadas, mas eu insisti em continuar voando em cima. O mais longe possível dos galhos daquela floresta e de tudo que continuou lá dentro.

[...]


Quando descemos, vi que Kwang voltara a sua forma humana, mas os outros dois continuavam desmaiados. 

Caí de joelhos no chão, exausta.
 

Jin ajudou a me arrastar ao lado de Taehyung e descansei o corpo. Namjoon se tranformou e veio olhar a situação das minhas asas.

-- Chaerin, eu... eu sinto muito. -- Ele abaixou os olhos. Se permitindo chorar também.

-- Nós conseguimos. Isso é o que importa. Vejamos o que vai acontecer com as asas depois. -- Acariciei a mão do meu amigo, que estava tocando as penas das minhas asas.

-- Ainda está de dia -- Kwang comentou.

Todos nós olhamos para o céu, surpresos pelo relógio de Minah ter dado certo.

E foi quando, por fim, notamos a surpresa que acontecia no céu em cima da floresta, à quilômetros da gente.

Por cima das chamas, uma quantidade absurda de corpos espelhados de todas as idades, subia em direção ao céu. Os troncos podres estavam sendo destruídos, fazendo a prisão desabar gradativamente. E, consequentemente, isso estava libertando as almas que ficaram presas ali durante todo esse tempo. 

A floresta dos perdidos fora destruída e as vozes puderam finalmente descansar em paz, no além.

Um sorriso largo apareceu em meu rosto.

Todos foram salvos.





♤♤♤♤♤♤♤♤♤♤

Bom dia, boa tarde, boa noite, pessoal! Tudo bem com vocês?

Caramba, foram cinco mil palavras neste capítulo kkkkkkk

Já deixo aqui o meu Feliz Natal antecipado e espero que, apesar de toda a situação lastimável que estamos passando nesta pandemia, vocês possam aproveitar e compartilhar de bons momentos.

Se cuidem, vejo vocês em breve!❤

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