.35.
As mãos suadas, o peito ardendo, subindo e descendo de medo, os braços imobilizados.
Assim estava Jimin, sendo puxado pelos guardas em direção ao subterrâneo do castelo. Gritando que tinha ido lá para falar com a tia e que ainda não havia levantado nenhuma bandeira de guerra.
O rei desejava primeiro um acordo. Ver se Isabel estava bem, ver o que poderia fazer para tirá-la dali, mas quando pisou os pés no castelo, deu de cara com o seu primo.
A cena de minutos antes ainda rodava em sua mente...
Flashback on:
"O homem levantou de seu trono quando viu o rei de Espadas se aproximar.
Com vestimentas de rei e com a coroa de ouro, onde nas pontas haviam espinhos dourados perfurando pequenos corações de rubi. Ele se aproximou de Jimin como um felino que já está ciente de que a presa não conseguirá fugir.
Então essa era a aparência do seu primo? Pensou Jimin.
Ele era mais assustador do que imaginara. E passava uma áurea maligna cada vez que fitava o mais novo.
Seus olhos eram carregados de uma raiva inexplicável, mas Jimin também conseguiu enxergar tristeza em sua expressão. As vezes, a cor dos olhos pairava do vermelho vivo para o mais claro castanho.
Estaria o rei de Copas em uma batalha interna de sentimentos?
-- Bem-vindo ao meu reino, Park Jimin! -- Jimin continuou calado. -- Nossa, é notória a semelhança de você com a antiga rainha de Espadas. Falando nisso, como será que está a sua mãe? Que os deuses a tenham... -- Sorriu em direção à ele.
-- O quê?! -- Incrédulo, o acinzentado apertou o punho que segurava sua espada.
Ele estava fingindo empatia?? Não, Jimin sentiu que era provocação.
Suas pernas tremeram ao se lembrar da tragédia que aconteceu com sua família, graças a sua tia. Graças àquela família. Jimin deu um passo para trás, fazendo o rei de Copas dar dois para frente.
-- Estou brincando, é óbvio. Sua mãe quando estava à passos para abraçar a morte continuou firme e corajosa, diferente dessa visão de pernas bambas que tenho à minha frente. -- Riu secamente e o olhou com desdém. -- Espero que tenha um bom motivo para se arriscar a vir aqui sozinho. Está sozinho, não é? Meus guardas estão te sondando desde a floresta.
Vendo que Jimin estava assustado e indignado demais para rebater qualquer palavra, o homem prosseguiu caminhando, até parar a meio metro de distância.
-- Percebo que foi uma viagem cansativa, olhe só o seu estado... tsc, tsc... um convidado especial não deve direcionar a palavra ao rei de Copas vestido desse jeito. -- Levantou a mão esquerda, chamando um criado. -- Traga boas vestimentas para o Jimin.
O criado, magríssimo e quase sem forças, dando total percepção dos maus tratos que sofria na corte, respondeu com um "sim, majestade" e direcionou os olhos cansados para Jimin, analisando o tamanho do corpo dele para ter uma noção do que trazer. Depois se afastou rapidamente.
-- E então?! O rato comeu a sua língua? -- O rei de Copas, já impaciente, aguardava alguma resposta do rei de Espadas.
Depois de engolir em seco duas vezes, o rei de espadas refaz sua postura e olha fixamente nos olhos do primo.
-- Vim aqui para ver a Anastácia. Sei que vocês estão com ela. Não estou aqui para guerrear - não ainda - apenas preciso ver a sua situação, saber se ela ainda está viva. -- Jimin respirou fundo -- Eu vim em paz, juro pela minha palavra e pelo meu reino.
O outro rei riu ainda mais.
-- Anastácia? Aquela sua noiva alada? Ela não está aqui, priminho. -- Jimin abriu os lábios sem saber o que dizer, novamente. A presença do seu primo possuía um tipo de magia tão inexplicável que Jimin perdia o controle da reação corpórea de si mesmo.
O rei de Copas então volta para o seu trono e após sentado, continua:
-- Eu não sei onde ela está... -- Suspirou. -- O paspalho do Jungkook também sumiu, quem sabe ele não a achou por aí? Os pais deles eram amiguinhos né? Mas posso te dar certeza que logo logo eles estarão aqui no castelo. Quem sabe até irão dividir a mesma cela que você?! Prometo pensar nisso com carinho... -- Direcionou o olhar para as suas unhas pretas, achando-as mais interessantes que o próprio primo assustado.
-- Você não é o Jungkook? -- Seu peito subia e descia apressadamente.
O que estava acontecendo ali?
-- Não, meu caro. Eu sou Jung Hoseok, filho renegado da rainha de Copas, seu primo de sangue e rei legítimo deste castelo. -- O rapaz esticou os braços, com mãos em uma tonalidade preta e macabra, como se mostrasse para o seu primo o território que ele estava governando.
Jimin ficou perturbado.
-- Está surpreso? -- Um sorriso rasgou os seus lábios. -- Imagino que Jungkook também ficará assim, quando descobrir que vida dele é uma farsa.
Então quem era Jungkook afinal? Jimin se sentiu aflito e sem capacidade nenhuma de raciocinar.
-- Foi até bom esse sumiço repentino dele, pois agora eu finalmente consegui colocar as coisas nos eixos. As coisas onde deveriam estar. -- Hoseok então fecha os olhos, encostando a cabeça no estofado macio do trono. -- Quando minha mãe voltar, vai se arrepender de ter escolhido ele ao invés de mim.
Park queria duvidar dele e tomar coragem para fazer perguntas, mas logo sentiu suas mãos serem enlaçadas por uma serpente escura e dois soldados de carta segurarem seus braços, guiando-o para fora daquele salão.
-- Espera! -- Jimin relutava. Escutou o som parecido com o da água em contato com o ferro quente, quando direcionou os olhos para baixo, viu que era a serpente, arisca e pronta para picá-lo se não obedecesse os guardas.
-- Fique tranquilo, Jimin. Meus criados levarão suas roupas e te tratarão como um reizinho mimado, assim como a sua mamãe o criou. -- Foram as últimas palavras que Park escutou do primo, antes de ser arrastado para o corredor que levava para o calabouço."
Flashback off.
Só depois que seu corpo foi arremessado naquele chão frio de pedra, sentiu arrependimento de pisar os pés ali.
Ele foi imprudente demais, deixou-se levar pela raiva e se esqueceu do perigo eminente em que havia se metido.
Sentiu raiva, mais raiva do que antes.
Agora não era apenas pela tia, mas por todos. Por Jungkook (que ele sequer conhecia), por Hoseok, por si próprio e por Isabel.
Sim, ele estava sentindo raiva por Isabel, muita raiva. Se sentiu completamente arrependido de ter tomado essa atitude imbecil.
Fechou os olhos e se lembrou do primeiro jantar com a humana. Também se lembrou da noite de noivado. Do primeiro beijo...
Tudo aquilo finalmente parecia sem sentido.
"Medlyn, se você está dentro de mim, por favor, me ajude." -- Jimin suplicou mentalmente.
"Por favor"
"Eu não quero morrer"
"Por favor..."
Em busca de esperança (e de respostas), puxou a manga longa de sua vestimenta para conferir se ao menos a marca continuava brilhando, mas ficou horrorizado quando percebeu que no seu braço não havia sinal algum. Apenas a sua pele lisa, sem flor, sem cor, sem nada. Como se a marca do escolhido nunca tivesse sido gravada ali.
Passou a mão pelos cabelos, angustiado e transtornado, sentindo que à qualquer momento teria a sua morte sentenciada naquele lugar.
Tudo o que ele queria agora era ver Taehyung pela última vez.
[...]
-- Vocês não deveriam estar aqui! Anda! Xô! -- A idosa, com ajuda de um espanador, tentava expulsar o casal para fora do templo.
-- Calma, senhora. -- Jungkook levantou as mãos -- Estamos perdidos, precisamos saber de alguma informação, seja ela qual for. E que lugar é esse??
-- Além de intrusos ainda não são da região? -- Ela se indignou -- Saiam! Saiam antes que recebam uma maldição!
Jungkook olhou para a garota ao lado, que estava tão confusa quanto ele e a puxou para a porta de fora do salão.
A velha continuava berrando e xingando os mais novos, enquanto os dois seguiam para a porta da saída às pressas.
Fora do templo, uma rua movimentada e barulhenta, com moradores escandalosos e de comportamento duvidoso.
Jungkook estreitou os olhos. Estava tentando se lembrar se já havia estudado em seus livros sobre aquele lugar e ele tinha quase certeza de que sim.
Austíria, a cidade da marginalização.
-- Merda.
-- O que foi? -- Perguntou Isabel. -- Justin, precisamos achar o Mirtilo. Estamos aqui pra isso. -- A garota analisou o local, estranhando o comportamento dos moradores e procurando por um ser específico de pelagem azul.
-- Anastácia, eu não tenho tanta certeza se... -- Se ele está vivo, se agora é apenas um tapete de sala ou se está sendo usado como experimento de algum alquimista lunático da região. Mas em vez disso, Jungkook disse: -- ...Se vamos conseguir encontrá-lo, nessa cidade enorme.
-- Você sabe que eu não vou sair daqui sem ele, nem tente me convencer, será perda de tempo. -- Isabel começou a caminhar.
Estavam de frente à uma grande avenida, com varias barracas que vendiam as coisas mais perigosas possíveis. Os seres mágicos, moradores da região e também alguns marinheiros fardados, perambulavam com uma expressão de alarme. Olhos traiçoeiros, corpo arisco e mãos leves. Prontos para aproveitar a primeira oportunidade para cometer um crime que os desse prazer.
Jungkook pediu gentilmente para que Isabel segurasse sua mão e não soltasse, dizendo que a probabilidade de se perderem ali era grande, devido aos empurrões violentos e gratuitos que alguns monstros esquisitos davam nos mais fracos.
E assim se enfiaram em meio à feira de produtos e serviços nada éticos.
-- Você está carregando algo valioso? -- Sussurrou para a mais nova.
Isabel encarou seu bracelete de asas e apertou levemente o busto, se lembrando do punhal adornando escondido ali.
-- Tire o bracelete e esconda-o agora.
-- Mas... -- E minhas asas? Pensou.
-- Tire, Anastácia, isso é sério.
Ela já não estava transformada em alada e se caso precisasse, era só colocar o bracelete novamente, certo?
E com esse pensamento convincente, puxou o objeto do braço, enrolando ele em uma faixa interna que apertava a cintura de seu vestido, perto da peça íntima.
-- O melhor veneno de cartilagem de dragão! Leve o seu por duas moedas de ouro! -- Uma mulher com metade de seu rosto desfigurado berrava o valor dos produtos em uma barraca repleta de frascos com conteúdos esquisitos dentro. -- Mate o seu marido por apenas duas moedas de ouro!
Isabel olhou para a cena e não sabia se ficava assustada com as palavras da mulher ou com a situação de sua aparência. Por um momento, conseguiu notar que as bolhas no rosto da mulher mudavam de cor e soltavam uma secreção amarelada.
Onde raios eles estavam??
A menina apertou a mão de Jungkook com mais força.
-- Você, fruto do laço, não vai querer uma poção? -- A mulher estranha sorriu para Isabel.
-- Fruto do quê?
-- Ah, mocinha... eu consigo sentir o cheiro do seu sangue. Você é ridiculamente linda, como a sua mãe. -- A mulher fez uma expressão de nojo, mas logo voltou a sorrir. --E então, vai querer?
-- Não dê conversa pra esse povo, eles não são pessoas do bem! -- Jungkook puxou-a para longe da mulher estranha. Sem se dar o trabalho de perguntar o que a mulher tinha dito para deixar Isabel assustada.
O garoto só tinha em mente o objetivo de encontrar algum rosto confiável para pedir informação sobre o tigre.
Quando chegaram no fim daquela rua, viraram a esquina.
De longe, o rapaz pôde avistar uma taverna. Sua barriga logo roncou de fome.
-- Vamos entrar e comer um pouco. Assim que você repor as energias nós voltamos a procurar o tigre. -- O rei a encarou e sorriu, confortando-a.
Quando entraram, o cheiro forte de cerveja e comida os atingiu. A música alta, as dançarinas e os clientes com aparência bruta, mas definitivamente não estavam zangados, pois riam entre amigos e puxavam algumas mulheres para sentarem em seus colos enquanto bebiam.
A taverna era de uma situação precária, a madeira que sustentava o estabelecimento estava úmida e oca. Parecia que o local poderia a qualquer momento cair em cima da cabeça de todos ali.
Encontraram uma mesa vazia nos cantos. Sentaram e esperaram uma jovem os atender.
Isabel, ainda pensativa nas palavras da vendedora de veneno, não deu importância ao cardápio do dia e deixou o rapaz escolher o que iriam comer.
Depois que a jovem saiu com os pedidos, Isabel encarou o rapaz sentado à frente.
Os olhos cansados, assim como os dela, mas não era isso que chamava a sua atenção. Aqueles castanhos vibrantes tinham uma iluminação diferente, e o brilho parecia crescer ainda mais quando eles estavam fitando-a.
Um sorriso fofo surgiu, os dentes graciosos que a lembravam os de um coelho apareceram sutilmente. Os lábios rosados e convidativos só tornaram a visão ainda mais encantadora.
Isabel sentiu uma pontada no peito e um frio na boca do estômago.
-- O que tanto olha? Meu rosto está sujo? -- Perguntou Jungkook, ainda sorrindo.
-- Não, não é isso. -- Depois de despertar do seu transe, Isabel abaixa a cabeça envergonhada.
Quando virou a cabeça para o lado, Isabel enxergou alguns bêbados eufóricos ao redor de uma grande mesa. Um ogro xingava um híbrido de touro porque tinha perdido num jogo de aposta. Bolsas de vários tamanhos, recheadas de moedas, eram postas na mesa e mais novas apostas eram feitas naquele jogo desconhecido. Várias ninfas e jovens também híbridas rodeavam os monstrengos. Eram meretrizes.
-- Não os encare, Anastácia. Não podemos arranjar confusão aqui. -- A voz suave do rapaz a fez olhar para ele novamente.
-- Esse lugar me dá nos nervos.
-- Essa cidade é uma parte esquecida pelos reinos. -- Jungkook deu uma olhada rápida para a mesa ao lado. -- São seres independentes, sem leis e sem governantes. Eu só tive conhecimento desse lugar por conta de uns livros antigos que lia quando era mais novo.
O rei de copas ajustou a coluna na cadeira e percebeu que essa era a primeira vez que tinha esclarecido algo totalmente verídico de sua vida. Sem mentiras.
-- Justin, mudando de assunto, -- Isabel tentou procurar as palavras certas para não levantar tanta suspeita -- quando alguém se refere a você como fruto de algum objeto, o que isso significa?
O garoto franziu o cenho, mas logo a respondeu.
-- Que ele é filho de alguém! Me surpreende você não saber disso. -- Ele vendo a expressão sem graça dela, pergunta -- Vocês alados não utilizam esse termo? Pensei que era uma linguagem generalizada pelos moradores de Wonderland.
-- É... não utilizamos. De onde eu vim, chamamos o filho de filho mesmo. -- Em partes, considerando a sua raça humana e de onde realmente veio, Isabel não estava mentindo.
-- Bom, então vou te explicar. -- O rapaz apoiou os cotovelos na mesa. -- O termo "fruto de algum objeto" é utilizado apenas para filhos de pessoas notoriamente importantes nos reinos. É uma forma de identificar a criança de algum rei ou rainha, o filho de um conde famoso, de um mensageiro conhecido por todos e por aí vai. Essas criaturas importantes possuem objetos que são sua marca registrada, objetos que lembram a personalidade desse alguém. E quando eles se tornam pais, seus filhos acabam sendo apelidados como o fruto de seu objeto favorito.
-- Como por exemplo, ser fruto de um laço, isso se remete à...
-- Vejamos... -- Jungkook pensou um pouco -- Um adereço delicado, mas que é capaz de imobilizar e deter alguém se for utilizado de maneiras diferentes. Gracioso e forte. -- Ele cruzou os braços e encostou a coluna na cadeira com uma expressão de análise. -- É um objeto que ficou bastante conhecido por um ser popular, que passou por Wonderland a um tempo atrás. Alice era o seu nome, sendo assim, o fruto do laço seria algum filho de Alice.
Bingo.
Isabel tentou controlar a respiração.
Aquela mulher sabia quem ela era? Como?
Imaginou se tratar de alguma feiticeira ou vidente.
-- Anastácia, posso te perguntar uma coisa?
-- Ah, claro. -- Ela forçou um sorriso.
-- Por que você quis saber logo do exemplo "fruto do laço"?
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Oii, gente linda!❤
Como vão?
Espero que tenham gostado do cap, acho que foi um dos mais esclarecedores da fic.
E quero parabenizar aos detetives que descobriram a verdade antes mesmo dos personagens revelarem aqui na história kksksk
Vocês são todos frutos de uma lupa!🔎
(Filhos de Sherlock)
Votem e comentem sobre o que estão achando. Estamos quase na reta final!
Beijos e até a próxima!💋
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