.19.
Jungkook:
Escorado no batente da porta, encaro o loiro pronunciar o meu nome.
Agora era eu que estava me perguntando.
O que eu não posso me lembrar, afinal?
Acho graça da situação, nunca imaginei a hipótese de fofocas com o meu nome. Eles nem me conhecem!
Ele, com a cabeça encostada na porta à frente, ergue o corpo e ajeita suas roupas.
-- Suspeito... muito suspeito. Isabel me deve uma explicação. -- Disse o rapaz, virando-se para a minha direção.
Seus olhos faltavam saltar para fora, assustado e intrigado, por ser pego no ato. Supostamente achando que eu havia escutado toda a falta de educação dele, reparando o loiro ouvir as conversas alheias por detrás da porta.
Sorri ladino, será que ele está interessado nessa tal Isabel?
Ou melhor, como essa Isabel sabe sobre mim?
O rapaz pigarreou constrangido e fez uma pequena reverência, e em seguida murmurou um "bom dia".
-- Um ótimo dia -- Disse animado -- ,Sr...?
-- Taehyung! Kim Taehyung.
-- Oh, sim. Meu caro, sabia que é falta de cavalheirismo escutar as conversas de uma dama, sem que ela saiba? -- Cruzei os braços, trazendo um ar divertido mas ao mesmo tempo autoritário.
O rosto do rapaz se tornou pálido, mas ele logo se recompôs.
-- Peço desculpas pela situação constrangedora, Sr...? -- Taehyung rebate a pergunta que eu havia feito, para descobrir seu nome.
-- Lerry Justin, da família dos elfos. Me chame apenas de Justin. -- Coloquei tanta convicção na minha frase, que até eu estava acreditando.
-- Oh, você é o tal lorde que chegou de madrugada... -- Apenas sorri em resposta -- Solicito sua presença no campo de jogos, a partida só irá começar quando todos os senhores estiverem lá embaixo.
-- Claro... Já estava me dirigindo pra lá. -- O tal Taehyung assentiu e começou a caminhar. Toquei seu braço esquerdo, com elegância, fazendo-o parar. Ele me olhou confuso e eu sussurei, olhando para os lados -- Prometo te ensinar algumas técnicas infalíveis para você seduzir a sua donzela, mas eu vou exigir algo em troca, Sr.Kim...
Quem sabe ele poderia me ajudar com a poção, não é mesmo?
Não custa tentar.
O rapaz me olhou com uma feição estranha, ele parecia ofendido.
Piscou algumas vezes, perdido nos seus pensamentos, logo depois fez uma cara de nojo e se retirou.
Ele parou na ponta da escada e gritou:
-- Se você demorar mais um pouco, vai ter que encontrar o caminho sozinho.
Segurei minha risada e o segui em silêncio.
Ele estava visivelmente irritado.
[...]
Narradora:
Chaerin estava desacordada na cama.
Isabel não lutava para entender o que se passou... o sentimento de confusão já era algo do cotidiano, agora.
A mais velha dormia tranquilamente na cama, nem parecia a Chaerin desesperada, dizendo coisas desconexas, a alguns minutos atrás.
Isabel esperava a camareira aparecer.
No desespero, depois que a jovem desmaiou, Isabel quebrou a campainha dos criados, no seu quarto.
Olhava para o pequeno botão, agora afundado na parede.
-- Srta.Anastácia...? -- A voz abafada chamou a atenção da garota.
Isabel correu para a porta. Ao abrir, deu de cara com a criada, que entrou em silêncio.
Fez a análise devida da situação da jovem na cama, e concluiu que não era nada demais.
-- Não sei se o tio da senhorita te contou, mas sua prima tem uma condição especial. Por isso, não se assuste se ela perder o controle com as palavras. Chaerin não faz por mal. -- Assegurou a mulher.
-- Poderia ser mais específica, por favor? Eu não vejo minha prima há anos, preciso estar ciente de seu estado atual. -- Isabel insistiu.
-- Chaerin é médium, consegue se comunicar com os seres que já partiram dessa pra melhor. Ao que pudemos presenciar das crises da menina, já teve contato até com almas humanas! -- A expressão da criada era macabra, o que deixou Isabel ainda mais curiosa sobre a situação da prima postiça.
-- Esses seres... conversam com ela com frequência?
-- Não só conversam, como também a ajudam. Chaerin sempre é a primeira a saber de tudo, os fantasmas adoram ela. Por isso, contam qualquer coisa que esteja acontecendo de interessante, ao seu redor. -- Um arrepio percorreu por todo o corpo da jovem.
-- Por favor, me responda mais uma pergunta... -- A mulher assentiu para que a jovem continuasse -- Medlyn é um fantasma?
Os olhos da criada se encheram de um brilho melancólico. Transformando o ambiente em um clima tão pesado, quanto a própria cena de um funeral.
A velha estava visivelmente assustada com a pergunta de Isabel.
Ela não conhecia Medlyn?
Todos os que moram neste mundo, sabem quem ela é, e devem a vida à ela.
-- Ela está brincando, Bwae! Anastácia é uma ótima atriz -- Chaerin interveio.
O olhar desconfiado da criada pousou na garota sentada na cama, recém acordada.
Isabel respirou fundo. Chae despertou na hora certa.
-- Muito obrigada por toda a sua ajuda, pode se retirar, meu bem. -- Chaerin fazia um sinal com as mãos, indicando pra criada sair do cômodo.
A mulher logo a obedeceu, deixando as duas garotas sozinhas, novamente.
-- O que havíamos combinado?! Qualquer comportamento que te entregue, deve ser excluído da sua vida, enquanto estiver aqui -- Chaerin a repreendia.
-- Me desculpe... As vezes eu esqueço que estou disfarçada. -- Confessou Isabel, com os olhos caídos.
-- Tudo bem. Vem, senta. -- Chaerin deu batidinhas na cama, e Isabel logo se sentou. -- Me desculpe por te assustar, peço que esqueça tudo o que eu disse, okay? Ainda não é o tempo. Como a própria criada já disse, nem sempre tenho o controle das minhas palavras... apenas sirvo de porta-voz para algumas entidades.
-- Você está me assustando.
-- Eu sei, e sinto muito por isso. Mas continue firme, as coisas mal começaram...
-- Olha, eu até entendo que você não pode falar o que quer pra mim, agora... Mas eu te imploro, me diga pelo menos quem é essa bendita Medlyn.
-- Vamos perder o campeonato dos meninos...
-- Que se danem! -- Isabel revirou os olhos, provocando uma gargalhada gostosa da nova amiga.
Chaerin criou um afeto tão grande pela garota, que realmente sentia que ela era parte de sua família.
-- Vou resumir o máximo que eu puder -- ao pronunciar essas palavras, pôde perceber a tamanha ansiedade da mais nova. -- Já tivemos o prazer (e desprazer) de conviver com os humanos. Acredito que já deve ter escutado sobre "O rompimento", nas lendas antigas, não é?
-- Sim. Minha mãe adorava me contar essa história. -- Isabel complementou -- Ela encheu a minha imaginação com todos os tipos de contos de fadas... só não me contou a história principal, na qual eu estou presa, neste momento.
-- Lembra do grande castigo dos humanos? Há muito tempo atrás, quando os seres mágicos viviam com vocês, e o único mundo era equilibrado pelo respeito e amor ao próximo...
-- Sim. Mas os humanos passaram a invejar os poderes dos outros seres, e começaram a matá-los, com receio de se sentirem inferiores. Em consequência disso, um grande vento forte dividiu todos os seres vivos em dois mundos. -- Isabel resumiu.
-- Bem... Essa história está quase certa. Na verdade, foi bem mais doloroso do que você imagina.
-- Temos o dia inteiro. -- A mais nova colocou dois travesseiros nas costas e esperou pacientemente Chaerin prosseguir.
-- Medlyn conheceu Riordan quando era bem jovem. Tinha por volta dos seus 16 anos. Ele, um humano. Ela, uma linda fada.
Ambos eram apaixonados, e viviam bem.
Riordan decidiu morar na pequena vila das fadas, onde, depois de dois anos, se casou com Medlyn.
Fizeram um juramento de amor eterno, no altar. O sentimento que os dois compartilhavam era tão poderoso, que a magia transpareceu para os dois objetos que eles mais gostavam. A pulseira de Medlyn e o punhal de Riordan. -- Chaerin direcionou o olhar para a mala da menor, fazendo-a entender perfeitamente o que ela queria dizer. -- Aqueles dois objetos juntos, poderiam fazer qualquer lembrança vir à tona. Bastava apenas a junção do terceiro objeto mais valioso, e os dois objetos de Riordan e Medlyn.
-- Por exemplo, se eu tenho essa medalhinha como meu objeto favorito... Juntando isso, com a pulseira e o punhal, eu consigo de volta as lembranças mais marcantes que eu já vivi?
-- Exato. Voltando pra história... O casal estava tão concentrado no amor que nutriam, que demorou um tempo para perceber que suas raças estavam em guerra.
A destruição em massa das duas classes começou com o mesmo sentimento que rompeu o reino Valete. Você sabe qual é?
-- A inveja... -- Respondeu Isabel.
-- Sim, a podre inveja... que corrói a alma, como ferrugem.
Os humanos começaram a sentir inveja dos seres mágicos, e com isso, muitos foram escravizados e mortos.
O medo gritava, tanto dos místicos por estarem vivendo de forma deplorável, quanto dos humanos, com medo de se tornarem submissos.
Quando Medlyn voltou da sua viagem de núpcias, partilhou com o seu marido o grande caos em que o mundo se encontrava.
Seu coração se partiu, e o desespero a tomou por completo.
O mesmo aconteceu com Riordan, que sofreu vendo sua família enfrentar uma guerra desnecessária.
Com o peso no coração, ambos os jovens resolveram ajudar a raça a qual pertenciam.
Medlyn se colocou de frente à luta dos místicos e seu marido à luta dos humanos.
Por um breve momento, esqueceram do amor que sentiam. Em seus corações só pulsava a raiva e o sentimento de vingança.
-- Eles... morreram?
-- Calma, Isabel! Me deixa terminar -- Chaerin jogou um leque na barriga da mais nova, que acabou rindo. -- Enquanto rolava a matança, um ciclope atingiu o peito de Riordan com uma espada em chamas, algo completamente fatal à qualquer guerreiro.
-- Meu Deus... Ele morreu?! -- Disse a jovem, inconformada.
-- Ya! Cale a bocaaa!
-- Desculpa. -- Isabel disse sorrindo como uma criança.
-- Medlyn sentiu a mesma dor. Era como se estivesse fincado a espada nela também.
Por isso, caiu de joelhos, com a mão no peito... A mesma posição em que seu marido se encontrava, à alguns metros de distância.
Rasgou a garganta, de tanto que gritava, e começou a clamar pelo nome do seu amado.
Juntou suas forças e correu para perto dele, que já estava meio desacordado, no chão.
O abraçou desesperadamente, com medo de que o juramento de amor eterno fosse quebrado ali.
Medlyn percebeu que seu marido tentava dizer algo, mas não tinha capacidade, nem para mover os lábios, porque a dor das chamas na espada era surreal.
A fada encarou os olhos do amado, e o destino os abençoou.
Através daquela troca de olhares, conseguiu trocar palavras que nunca foram ditas, com ele. Conversaram com a alma.
Ela selou os lábios dele e o abraçou pela última vez, antes de voar para a colina mais alta dali.
Com ajuda da magia, construiu um refúgio para os sobreviventes.
-- Ela perdeu o amor da vida dela... coitada. -- Chae achou graça da reação de Isabel.
-- Não, ela não perdeu...
-- Mas ele morreu na guerra...
-- Isabel, você acredita em vida após à morte?
-- Acho que sim. -- Disse pensativa.
-- Qual a essência da vida? O quê nos torna vivos, amiga? -- Chaerin continuava.
-- Ah, não sei. A felicidade? -- A menor parecia uma aluna, com medo de responder uma equação errada ao professor.
-- E o que nos traz felicidade, Isabel? -- Chaerin cansou de insistir e respondeu a própria pergunta. -- O amor! Amor.
-- Aaah...
-- Ou seja, existe amor após a morte. E isso sustentou Medlyn. A alma de Riordan ainda abraçava a sua.
-- Que macabro...
-- Não é macabro, é lindo! -- Isabel riu -- Posso continuar?
-- Claro, princesa Lee!
-- A floresta escondeu o corpo de Riordan, no seu centro mais denso, junto com o punhal.
Medlyn soube disso e traçou uma jornada em busca do objeto poderoso.
Era um local quase impossível de se encontrar, mas como o seu marido continuava ligado à ela, o instinto deu uma grande ajuda.
Com os dois objetos consigo, fez outro juramento.
Medlyn daria sua vida, em troca da salvação dos místicos.
Voltou para o refúgio e convocou todos os sobreviventes, que a seguiram para o meio daquela floresta.
Ambos fizeram uma promessa envolta de uma grande árvore.
"Não confiar na carne humana, pois é asquerosa como uma serpente, somente a sua alma pode ser salva."
-- Não entendi essa citação. --Isabel cruzou os braços.
-- Não confie nessas pessoas, a não ser que elas mostrem que vale a pena confiar. Se sua alma te salvar, nós iremos te receber nesse mundo, de braços abertos. Por isso que quem entra aqui, tem que ter um propósito.
Pois todos aqueles que têm bom coração, fazem a diferença onde passam.
-- Por isso eu tenho que arranjar um propósito, pra sair daqui? Ah... Mas o que eu poderia fazer para ajudar vocês? -- Isabel perguntava mais para si mesma, do que para a sua amiga.
-- Medlyn uniu os objetos e o portal se formou. -- Chae ignorou a pergunta da mais nova -- Aquilo era uma ajuda da natureza, que sentiu misericórdia da vida dos seres mágicos. Todos vieram para Wonderland e Medlyn logo perdeu contato com Riordan, pois sua alma não pertencia ao novo mundo dos místicos.
Medlyn dividiu os reinos e distribuiu as ordens de como deveríamos manter esse lugar. Entregou os objetos ao reino Valete (que é o principal) e se transformou em estátua, pois seu corpo não aguentou todo o processo...mas sua alma continua lá, firme e forte.
-- Wow. Ela tá viva, dentro da estátua... wow! -- Chaerin não conseguia manter um ar sério, perto de Isabel. Essa menina conseguia fazer qualquer assunto se tornar engraçado. -- Você fala com ela? Wow! -- As duas gargalharam.
-- Bem... chega de conversa. Vamos nos arrumar. -- Chaerin seguiu para o banheiro e Isabel ficou refletindo sobre o deslize da mais velha, há alguns minutos atrás.
"Esses três objetos juntos, você deve deixar longe dele..."
Pegou a pulseira, a cartola e o punhal.
Mas a cartola não pertencia ao chapeleiro? Por que raios, isso seria algo de importância para o rei de Copas? -- Pensou a mais nova.
Chaerin, trancada no banheiro, sentia os sussurros do próprio chapeleiro, no seu ouvido.
-- Ora, ora, pequena princesinha! Então Riordan usará Isabel para cumprir a profecia? Que interessante... E Jungkook vai levar uns tabefes, se fizer algo de errado, nem que eu tenha que possuir um gato, pra bater naquele moleque!
"E assim, 'o amor após à morte' retorna, com a mesma situação de antes..."
-- Que a divindade possa abençoar esses dois... acho que vai ser difícil, unir esse casal. -- Chaerin sussurrou em resposta ao chapeleiro, que ria, como se a vida deles não dependesse daquilo.
Mas de fato, depende....
♤♤♤♤♤♤♤♤
🧚🏻♀️Medlyn:
Hihihi!
Esse cap foi bem longo...
Eein... quero saber qual a opinião de vocês, sobre a história.
Beijinhos!
❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro