Indecisa.

É como definitivamente eu estou.

A repercussão daquele anúncio — aparentemente simples e inofensivo — não deveria mexer tanto comigo. Não deveria me deixar indecisa. Eu não entendia o porquê da hesitação, porque, veja bem, aquela promoção é o sonho de qualquer fandom, especialmente quando é inédito. Um fim de semana com a One Direction está na lista dos meus desejos, mas o que explica a minha indecisão é:

E se eu não conseguir?

E sim, pela primeira vez na vida, estou duvidando da minha capacidade.

Eu deveria estar minimamente animada, mas ao invés disso, estou criando coisas na minha cabeça com intenção de justificar toda essa história. De todas as reações que eu, como fã, poderia ter, hesitação é de longe a mais estranha.

— Você se inscreveu?

Olho pra minha irmã e balanço a cabeça.

Estamos deitadas da mesma maneira que costumávamos fazer quando éramos pequenas. Algumas noites, quando todos já estavam dormindo, Greta corria para o meu quarto e nós nos deitavamos de cabeça pra baixo e colocavamos os pés acima da cabeceira, grudando-os na parede. Era engraçado, porque nós sempre usávamos meias de pares diferentes.

— Você deveria — Greta opinou. Sua opinião, mesmo que divergente da minha, sempre era válida e me ajudava. — Apesar do mundo inteiro participar, se eu fosse fã de uma banda tanto quanto você é deles, não pensaria duas vezes.

— E se eu não conseguir?

— Se não conseguir, pelo menos você tentou — Greta explicou, otimista.

Resmunguei, girando na cama.

— É complicado...

— E quem disse que seria fácil? — Greta ergue a sobrancelha, desafiando. Tenho vontade de bater nela, especialmente pelo fato de sempre ter razão. Sempre mesmo.

Pego o notebook e entrego nas mãos de Greta, para que ela possa ler a notícia.

— É uma promoção?

— Isso mesmo. O prêmio é um fim de semana com eles — eu explico. — A promoção oferece uma competição entre fãs da banda, vinte e uma, que serão sorteadas em breve. As fãs selecionadas disputarão pela chance do fim de semana.

— Isso é interessante.

Faço que sim.

— Ainda quer minha opinião?

— Quero — respondi, ainda que não tivesse certeza disso. — Quero mesmo?

Greta sorri.

— Sim, você quer. Dê-me uns minutos.

Greta parece mais animada do que eu quando finaliza a leitura. Seus olhinhos brilham e quase me convencem a participar sem dizer uma palavra.

— Você tem que participar! — ela grita.

Deixei o corpo cair na cama, pensativa.

— Qual é o problema? — ela reforçou o tom de voz. — Sabe quantas fãs neste exato momento teriam prazer de te esfolar? Todas! Você está deixando uma ótima oportunidade passar só por sentir medo?

— Não é medo.

Greta levantou as sobrancelhas.

— É, sim — ela insistiu. — America, você vai mesmo perder essa oportunidade por medo? Veja bem, é claro que vai ser complicado, mas será que não vale a pena se arriscar para conhecê-los? — Apurei os ouvidos. — Ou será que essa sua onda de ser fã é só por modinha?

Incrédula com sua audácia sentei-me na cama.

— O que você disse?!

Greta caiu na gargalhada.

— Você acabou de provar o contrário, Ames. — Empurrei seu ombro de leve. — Já se decidiu? Posso te ajudar!

Pensei seriamente.

Céus, estou falando de cinco pessoas que resumem os meus sorriso diários.

Niall Horan é sinônimo de animação, altas risadas e bom humor; é um rapaz dedicado a música (ainda que em alguns dias a preguiça fale mais alto) e é exemplo de inspiração para as fãs e para outros cantores. Ainda que seja conhecido hoje, ainda que sua imagem seja pública, depois de quase quatro anos de banda vejo nitidamente que é a mesma pessoa, que é o mesmo menino de dezesseis anos lá do The X Factor UK. Percebo que Niall não perdeu sua essência.

O mesmo digo de Louis Tomlinson quando me refiro a essência, principalmente porque ele continua simples e, o mais importante, continua humano. Dou risada quando vejo o desespero desse rapaz ao ver algo relacionado a futebol, e é inacreditável que um britânico goste tanto do esporte e, principalmente, do jogo brasileiro. Apesar de não conhecer muito o Brasil, vejo o quanto as fãs de lá são dedicados, mais até do que as algumas que vivem perto do Boo Bear.

Não é difícil amar pessoas assim, na verdade, é até fácil demais, principalmente quando essa pessoa tem apego e costumes tão simples como gostar demasiadamente de dormir e medo de água. Ainda que Zayn Malik seja dono de um belíssimo par de olhos castanhos claros e um tom de pele bronzeado e uma beleza de tirar o fôlego, carrega consigo defeitos incomuns mas que o torna como nós. Z é misterioso, retraído e, por vezes, quieto, mas tem uma voz suave e firme e sabe desenhar como ninguém. Seu sorriso com a língua entre dentes destrói o psicólogo de qualquer um, até de quem não é fã do moreno.

Liam Payne não fica muito atrás, porque sua determinação e talento é evidente desde a sua primeira participação em 2008, quando Simon Cowell o dispensou por achá-lo despreparado e aconselhou-o a voltar dois anos depois. E foi em 2010, seguindo o conselho do atual empresário da banda, que Liam provou todo o seu talento e preparação. Era nítido nas apresentações da One Direction que Liam era o mais preparado a se arriscar e a confiança em si toda vez que cantava. Sempre pronto para surpreender. Ah, e nem preciso comentar o quão belo é e como sua voz deixa qualquer fã fora de suas faculdades mentais.

E pronto, falar sempre de Liam por muito tempo já começa a confundir as minhas faculdades mentais.

Só falta, então...

Harry Styles. E eu garanto a vocês que além de ter as minhas faculdades mentais confusas, tenho todos os pêlos do meu corpo confusos, as minhas pernas e as minhas mãos confusas se devem ou não tremer e, pior do que isso, o meu coração. O que falar de dele? Bem, tenho noção de que jamais irei exaltar um dos meninos e inferiorizar o outro, porque pra mim, isso é ridículo e um tanto quanto egoísta.

No entanto, todo mundo tem alguém com quem se identifica mais ou alguém que te arranca mais sorrisos e risadas e, até mesmo, te faz tomar conhecimentos de princípios que nem você mesmo sabia que tinha. H é único, diferente e tem o poder de me fazer suspirar vezes e mais vezes. Ainda sim, entendam: é amor de fã, aquele amor intenso e verdadeiro; só a ideia de saber que, por algum motivo, ele está mal, já fico em pânico. O que quero dizer é que apesar de amar os meninos com a mesma intensidade, percebo que com H é diferente, é mais forte, mais natural.

Bem, acredito que isso seja suficiente para me convencer a fazer a inscrição.

— Eu tenho apenas que tentar, não é mesmo?

Greta assentiu.

Estalei a língua, finalmente otimista.

— Está bem —, aceitei, por fim.

Minha irmã bateu palmas e pegou o notebook, pronta para me inscrever na promoção do Fim de Semana.