capítulo 9.2: nem em um milhão de anos
MANHÃ DE DOMINGO
"Estou com saudades. Volta logo pra casa. Quero ver você.
Te adoro."
— Colin.
A culpa me consumia completamente. Eu tinha recebido essa mensagem há poucos minutos, logo depois que Niall saiu quarto e disse iríamos ao Starbucks. Eu tinha acabado de sair do banho quando meu celular bipou. Não esperava uma mensagem de Colin — de nada relacionado a ele, na verdade — porque estava relaxada de mais e com a mente limpa de problemas, finalmente.
Eu já expliquei o poder dos banhos sobre mim.
Eles me restauram.
Eu aposto mil milhões — que eu não tenho, a propósito — que não conseguirei guardar segredo quando regressar para Washington. Não por Colin, mas por mim. Eu me arrependo rapidamente e quando a culpa incomoda o meu sono, o meu sorriso e até a minha paciência, não há outra alternativa a não ser contar o que tá acontecendo. Ou o que aconteceu.
Eu insisti demais no nosso relacionamento proibido e agora parece que Colin se arriscou pelos meus caprichos. Eu não gostava apenas de Colin, mas também da adrenalina. Eu gostava da sensação de estar fazendo as coisas escondido, das borboletas no estômago. É claro que, o carinho e a atenção de Colin me encantaram completamente, mas eu percebi isso depois. Com o tempo, me convenci de que gostava de verdade dele, mas era por omissão. Eu estava omitindo o que sentia de verdade, porque não queria magoá-lo. Eu achava bobo, e no fim, era o certo.
Sentei na poltrona, de pernas cruzadas. Fiquei uns cinco minutos assim, pensando e olhando para o celular, até que o peguei e respondi:
"Também te adoro, C."
— America.
E continuei a me arrumar, prendendo o cabelo num rabo de cavalo quase perfeito — considerando a minha chateação — e coloquei o cordão com um crucifixo como pingente, aquele que encontrei no quarto lá da competição, em Bel-Air, no pescoço. Deslizei um gloss nos lábios e um pouco de blush nas bochechas, contornando-as. Nos olhos, puxei um delineado marcante e acentuei meus cílios com o rimel. Vesti uma calça branca, um cropped e um salto preto simples.
Me olhei no espelho e me senti bonita, mas vi uma sombra de traição.
Balanço a cabeça e afasto os pensamentos. Hoje, infelizmente — ou felizmente, não sei — é o meu último dia perto deles e quero aproveitar o máximo possível. Mesmo com a relação — se é que podemos chamar isso de relação — mal resolvida entre H e eu, não posso excluir o fato de que ele ainda é o cara por quem eu me tornei fã há quatro anos, por quem eu desenvolvi carinho e consideração.
Respirei fundo e saí do quarto.
Niall disse assim que alcancei às escadas:
— Starbucks.
— Podemos tomar café agora e almoçar em algum restaurante — Liam sugeriu. — Já são quase dez, não compensa.
Louis comentou:
— Para que aquilo dê certo, é melhor tomar café da manhã no Starbucks.
— Para dar certo o quê?
Só aí se deram conta da minha presença na sala. Os cinco demonstraram suspresa — até demais, admito — ao me ver descendo às escadas com certa determinação. Nem um passo em falso e os olhos firmes no chão quando o primeiro resquício de vergonha apareceu. Minhas bochechas aqueceram com seus olhos em mim.
Quando terminei de descer, enfim levantei a cabeça.
— Alguém pode dizer alguma coisa? Eu tô ficando com vergonha — admito.
Niall mexeu a cabeça:
— Não precisa. Você só tá linda.
Os outros concordam.
— Vem cá, por acaso você tem namorado? — Zayn quer saber. Mexo a cabeça, negando. Ou melhor, mentindo. — Que puta desperdício.
— Nem me fale — Louis concordou.
Liam também:
— Eles têm razão.
— Eu tenho desde a competição — H se gabou, de repente. — Lembram?
Todos assentiram, mas percebi um segundo sentido.
Um quê de cumplicidade.
— Obrigada — agradeci, sorrindo. — Vamos lá ou esse café vai virar almoço?
Na maior animação, saímos da mansão.
Me surpreendi quando nos dividimos em duas Range Rover. Harry conduzia o automóvel comigo ao seu lado e Louis no banco de trás. É claro que toda essa dependência dos seguranças só podia ser fachada, porque assim que saímos do condomínio um carro preto seguia cada passo que dávamos.
— Eu sempre desdenhei das "babás" — comentei, olhando pelo retrovisor.
— Dos seguranças?
Concordei com Louis.
— Eles salvam nossas peles — H os defende.
— Nunca disse que não salvavam — rebato quando percebo um quê de arrogância. — Você entendeu mal.
— Não, eu entendi muito bem.
Fiquei quieta.
Certamente ele estava com algum problema.
O seu "entendi muito bem" respondia mais do que aquela simples pergunta. Ele estava falando de nós — se é que existe um "nós".
— Vocês precisam ser mais discretos — Louis comenta, de repente. Entro em pânico. — A tensão sexual entre vocês é gritante.
— Não há tensão sexual — eu minto.
— Há sim.
Eu congelo quando percebo quem confirmou isso.
E não foi o de olhos azuis.
Mesmo dirigindo, H olha de relance pra mim antes de focar no trânsito.
— Estamos perdendo a nossa sintonia. — Respirei, olhando para as minhas mãos. — E você ainda está tentando.
— Tentando o quê?
— Tentando ter o meu "sim".
— O seu "sim" para quê, exatamente? — o cara do banco de trás se intromete, colocando a cabeça no espaço entre os da frente.
H o repreende:
— Ei, isso não é um triângulo amoroso!
— Foi mal.
A saliva desce rasgando a minha garganta.
— Por quê você o quer?
— Porque você me disse não — essa é a sua resposta. Olho para Harry com um quê de desentendimento, mas parece que estou caindo na toca do coelho em "Alice e o País da Maravilhosas" que nunca chega ao fim. E como eu sei disso? Eu ainda não encontrei o Chapeleiro Maluco ou Rainha Branca. — O seu não me atraiu, porque eu nunca fui rejeitado por ninguém.
— Você já disse isso.
— Só que eu não expliquei o porquê. — Ergui as mãos em derrotada. — Se ninguém nunca me rejeitou antes e eu não tive um relacionamento sério com nenhuma delas, isso só significa uma coisa.
— Que você não é bom na cama?
Louis começa a rir na hora.
Só depois de alguns poucos segundos me dou conta do que eu disse.
Quis acabar comigo.
— De cama, não sei, mas de boca... — o de olhos azuis sussurra no banco de trás.
— O quê!?
H freia o carro com tudo.
Tomo um susto e eu me vejo controlando a respiração depois disso.
Louis reclama:
— Mas que droga!
— Espera aí: — eu retomo, tentando entender — de cama, não, mas de boca sim? Expliquem-se agora.
— Nao é nada — H mente.
Mentiroso conhece mentiroso.
— Eu vou dizer, se você não disser — ameaço.
— Meri.
— Um — começo.
— Isso é invasão de privacidade, sabia?
— É o quê!? — Solto um riso nasalado, possessa. — Invasão de privacidade? Você tá invadindo a minha privacidade e me enlouquecendo há três dias, então corte a merda!
Louis ri.
— Você tá ferrado, irmão.
— Isso também é sobre você, estúpido! — o de olhos verdes lembra ao amigo.
— Só que eu não tenho problema que as pessoas saibam, diferentemente de você, que foge da realidade e de quem você é! — Louis rebate, aparentemente sério. — Conte pra ela. Veja a reação dela e tenha noção do que as fãs fariam se soubessem.
— Se soubessem o quê?
H aperta o volante com força.
Pelo visto, estávamos rodando pelas ruas de LA.
— Esquece — digo, quando o silêncio preenche o interior do automóvel. — Isso não é sobre mim. É sobre vocês. Independentemente das suas escolhas, do que você é, eu te apoiarei. Esquece essa tensão sexual entre nós porque só quero o seu bem.
O carro fica silencioso novamente.
Quando veio o letreito do Starbucks aproximando-se, H corta o silêncio:
— Você não me respondeu. — Sobre o quê!? Com tudo que está passando pela minha cabeça agora, esqueci completamente o que ele está se referindo. — O que significa?
— Eu não sei.
Ele morde o lábio inferior, estacionando o carro numa vaga acessível.
— Significa que elas só queiram uma prova do que eu tenho fisicamente e não de quem eu sou interiormente — ele começa, mas evidencia que ainda não terminou. — Você não mediu esforços de me dizer não, mas ainda sim continuou querendo saber sobre mim. Você. O tempo todo foi você. Você quis dar uma chance ao homem que eu sou sem essa capa que grudou em mim de artista. Você me deu uma chance. Será que eu peco tanto ao querer te dar uma chance também?
O de olhos verdes deixa o carro logo depois.
Estou sem reação, estática.
— Dê uma chance.
Louis está inclinado no espaço entre os dois bancos, com um olhar sincero e os lábios prensados um no outro, evidenciando sua solidariedade.
— Eu não posso — digo baixinho. Meu coração está se partindo em pedacinhos.
— Não pode ou não quer?
Este é o seu ultimato.
E realmente este é o quê do problema.
Quando finalmente ponho os pés no chão, Louis dá a volta no mesmo, pega a chave da ignição e ativa a tranca do carro. Forço um sorriso, mas ele quase não aparece. O de olhos azuis estende o braço dobrado para cruzar-se com o meu. O meu sorriso forçado torna-se um sorriso contente quando eu entrelaço o meu braço no dele e lado a lado andamos até o Starbucks.
H está do lado de fora do estabelecimento, provavelmente nos esperando.
Quando nos vê, segue na frente.
Os seguranças estão agitados quando entramos. Liam, especialmente, está deveras preocupado.
— Caramba! Que demora. Onde estavam?
— Dentro do carro, oras — Louis responde, sarcástico. — Onde mais estaríamos?
Liam cruza os braços.
Um dos seguranças toma partido.
— Vocês desviaram da rota. O combinado era vir ao Starbucks tomar café, certo?
— Nós viemos.
— Dez minutos depois — Niall lembra, também de braços cruzados.
— A culpa não foi deles — eu tento livrá-los da bronca. — Foi minha. Eu os distraí durante a rota e o H pegou a quadra errada, acidentalmente.
Liam argumenta:
— Era só pegar o retorno.
— E pegamos —, Louis começa, compactuando a minha mentira — mas estava congestionado e eu suspeito que algumas fãs estavam atrás de nós.
Os meninos e os seguranças parecem acreditar.
Niall esclarece:
— Só acredito, porque foi a nossa fã que explicou.
Os segurança concordam.
Louis dá língua às suas "babás" e ao amigo.
— Vamos comer? Eu estou com muita fome!
E mais uma leva de risadas.
Peço um croissant de queijo e presunto e o meu amado chocolate quente. Quando os pedidos chegam, os meninos reclamam que eu pedi pouca coisa, mas eu os asseguro de que isso é só a entrada principal. E realmente é, porque após dessa "entrada principal" eu peço um cappuccino, brownie e um cheesecake.
Niall reclama que é inédito alguém comer mais do que ele no café da manhã.
— Bem, a primeira vez sempre acontece — H é mais rápido na resposta.
Olho para o de olhos verdes num relance.
Ele está me provocando e está chateado. Com razão, né? Eu nem fui capaz de compreendê-lo de imediato.
— E aí, saudade de casa?
— Muita —, admito, bebendo mais um pouco do cappuccino — mas converso com minha família todos os dias.
Louis comenta:
— Você é apegada.
— Eu acho que sou dependente deles —, corrijo, esticando um sorriso — princiapalmente da minha irmã. Como meus pais trabalhavam muito, Greta cuidou de mim quando eu era criança. Ela é minha referência de tudo, na verdade. O que eu sei hoje foi minha irmã que me ensinou. Ela dedicou sua adolescência pra cuidar e me educar. Greta é o meu exemplo.
Niall elogia:
— Isso é muito bonito. Você, na verdade, é muito fiel a sua família, America.
Mostro-lhe um sorriso.
— Amanhã você estará livre de nós — Liam relembra e causa uma leva de risadas.
— Vocês que vão se livrar de mim. Estão loucos pra viverem as próprias vidas.
H admite:
— Gostamos da sua companhia.
Pela primeira vez, desde cedo, vi uma bandeira de paz sendo erguida.
Mesmo sabendo que um envolvimento entre nós seria problema, eu continuei. Desde a primeira vez que ficamos sozinhos, eu soube que ele me enlouqueceria. Ainda sim, eu continuei. Quando o olhar de H estampou "encrenca" pra mim, eu deixei o meu corpo se adaptar aquela sensação inédita, que outrora nunca havia sentido. Eu sabia de tudo.
E você quer saber?
Harry Styles tirou a minha paz, mas eu definitivamente tirei a dele também.
[...]
— Amigos?
— Quem sabe — eu digo e mordo sua boca.
[...]
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