capítulo 7.1: nem tudo é perfeito
Alguém, por favor me envie alguém
Senhor, tem alguém?
Eu preciso de alguém
Alguém, por favor me envie alguém
Senhor, tem alguém?
eu preciso de alguém
— Anyone,
Demi Lovato.
•••
CAPÍTULO SETE
nem tudo é perfeito.
— Nem tudo é perfeito.
Greta suspira do outro lado da ligação.
Minha irmã mais velha sempre foi minha melhor conselheira, a pessoa favorita no mundo para pedir conselhos, mesmo que minha mãe sempre se mostrasse a minha disposição.
Há tempos não conversávamos, acho que, por conta da nossa vida pessoal.
— Passaram-se quase cinco anos, America. Não é normal. Lembra quando você reencontrou o Colin depois do término? Foi estranho, obviamente, mas você não sentiu saudades, vontade ou algum sentimento além de consideração por ele; você apenas sorriu, cumprimentou a nojenta da noiva dele e seguiu pra pista de dança. Fim de papo.
— Nesse dia eu me senti invencível.
— Eu também me sentiria — Greta concorda. — A noiva do Colin, em contrapartida, sentiu-se em desvantagem e se pôs na defensiva. Claro, você é mil anos luz mais bonita e atraente que ela, que, mesmo se fizesse procedimento estético, jamais poderia chegar aos seus pés.
Não nego.
Greta tem razão.
— Enfim, seu coração bateu mais forte, certo?
— Desde o segundo em que o vi novamente, no jardim de Alissa — conto e suspiro. — Ela está péssima.
— Não é pra menos. O marido dela morreu.
Concordo.
Kellan aparece e se joga ao meu lado.
— Tia Meri! — Ouço do outro lado da linha. Meu sobrinho de quatro anos, Archie, é meu maior xodó. Quando ele nasceu, Greta já morava na Suíça com o noivo, hoje marido. Só pude conhecê-lo meses depois, mas sempre fazíamos vídeo chamada para matar a saudade.
— Archiezinho!
— Saudade, tia Meri — ele diz. — Quando você vem me ver?
— No seu aniversário, anjinho. Prometo.
Ele resmunga:
— Mas falta muito!
— Passa rápido, querido. Logo, logo, a tia Meri vem visitar a gente — Greta garante.
— Isso aí. Combinado, Archiezinho?
— Sim, tia Meri!
— Te amo mil milhões.
— Eu amo muito mais. Dois milhões!
Dou risada.
— Não, eu amo mil univervos! — Incentivo a brincadeira. Kellan ri do meu lado.
— Mas isso é muito!
— É sim, filho — Greta diz. — Vamos tomar banho?
— NÃO!
Eu e Kellan caímos na gargalhada.
— Acho que tenho um leão pra domar agora — ela fala. Meu sobrinho foge de banho. — Deseje-me sorte.
— Pode deixar! Te amo.
— Também te amo.
Desligo a ligação e olho pra Kellan.
— Alissa está bem?
— Acima do possível — ele responde. — Perguntou por você.
— Sinto que estou incapaz de ajudá-la nesse momento. — Solto um suspiro. — Não sou capaz nem de me ajudar, quanto mais de ajudar alguém.
Kellan se senta na cama.
— Resolve isso logo.
— Não é tão fácil — respondo.
Meu melhor amigo se levanta rapidamente, aparentemente irritado.
— Tá bravo?
— Claro, America! — Ele me chamou de America. Kellan só me chamava assim quando estava muito bravo comigo. — Tem alguém no final do corredor precisando de amparo, de conforto, carinho e você mal consegue deixar sua vida amorosa de lado pra ajudá-la. Se eu não estivesse aqui, Alissa estaria desamparada.
— Isso não é verdade.
Kellan cruza os braços.
Me sento na cama, assumindo uma postura.
— E o que é? — Ele faz uma pergunta retórica. — Bem, aparentemente a sua atração por um cara que, você é fã desde os catorze anos, parece ser a sua verdade absoluta no momento. Você precisa se desligar dele, pelo menos agora.
— Você está sendo egoísta, Kellan — esclareço. — Esqueci minha vida particular desde que soube de Aiden. Viajei dos Estados Unidos até a Inglaterra para ajudá-la, mas eu não contava que ele estaria aqui. Isso bagunçou tudo. Eu tô bagunçada.
Kellan se aproxima, devidamente chateado.
— Eu te garanto que se há alguém nessa história bagunçada —, ele faz uma pausa, ponderando as palavras — esse alguém se chama Alissa Renalti.
Faço que sim.
Meus pensamentos estão a mil.
Será que estou sendo egoísta? Quando analiso toda essa situação, não consigo me sentir assim. Me sinto completamente humana, empática, mas as palavras de Kellan me assobram e dizem o contrário. Uma sensação ruim começa a me incomodar, instalando-se no fundo da garganta, dando aquela sensação de alguma coisa entalada.
A partir daquele momento, estou me sentindo mal.
Talvez Kellan tenha razão. É possível que eu só tenha pensado em mim, mesmo que eu não estivesse vendo dessa forma. Eu estava apenas em negação com tudo, principalmente com meus sentimentos. Eles realmente estavam guardados, mas agora, estavam à flor da pele me confundindo.
Respirei fundo e fui até o quarto de Alissa.
— Ei, tudo bem?
— Sim, tudo okay. Só queria saber se você melhorou — digo. Ela levanta da penteadeira. Seus cabelos estão molhados, uma indicação de que acabara de sair do banho. Sua feição está melhor, mas suas olheiras ainda são perceptíveis.
— Estou indo. Você não parece legal. Dormiu bem?
Estou péssima.
— Claro. Dormi, sim.
Alissa está vestindo uma blusa justa, o que permite que sua barriga mostre a saliência da gravidez.
— Como está o meu sobrinho?
Lissa ri e admira a barriga.
— Está crescendo — ela comenta. Sua mão acaricia a mesma. — Ainda falta muito pra ele nascer, só daqui oito meses.
— Passa rápido.
— Isso me assusta e me deixa animada.
— Ter um bebê? — Alissa assente. — Deve ser uma mistura dos dois, mas é bom. Ser mãe é um milagre de Deus.
— Deus?
— Você não acredita?
Ele pondera.
— Eu não sei. Se Deus existe, se ele faz milagres, tal qual a possibilidade que a mulher tem de gerar vidas, por que levá-las de abrupta maneira? Se ele tem o poder divino, por quê não preservá-las?
— Para que haja o equilíbrio.
— Como assim?
— Há milhões de anos atrás, o homem vivia quase mil anos. Aos olhos de Deus, quanto mais tempo vivêssemos, mais tempo para pecar teríamos. Diminuindo a expectativa de vida dos seres humanos, a busca por redenção deveria ser feita mais rapidamente.
— Então nós nos colocamos nessa situação?
— É o que a palavra diz — eu respondo. — A questão é que tudo acontece por uma razão. Talvez Deus tenha recolhido Aiden para impedir que ele pecasse ou fizesse algo ruim no futuro. Deus leva para poupar, não para magoar. Era o propósito d'Ele.
Alissa assente.
— Não sabia que você era religiosa.
— Nao sou, mas acredito na existência de um Deus que nos deu vida, e vida com abundância. — Mostro um sorriso. — Deus te deu um presente. Ele pensou em tudo. Levou um pedaço de você, mas deixou outro.
— Sou grata por isso, mesmo que Aiden faça falta.
— Eu sei. Ele também sabe.
— Obrigada pelas palavras. Eu precisava refletir um pouco — Alissa admite. — Se a morte não for apenas dor, que seja também aprendizado. Não estamos no controle de nossos vidas. Não cem por cento.
— Então, o que podemos fazer é viver plenamente.
Ela sorri.
— Me dá um abraço — e me puxa.
Me agarro nela, como um bebê carente e aproveito o conforto.
— Pode chorar. Eu sei que você tá precisando, Ames — Alissa diz enquanto acaricia meu cabelo. — Chora.
E é o que eu faço.
Quarentena tá aí, amores.
Leiam pra se distrair! E se cuidem. Adoro vocês.
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