capítulo 5: quem nos ama, a gente nunca esquece
TARDE DE SÁBADO
— Eu estou com saudades!
— Eu estou com muita, muita saudades de você também, Ames — ele admitiu. — Quando vamos nos ver?
Estalo a língua, sem saber.
— Eu não sei. Você mora nas montanhas nórdicas e frias do Canadá. Está há milhas de distância de mim. — Kellan gargalha.
— Eu gosto daqui.
— Porque você nasceu aí — eu desdenho.
— Céus! Você está mesmo impossível! — Desta vez, sou eu quem dá risada.
— Desculpa, Kellan.
— Não peça desculpas. Você está contente. — Solto um riso baixo. — E acho que sei o motivo. Ou melhor, os motivos. Você quer que eu diga?
Murmuro um "não" e fecho os olhos, recapitulando as últimas horas. Fantástico. Essa é a palavra certa.
E ele tem razão.
Não há como descrever esse milagre sem perder a cabeça. É quase impossível. E é tanto que fico sem fôlego só com a ideia. Eles são tão incríveis, têm uma lábia tão boa, tão convincente, e é inacreditável que eu ainda não tenha desmaiado, apesar de demonstrar tanto autocontrole perto deles.
Ainda estou tentando me certificar de que estou realmente na Califórnia, Los Angeles, vivendo esse sonho.
— Certo! Chega. Você está acabando comigo — eu digo, por fim, me sentando na cama. Kellan ri baixinho.
— Pensei que fosse o Styles.
— E o Horan — acrescento.
— Styles — ele corrige, implicando comigo.
— Tomlinson.
— Styles — Kellan insiste, quase rindo.
— Payne — continuo.
— Styles! E não se fala mais nisso.
— Malik! E só aí, não falo mais nisso — finalizo. Ele cai na gargalhada. — É sério? Você só pode estar de brincadeira. Já deu, Rich. Cansei!
É um alívio poder conversar naturalmente com Kellan, sem aquela maldita pressão da competição ou um milhão de câmeras filmando o nosso momento. Eu, definitivamente, destesto câmeras, detesto ser o centro das atenções, e sinto pena — pena mesmo — de quem é obrigado a expor a própria vida e a si mesmo.
Os meus meninos são um ótimo exemplo.
Isso não é uma escolha, é uma condição para se ter tudo o que eles têm — independente se eles gostam ou não, concordam ou não, precisam aceitar e pôr um sorriso no rosto mesmo quando a vontade é se esconder ou xingar a mídia com suas notícias nas quais consideram de domínio público. Que na verdade, é uma besteira, porque em pleno século XXI, não existe notícia pública; existe notícia publicada, manipulada e sei lá mais o quê.
E é muito fácil falar mal da desgraça alheia; afinal, não é nada sobre você.
Meu celular bipa, só então eu saio do meu devaneio. Olho o ecrã e vejo várias mensagens de um grupo desconhecido. Dou risada quando identifico o quê do assunto e presumo quem tenha criado o grupo.
— Melinda — eu e Kellan dissemos ao mesmo tempo.
O nosso sincronismo é absurdo.
— Agora posso te envergonhar com um exercíto. Vou treinar as meninas — ele diz, gabando-se pela bela ideia.
— Esquece. Isso é besteira.
— Viu só? Já tá brava — ele zoa, rindo. Alguém diz alguma coisa do outro lado da linha. — Cala a boca, Mason! Estou ocupado. Desculpa, Ames.
— Tudo bem.
— Céus, Kamerica é sensacional em nível hard! — Alguém do outro lado da linha comenta naturalmente.
— Some daqui!
Ouço um barulho e a linha fica muda por alguns segundos, apenas.
Solto uma risadinha.
— Ei, desculpa — Kellan repete, tentando soar o mais normal possível.
— Seu irmão faz parte do nosso fã clube também?
— Nosso?
— É, o fandom lá. Você ainda lembra, certo?
— Lembro, sim, mas... —, ele responde — Mason não faz parte de fã clube nenhum; é só implicância.
— Te incomoda?
— Às vezes, porque não se pode gostar de uma mulher como amiga que as insinuações maldosas começam — Kellan se explica. — Eu tô legal, acho, desde que não seja a mídia.
— Nem me fale. Essa é a pior parte.
— Mas sabem que você namora, então eles não desconfiam da possibilidade — ele lembra, e isso me perturba.
— Não, não sabem.
— Ninguém sabe?
— Só você e a Lissa sabem.
— Caramba, Ames. Você é boa com segredos, hein.
É, eu acho que sim.
— Kellan?
— Ei, Archer! Está tudo bem? — Kellan questiona. — Algum problema?
O irmão não responde. A linha fica muda.
— Ames, posso te ligar mais tarde? Sou um irmão concorrido. Desculpa.
— Pode ser à noite?
— Ótimo! —, ele aceita e me aconselha: — Divirta-se, minha linda. Tire foto com eles, pede autógrafo e para te seguirem nas redes sociais.
— Eu nunca pediria isso.
Ele ri:
— Eu sei. Só que eu ainda tento.
Eu: mãe, eu estou bem.
Mãe: tem certeza? você já tomou café? já almoçou?
Eu: sim, sim e sim.
Greta: mãe, ela está com cinco homens gostoso e irresistíveis, é claro que ela está bem. melhor que bem, né, ames?
Pai: não estou aqui e não li isso que você mandou greta.
Eu: omg! também não é assim.
Eu: pai, não leve a sério. greta está brincando.
Mãe: não está, não. é a mais pura verdade.
Eu: mamãe!
Greta: aaaaaaa, até a mamãe concorda!
Pai: mais tarde teremos uma boa conversa, carol.
Mãe: sim, senhor.
Greta: eca! que nojo.
Eu: agora é a minha deixa. tchauuuu! e tenham juízo, não façam nada que eu não faria. amo vocês!
Desligo a tela do celular.
— O que é tão engraçado?
Z está parado na porta do meu quarto.
Sem camisa.
Fico sem reação.
— O que é tão engraçado? Você estava sorrindo.
— Ah, entendi. Minha família. Meus pais e minha irmã. Estava conversando com eles — explico, tentando não demonstrar confusão.
— E seu melhor amigo.
— Espera. Há quantas horas você está aí mesmo?
— Não estava. Só passei na frente do seu quarto algumas vezes e ouvi algumas coisas — o moreno respondeu.
— Só passou?
— Foi acidentalmente.
— Ou foi necessário? — rebato, curiosa.
Ele ergue as mãos e sorri, entregando-se por fim.
Ah, não.
Mas que droga.
Seu sorriso é o gatilho para o fim do meu autocontrole.
Sabe aquele maldito sorriso que eu sempre defino com riqueza de detalhes? O típico sorriso com a língua entre os dentes. Será que Zayn tem a mínima noção do quanto seu sorriso acaba com as fãs? Pouco provável. Ele é tão tímido perto das fãs que é improvável que saiba o que faz com a gente. Ou talvez saiba e faça isso de propósito.
— O que está escrevendo?
As folhas.
— Coisa minha — respondo e recolho-as.
— Por acaso você é compositora ou algo do tipo? — ele quer saber, aproximando-se da cama. Já recolhi as folhas, mas ainda sim ele se senta nela.
— Nem em um milhão de anos.
— Espera aí. Você está desdenhando, America?
— Claro que não!
Ele me olha, erguendo as sobrancelhas.
— Fala sério?
Tombo a cabeça.
— Não acredita em mim?
— Deveria?
Estamos num impasse, mas a conversa é divertida e nada incômoda.
No fim, damos risada.
— Certo, se você não compõe, o que está escrevendo? Poemas, quem sabe?
— Também não. São apenas pensamentos.
— Que tipo de pensamentos? Fetiches, talvez?
— O quê!? Ai, meu Deus, Z! Claro que não! — respondo, assustada, e Z cai na gargalhada. — Você é um pervertido! Como sua noiva te aguenta?
— Eu acho que valho a pena.
Empurro seu ombro de brincadeira.
— Eu vim te avisar que vamos em um lugar. Quer dizer, em alguns — ele explica.
— Por isso veio no meu quarto?
— Por isso e pra ver se estava viva. Já pensou, se eu entro aqui e você teve uma crise por ter nos conhecido?
— Isso nunca aconteceria. Não comigo.
— Quem saberia?
Ele se levanta e se aproxima da porta.
— Z! — Ele se vira. — Qual é o nosso destino?
O moreno sorri.
— Calçada da fama.
[...]
— Você namora?
Balanço a cabeça em sinal positivo.
— É uma pena.
[...]
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