capítulo 4: não deve ser tão difícil
"E a gente?
E todas as vezes que você disse que tinha as respostas?
E a gente?
E todos os finais felizes despedaçados?
E a gente?
E todos os planos que terminaram em desastre?
E o amor? E a confiança?
E a gente?"
— What About Us, P!nk.
•••
CAPÍTULO QUATRO
não deve ser tão difícil.
— Que horas é o seu voo?
Chelsea está arrumando as próprias malas quando eu entro no quarto sorrateiramente e a questiono.
— Às oito — é o que Chelsea responde, de cabeça baixa. — Sairei em minutos. Você não precisa ir comigo, já fez o suficiente.
— Eu não fiz nada.
— Claro que fez — ela insiste. — Me trazer junto contigo não foi um "nada".
Faço que sim.
— Fale com ela.
— America é impossível. Você a conhece melhor do que eu — ela justifica.
— Vocês conviveram por um mês na mesma mansão.
— E vocês por três dias — a loira rebate e me olha como se dissesse "não me provoque". — Aposto que foram mais intensos do que a competição.
— Não é nenhuma mentira.
Chelsea ri, triunfante.
Um dejá vù do fim de semana aparece. Me pego sorrindo sozinho.
— Não quero nem saber o quão intenso esse fim de semana foi — Chelsea confessa, colocando a mala no chão.
— Dois selinhos e um beijo.
— Mas que porra!?
Me assusto com a sua reação.
— Pois é.
— Caramba.
Chelsea arrasta a mala até a porta, em silêncio.
— Eu fui uma vaca — é o que ela diz, de repente. — America sempre se contentou com o pouco, com o simples, e eu sempre quis mais. Destruí a paz durante a competição por causa da ambição. Ela nunca vai me perdoar, não é? Eu não mereço nenhum pouco de compaixão, de compreensão, muito menos o seu perdão. Droga! Eu nem deveria ter vindo. Essa foi uma péssima ideia, só acordei os ciúmes dela.
— Ciúmes?
Chelsea me olha e ergue as sobrancelhas.
— Sério que você não percebeu? — Faço que não. — Esquece. Ela mesmo dirá.
A topmodel solta um suspiro.
— Você não precisa ir. Fica até amanhã.
— Não dá. Você sabe dos meus compromissos. Eles são importantes.
— Certo.
Pega a sua mala e a desço até o primeiro andar, pousando-a próximo à porta.
Fingir um relacionamento com a Chelsea nunca foi algo confortável pra mim. Essa encenação é uma droga, mas ela praticamente implorou para que eu a trouxesse junto comigo. Não anunciamos um relacionamento perante às câmeras, mas quando alguns paparazzi nos viram, saindo juntos de uma boate e do Starbucks algumas vezes, assimilaram que estivéssemos namorando. É claro que, nem eu nem Chelsea dissemos o contrário, apenas deixamos como está.
Chelsea Stuwart é uma celebridade.
Queridinha da revista Vogue, da Victoria's Secret e dos tablóides de fofocas.
Sua sensibilidade, em contrapartida, encontrou o caminho certo e, desde então, ela é a angel menos exigente e frescurenta de toda elite. Dentre as populares como a Kendall, Gigi e a Candice, Chelsea encontrou seu lugar como modelo, acho até que, se pudesse, abriria mão da fama para se redimir com as pessoas que um dia tanto fez mal, principalmente durante a competição.
É claro que, eu não esperava aproximar-me dela. Quando nos conhecemos, admito que não a reconheci como ex-selecionada, mas, eventualmente, ela contou e eu entendi tudo. Nós nunca nos relacionamos intimamente, porque, na verdade, assim que descobri quem era ela, me lembrei da rivalidade que tinha com America. Ainda sim, nos tornamos muito próximos e, desde então, o boato "Harry Styles está namorando uma angel da Victoria's Secret, Chelsea Stuwart" corre pela boca das pessoas, das revistas e do mundo da fama todinho.
— Foi bom te conhecer, querida. Quero combinar um jantar lá em casa, mesmo sabendo que sua agenda é imprevisível — minha mãe diz.
— Pra senhora eu abro uma exceção.
Anne ri e eu também.
Pego meu celular e chamo o táxi.
— O táxi está chegando — aviso.
— Ótimo. — Chelsea dá um último abraço em minha mãe. — Onde está Alissa?
— Aqui.
A viúva aparece de pijama.
— Desculpe-me por ter vindo sem ter sido convidada, mas aceite novamente as minhas sinceras condolências — Chelsea diz, sincera. — Estou indo embora. Tenho muitos compromissos, mas acredite quando eu digo que preferiria ficar aqui. Te devo muito, Lissa.
— Me deve?
— A competição — eu relembro. — Eu era uma vaca.
De repente, do alto da escada, ouvimos:
— Era mesmo.
America não perde a oportunidade. Essa garota ainda deixará alguém maluco. Acho que estou na lista.
— Na verdade, você forçava a barra de vez em quando — Alissa corrige, na tentativa de diminuir a brutalidade na concordância de America.
— O tempo todo — America insiste.
Chelsea está sem jeito, mas mantém a classe.
— Enfim, obrigada pela recepção, de qualquer maneira — a modelo responde.
Ouço uma buzina.
— O táxi chegou.
— Certo. Leva pra mim? Por favor — e aponta para a mala grande e pesada.
Faço que sim.
De repente, sinto alguém puxar meu braço.
— Me desculpa, America — é Chelsea quem diz, de repente. — Você tem razão: eu forçava a barra o tempo todo. Peço desculpas por isso, por ter sido egoísta e uma vaca. — Ela para para respirar e organizar os pensamentos. — E peço desculpas por ter armado para a expulsão da Bárbara. É. Eu peço desculpas, não da boca pra fora, mas porque realmente me arrependo. Sou uma mulher agora, não uma adolescente clamando por atenção, então, queira você me desculpar, queira você não, fiz a minha parte.
E se vira, indo na direção da porta.
Na mais surpreendente das ações, Meri responde:
— Tudo bem.
— O quê?! — Chelsea questiona, sem acreditar.
— Eu disse "tudo bem" — America repete. — Não que a partir de agora precisemos ser melhores amigas, mas, vá em frente. Viva sua vida sem o peso na consciência. Foi tão difícil assim? Pedir desculpas, no caso. Esse tempo todo, ou, até mesmo durante a competição, pedir desculpas era a coisa mais difícil, Chelsea?
A modelo dá de ombros.
— Eu só não sabia como pedir, America.
— Mas aprendeu, certo?
— O tempo foi crucial para isso, admito — é o que a angel diz. — Bem, é isso.
America acena com a cabeça e Chelsea sorri.
Levo, enfim, a mala para a porta-malas do táxi. Chelsea me abraça, beija minha bochecha e entra no mesmo.
— Por acaso doeu?
Chelsea ri e responde:
— Só um pouquinho, Styles.
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