capítulo 21: não parem de sonhar
Após a notícia, a despedida e o número reduzido, a competição parecia estar chegando perto da sua decisão. Pelo que Anna nos explicou, desde o início a competição duraria somente um mês, e não dois meses. O resultado do vencedor seria revelado no dia primeiro de agosto. E era vinte e sete de julho.
Cinco dias.
Faltavam cinco dias para a decisão do fim de semana.
Refleti que tudo aconteceu rápido demais. E que há quase um mês estávamos em Los Angeles, comparecendo no programa do James como descontração e uma forma de fazer o público nos conhecer. Será que é nítido o quão justa fui em quatro semanas? É possível que lá fora tenham visto o meu jeito como manipulação ou drama, apesar d'eu ter feito de tudo para isso não acontecer. Na tevê as pessoas vêem o que querem, infelizmente. Tem muito a ver com como foram criadas pelos pais, o ambiente, a maldade na cabeça.
Duas batidas na porta.
Lissa desviou a atenção das roupas que passava e eu das que estava dobrando.
— America, cinco minutos — Anna disse antes mesmo de nos cumprimentar, com um IPhone em suas mãos.
— É sério?
Anna assentiu, com um meio sorriso.
Dei pulinhos e uns sons estranhos escaparam.
— Cinco minutos — ela repetiu e saiu do quarto.
Lissa piscou pra mim.
Quando fiquei sozinha, digitei os números do telefone fixo lá de casa. No terceiro toque, meu pai atendeu a ligação.
— Oi, pai.
— Ai, meu Deus, America? — ele perguntou, a voz fraquejando de surpresa.
— Sou eu, sim. Esqueceu da voz da sua filha?
Ele riu.
— Claro que não, filha — respondeu. — Carol, Greta, é a Ames no telefone!
Ouvi passos fortes na escada.
— Quem?
— Coloque no viva-voz, John! — mamãe pediu. — Ames, filha, é você mesmo?
— Sim, mamãe. Estou com tantas saudades!
Mamãe riu de nervoso.
— Nós também, Ames — ela retribuiu. — Você está indo tão bem, querida. Estamos tão orgulhosos.
— Eu não faço ideia do que tá acontecendo.
Greta falou:
— Ah, não? Simples, você está ganhando, Ames.
— Não tem como saber — rebati, sensata.
Minha irmã estalou a língua.
— Nós sabemos, Ames —, papai começou — porque aqui fora as pessoas nos param na rua pra perguntar de ti. Demos até uma entrevista. Não queríamos, mas ia refletir na sua participação. Podiam alegar alguma coisa pra falarem de você, então fizemos. America, estou dando autógrafos e tirando fotos com pessoas desconhecidas!
Caí na gargalhada.
— Eu também. Um carinha da faculdade me chamou pra sair, America.
— Peraí, você tá se dando bem às minhas custas? — dramatizei, brincando.
Meus pais riram.
— Só um pouquinho.
— Afinal, como foi vê-los tão de pertinho?
— Maravilhoso, mãe — respondi, arrastando um suspiro. Ouvi risadinhas do outro lado da linha. — Eles são educados, gentis e lindos. Greta, o teu Z é de tirar o fôlego. O Nialler é menos brincalhão do que nos aparentava ser. O Liam é sensato e tem uma aura reconfortante. E sim, o Louis tem uma bunda gigantesca! E o H... ele é fantástico.
Papai implicou:
— Que coisa é essa de "bunda gigantesca"?
— Nada! — gritamos juntas, caindo na gargalhada.
Anna bateu na porta, e sinalizou dois com os dedos.
Dois minutos.
Tão rápido.
— Kellan disse que é sorte.
Um som maldoso soou.
— Vocês se tornaram bastante amigos — Greta comentou. Só amigos mesmo. — Vocês dois ficaram nos Trend Topics por três noites consecutivas durante o programa do james. Tem fotos de vocês rindo, abraçados, deitados juntos. A internet já tá compartilhando Kames e Kamerica.
— O quê?
— Esse é o shipper de vocês dois: Kames ou Kamerica.
Engoli em seco e automaticamente pensei em Colin.
— Seu primo não gostou do que viu — papai comentou, sobressalto. — Nem eu, mas acredito que você tenha uma explicação. Então, vocês estão namorando?
Ai, meu Deus.
— Claro que não!
Greta pareceu não compreender, e questionou:
— E aquele carinho é...?
— Por amizade! — completei, chateada.
Anna apareceu e sinalizou um dedinho.
Calma!
— Olha, só temos um minuto e é pra eu esclarecer: — comecei, escolhendo as palavras — Kellan e eu somos amigos. Só amigos. Nos demos bem, temos assuntos incomuns e pensamos com a mesma sensatez. A internet não sabe do que tá falando, Deus, não somos namorados! Kames ou Kamerica, por Deus!, quem criou isso?, não existe.
Mamãe se pronunciou:
— E por quê não?
— Porque... — eu tenho um namorado, e é o meu primo de segundo grau, seu sobrinho, Colin Scott. E aí, o que acha, papai e mamãe? — somos bons amigos, e foi esse timing que tivemos: de amizade, apenas.
Um som descontente se ouviu.
— Poxa, pensei que tivesse um cunhado.
— Ainda não, Greta. Desculpa por desapontá-los, mas não é tão fácil assim — insisti, firme. Anna mostrou dez dedos. Dez segundos. — Preciso desligar. Eu amo vocês. Torçam por mim!
— Também amamos você, filha.
— Se cuida, Ames! — Greta pediu, animada.
— Vocês também.
E desliguei.
Um nó garganta e eu entreguei o telefone a Anna.
— Pontual — ela frisou e saiu do quarto.
Me joguei na cama e comecei a processar o que tava acontecendo lá fora.
Mas que raios é Kames ou Kamerica? Isso só pode ser brincadeira. Enquanto estamos entre tapas e beijos aqui dentro, lá fora as pessoas fantasiam o que nem sequer existe. Será que há tantos momentos juntos com Kellan? Eles precisam ter um forte material pra levantar boatos de um casal.
Ele sabe que eu namoro. Kellan sabe! E isso o impede de gostar de mim, certo?
Lissa, sendo prestativa, me abriu os olhos.
— Ele sabe que eu namoro!
— E daí? Isso não o impede de amar você — ela pontuou e ergueu as sobrancelhas.
Droga, ela tem razão.
Sai do quarto rapidamente, procurando pelo de Kellan. Nem bati na porta.
— Promete.
O meu amigo se assutou, deitado na cama.
— Ames?
— Promete, Kellan! — repeti, me aproximando.
— Prometer o quê?
— Que não vai mentir pra mim! — expliquei, frente à frente com o meu amigo que possivelmente nutriu sentimentos mais intensos por mim. — Promete que não vai mentir pra mim?
— Tentarei.
Ele se sentou e me puxou para perto de si.
Engoli em seco, criando coragem.
— Você gosta de mim?
Kellan sorriu.
— Claro que sim. Você é minha melhor amiga, Ames — ele confessou.
— Voce não entendeu.
O rapaz me olhou fixamente, processando.
— Seja sincero comigo.
— Eu gostei — ele admitiu. Me levantei, num susto. — Só que isso foi antes.
— Como assim "antes"?
— Antes de perceber que o nosso timing é de amizade — ele explicou. Senti meu coração acalmando-se. — Somos apenas amigos.
Pisquei umas duas vezes.
Aos pouquinhos, me aproximei de Kellan.
— Tem certeza?
— Tenho, sim. Não se preocupe — ele insistiu.
O meu amigo me puxou e me abraçou.
— Afinal, quem enfiou isso na sua cabeça?
— Liguei pra casa... — contei, sorrindo.
— Eu também.
— ...e a minha irmã me contou do nosso shipper — expliquei. Kellan caiu na gargalhada. — Kames, é sério?
— Não é tão ruim.
— Não, Kellan, é péssimo. E Kamerica?
Kellan continuou rindo.
— Para, Ames!
— Desculpa — disse e acabei rindo também.
Ele empurrou meu ombro de leve.
Me joguei na cama.
— Sai mais um hoje — relembrou, cabisbaixo.
— Um, não; dois.
A água da piscina estava numa temperatura deliciosa lá pelas duas da tarde. Preferi vir desacompanhada na intenção de refletir um pouco, já que refletir tem sido o que mais faço nos últimos três dias. O que mais passa pela minha cabeça é aceitar o fato de que pode não ser eu; de que eu posso não ganhar o fim de semana. Essa conclusão surgiu logo após a saída das meninas, na quinta, sem intenção.
Estou bem resolvida ainda que eu não ganhe.
Na sexta, Chelsea deu um vexame gratuito no café. Basicamente culpou Mackenzie pela saída de Cecília. Quase me intrometi na conversa. No restante da tarde, Kellan, Melinda, Letícia e eu ficamos na Sala de Música. Lá pelas sete, invadimos os jardins dos fundos e ficamos lá até Melaine, a ajudante pessoal de Melinda, nos chamar pra jantar.
Apesar de uma mesa de vinte e dois lugares estar completamente vazia, a divisão entre os presentes era nítida:
O meu grupo de quatro pessoas numa ponta.
Chelsea e Mackenzie na outra.
Quanta ignorância, e não pela minha parte. Gostaria de me dar bem com ambas, mas é impossível, dado à tudo que já fizeram. São insuportáveis desde à apresentação no Salão das Selecionadas aos cafés de todas as manhãs. Há um mês me tratam com indiferença, como se eu não estivesse aqui e não fosse uma ameaça ou, uma concorrente, que seja. Só que eu tô aqui, não sou invisível, e pretendo continuar até quando for possível.
O resto do dia vinte e cinco passou voando.
No dia vinte e seis, levantamos sem muita animação porque sabíamos do nosso compromisso aos sábados à noite: o programa do James Corden. Só de pensar em me arrumar e fazer a social com um milhão de coisas na cabeça me deixa à beira do desespero. Só que é obrigatório.
Contrariada, me arrumei, e separados em dois carros o motorista nos conduziu ao estúdio da gravação.
— Pelo que me lembro vocês estavam em vinte e uma fãs — James analisou. — Agora só há seis. Isso assusta vocês?
— Eu acho que é um alívio doloroso.
James olhou pra mim assim como as outras selecionadas.
— Alívio doloroso?
— Sim — reafirmei. — É um alívio ver o número dimiuindo e estar próxima de uma final, mas em contrapartida é doloroso ver pessoas da qual gostamos indo embora.
— Então qual foi a eliminação mais dolorosa?
Em conjunto e total sincronia, Kellan, Melinda, Letícia e eu respondemos:
— Bárbara Evans.
A plateia surpreendeu-se.
— Vimos o quão comovidas vocês ficaram com a expulsão da selecionada —, James pontuou — por motivos justificados pelo protocolo. A selecionada expulsa fez mesmo sabotagens contra ti, Chelsea?
— Sim, James, mas gostaria que não tivesse acontecido.
Melinda solta a sua típica risada irônica baixinho.
James percebe.
A conversa toma outro rumo.
— America, quem merece ganhar?
— Kellan — respondo, com um sorrido. — Ele é meu melhor amigo, e merece ganhar tanto ou até mais do que eu.
A plateia ensaia um coro.
— Neste caso, Kames é real?
— O casal, não; mas a amizade entre nós com toda certeza é — Kellan explica.
James lamenta.
— Eu realmente gostaria que o Kellan ganhasse. Se vocês soubessem a história de vida dele, entenderiam — comento por alto, olhando pra ele com os olhos gritando que "a Lili está bem, está num lugar melhor, e com toda certeza te ama".
— Estamos torcendo um pelo outro, James.
Explico que meu coração está completamente dividido entre Melinda, Letícia e Kellan, mas minha afinidade com Kellan sempre foi maior e desde o início, então é mais fácil escolhê-lo como vencedor.
A entrevista não dura muito depois disso.
No dia seguinte, a prova para a eliminação aconteceu sem menores complicações. Quando Anna nos chamou — quando deu quatro da tarde, na verdade — nos juntamos no Salão das Selecionadas com roupas mais flexíveis, e o telão acendeu após a boa sorte de Anna. Perguntas e respostas, quinze, como de costume.
E os modelos.
Deslizei a mão pelo peito de um deles. Cheio de pêlos. Automaticamente soube que era Niall. O outro, baixo, pernas torneadas e bunca grande (a qual eu tive o prazer de apertar) representava o Louis. Estou ficando boa nisso.
No lanche da tarde, Melinda fez uma piadinha:
— Vocês parecem mortos. Sabe do que precisam?
— Bebida? — Letícia sugeriu, dando de ombros.
Melinda negou e riu de forma maldosa:
— Sexo.
Caímos na gargalhada.
Só aí que nos animamos um pouquinho.
— Quem você acha que sai hoje? — perguntei.
Lissa me olhou cúmplice.
— Qualquer um, menos você.
Sorri, grata.
— Kellan não pode sair.
— Depende somente dele — ela relembrou. — Sabe qual seria a grande final dos meus sonhos? — e sorriu. Cruzei as pernas na cama. — Kellan e você.
— A nossa final.
Lissa riu.
— Posso dizer?
— Ah, não! Lissa — repreendi, de brincadeira.
— Por favor?
Olhei atentamente para a minha amiga.
— Só uma vez, OK?
Lissa comemorou com uma sequência de palmas.
— Kames é real! — ela gritou, animada.
— Explique-se.
— Kames pode ser usado como referência à um casal que é muito amigo.
— E daí?
— E daí que vocês são melhores amigos!
Inevitavelmente ri.
— Sorte que você tem razão. Então, quer dizer que Kames é sobre amizade?
— É claro.
— E Kamerica? — perguntei, interessada.
— Kamerica é sobre um casal de namorados e o fato é que vocês não namoram, então está fora de questionamento.
Bati palmas.
— Maravilhosa!
Lissa rodopiou e Kellan adentrou o quarto.
— Ei, Anna já está nos chamando — ele avisou, meio cabisbaixo. — Tá na hora.
Assenti e pisquei pra Lissa.
— Deseje-me sorte.
— Você já tem, America — ela garantiu.
Sai do quarto de mãos dadas com Kellan.
No Salão das Selecionadas, como de costume, na hora da tão esperada decisão de Anna, demos as mãos. Melinda deu as mãos à Kellan, que já tinha os dedos enlaçados nos meus. Quando Letícia apareceu, uni minhas mãos às dela.
Pelo canto dos olhos, vi um cinegrafista.
— Somente seis. Esse número é inacreditável, dado às vinte e uma que estavam aqui há um mês atrás — Anna começou, sorrindo sutilmente. — Hoje o número reduz para quatro. Dois de vocês saem hoje e eu sinto muito por perderam esta oportunidade, não de somente ganhar alguma coisa, mas de conhecer os caras que vocês tanto admiram e amam. Por isso, desejo sorte e que vocês não parem de sonhar.
Olhei para os meus amigos, sorrindo.
— Neste domingo, os dois selecionados que deixam a competição são: ... — Anna conferiu. O resultado veio em segundos: — Mackenzie Fillips e Letícia Serra.
Letícia abaixou a cabeça. Rapidamente envolvi meus braços nela, tentando confortá-la. O seu choro foi baixo, mas intenso. Kellan e Melinda juntaram-se logo depois, aumentando a intensidade do carinho.
Letícia assegurou:
— Lágrimas do momento.
— Sinto muito — Kellan disse, chateado.
Afaguei as costas dela e percebi que Mackenzie encontrava-se sozinha.
Chelsea foi capaz de abandoná-la nesta situação?
— Não consigo.
— O quê não consegue? — Melinda perguntou.
— Ser desumana.
Todos olharam para Mackenzie.
Sem pensar duas vezes me aproximei e a abracei. E sem pensar duas vezes ela me abraçou de volta, carente. O choro da garota ecoou pelo Salão das Selecionadas.
— Chora mais.
E ela o fez.
Ficamos abraçadas por uns minutos, até eu arrastá-la para perto do meus amigos.
— Tá com a gente agora — Melinda assegurou.
— Mas eu perdi.
Fiz que não.
— Você não perdeu, Mackenzie — esclareci, de uma vez. — Esta competição não se trara de perder, nunca se tratou, se trata de não conseguir. Quem pôs isso na sua cabeça?
— Chelsea.
Ah, mas é claro.
Abracei-a novamente.
— Esquece. Você sairá com estilo — prometi.
E assim sendo, Letícia e Mackenzie deixaram a mansão em Los Angeles.
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