capítulo 10.2: o primeiro adeus
É inacreditável o modo como as coisas simplismente mudam de repente. Ontem, por exemplo, eu não tinha tanta certeza se queria permanecer na competição — ou se merecia ganhá-la —, em contrapartida, neste instante, nunca desejei ter a sorte de não voltar para casa. Pela primeira vez, desejei não estar na lista para a primeira eliminação. Pensei no quão sortuda eu era por ter sido sorteada, por estar há dois meses da possibilidade de estar mais perto do meninos e, mais do que isso, permitir que eles conheçam-me, conheçam uma verdadeira Directioner.
Anna nos conduziu ao segundo andar, numa sala na qual ninguém outrora — suponho eu — tinha sido convidado. No que parecia como um escritório, nos sentamos lado a lado num sofá em L, esperando pelo grande discurso sendo iniciado com um "sinto muito, mas vocês estão na berlinda".
Quando Anna saiu da sala, percebemos — ainda que sem nos pronunciar — que tínhamos falhado no que diz respeito ao conhecimento sobre a banda e aos integrantes. As contas na batiam; eu sabia e era confiante ao meu saber pessoal e profissional de cada um deles, no entanto, se estou entre as três para eliminação, essa confiança é falsa e eu não conheço o básico sobre os caras que eu tanto admiro. Sendo assim, o que estou fazendo aqui? Eu estava indignada e decepcionada, e descontava a chateação nos pensamentos, mas Maira, por exemplo, descontou a chateação chorando.
— Ei, calma — falei e deslizei a mão pelas suas costas. — Fizemos o nosso melhor.
Chelsea desdenhou:
— Se tivéssemos feito, não estaríamos aqui.
— Ou talvez estivéssemos de qualquer forma — repliquei, direta. Chelsea virou o rosto, dando a entender que não estava bem para uma discussão. O choro de Maira, no entanto, só intensificou-se. — Você está triste, eu entendo, mas nem sabemos o que tá acontecendo. Pode nem ser uma eliminação.
Maira questionou:
— Como não?
— As eliminações acontecem um dia depois das provas.
Chelsea riu por puro deboche.
— A chance de ser é quase nula — ela palpitou.
— Quase — frisei.
E a discussão foi finalizada.
Chelsea podia ser bonita, alta e magra — uma topmodel no padrão dos estereótipos —, mas ela era fã da maior boyband do mundo e estava numa competição para conhecê-los, apesar de ser inacreditável ainda não tê-los conhecido, visto que ela tem condição para isso. De certo que Chelsea tentava ao máximo esconder seus próprios sentimentos, mas eu sabia que ela estava a beira do surto.
Cerca de dois minutos e Anna adentrou o escritório — ou o que quer que aquele cômodo fosse — e sentou-se na poltrono a nossa frente.
— Desculpem-me a demora —, ela começou e sorriu — mas eu precisava da orientação dos meus superiores. Vocês não são as únicas passando por algo novo. A competição é novidade pra mim também.
Nem eu, Chelsea ou Maira respondemos.
— Bem... — Anna olhou na prancheta.
— Qual de nós está eliminada? — Maira, surpreendendo á todos, perguntou.
Anna pareceu engasgar com a pergunta.
— Eliminada? — A mulher mais velha franziu a testa. — Como eu disse, ainda sou nova e não sei como lidar em algumas situações. Eu deveria ter sido mais transparente desde o início. Nenhuma de vocês deixará a competição — ela explicou. — Pelo menos não desta vez.
Olhei para Chelsea e Maira por breves segundos.
— Desculpem-me pela minha má conduta, mas vocês estão aqui porque foram bem na prova de hoje — Anna explicou, bem superficialmente. — Perfeitas, na verdade. — Anna conferiu na prancheta. — Chelsea tem o primeiro lugar, America o segundo e Maira o terceiro.
— Não era mais fácil dizer isso? Estávamos pensando que uma de nós seria eliminada — Chelsea reclamou.
No automático, perguntei:
— Estávamos?
— Pelo que eu me lembre, você estava confiante de que uma de nós sairia — Maira relembrou, enfrentando Chelsea. — America era a única otimista entre nós, Chelsea.
A topmodel deu de ombros:
— Que seja.
— Não importa, não fomos eliminadas — eu disse, por fim. — Ainda, é claro. Temos que nos orgulhar!
Anna sorriu e Maira limpou o resto das lágrimas.
— Os outros sabem? — Maira quis saber.
— Ainda não.
Chelsea, emburrada, perguntou de repente:
— Não entedi o motivo de estarmos aqui.
— Vocês têm um bônus — Anna explicou — As que têm melhor desempenho nas provas, como vocês tiveram na primeira, ganham o bônus de saber quem será eliminada da competição do fim de semana.
Senti o meu estômago revirar. Chelsea pareceu gostar do bônus. Maira, ainda muito mecânica, não reagiu.
Ou seja, se bem entendi, enquanto três pessoas sabem quem será enxotada, os outros dezoito participantes praticamente surtam de nervosismo, esperando para saber da eliminação. Isso é crueldade, desumano. Sabe o que querem desencadear com isso? Bem-estar próprio; se estou bem e outro não, não importa, eu estou bem, dane-se o resto. É muito egoísta ver a desgraça alheia e se divertir com ela.
— Não posso fazer isso — eu admiti.
Anna se antecipou:
— Você precisa. — Balancei a cabeça. — Está nas regras. Sinto que seja péssimo conviver por algumas horas mais com alguém que será eliminado da competição e agir como se tudo estivesse bem. É cruel, mas você quer vencer? Então pense em si.
— Não é muito difícil pra mim — Chelsea falou.
Revirei os olhos, sentindo vontade de socá-la.
Maira perguntou:
— Quem vai sair?
Anna olhou na prancheta e forçou um sorriso.
— Katherine Kavanagh — e com isso, saímos do escritório, rumo ao nosso quarto. No corredor, Anna nos intimou: — Quase esqueci, meninas, mas devo alertá-la que ninguém, nenhum dos outros participantes poderá saber disso. Peço discrição. Quaisquer que sejam os deslizes e será o nome de vocês na reta.
Apesar de nunca ter conversado diretamente com Katherine foi torturante vê-la sorrir naturalmente durante as refeições. A risada da morena preenchia os espaços vazios. A animação da britânica me deixava tão mais sossegada, me fazia por alguns minutos, perceber que na competição existiam boas Directioners.
De noite, chamei-a para conversar e por um segundo, considerei escrever em um papel a verdade e o que aconteceria na manhã seguinte. Não o fiz, por fim — não por ter medo de sair da competição, mas por não querer tornar as últimas horas de Kate angustiantes.
Na manhã seguinte, quando Lissa me acordou, Kellan apareceu logo depois.
— Eu sei, você não pode dizer absolutamente nada — ele falou, do nada.
— Como você sabe?
Ele olhou pro teto, fingindo pensar.
— Qual é, Ames, acabaria com a mágica — ele respondeu. — E mesmo se pudesse, eu não iria querer saber.
— Ahã, sei.
Kellan riu.
Depois de me vestir e sair do quarto, Kellan engatou o braço no meu. No Salão das Selecionadas, antes mesmo do café, Anna anunciou que a eliminação aconteceria em instantes. Imediatamente, congelei. Kellan percebeu o meu impasse e perguntou se eu estava bem, só que eu menti. Em meio minuto, Katherine descobriu que estava eliminada e o choro veio de imediato.
Abaixei a cabeça, me sentindo culpada. Maira fez o mesmo. Chelsea, na mais suja das reações, sorriu.
— Me desculpa — eu disse a Kate entre o abraço.
— Não é culpa sua.
Não, não é, mas eu me sentia suja, falsa e culpada.
— Você não poderia fazer nada, de qualquer forma — ela concluiu, a seguir.
— Kate...
— Tá tudo bem, America — ela me calou e sorriu como se não estivesse acontecendo nada. — No começo, quando vi meu nome sendo anunciado, eu fiquei na dúvida se deveria ser por mim ou por mais alguém. Não estava nos meus planos torcer por alguém, caso eu saísse. Só que aí, eu vi você se destacando no café da manhã, e tive certeza de que a sua causa era igual a minha — Kate contou. — Vou torcer por você. — Me senti uma traidora e pior do antes. — Ganhe por mim e por você. Promete? — Ela estendeu o mindinho.
— Prometo.
Kate está fora.
E eu me sinto culpada por isso.
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