capítulo 10.1: tudo ou nada
Você está eliminada.
Estou eliminada? De repente, eu acordei sem fôlego. Não, ainda não. Eu não fui eliminada, foi um pesadelo.
Passei a mão pelo peito ao me sentar na cama e fiz movimentos pra cima e pra baixo, reconfortando-me. Quando me acalmei, afastei os cobertores e passei a mão pelo cabelo. No mesmo instante, Lissa adentrou o quarto.
O bom dia da minha governanta particular me passou despercebido.
— Ei, tá tudo bem? — Kellan perguntou minutos depois do café começar.
— Mais ou menos.
O moreno estreitou a cabeça e assentiu.
— Eu sei.
No Salão das Selecionadas ninguém conversava — nem mesmo Chelsea, ainda que seu olhar fosse matador. Olhei ao redor e os pratos estavam intocáveis, exatamente como o meu. Eu não queria comer porque não estava com apetite, os outros, no entanto, não comiam por precaução.
Anna apareceu minutos depois seguida de alguns seguranças e cinegrafistas. Sutilmente levantou a mão e girou o indicador, fazendo-os circular pelo ambiente espaçoso.
— Está ansiosa? — Yasmin sussurrou no meu ouvido.
Fiz que sim.
— E você?
— Com medo — admitiu. — E se eu não conseguir?
— Não conseguir?
Yasmin franziu as sobrancelhas e assentiu.
— Não são perguntas e respostas? — ela perguntou esperando confirmação. — E se eu não souber responder?
— Não pense assim. Você está se precipitando.
— Estou?
Fiz que sim novamente.
— Pense no que você sabe, não no que não sabe — aconselhei, sorrindo pra ela.
— Obrigada, America.
E acenei com a cabeça.
O café da manhã acabou sem maiores surpresas.
Mais tarde, todas nós fomos direcionadas ao Salão das Selecionadas novamente, mas, dessa vez, a mesa do café da manhã não estava no local de sempre. Agora, o salão estava completamente vazio, sendo banhado apenas pela luz solar. De repente, vinte e uma pessoas entraram na sala e colocaram vinte e uma pilastras retangulares na altura da cintura. Li meu nome em umas delas, então só me aproximei.
Anna adentrou o salão logo depois.
— Olá, Directioners — ela saudou, colocando-se na nossa frente. — Peço que fiquem calmos e prestem atenção no sistema das eliminações. — A grande maioria assentiu. — Vocês terão que usar um dos seus cinco sentidos — ela começou. — Tato: modelos caracterizados com o estilo dos membros da banda para vocês identificarem. Dois modelos pra cada um de vocês.
Um som de surpresa ecoou pelo grande salão.
O protocolo não nos informou de nada disso — é novidade pra todos as selecionadas. Provavelmente a Modest! quis dificultar nossa permanência irrelevante na competição. As mais fracas e ignorantes saem da competição logo nas primeiras semanas, deixando apenas as que causam e que merecem estar aqui. E mais uma vez os acontecimentos dando um tapa na minha cara pra deixar claro que é manipulação; que a Modest! está controlando absolutamente tudo.
— ...e as perguntas e respostas sobre a banda — a voz da Anna me chamou atenção. — Desejo boa sorte.
Respirei fundo.
De repente, o telão acendeu e as perguntas começaram. A primeira perguntou o nome dos integrantes; a segunda, quantos anos eles tinham e quando a banda foi formada; a terceira, o mais velho e o mais novo; a quarta, quem tinha uma borboleta tatuada na barriga; a quinta, quem tinha a tatuagem de um cigarro; a sexta, qual deles é irlandês; a sétima, qual o nome do primeiro single; a oitava, onde o primeiro single foi gravado; a nona, qual deles tinha um nome com o significado "campeão"; a décima, quem tinha uma alteração genética nos pés; a décima primeira, quem tinha uma marca de nascença no pescoço; a décima segunda, qual deles é o mais desesperado; a décima terceira, qual deles considera More Than This a melhor música do Up All Night; a décima quarta, quem é o mais barulhento da banda; a última e décima quinta pergunta queria saber em qual música a palavra "promise" se repetia três vezes no solo de apenas um integrante.
Olhei ao redor quando o telão apagou-se e percebi o olhar de apreensão no rosto de alguns. Chelsea parecia despreocupada e admirava as unhas com atenção, como se nem estivesse numa situação delicada; outras, como Lilian Young e Merlia estavam em pânico. Eu, surpreendentemente, não estava confiante e nem preocupada; estava neutra, transparente pra quem quisesse me ler.
A segunda etapa não tardou em começar.
Alguns caras adentraram o Salão das Selecionadas e retiraram os balcões. De repente, afastaram-me dos outros participantes, deixando-me longe o suficiente deles. Alguém — que eu não faço ideia de quem poderia ser — sutilmente cobriu os meus olhos e puxou minhas mãos.
— Mantenha as duas esticadas — orientou.
Acenei com a cabeça.
Logo depois, senti duas mãos agarrarem as minhas. Envolvi os dedos e comecei tateando a palma da mão, tentando desenhar as formas na cabeça: dedos largos e pequenos, palma da mão mediana; depois, passei para os cabelo, sentindo os fios macios e sedosos entre meus dedos. Tem franja. A esta altura já desconfio de quem possa ser.
— Eu sei quem você é — avisei que já havia descoberto.
— Quem?
Surpreendi ao ouvir a voz do desconhecido.
— Louis.
— Tomara que seja — ele disse antes de sair.
O segundo modelo tinha mãos grandes, quentes e dedos largos e cumpridos; seu braço era mais longo e suas pernas também, o que me fez deduzir que era alguém mais alto. As primeiras suspeitas começaram a surgir, no entanto, resolvi me certificar tateando o rosto do manequim humano: os lábios eram finos, o maxilar bem desenhado e o cabelo cacheado. As suspeitas aumentaram, mas ainda sim, perguntei:
— Você pode sorrir?
Sem responder, o modelo sorriu. Ao lado dos lábios, um buraquinho se formou, dando vida a má formação óssea.
— É impossível não saber quem você é com essas covinhas — comentei, rindo. — Também sei quem você é.
O manequim humano riu.
— Sabe?
A voz me arrepiou dos pés a cabeça. Não poderia ser; é apenas coincidência, afinal, ele está representando um cara, então, é normal semelhança na voz. Mas será possível tanta semelhança assim?
— A sua voz parece... — O modelo puxou as mãos bruscamente. — Desculpa — falei, sem jeito. — Você parece estar representando o Harry Styles.
Nenhuma resposta.
Quando me dei conta, percebi que estava sozinha.
As vendas foram retiradas dos meus olhos no segundo seguinte. O Salão das Selecionadas já estava com as cortinas abertas, iluminando o ambiente e nos dando noção de espaço. Eu estava bem longe dos outros participantes.
— Tudo certo? — Kellan movimentou os lábios.
Balancei a cabeça.
Anna anunciou sua entrada antes mesmo de aparecer — os seus saltos altos me avisaram um segundo antes.
— Espero que todos tenham tido sorte — ela disse e sorriu. O grupo já estava reunido no centro do Salão novamente. — Sinto pena por ter que eliminar uma de vocês, mas é assim que tem que ser. — Se seu nome for chamando, peço que me acompanhe. — Anna limpou a garganta, olhou na prancheta e chamou: — Maira Gomez —, a selecionada tremeu dos pés a cabeça, aflita — Chelsea Stuwart — Só então a topmodel parou de admirar as unhas. Será que ela estava na berlinda? Ai, meu Deus. — E... — Anna hesitou, olhando a prancheta mais uma vez — America Stone.
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