1080palavras

Levantou tarde naquele dia, já que passou a noite acordada, conseguindo dormir apenas quando o sol nasceu.

A insônia a atingiu como um baque, a deixando amargurada.

Isso se devia ao cérebro que não parava de trabalhar a remoer pensamentos sobre como conseguir evitar aquele noivado.

Mas, por mais mirabolantes que fossem suas ideias, não conseguia pensar em nada concreto para se livrar dessa situação.

Por sorte, daria aula apenas na parte da tarde, conseguindo descansar o mínimo que fosse.

Naquele momento estava indo até a padaria. Não quis se encontrar com os pais ou irmãs, preferindo ficar sozinha com seus pensamentos. Assim, decidiu por tomar um café na padaria.

Gostava dos quitutes do local e estava muito animada para comer uma deliciosa torta de amoras.

Chegou ao estabelecimento, que estava razoavelmente cheio, com a maioria das mesas ocupadas. Foi até o balcão onde uma jovem gentil a atendeu com um belo sorriso na face.

— Bom dia! O que a senhorita deseja?

— Bom dia. Eu queria um pedaço daquela sua torta maravilhosa de amora.

— Sinto muito, mas ela acabou. Só teremos mais apenas a tarde. Gostaria de mais alguma outra coisa?

Ficou emburrada de imediato. Não acreditava na falta de sorte que apoderava de si nos últimos tempos.

Olhou para o mostruário com vários quitutes a procura de algo que pudesse agradar, vendo um bolo de chocolate que imediatamente chamou sua atenção.

— Ah, então acho que vou querer...

— Senhorita Green!

Um homem a interrompeu, chamando sua atenção. Olhando para o lado notou de quem se tratava, perdeu o humor de imediato.

— Ah, é você — murmurou desgostosa vendo Douglas a fitar de cima como se tivesse algum direito de a interromper.

— Se dirige assim ao seu noivo? – ele questionou reprovador, a irritando ainda mais.

Quem ele pensava que era para a repreender na frente dos outros daquela maneira?

— Pensei que tivesse tido uma boa educação. Mas percebo que vou ter que lhe ensinar alguns modos.

O olhou desacreditada, abrindo a boca em choque.

Ele era o pai dela para lhe ensinar modos?

Ah, mas não ia deixar assim, não mesmo. Não aceitaria que falasse assim com ela. Já sabia que ele era arrogante e esnobe, que amava ouvir sua própria voz e não dava muita importância a opinião alheia. Mas agora ele estava querendo impor autoridade sobre si. Mas não ia permitir isso.

Estava muito cansada e a raiva subiu para a cabeça como um vulcão em erupção, se sentindo quente e vermelha de ódio.

— E quem o senhor pensa que é para falar assim comigo? – disparou uns decibéis mais altos, chamando a atenção dos clientes a sua volta.

— Como ousa aumentar o tom de voz comigo? Sou seu noivo e me deve respeito — ele falou visivelmente chocado com sua atitude, falando baixo olhou a sua volta com receio de que os escutassem.

Riu em escárnio, não dando a mínima para os outros. Que os escutassem, antes melhor. Assim, todos saberiam o quanto ela o desprezava.

— Noivo? Não me faça rir senhor Stewart.

— Está delirando, só pode. Fale baixo, está aprontando um escândalo.

— Pois vou causar o escândalo que eu quiser. Estou cansada de toda essa situação!

— Pare...

— Não me interrompa! Cansei de ser educada com um homem mesquinho, egocêntrico e irritante como o senhor!

Ele segurou seu braço, com uma força demasiada e um olhar repreendedor. Mas isso não a intimidou, pelo contrário, só lhe deu mais forças para continuar.

— Me solte seu canalha! — gritou a plenos pulmões deixando a todos horrorizados, puxando o braço com força. — Nunca mais pense em relar um único dedo em mim. E coloque isso em sua cabeça, nunca irei me casar com o senhor! Prefiro a morte do que isso.

E sem nada mais falar lhe deu as costas se afastando apressada.

Todos que estavam a sua volta lhe deram passagem. O silêncio era constrangedor. Mas não se importou pois há muito tempo não se sentia livre assim.

— Vou te ensinar uma lição para aprender a nunca mais falar assim comigo — o ouviu vociferar atrás de si.

Se virou para olhá-lo vendo que ele se aproximava com fúria. Mas antes que ele se quer ultrapassasse o batente da porta do estabelecimento viu que alguém o impediu de prosseguir se postando a frente dele.

Era Colin.

— O que pensa que está fazendo Wallace? — Douglas esbravejou tentando passar, mas Colin permaneceu firme como rocha no lugar.

— Deixe ela ir.

— E por que eu faria isso?

— Porque todos estão olhando e você está com a cabeça quente. Pode acabar fazendo alguma besteira.

— Mas preciso ensinar boas maneiras para aquela garota.

— Pelo o que sei, quem deve lhe ensinar bons modos são os pais e não o senhor.

Não conseguia ver o semblante do Wallace, já que o mesmo estava centrado a olhar o homem a sua frente, nem sequer a direcionando o olhar por um segundo, mas sua voz era grave.

— Mas tenho o direito, já que vamos nos casar.

— Sei... Não me faça rir — lançou debochada não acreditando que ele ainda tinha esperanças de que se casariam. — Só se for em seus sonhos, pois em hipótese alguma me casarei com o senhor — estava revoltada, sentindo uma nova onda de ódio a invadir.

E sem pensar o mostrou a língua saindo em disparada sem olhar para trás.

Sabia que tinha agido como criança, mas não se importava. Estava tão nervosa e frustrada com a situação que não conseguiu raciocinar direito e agiu completamente por impulso.

Agora que estava a gastar energia a caminhar e a brisa morna e suave a lhe atingir a face, sentindo o corpo relaxar conseguiu se acalmar, e remoía o acontecido recente.

Sabia que o escândalo se espalharia pela cidade até o fim do dia e não ia demorar para a notícia chegar aos ouvidos dos seus pais. E sabia que eles a repreenderiam severamente por tal atitude.

Mas no fundo não se importava. Finalmente sentia a paz que há dias almejava e sentia que se naquele momento se deitasse iria conseguir dormir feito um anjo.

Estava tão orgulhosa de si que não deixaria nenhuma reprimenda, nenhum olhar torto ou fofocas a desanimar.

Sabia que podia ter sido mais discreta e menos rude, mas não conseguiu se conter e explodiu. Tanto melhor que tivesse sido agora, já que as consequências não seriam tão graves.

Mas, Audrey tinha aprendido uma valiosa lição. A de que não podia ser simpática e tentar agradar a todos. Infelizmente, existiam pessoas que só compreendiam algo diante de atitudes extremas.

Agora só podia esperar que aquele homem a deixasse em paz e que sumisse para sempre da sua vida.