Capítulo 64
1304palavras
Pulou assustada com a sensação de queda. Se sobressaltou, perdida, passando as mãos pelo rosto para despertar, arrumando os cabelos como podia.
Olhou a sua volta. Não sabia quanto tempo tinha passado, mas parecia que a claridade tinha diminuído.
Se levantou apressada, se amaldiçoando por confiar crianças ao cuidado da pessoa mais desajuizada que já conheceu em sua vida. Estava realmente ficando louca!
Saiu quase aos tropeços da sala, indo até o pátio, reparou que todos estavam sentados em um círculo, a bater palmas enquanto Chase corria envolta delas, com uma das crianças em suas costas a brincar de cavalinho. Eles cantavam uma cantiga de quando ela ainda era criança.
Se acalmou com tal visão. Aparentemente todos estavam ilesos.
Se aproximou cautelosamente, os observando brincar. Ao perceber sua presença, o loiro parou de andar, tirando o pequeno Murilo de suas costas. O ruivo de olhos da cor mel pareceu não gostar de parar com a brincadeira.
— Agora vão brincar de pular corda. Vocês começam. Vou conversar com a professora de vocês e já volto — falou animado, tomando fôlego para descansar enquanto se aproximava.
— Parece surpresa — comentou brincalhão. — Eu disse que era bom com crianças. E então, conseguiu descansar?
— Por quanto tempo eu dormi? — retrucou com outra pergunta.
— Por volta de uma hora.
— Uma hora? Eles vão perder o resto da aula — disse desanimada, não acreditando no tamanho de sua irresponsabilidade.
— Tenho certeza de que eles não vão reclamar — ele falou tentando a tranquilizar.
— Você não entende...
— Não deveria se cobrar tanto. Foi apenas um dia. Não é como se eles fossem perder o resto do ano. Amanhã você repõe.
— É, até que você tem razão. Mas, se o padre Matias tivesse aparecido por aqui, estaria com sérios problemas agora.
— O padre Matias? Ele passou por aqui, mas consegui o distrair.
— O quê? — quase gritou alterada, começando a se desesperar.
— Ei, é brincadeira. Ele não veio aqui. Pode ficar tranquila — falou sorrindo matreiro.
Quase lhe deu um tapa pelo susto, mas se conteve porque tinha a ajudado.
— Nunca mais brinque assim — o repreendeu séria.
— Tudo bem. Mas acho que o melhor a se fazer agora é os liberar para casa — ele comentou.
— Tem razão. Não adianta mais os levar de volta para a sala de aula. Estão muito agitados e vão ficar dispersos.
Não tinha mais o que fazer, o melhor era dar a aula como encerrada e os deixar ir embora. No outro dia tentaria recuperar o tempo perdido.
— Eu ainda não o agradeci pela ajuda. Muito obrigada! — se ouviu dizendo com gratidão.
— Não foi nada. Amigos são para essas coisas.
O olhou de canto, pensativa. Nunca tinha pensado em Chase como um amigo, porque eles nunca foram próximos e mal se falavam. Assim apenas se ateve a sorrir em concordância.
— Mas acredito que ainda precisa descansar um pouco mais — ele comentou sem rodeios.
— Não se preocupe, essa noite dormirei feito um anjo — era fácil falar, o difícil seria conseguir.
— A falta de sono muitas vezes se deve a uma preocupação. Está acontecendo alguma coisa que está a deixando preocupada, Audrey? — falou mais sério, parecendo muito mais maduro do que era acostumado a agir.
— Não é nada demais — se ateve a falar aquelas poucas palavras ávida por fugir da conversa.
— Eu sei que não é nada. Está ansiosa pelo casamento?
— Como sabe disso? — disparou surpresa.
— É normal que as mulheres fiquem ansiosas com os preparativos do casamento — falava casualmente.
Era óbvio que pensava assim, nunca que ele iria saber sobre os seus verdadeiros infortúnios.
— Ah! É claro — concordou apenas para findar o quantos antes o assunto.
— O que foi? Parece desanimada.
— Não é nada, apenas impressão.
— Tudo bem. Mas, acho estranho uma garota como você estar se casando. Quer dizer, é claro que você vai se casar, mas o Stewart é um saco — ele falou exaltado, logo arregalando os olhos parecendo ter notado que dissera algo errado. — Eu não quis dizer isso — completou encabulado.
Sabia que o melhor seria ficar quieta e dar o assunto como encerrado, mas algo dentro de si gritava para expressar seus verdadeiros sentimentos, assim soltando sem ao menos perceber:
— Tem toda razão. Ele é um perfeito idiota — sentiu um alívio ao dizer isso, como se um peso saísse de suas costas.
— Se pensa assim, então, por que vai se casar com ele?
— Porque... — ponderou se devia dizer a verdade, mas também não achava mal algum em falar. — Porque ele fez a proposta e o meu pai teve o péssimo senso de aceitar sem o meu consentimento — cuspiu com raiva, sentindo uma onda de enjoo a atingir.
— Então é um casamento arranjado no qual você não quer? — parecia surpreso.
— Exatamente!
— Sabia que tinha algo de errado. Você é muito boa para ter se apaixonado pelo Douglas.
— É claro que eu nunca me apaixonaria. Ele é arrogante, um idiota, prepotente, se acha o melhor e pensa que as mulheres são apenas enfeites a serem exibidos. Ah, como o detesto! — se exaltou furiosa, com vontade de quebrar algo.
— Você não pode se casar com ele — o loiro concluiu ao ver seu estado.
— Eu sei, mas não adianta o que eu diga, meu pai não pensa em mudar de ideia — seu humor mudou drasticamente, agora ficando melancólica.
— Posso te ajudar com isso — ele se ofereceu solícito.
— Mesmo? Mas como? — disparou sentindo as esperanças renovarem.
— Eu não sei. Mas pode ter certeza de que vou pensar em algo.
— Obrigada pela gentileza, mas não precisa se dar ao trabalho — comentou novamente desanimada, mas grata pelo apoio.
— É claro que vou ajudar. Você é uma amiga. E, como sabe, não sou muito adepto a casamentos, e simplesmente não posso ficar de braços cruzados fingindo que não sei de nada quando se trata desse assunto. Ainda mais se tratando de um casamento arranjado onde você está sendo obrigada a se casar com aquele inútil do Douglas. Por isso que digo que vou te ajudar. Pode ter certeza.
Sorriu agradecida pelas palavras. Não acreditava que estava dando ouvidos para o maior libertino da cidade.
Mas ele tinha razão. Não podia baixar a cabeça e aceitar que uma injustiça dessas foi feita. Ia lutar com todas as suas forças para se livrar desse casamento, e se para isso fosse preciso se aliar a Chase, então o faria.
Nunca imaginou que pudessem ser amigos, mas parecia que além da mãe e de Lucas, ele era o único que de fato parecia se preocupar com sua situação. E se sentia muito grata por isso. No final das contas ele era uma boa pessoa com um bom coração que tinha feito escolhas erradas na vida, mas que não eram o suficiente para o julgar como um todo.
— Obrigada — agradeceu aliviada por pelo menos alguém querer a ajudar.
— Pode contar comigo — lançou sorridente, parecendo já estar a pensar em algo. — Bem, agora tenho que ir, há coisas a fazer.
— Claro. Mais uma vez agradeço pela ajuda.
— Não foi nada. Como disse, crianças gostam de mim. Acho que deve ser porque temos pensamentos parecidos — ele brincou a fazendo rir. — Posso voltar uma outra vez para brincar com eles? — questionou parecendo estar apreensivo.
— Claro, mas acredito que deve ter coisas melhores a fazer — comentou sem entender todo esse repentino interesse em seus alunos.
— Acredite, ficar aqui hoje foi muito bom e pretendo voltar mais vezes.
— Então está bem. Fique à vontade para voltar quando quiser.
— Pode ter certeza de que eu vou — concluiu animado, logo se despedindo saiu a cantarolar.
Aquela, com toda a certeza, tinha sido uma tarde bem diferente, com um companheiro inusitado. Tinha descoberto muitas coisas sobre o loiro e gostara da maioria delas. Não achava que seria de todo ruim se virassem de fato amigos.
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