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Capítulo 54


936palavras


Finalmente seus convidados tinham se retirado. E, ela tivera a nítida impressão que ambos estavam ávidos para partirem, apenas permanecendo por puro decoro. Não os culpava. Tinham presenciado um escândalo, e dos grandes, e todo o clima alegre e festivo tinha sido perdido de imediato. Que, se tratando de Haydeé, não era nenhuma novidade.

Olhou para Andreza, que estava a recolher xícaras da bandeja sobre a mesa de centro, parecendo muito centrada no que fazia, não lhe direcionando nenhum olhar. Mas, se a mais velha pensava que iria escapar da bronca, estava muito enganada.

- Então, o que tem a me dizer? – inqueriu, a olhando em indagação.

- O que?! O que quer dizer com isso? – fingiu desentendimento.

- Pare de fingimento. Ambas sabemos que você sabe sobre o que estou me referindo. Ande, me diga agora.

- Ok. Tudo bem – concordou, deixando a bandeja de lado para olhá-la.

- Convidei o senhor Oliver para o chá da tarde. Mas, juro que não sabia que o irmão viria – tratou de completar.

- Com que direito?

Andreza ponderou por alguns instantes, mas nada falou.

- Vamos, me diga logo. Porque o convidou sem meu consentimento? – insistiu.

- Porque pensei ser conveniente – disse por fim.

- Ah, pensou... E por nenhum segundo passou por sua cabeça que tal situação poderia acontecer?

- Não mesmo. Nunca imaginei que poderia agir de tal maneira.

- Está me julgando? Sabe muito bem que não suporto aquele homem.

- Mas, já lhe disse que não sabia que ele viria. Convidei apenas o senhor Oliver.

- É claro que não sabia – retorquiu injuriada.

- Mas, nunca imaginei que agiria de maneira nada educada – a repreendeu.

- Pois, me parece que não me conhece tão bem quanto julguei que conhecia.

- Não diga asneiras. A conheço melhor do que ninguém. Sabe disto – estava ultrajada com a insinuação.

- Bem, mas se me conhecesse, não teria o convidado, e muito menos sem meu consentimento.

- Se tivesse lhe dito, teria negado.

- Não nego que teria.

- Foi por isso que o convidei. Para que possam se conhecer melhor.

- Ah, mas pode ter certeza de que agora ele me conhece bem melhor – ironizou, revirando os olhos.

- Não se preocupe. Tenho certeza de que ele entenderá a situação.

- Não me importo com isso – deu de ombros em descaso.

- Pois, deveria.

- Posso saber o porquê?

- Ele é um ótimo pretendente e....

- Pelo amor de Deus, Andreza! Ele é casado!

- E se lhe disser que não é?

- O que está pretendendo insinuar?

- Pois, quero que saiba que sei o que estou dizendo. Não sei se sabe, mas empregados amam falar sobre a vida de seus patrões, e os do senhor Lancaster não são diferentes. Convidei seu cocheiro para comer alguns quitutes na cozinha e conversamos bastante. E sabe o que descobri? – indagou feliz por ser dona de uma valiosa informação.

- Não me interessa – a cortou, nem um pouco disposta a lhe dar atenção.

- Ele é viúvo! – disparou, não se importando com suas palavras. – Por isso que usa o anel. Mas não é mais comprometido.

- E, o que a faz pensar que este senhor possa se interessar por minha pessoa?

- Simples... – falava ainda com o sorriso de satisfação estampado na face. – Se o senhor não possuísse nenhum tipo de interesse, não teria comparecido a um chá da tarde desinteressante. Acredite. Homens não frequentam chás da tarde, a menos que pensem que tenham algo a ganhar em troca.

- E quem lhe disse que eu me interesso por ele? – rebateu bufando indignada, com seus braços cruzados a frente do corpo, disposta a deixar claro que tais palavras não a afetariam de modo algum.

- Isto é uma outra questão.

- É mesmo? Pois, me diga mais sobre este assunto. Estou muitíssima curiosa.

A mais velha a olhou de esguelha, desconfiada, mas não demorando muito a falar:

- Tudo bem. Sei que não nutre sentimentos pelo cavalheiro, mas, também sei que é de suma importância que se case.

- Não irei me casar. Muito menos com alguém que não amo.

- Mas, seu pai...

- O que tem? – vociferou, se alterando a mínima menção do mais velho.

- Você sabe sobre a condição imposta por ele.

- Não me interessa! Conquistarei o que é meu por direito apenas com meus esforços, talento e inteligência, e não através de um casamento.

- Mas, no testamento do conde, há a condição de que você somente receberá toda a fortuna dos Bourgeis se casando em um período de até 3 meses após seu falecimento. Se isso não acontecer, tudo será entregue a um parente distante, que nem ao menos conhecemos ou ouvimos falar até então.

- Como já lhe disse antes e voltarei a repetir, não compactuarei com os caprichos do conde. Não permitirei que ele estrague, mais uma vez, minha vida.

- Mas, Haydeé, se não se casar, perderá tudo. E, o que fará depois? Com o que viverá?

- Já lhe disse que mostrarei a todos os advogados que sou totalmente capaz de administrar toda a sua fortuna e bens. Não preciso de nenhum homem para conseguir fazê-las.

- Mas, tal condição não está descrita no testamento. Temo que seus esforços de nada possam valer.

- Isto é o que veremos – disse se levantando, dando a entender que a conversa terminara.

Chamou um dos empregados, pedindo para que lhe trouxesse o chapéu e as luvas.

- Vai sair? – Andreza questionou desentendida.

- Sim, mas não precisa se preocupar. Serei rápida.

- Tem certeza?

- Absoluta.

- Posso saber aonde vai?

- Vou apenas deixar claro a alguém, que não sou uma dama no qual se brinque e que não tenha consequências.

Dito isto, deu as costas rumando para a saída, disposta a seguir até seu próximo destino.

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