Capítulo 47
2212palavras
- Não há de que - ele respondeu simplesmente, de forma arrogante e sínica, como sempre o fazia, sorrindo zombeteiro.
-Pensei que tivesse partido há dias. Como ainda pode estar aqui? Onde estava? - despejou todas as perguntas de uma única vez, se sentindo indignada por não ter o visto por um único segundo durante todo aquele tempo.
-Vejo que a senhorita andou pensando com bastante afinco em minha pessoa. Sentiu saudades? - gracejou, deixando claro o quão animado estava com o rumo da conversa.
-Cale a boca, Wallace - esbravejou desgostosa, desviando o rosto para que o mesmo não notasse o rubor que surgia em sua face com tal comentário, cruzando os braços a frente do corpo, fechou a expressão de imediato.
Podia negar até a morte que estivera pensando no mesmo. Mas, infelizmente, não podia enganar a si mesma. E, ela sabia que o bastardo estava certo. Ela tinha pensado nele. E, com uma frequência que julgava não ser muito adequada e saudável para sua sanidade mental.
Sentiu um leve solavanco, quando os cavalos começaram a marchar, os conduzindo pela estrada.
Sabia que ainda estava em tempo de desistir da carona, e sair dali o quanto antes. Mas, a cada sacolejada, metros e mais metros eram traspostos, e nada falara.
Com toda a certeza não queria estar em sua companhia, mas o desejo de estar em casa era maior, e foi isso, esse único desejo que a deixou quieta, sem nada a reclamar.
-Como sempre, a educação é o ponto mais forte da senhorita.
Depois de alguns minutos em completo silêncio, o ouviu alfinetar de forma irônica.
Revirou os olhos, bufando.
Imaginara que o mesmo nada diria, mas se enganara.
Ele sempre tinha algo a dizer.
-Neste ponto o senhor tem razão. Sou muito educada. Minha criação e educação foram as melhores - retrucou querendo deixar claro que não aceitaria nada de boca fechada.
-Isto não posso negar. Tenho total certeza que o senhor e a senhora Green lhe proporcionaram a melhor educação - falou sorrindo faceiro.
-Sim, exatamente - rosnou desgostosa.
-Tive um belo deslumbre disso durante o jantar. A senhorita se comportou muito bem, falando de forma educada, sem xingamentos ou palavras rudes. Confesso que fiquei surpreso. Nem sequer parecia a senhorita.
Trincou os dentes com o comentário. Estava mais do que nítido que Colin apenas falava aquilo para a irritar e a fazer explodir. Às vezes até parecia que ele gostava de a ver furiosa.
Mas, se o que ele queria era a ver perder a compostura por sua causa, estava mais do que enganado. Não iria lhe dar tal satisfação.
-E, eu fiquei surpresa por saber que o senhor consegue permanecer em um ambiente familiar sem o contaminar com sua presença difame - o viu franzir o cenho, nitidamente desgostoso com o novo rumo da conversa, a olhando com olhos brilhantes de raiva.
-Bem, se até mesmo Chase consegue fazer isso, então por que não eu?
-Nem sequer nega - murmurou desgostosa, voltando o olhar pela janela semiaberta, a permitindo ter um vislumbre dos campos enevoados mais ao longe.
-Porque negaria algo? Sou o que sou. Me aceitem ou se afastem. Não mudarei por ninguém.
-Pois é o que pretendo. Me afastar - foi clara, para que a ouvisse e a deixasse em paz.
-É claro. Mesmo assim, neste exato momento está a sós comigo dentro de uma carruagem, que vai demorar horas para chegar a seu destino. Isso significa que temos muito tempo para compartilharmos e regozijarmos da presença um do outro. Não é maravilhoso?
Aparentemente o humor dele estava afiado naquele dia, pois parecia que não estava disposto a deixá-la em paz com tanta facilidade.
-Só estou aqui porque desejo ir embora e não tive muitas escolhas.
-Houve todas as escolhas possíveis.
-Fiquei sem carruagem e, infelizmente, a do senhor era a última - falou ávida por lhe dizer os verdadeiros motivos.
-Mesmo assim, ainda aceitou viajar comigo. Poderia ter negado.
-Não tive muitas opções. Ou aceitava ou ficava naquela casa por mais uma semana. E, simplesmente não posso! Preciso voltar o quanto antes. E, por este motivo, resolvi enfrentar tal martírio - não pôde evitar falar a última frase.
Também queria ficar por cima. Se ele queria dançar, ela também podia valsar conforme a música.
-Entendo. Mas posso lhe garantir que minha companhia não é das piores.
-Eu posso decidir por mim mesma - bufou consternada.
-Não teria tanta certeza assim.
-Pois, pode ter certeza.
-Então, isso significa que a senhoria deve ter conhecido muitas pessoas.
-Sim. E muitas delas são melhores do que outras - arqueou a sobrancelha, fazendo um leve bico em sua direção, querendo deixar claro que se referia a ele.
Colin apenas sorriu, balançando levemente a cabeça, a deixando desconfiada de imediato. O conhecia muito bem para saber que o mesmo estava a tramar algo.
-Não tenho dúvidas quanto a isto. De qualquer modo, tenho que concordar que tal evento não foi de todo perdido. Tenho certeza que muitas pessoas se divertiram, assim como a senhorita que deve ter se divertido muito com os outros convidados - terminou de falar lhe lançando um olhar ferino, parecendo querer dizer algo a mais.
Não se importou com tal gesto. Nem ao menos fazia questão de o entender.
-Bem, realmente não foi dos piores, mas está enganado. Não sou do tipo que gosta muito das aproximações de terceiros. Prefiro ficar em meu canto a ler um livro.
-Que estranho... Porque tenho quase certeza de que no baile da condessa, a senhorita não me pareceu nem um pouco incomodada com nosso encontro atrás daquelas cortinas - sua voz era ácida, soando até mesmo maldosa, a fazendo recordar daquele momento no qual ela se sentira muito constrangida.
Tal recordação acabou a deixando desconcertada e rubra de vergonha, amaldiçoando-o por estar a falar tais coisas.
-Admita! A senhorita gosta da minha companhia - completou, sorrindo travesso com tal conclusão.
Tais palavras a deixaram ainda mais possessa. Se virando com raiva para o mesmo, disparou raivosa:
-Nem ouse continuar neste assunto. O senhor sabe muito bem que a culpa foi única e exclusivamente sua! Não sou dama de ficar as escondidas por aí, muito menos com qualquer um. E, com toda a certeza, não aprovo tais atitudes - retrucou ávida por deixar bem claro seus sentimentos com relação a tudo isso.
Viu sua expressão mudar de imediato para desagrado, deixando claro que a mesma tinha atingido seus objetivos.
Mas, ela apenas desejava que o mesmo ficasse quieto, o que acabou sendo o total oposto.
-Mesmo? Pois não é o que me parece. Já a vi a conversar com outros rapazes - sua voz era quase em um rosnado, e o mesmo parecia segurar com bastante firmeza o encosto de braço, quase o arrancando.
-Ora, o senhor Wallace está com ciúmes, por um acaso? - não poderia deixar de falar, sorrindo internamente pela pequena vitória.
-É claro que não. Isto seria ridículo. Mas, gostaria de lhe avisar, que ficar a andar sozinha na companhia de rapazes de reputação duvidosa, não é muito bem visto.
Engoliu em seco, sentindo o coração acelerar com tal comentário.
O que ele queria dizer com isso?
Será que ele estava a se referir ao dia anterior, quando estava sozinha com Ismael?
Não era possível, não deveria ser isso.
Ou será que era? Ele tinha os visto?
Aquilo era um pesadelo!
Não podia imaginar que alguém os vira, e muito menos que fosse o Wallace.
Não, é claro que não. Ele não tinha visto nada!
Estava assustada com o acontecimento recente, e qualquer comentário já a deixava nervosa e a pensar que poderiam estar a se referir sobre o assunto.
Mesmo assim, nada mais falaria. Estava magoada e o péssimo sentimento que a invadiu não permitia que mais nada dissesse, por mais que quisesse lhe dar uma bela reposta.
Se limitou apenas a balançar a cabeça em negativa, aborrecida, fechando a expressão de imediato.
- É melhor pararmos por aqui - concluiu com a voz seca, se virando de lado para deixar claro que nada mais falaria, sentindo um nó na garganta, e um frio repentino, apesar do sol que brilhava alto no céu daquela tarde.
Pensou que o mesmo não aceitaria tal resposta, mas, se surpreendeu quando o mesmo apenas ficou quieto.
E, assim eles caíram em um silêncio sepulcral.
Não pôde deixar de notar que tal silêncio a incomodava, e muito!
O odiava, e suas palavras sempre a irritavam. Mas, parecia que naquele momento desejava que ele lhe dissesse algo, mesmo que fosse para a tirar do sério.
Tal silêncio era absurdamente ensurdecedor.
Começou a se remexer devido ao nítido incômodo, voltando a se sentar ereta, dando um olhar de esguelha para seu parceiro, que parecia estar a dormir, com os olhos fechados.
Analisou por uns breves segundos sua face de belos traços, com o nariz fino e perfeitamente esculpido na face, e dos fios negros a caírem de forma desajeitada envolta da face.
Prendeu o ar com tal visão.
Infelizmente, uma coisa ela tinha que admitir. O desgraçado era muito bonito!
E só de pesar nisso, a deixava possessa de raiva. Ficava com ódio, porque ela sabia que ele sabia que era bonito, e que poderia ter o que queria.
Isso a deixava com raiva, pois sabia que ele nunca teria uma negativa sequer. Ele era rico, dono de posses e de títulos, além de ter uma bela aparência. Nunca receberia um não. Ele poderia ter qualquer mulher que quisesse, se casar com qualquer uma.
E isso era injusto!
Adoraria o ver se humilhando por outra pessoa, adoraria o ver sendo rejeitado e humilhado.
Mas, infelizmente, era algo que em seu íntimo sabia que não aconteceria.
Bufou consternada com tal constatação, o vendo abrir os olhos de imediato em sua direção, que desviou o olhar para a madeira a sua frente, torcendo para que o mesmo não tivesse a visto.
-O que foi? - ele inqueriu curioso.
-Nada - murmurou, balançando a cabeça em negativa, voltando a olhar pela janela.
Percebeu por canto de olho que o mesmo apenas deu de ombros, afastando um pouco a janela, permitindo que um leve raio solar atingisse sua face.
Reparou que o mesmo, apesar da nítida beleza, não parecia como antes. Algo estava diferente em sua aparência. Parecia mais doentio, com a pele mais pálida que o normal, e as notórias manchas escuras abaixo dos olhos.
Quase o inqueriu sobre isto, mas ainda estava nervosa pelo assunto anterior, preferindo por ficar quieta.
Mesmo assim, sabia que o mesmo não estava muito bem, pois ela mesma tinha ido atrás do médico quando o viu passando mal.
Entretanto, depois disso, nada mais soubera.
Fizera diversas suposições sobre isso, que acabou acarretando em pesadelos e noites de insônia, preocupada com o mesmo. E, mal sabia ela que ele ainda estava sob o mesmo teto!
Mas, se ela soubesse do fato, o que teria feito?
Teria ido o visitar para saber como estava?
Provavelmente, não.
Mesmo doente, sabia que o Wallace não perderia a oportunidade de zombar de suas atitudes.
Mas, ela teria feito algo, isso ela sabia. Teria pedido para um dos empregados lhe contar sobre seu estado, ou até mesmo, falado com a senhora Roberts em busca de maiores detalhes. Mas, com toda a certeza, ela teria feito algo.
O olhou novamente, ponderando se deveria perguntar.
Com toda a certeza não deveria ter sido algo mais grave ou ele teria ido embora. E sua aparência debilitada deixava isso ainda mais em evidência.
E, não era somente isso, também queria saber como ele estava. Perdera horas de sono se preocupando, e agora tinha a oportunidade de saber.
Se remoía em pensamentos, tentando encontrar alguma coisa que fosse plausível o suficiente e que não o fizesse pensar que estivesse preocupada. Mas cada pergunta que elaborava, descartava de imediato. Mas, também queria saber se ele estava bem.
Estava sofrendo um grande conflito interno, se sentido uma idiota por não obter a coragem necessária para falar o que desejava. Mas também não queria parecer preocupada, não queria demonstrar interesse, não queria deixar claro que a angústia a consumia.
Tal debate a consumia por dentro.
Sabia que já estava há um bom tempo presa em tais pensamentos, não reparando em nada a sua volta de tão absorta que estava.
Mas, algo acabou a trazendo de volta a realidade, com um forte solavanco.
Se assustou ao ser jogada para o lado, se vendo saindo do banco, indo em direção a porta com uma rapidez exagerada. A única coisa que passou por sua cabeça foi a de que bateria com força no madeiramento da carruagem, e que o impacto não seria nada agradável.
Se permitiu apenas fechar os olhos, parando de respirar com o medo que sentia, esperando pelo impacto inevitável.
Apesar de ter quase certeza que se choraria contra a lateral do veículo, estranhamente nada aconteceu.
Percebendo que o ar lhe faltava, se permitiu voltar a respirar, abrindo lentamente um olho após o outro, para saber o que tinha acontecido.
Para seu espanto, estava inclinada para baixo, mas a madeira que esperava ver a sua frente não estava mais lá. A porta estava aberta e ela estava quase do lado de fora. E, logo adiante, percebia uma pequena queda de um barranco, não muito alto, mas que com toda a certeza teria a machucado um pouco. Quase tinha sido lançada para fora da carruagem.
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