Capítulo 42
4800palavras
Chuva.
Milhares de gotas de água caindo e encharcando os jardins desde a madrugada, com nuvens escuras e densas percorrendo o céu e que deixavam bem claro que não iriam ir embora tão cedo. O vento frio e fatigante que judiava os campos e os corredores solitários daquela casa, só piorava ainda mais a sensação de tristeza e desânimo.
Os planos de aproveitarem o dia, passeando pelo campo, foram, literalmente, por água abaixo.
Frustrada, com uma sensação sombria de tristeza trazida justamente com aquela chuva, Celine foi em direção à biblioteca para encontrar as amigas, já que ninguém poderia sair da casa. Pelo menos aquelas que ficaram para trás, já que Davina e Rose partiram no dia anterior, cada uma dando uma desculpa que não a convenceu em nada. Mas, nada pôde fazer para impedir que partissem.
Ao avistar Leone no canto da sala, começou a observar sua veste elegante, um belo vestido longo fechado, de mangas largas e compridas, todo na cor vermelha escura. Com um decote bem próximo ao seu pescoço, todo o seu busto está coberto pelo grosso tecido encorpado, dispensando o uso de cachecol, lenço ou mais uma camada de tecido para aquecer. O modelo é justo até os quadris, onde o tecido se solta e se estende até os pés, sem muito volume, mas protegendo o corpo da loira do clima ameno.
Rapidamente se esgueirou pelos cantos até alcançá-la, pois precisava conversar com alguém sobre seu mau-humor e saber sobre o andamento do plano de casamento.
Aproveitou que a loira estava distraída, olhando para um rapaz moreno que não conhecia muito bem, pois ele acabara de se mudar para o vilarejo, e que estava conversando do outro lado da sala, com os outros rapazes.
Se aproximou sorrateiramente por trás de sua poltrona, a assustando, fazendo a loira dar um leve pulo no assento, reprimindo um grito ao levar a mão à boca.
- Parece que alguém está interessada em um certo homem... - lançou de imediato, com um olhar malicioso, sentando no braço acolchoado da poltrona de veludo negro.
Leone se limitou a lançá-la um olhar penetrante e gélido, com o ódio que continha dentro de si devido ao susto que levara, e, com toda a certeza, com o comentário da amiga.
- Não diga asneiras, Celine. Poderia me explicar o porquê de estar escondida atrás de mim? - inqueriu nervosa, tentando amenizar o tom de voz o máximo possível para não chamar a atenção de terceiros.
- Não estava escondida. Foi apenas você que não me viu se aproximando, porque estava distraída - não conseguiu se conter, ainda mantendo o tom provocativo e insinuante, lançando um breve olhar para o rapaz que Leone olhava há instantes.
Cansada de tais insinuações, a loira decidiu ignorar as provocações de Celine, revirando os olhos, a analisando. Seu vestido consistia em várias camadas de tecidos, formando babados na extensão de sua saia longa. Com um tom dourado nos tecidos de seda que adornavam suas vestes, o pequeno laço de seda branco, localizado no centro do decote, fazia conjunto com as luvas ¾ de seda branca. O decote se estendia de ombro a ombro, deixando parte de seu colo exposto. Apesar das vestimentas pomposas e amareladas, seu semblante estava enraivecido, mostrando o descontentamento com algo.
- Você está bem, Green?
- Não estou! Tudo está dando errado, o plano com o seu irmão foi um desastre, Charlie foi embora e não vamos conseguir sair dessa casa para falarmos sobre o casamento, já que o céu está desabando com tanta chuva! Nem sequer vamos nos divertir um pouco - narrava desgostosa.
- Ei, fale mais baixo! Quer que nos escutem e descubram o plano? Vamos nos aproximar de Vivien e Scarlet para conversamos sobre isso. Daremos um jeito de prosearmos, sem interrupções, sobre nossos próximos passos.
-E pretende fazer isso aqui? Não teremos tanta privacidade e alguém poderá escutar.
-Se continuar com tanto drama e não contendo o tom de voz, com toda a certeza chamará a atenção de alguém. Tente se acalmar. Não é o fim do mundo - a repreendeu severa.
-Eu sei. Mas, tu sabes muito bem que detesto dias chuvosos como este. Prefiro o brilho intenso e o calor aconchegante do sol. A chuva só traz um clima de melancolia, é tão cinza e frio. Nem podemos sair para se divertir um pouco nos campos. Isso é injusto!
-Sim. Mas, não tem como controlar o tempo.
-Uma pena. Pois, se pudesse nunca permitiria que chovesse mais do que algumas poucas horas.
-Isso seria um sonho.
Bufou consternada, olhando a sua volta, para cada rosto dos outros integrantes daquele cômodo.
Pela primeira vez pôde reparar na presença da irmã. Audrey estava com suas vestimentas simples de sempre, com tons gradativos de marrom e um detalhe verde escuro nas laterais, que se destacava em sua saia. De tecidos grossos, a saia estava volumosa pelas três camadas, enquanto as mangas ¾ consistia em apenas uma camada mais fina. Em seu tronco, um corpete marrom escuro está perfeitamente trançado em na fronte, protegendo e realçando suas singelas curvas. Apesar do decote mais aberto, com um corte canoa, não sentia frio, mesmo estando sentada a um canto mais afastado, em um banco ao lado da grande janela, a contemplar a água a cair pelas vidraças, por enquanto que segurava um livro de capa dura.
Parecia que ela sempre estava com aquele livro nas mãos.
Como conseguia ler tanto?
As vistas não cansavam?
Celine gostava de ler alguns romances, mas preferia estar no aconchego de sua cama, em sua casa. Não perdia seu tempo a ler em ambientes onde seria muito mais interessante manter a conversa com outras pessoas. Nisso, não conseguia entender a irmã. Era tão melhor viver a vida do que se perder no meio das palavras.
-Que mal humor todo é esse? - Leone inqueriu chamando novamente a atenção.
-Você sabe muito bem!
-Acho que não tem só a ver com o clima. Tem a ver com um certo Lancaster também, não tem?
-O que você acha? Ele foi muito fofo, e romântico comigo durante esses dias que permanecemos aqui. Quando pensei que teríamos a chance de ficarmos um pouco mais sozinhos, ele simplesmente resolve ir embora, e nem me deu uma satisfação. Quando descobri, ele já estava a milhas de distância. Não estou mal-humorada, Leone. Estou furiosa! Louca para bater em alguma coisa!
-Relaxe. Está começando a se sobressaltar e chamar a atenção.
-Não me importo!
-Então está muito brava com o Lancaster mesmo.
-É claro. Tal atitude não foi muito digna de sua parte.
-Tenho certeza que deve ter um bom motivo.
-Acho bom mesmo que tenha. Quando voltar para casa, irei ter uma conversa com ele.
Estava bufando, com os braços cruzados a frente do corpo, batendo o pé impacientemente sobre o carpete.
-Não duvido que vá.
A olhou de esguelha, tentando descobrir se a amiga estava brincando consigo.
-Não me olhe assim. Não tenho culpa do que aconteceu. Além do mais, você quer continuar com esse plano? Parece que está muito chateada com Charlie. Talvez queira adiar um pouco para saber o que vai acontecer.
-O que quer dizer com "saber o que vai acontecer"? Está achando que não vamos ficar juntos? - ficou tensa de imediato, se levantando e se postou a sua frente, a olhando com intensidade.
-Não é isso que estou dizendo. Só estou querendo falar que seria melhor pensar um pouco mais sobre o assunto. Estamos lidando com o futuro de uma pessoa - a mais velha disse, maneando a cabeça de lado, para sua irmã que estava alheia a conversa.
-Está querendo desistir agora, Leone? Pensei que fosse minha amiga!
-Não estou desistindo de nada. Se quer continuar, tudo bem. Iremos.
-É claro que quero! Irei me casar com Charlie. Pode ter certeza disso.
-Tudo bem. Então, vamos conversar sobre os próximos passos.
-Sim, vamos. Pois, até agora não saímos do lugar.
-Ótimo. Vamos chamar Scarlet - Leone falou se levantando, chamando a atenção dela para o outro lado da biblioteca, onde uma ruiva de vestes brancas com azul escuro conversava fervorosamente com um rapaz de cabelos claros, quase brancos. Seu vestido possuía um decote coração, destacando o busto e a cintura, que estavam cobertos pelo espartilho bem apertado. A saia estava volumosa por conta da crinolina e as diversas camadas de tecido no interior do vestido, mas também possuía babados brancos e azuis dispostos por toda a extensão de sua saia longa. A ruiva utilizava um casaco azul de mangas compridas, com detalhes em renda branca no pulso, a protegendo dos ventos gélidos que invadiam o cômodo pelas frestas.
Pareciam que estavam a discutir algo sério, apesar do semblante mais calmo do rapaz.
-Acho que não é uma boa ideia interferirmos - comentou, olhando atentamente para a discussão, não querendo se aproximar para não se tornar um provável alvo.
-É, acho que não é uma boa ideia no momento.
Olhou mais ao canto, reparando no loiro cafajeste e irmão de Scarlet, que estava sentando em uma cadeira, com as pernas esticadas sobre uma mesa de centro, bebericando de uma bebida e parecendo estar bastante centrado na briga fervorosa da irmã, sem demonstrar nenhuma reação de que iria interferir.
-Você acha que devemos fazer algo? - inqueriu começando a se sentir incomodada com a visão.
-Não. Chase está bem ali, e me parece bem tranquilo. Tenho certeza de que se for acontecer alguma coisa, ele irá interferir.
-Olhando daqui não me parece que ele fará alguma coisa, se precisar.
-Não exagere, Celine. O Roberts é um verdadeiro libertino, mas tenho certeza que não permitiria que acontecesse alguma coisa a irmã, ainda mais embaixo de seu teto. Isso seria um absurdo. Conhecendo a Scarlet como conheço, tenho certeza que ela deve estar dando algum de seus escândalos. Se precisamos socorrer alguém, com toda a certeza é o coitado do rapaz.
-Tem razão - disse mais tranquila, começando a rir da situação. - A propósito, quem é o rapaz? - perguntou curiosa.
-O irmão de Naim.
-Naim? Aquele rapaz que você não tira os olhos?
-Pare com essas besteiras - retrucou nervosa, logo voltando a falar. - É o irmão dele sim.
-Mesmo? Mas eles são bem diferentes.
-Sim, são mesmo.
-E quem é aquele rapaz que está conversando com o seu Naim? - inqueriu provocativa.
-Se continuar com essas gracinhas, você vai se arrepender - rosnou irritada.
-Calma. Só estou brincando - falou sentindo-se um pouco melhor.
-Bem, o rapaz é o outro irmão de Naim. Ele se chama Ismael.
-Outro irmão? Quantos irmãos ele tem?
-Alguns.
-Bem, pelo menos esse é um pouco parecido - disse dando de ombros o olhando mais detalhadamente, reparando em seus cabelos escuros curto, pele negra e olhos amendoados.
-Sim. Isso é verdade.
-Mas, porque todos eles estão aqui?
-Chase os convidou a ficar.
-Mesmo? Nem parece. Não está agindo como um anfitrião deve. Ele está todo emburrado, sentando afastado de todos.
-Você tem razão. Chase está bem estranho. Ele não costuma ser assim. Ele é muito brincalhão. Algo está errado.
-Parece que você conhece bastante ele, Leone.
-O que posso fazer? Os nossos pais sempre se encontram em reuniões políticas. É um tédio tudo isso, e dou graças por não ter que participar. Mas, o loiro sempre aparece por lá, apesar de aparentar ter tanto interesse quanto eu no assunto.
-Entendi. Mas, não deve se aproximar dele. A reputação não é das melhores.
-Você acha que eu não sei? Das inúmeras vezes que ele foi em minha casa só trocamos poucas palavras, acompanhados de nossos pais. Tenho certeza que já teve algum dia em que eles já devem ter planejado a nossa união. Mas, depois que o barão roubou o cargo de prefeito de meu pai, tudo foi por água a baixo. Agora todos os encontros são a base de fervorosas discussões que são amenizadas pelo conde Lancaster e o senhor seu pai.
-Não sabia disso - falou chocada com as descobertas.
-Sim. Mas, pelo menos toda essa confusão serviu para me livrar de um arranjo matrimonial indesejado.
-Sorte a sua.
-Com toda a certeza. Até porque, Chase não estava nem um pouco interessado. Muito menos eu, é claro.
Concordou com a amiga, se sentando novamente, agora no lugar da loira, olhando mais atentamente para um canto, vendo, por fim, Vivien, sentada envolta de uma mesa lateral a tomar chá despreocupadamente, com seu elegante vestido de seda branca. Com um decote quadrado e mangas longas, uma delicada renda branca, bordada à mão, se estendia pelos limites dos tecidos. Sua saia estava cheia por conta dos volumosos tecidos internos, colocados no intuito de esquentar o corpo e dispensar o uso da crinolina. No busto, estava disposto uma fileira de pequenas pérolas brancas, desde o decote até o fim de seu espartilho, na cintura. Mas, não foi isso que chamou a atenção, e sim o fato da mesma estar acompanhada do irmão de Leone, Andrew.
Eles estavam a conversar animadamente, parecendo alheios a tudo a sua volta, como se estivessem em seu mundinho particular.
Arqueou a sobrancelha com a descoberta, logo olhando para a outra, chamando sua atenção para o casal a conversar.
-Você já tinha visto aquilo? - inqueriu curiosa.
-Confesso que não. Eles me parecem estar bem entretidos em um assunto deveras interessante.
-Sim, exatamente.
-O que pretende fazer? - a mais velha inqueriu ao ver seu semblante pensativo surgir. A mesma a conhecia muito bem para saber que quando Celine está a pensar em algo, boa coisa não vem por aí.
-Se não posso ficar com Charlie agora. Então, podemos fazer com que Vivien tenha o seu encontro.
-Com Andrew? - perguntou surpresa.
-Sim, se esqueceu da última conversa que tivemos?
-Não. Mas, pensei que não fosse nada sério.
-Por favor, Leone. Não seja besta. É claro que era sério. Até porque, você sabe muito bem que Vivien também precisa encontrar um pretendente, já que só poderei me casar depois dela e de Audrey.
-E, você acha que Vivien vai gostar disso? Ela sabe dos planos. Vai perceber de imediato o que está acontecendo. Pode se sentir usada.
-Não vai acontecer isso pelo simples fato de que ela gosta de seu irmão.
-De verdade? - ainda questionou receosa.
-Sim. Não vê como se olham?
Leone os olhou por mais alguns instantes, acabando por concordar com a visão que obtivera.
-Tem razão. Eles, definitivamente, combinam. E, não posso reclamar de ter Vivien como cunhada, ela é um amor.
-Só diz isso porque não convive com ela. Mas, posso lhe garantir que aquela lá sabe ser insuportável quando quer.
-Assim como você - retrucou sorridente.
-E você - não pôde perder a oportunidade.
-Mas, ninguém é mais insuportável que a Scarlet - Leone sussurrou, cumprimentando a ruiva que se aproximava pisando duro, bufando em fúria.
-Dá para acreditar que aquele ridículo do Chase convidou o insuportável do Franklin? - ela esbravejou sem nem ao menos as cumprimentar.
-Franklin? O que tem ele? - Leone questionou de imediato, parecendo não gostar da frase.
-Sim. Aquele infeliz daquele branquelo fica a me infernizar. Já estou perdendo os cabelos. Acredita que ele estava me enchendo a paciência por causa de um terno horroroso que acabei sujando sem querer? Ridículo! - ralhava distraída, parecendo estar mais a resmungar aos quatro ventos do que a falar com elas.
-Ah, sim. Estava falando do rapaz que estava a conversar - a loira disse ficando aliviada de imediato.
-Sim. Do tal Isaac. Estou a ponto de o chutar para fora daqui. Mas, se minha mãe descobrir, vai me deixar de castigo por um bom tempo. Ela sempre diz que devemos ser ótimos anfitriões.
-Parece que seu irmão não a ouviu muito bem - retrucou olhando novamente para o loiro que parecia estar mais aborrecido do que nunca, a encarar profundamente o copo vazio a sua frente.
-Quem? Chase?
-Você tem outro irmão?
-É claro que não. Mas, as vezes gostaria que sim. Talvez o outro me defenderia mais.
-Não seja dramática, Scarlet. Todas nós sabemos que você é muito pior. Estava acabando com o rapaz.
-Ele merece. Fica a me importunar.
-Sabe de uma coisa. Fica reclamando, mas no fundo aposto que deve gostar - provocou, recebendo um olhar mortífero como resposta.
-Não seria louca a esse ponto.
-Não sabemos o que pode acontecer no futuro.
-Sei sim. Esse aí vai passar longe de mim - falou balançando a cabeça em negativa com a ideia absurda. - Mas, mudando de assunto. O que estão fofocando?
-Não estávamos fofocando - Leone retrucou irritada.
-É claro que estavam. Sempre estão! Sobre o que se trata?
-Celine está com raiva que Charlie foi embora, e porque está chovendo.
-Também estou com raiva dessa chuva. Não podia chover só depois de partimos? Tinha que ser agora? Isso só serviu para atrapalhar todos os meus planos.
-Viu? Alguém que me entende - disse acompanhado a amiga em suas lamúrias.
A loira apenas revirou os olhos, suspirando em derrota.
-E também estávamos falando de um rapaz interessante, não é mesmo, Leone? - inqueriu voltando a provocar a mais velha, que ficou séria de imediato.
-Que rapaz? - Scarlet queationou curiosa.
-Nada demais. Celine vê coisas onde não existem.
-Ou talvez não.
Ambas ficaram a se fitar intensamente em uma disputa de olhar, fazendo a ruiva encará-las perdida.
- O que é tudo isso?
-Nada, Scarlet. Estávamos falando da Vivien e do meu irmão - Leone disse desviando o olhar.
-O que tem eles?
-Veja por você mesma - disse fazendo com que a outra olhasse na direção do casal.
Ela ficou a encarar por um tempo demasiadamente grande, antes de falar:
-O que que tem?
-Pelo amor, Scarlet. Eles estão juntos, conversando. Não é possível que não viu isso! - disse exaltada.
-É claro que vi - retrucou furiosa apesar de gaguejante, ficando rubra de imediato.
Achou estranho, mas nada disse, preferindo deixar a questão de lado.
-Bem, o que vocês acham de darmos um empurrãozinho para que fiquem ainda mais próximos? - inqueriu pensativa, chamando a atenção de ambas para si.
-E como pretende fazer isso? - Scarlet tratou de perguntar.
-Pensei que talvez pudéssemos deixar ambos a sós aqui na biblioteca.
-Como? Todos estão aqui. Como pretende tirar todos da sala? Leone questionou tão curiosa quanto a ruiva.
-Bem, tenho certeza que ninguém irá se importar muito se mudarmos a reunião para a sala de jogos. Sua mãe se importaria se nos deslocássemos para lá, Scarlet?
-Não. Ela não se importa.
-É uma boa ideia. Mas, como pretende fazer com que nossos irmãos permaneçam aqui? - a loira questionou novamente.
-Simples. Vamos trancá-los aqui - deu de ombros mostrando o óbvio.
-Trancar? - ambas perguntaram em uníssono.
-Sim. Até porque se não agirmos assim, conhecendo Vivien como conheço, ela nunca ficará a sós com seu irmão. Temos que ser mais radicais.
-Ela não vai gostar disso. Sei disso, porque se fosse comigo, detestaria - a ruiva disparou, mas logo abriu um sorriso demonstrando concordar com o plano.
-Pode ser. Mas, não acho que Audrey concordaria com isso. Duvido que consiga tirá-la daqui com tanta facilidade. E, se ela perceber alguma coisa relacionado a Vivien, vai impedir de imediato - Leone explanou suas dúvidas.
-Tem razão. Minha irmã acabaria com o plano se desconfiasse de algo. Temos que fazer alguma coisa para tirá-la de perto.
-Mas, o que? - Scarlet disparou pensativa.
-Acho que sei.
-Como, Leone? - se voltou para a amiga, animada por uma resposta.
-Podemos usar um dos irmãos do Iam.
-Como assim?
-Veja. Já que os planos com Douglas não deram muito certo, podemos aproveitar a oportunidade para ver se conseguimos arrumar um encontro para sua irmã. Já estava pensando que um dos Franklin poderiam ser útil para esse propósito. E, agora tenho mais certeza disso.
-E, qual deles seria? - inqueriu mais uma vez, agora olhando para o grupo de rapazes que conversam mais ao longe, de forma descontraída.
-O branquelo, não. Sua irmã não merece um ser tão insuportável - a ruiva disparou severa.
-Pensei no outro. No Ismael. O flagrei olhando para ela algumas vezes. Acho que não teremos problemas em o fazer se aproximar - Leone disparou obstinada.
-Ótimo. Perfeito. Mas, como vamos fazer com que eles se aproximem e ele a tire de perto, para que possamos agir?
-Essa é a questão. Nada me vem à mente agora.
-Pois, eu sei. Chase! Venha aqui agora! - Scarlet disparou, logo chamando o irmão alto, atraindo a atenção de todos para si.
A ruiva nem se importou. Se sentia livre para agir como quisesse embaixo de seu teto.
O loiro a lançou um olhar de desdém e tédio, revirando os olhos, não querendo se mover. Mas, Scarlet era insistente, e foi a seu encontro, o arrastando com um pouco de relutância até onde estavam.
-O que foi, Scarlet? Não podia me deixar quieto? - resmungou, tentando solver o pouco que sobrara de seu copo.
-Não seja chato. Não percebeu que está na presença de damas?
Ele as lançou um olhar, mas diferente do costumeiro sorriso brincalhão e libertino, além dos elogios nada discretos, Chase se limitou a fazer um muxoxo, dando de ombros e desviando o olhar.
Celine achou muito estranho tal atitude, já que o loiro nunca perdia uma oportunidade de tentar cortejá-la.
-Tudo bem. O que quer? - ele disparou sem muito ânimo.
-Você poderia chamar aquele seu amigo até aqui? É que gostaríamos de conversar com ele - a ruiva explicou, indicando com um acenar de cabeça o moreno mais ao longe.
-Ismael? Para que você quer que eu chame o Ismael?
-Isso é assunto nosso. Apenas o chame - a ruiva disparou mal-humorada.
-Por favor! - concluiu apenas para amenizar os ânimos dos irmãos.
-Não sou garoto de recados. Se querem conversar com ele, que o chamem - disparou dando as costas.
-Mas, não podemos. Seria muito descortês de nossa parte o interromper. Mas, se você o chamar, não será nada estranho - disse na tentativa de convencê-lo.
-Posso saber o que estão aprontando? - inqueriu desconfiado.
-Nada. Apenas o chame - Scarlet disse por fim, cruzando os braços.
Sem muito ânimo, Chase apenas concordou, se afastado por alguns segundos, indo de encontro ao rapaz. Os observou trocando algumas palavras, logo reparando que o mesmo lançou um olhar sobre elas, se distanciando do grupo principal com o loiro.
O moreno não demorou a se aproximar, as cumprimentando cortesmente.
-Pronto. Meu serviço está feito. Desejam mais alguma coisa? -perguntou debochado.
-Não. Obrigada - Scarlet disparou sem paciência.
-Chase? - chamou a atenção do mesmo, quando ele pretendeu se afastar.
-Sim?
Se levantou discretamente, se aproximando do mesmo, para que mais ninguém a ouvisse falar.
-Você sabe se aconteceu alguma coisa a Charlie? Ele foi embora sem dizer nada - sabia que não deveria se humilhar a esse ponto, mas queria saber o que tinha acontecido ao moreno, e ninguém melhor do que Chase para saber tal resposta.
Ele sorriu minimamente, balançando a cabeça em negativa, parecendo ponderar sobre o que falar. Ficou tensa de imediato com a resposta que poderia escutar.
-Não se preocupe. Ele tinha alguns negócios na empresa do pai que não podiam esperar mais, por isso teve que sair às pressas - ele disse por fim, apesar de soar um pouco estranho aos seus ouvidos tais palavras.
Achou estranho, mas nada falou, logo escutando as meninas conversarem animadamente com Ismael.
-Então vocês são amigas a longo prazo? - o rapaz inqueriu.
-Sim. Nós três somos amigas há anos, além da Rose e Davina. Mas, elas foram embora. Rose tinha assuntos relacionados ao planejamento do casamento e Davina, não faço ideia do porque ela foi embora. Alguma de vocês sabem? - Scarlet falava displicentemente, de forma animada.
Sentiu Chase enrijecer ao seu lado, deixando a expressão ainda mais séria, se é que isso era possível, dando as costas de imediato e se afastando sem dar nenhuma explicação, saindo do cômodo sem olhar para trás. Achou tal atitude extremamente suspeita, mas não sabia dizer do que se tratava. A única coisa que podia dizer, com toda a certeza, era de que o loiro estava muito estranho.
-Celine?
Escutou seu nome ser chamado, percebendo que tinha se distraído.
-Sim?
-Perguntei se você sabe o porquê de Davina ter indo embora? - Scarlet perguntou.
-Não. Não sei.
-Ah, tudo bem. Deve ter acontecido algo - Ismael falou sorridente e visivelmente curioso para saber o porquê de ter sido requisitado.
-Acredito que queira saber porque pedimos para ser chamado, não é? - Leone tratou de partir para o assunto principal.
-Confesso que sim. Não é todos os dias que damas tão distintas como as senhoritas solicitam a minha presença.
-Bem, posso te garantir que é por um bom motivo.
-Que seria?
- Está vendo aquela adorável moça sentada ao lado da janela? - a loira continuou a falar, maneando discretamente a cabeça na direção indicada.
-De certo estou. O que tem?
-Então, sei que não deveria estar dizendo tais coisas, porque pode acabar manchando a reputação de uma garota. Mas, como eu sei que você é um bom rapaz, que não dirá nada a ninguém, e por eu ser uma romântica apaixonada incurável, decidi que o melhor seria falar.
-E o que seria?
Era visível sua curiosidade, com Leone tendo toda a atenção do rapaz sobre si.
-Sem querer, minha irmã acabou nos revelando que ela o achou deveras interessante. E pensamos que não faria mal algum o dizer - entrou na conversa, jogando as cartas na mesa, torcendo para que ele caísse.
-Audrey é muito tímida e nunca teria coragem de se aproximar. Por isso, achamos que poderíamos o contar e, quem sabe, o senhor poderia a chamar para dar uma volta. Tenho certeza que ela ficaria muito feliz com isso - Scarlet completou séria.
-Estão falando sério? - ele inqueriu duvidoso.
-É claro. Porque mentiríamos sobre tal coisa? Como disse, sou uma eterna romântica e não consigo ver duas pessoas tão interessantes e bonitas longe uma da outra, sabendo que poderiam se aproximar mais - Leone ainda discursava, pronta para convencê-lo.
-Bem, ela me parece bem interessante e dotada de muita graça. Além, é claro, de me sentir muito lisonjeado por ser alvo de atenção.
-Pois, deveria se sentir mesmo. Minha irmã é uma mulher muito distinta.
-Não tenho dúvidas. Pois a chamarei para darmos uma volta neste exato momento. Muito obrigado por me contarem. Já a tinha notado antes, e estou muito feliz por saber sobre tal revelação.
-Espero que faça bom proveito.
-O farei. Com licença - ele disse por fim, ajeitando seu terno, indo de encontro a morena que estava sentada mais ao canto, alheia a todos os acontecimentos a sua volta.
Ficaram apenas a observar ambos conversarem, sem saberem o que falavam, por serem palavras baixas.
Celine daria tudo para saber quais foram as palavras proferidas, pois estava muito preocupada que o rapaz dissesse algo sobre o que elas acabaram de falar, e isso poderia acabar com os planos. Ou, Audrey simplesmente poderia recusar, pois ela sabia melhor do que ninguém que sua irmã nunca, em hipótese alguma, demonstrou qualquer interesse nele.
Mas, para sua total alegria e alívio, viu quando a irmã acabou por aceitar o convite, saindo logo em seguida na companhia do rapaz. Por sorte, Audrey era muito cortês e educada, e dificilmente recusaria um pedido formal para um passeio.
Sorriu minimamente com a pequena vitória. Agora, só podia torcer para que a irmã gostasse da companhia dele e que pudesse dar certo.
Mas, naquele momento, tinha coisas mais importantes para se importar, como o fato de unir sua outra irmã com um certo ruivo.
-A primeira etapa está concluída. Agora vamos para a próxima - disparou ansiosa para continuar o mais rápido possível, já que não sabia quanto tempo demoraria para Audrey voltar.
-Agora temos que tirar todos da sala, menos os dois - Scarlet disse.
-Isso vai ser fácil. Chase já saiu, restando apenas os dois - Leone disse apontando para os dois últimos Franklins remanentes. - Eu os convenço a sair em dois segundos. Por isso vocês duas já podem ir saindo, as encontro na entrada - terminou de falar indo na direção dos rapazes.
-Então, vamos - Scarlet falou rumando para a saída, a seguindo de perto.
Ambas ficaram esperando do lado de fora da porta de folha dupla de madeira, até visualizarem uma Leone muito confiante e sorridente saindo acompanhada dos dois rapazes. Ela continuou andando, sem olhar para trás, permitindo a deixa para que pudessem agir.
Deu uma breve olhada para dentro da biblioteca, vendo que os dois ainda estavam a conversar timidamente, apesar de que naquele exato momento Vivien começava a olhar a sua volta, franzindo a testa em desconfiança.
Sem demora, as duas empurraram a porta, a fechando rapidamente, com Scarlet passando a chave na tranca para não correrem o risco de serem abertas.
Ambas sorriam em cumplicidade, felizes por terem conseguido realizar seu plano.
Não demorou muito para ouvir batidas do lado de dentro da porta, e uma voz furiosa reverberando alto de indignação.
Apenas riram, sem nada falar, se afastando rapidamente pelos corredores, seguindo rumo a sala de jogos, deixando para trás uma loira extremamente furiosa.
Sabia que Vivien não a perdoaria por algum tempo, mas ela teria que se sacrificar pelo o bem maior.
♡♡
Personagens :
●Ismael Franklin
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