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Capítulo 38

5900palavras

Audrey estava muito cansada devido aos acontecimentos do dia e não querendo ver ninguém, foi direto para o quanto inventando a desculpa que estava com dor de cabeça para poder faltar ao jantar.

Tomou um banho rápido, colocando a camisola deitou na cama sentindo o corpo reclamar. Não demorando muito para cair no sono. Mas seu cérebro estava agitado e trabalhava incessantemente a fazendo sonhar com acontecimentos do passado.

Oxfordshire, 1824

Estava muito nervosa.

Remexia as mãos frias e suadas na tentativa de se acalmar. Andava apressada pelas ruas desertas, sentindo o vento gélido a lhe beijar a face. Hora ou outra ajeitava as vestes como podia, tentando se manter apresentável.

Sabia que o vestido era simples, na cor vinho, com apenas dois botões pretos em frente ao tronco, o enfeitando, e que chegava até os joelhos. Com um decote em V, seu colo ficaria exposto ao frio caso a mesma não estivesse usando um xale preto que adornava seu pescoço e ombros.

Por estar usando botas longas da mesma cor que o xale grosso, as pernas estavam protegidas e aquecidas do clima invernoso. Na barra da saia, babados brancos eram evidentes quando caminhava, mostrando que estava com muitos tecidos por baixo, mas bastante confortável e a esquentava.

Escutava o esmagar das pedras sob os pés, por enquanto que se aproximava daquela mansão que crescia imponente, logo a sua frente, tão bela como se fizesse parte de um conto de fadas.

Audrey suspirou tentando tomar coragem, olhando para o céu cinzento repleto de nuvens densas do final de janeiro.

Não tinha o costume de frequentar aquela casa, apesar de sempre estar na companhia de um dos moradores daquele lugar. E, era exatamente por causa dele que naquele momento estava indo até lá.

Parou à frente da enorme porta de madeira, a olhar fixamente para a frente, sem saber o que fazer. Cogitou dar meia volta e ir embora para casa. Mas, logo deixou esse pensamento de lado. Se tinha chegado até ali, deveria seguir em frente.

Engolindo em seco, levantou um dos braços, batendo na madeira maciça, dando alguns passos para trás para esperar por uma resposta.

Não sabia porque se sentia tão coagida naquele ambiente. Nunca tinha acontecido nada de estranho. Nenhum dos seus moradores lhe fizera algum mal, mesmo assim, ainda se sentia incomodada.

Talvez, tal sensação se devia a toda a imponência daquela casa, que era um lembrete vívido e silencioso de que ela, uma filha de um jornalista, nunca teria aquela vida, e que nunca faria parte daquela classe social. Esse era um bom motivo.

Mas, no seu íntimo, achava que esse não era o único motivo, já que Audrey nunca se importou com tais frivolidades. Mesmo assim, não sabia dizer o que era. Apenas se sentia desconfortável e incomodada.

Não demorou muito para a porta se abrir, a sobressaltando no mesmo instante, por enquanto que um mordomo a recepcionava.

-Pois não? - o homem de smoking inqueriu a fitando de cima, com seu nariz rebitado, a olhando dos pés à cabeça com desagrado.

Até os empregados daquela casa se sentiam superiores a ela.

Se sentiu coagida por alguns instantes, mas logo tratou de tomar coragem, falando em uma voz falha:

-Vim visitar Colin.

O homem ficou a encarando por alguns segundos com a sobrancelha arqueada, parecendo cogitar se deveria ou não a deixar entrar. Por fim acabou lhe dando passagem, permitindo que entrasse na casa, a conduzindo para um cômodo anexo, e antes de sair, acabou falando:

-Irei comunicar ao senhor Colin que a senhorita... - ele pausou, esperando que se apresentasse.

-Audrey.

- Senhorita Audrey...? - inqueriu esperando para que ela dissesse o nome completo.

-Apenas Audrey - falou sem jeito, vendo o desagrado surgir no rosto do mordomo que apenas assentiu sem muito entusiasmo, a deixando sozinha.

A sala de espera era belamente decorada e confortável, com móveis caros e tecidos da mais fina alfaiataria, que a fazia se sentir ainda mais pequena. Mas, sabia que não podia se deixar abalar. Não estava ali para chamar a atenção de ninguém, tinha ido ali apenas para ver seu amigo, e era por esse motivo que ainda não tinha desistido e ido embora.

- Senhorita Green. O que faz aqui a esse horário, e sozinha? - uma voz grave e imponente se fez presente, a sobressaltando de imediato.

Se virou apressadamente para a entrada, vendo parado, de forma muito elegante, o patriarca daquela família.

- Duque Wallace - murmurou envergonhada. Se sentia como se tivesse sido pega no flagra após fazer alguma malcriação.

-O que a trouxe até aqui? - inqueriu sério, a fitando profundamente.

-Eu... eu... - gaguejou, não conseguindo encontrar palavras.

Se sentiu tão patética. Era ridículo se sentir assim, sabia disso, mas não conseguia se impor na sua presença.

-Audrey? O que faz aqui, querida? Veio visitar meu sobrinho? - uma segunda pessoa surgiu em seu campo de visão.

Uma bela e sorridente mulher, com um lindo vestido branco de tecidos grossos, com mangas longas, e sua saia volumosa se estendia até abaixo dos joelhos. As luvas eram douradas, do mesmo modo que os detalhes minunciosamente encrustados na saia de seu delicado vestido. Mesmo com tantas peças de roupas por cima, o espartilho usado embaixo do vestido deixava sua cintura demasiadamente fina bem evidente. Botões dourados estão dispostos enfileiradamente na frente do vestido, desde o pescoço, até a cintura. Em torno de seu pescoço, nas extremidades do vestido, diversos pelos brancos protegiam o colo dos ventos frios.

Mostrando sua alta classe, seus longos cabeços negros estavam enfeitados com uma pequena presilha de ouro, que segurava duas finas mechas atrás da cabeça, fazendo com que as madeixas caissem graciosamente por seus ombros, emoldurando o rosto bronzeado e jovial que deixava claro suas origens estrangeiras.

- Duquesa Wallace - murmurou encantada com a beleza da mais velha que se aproximou rapidamente, a abraçando com carinho, a deixando desconcertada no mesmo instante.

-Por favor, me chame de Naome - disse cúmplice, dando uma leve piscadela, logo voltando a falar. - Fico feliz por ter vindo nos visitar. Sempre perguntei a Colin quando você viria aqui em casa - desatou a tagarelar, por enquanto que acariciava seus braços com doçura. - Antes tarde do que nunca. Veio o ver, não é mesmo? - inqueriu brincalhona.

-Sim senhora - confessou sentindo as bochechas esquentarem de vergonha.

-Que bom! Fico feliz em saber. E sua mãe? Como ela está? Vejo que não veio com você.

-Ela está bem, obrigada por perguntar - disse um pouco mais aliviada pela mudança de assunto. - Minha mãe não pôde me acompanhar, e, infelizmente, tive que vir sozinha. Espero que não seja um problema.

-De forma alguma. Estou muito feliz. É uma pena que estou de saída, ou faria questão de os fazer companhia.

-Agradeço a gentileza.

Se sentia muito mais tranquila agora. Era incrível como a senhora Wallace era cheia de vida e jovialidade, a enchendo de serenidade.

Sorriu agradecida com a delicadeza das palavras, se sentindo mais acolhida.

Acabou desviando o olhar novamente para entrada, logo vendo o motivo de sua visita entrar no seu campo de visão, devidamente vestido com uma elegante roupa de viagem e um sorriso de satisfação estampado na face, a fazendo sentir comichões na barriga. Mas logo a sensação mudou, e o estômago se embrulhou ao se lembrar do motivo da visita.

-Audrey. O que faz aqui? - ele inqueriu animado, chamando a atenção de imediato para si.

-Como assim, Colin? A cumprimente direito. Não foi essa a educação que lhe dei - a mais velha disse severa, o repreendendo de imediato.

-Desculpe tia - ele tratou de se corrigir, curvando o tronco para a frente em um cumprimento cordial e cavalheiresco, por enquanto que segurava em uma de suas mãos e a beijava com respeito.

-Bem melhor - a duquesa tratou de falar, satisfeita com o resultado.

-Fiquei muito feliz quando soube da visita - ele comentou no seu costumeiro tom de descaso que tanto conhecia e amava.

-Espero que não esteja atrapalhando - comentou fingindo ingenuidade, que o fez sorrir de imediato.

-De forma alguma - sussurrou cortês, logo voltando para os mais velhos, continuando a falar. - Tio, tia, fico muito feliz por terem sido gentis e feito companhia para minha amiga até que eu chegasse. Mas, sei que os senhores estavam de saída. Não quero que se atrasem por minha causa.

-Querido, não precisa agradecer. Foi uma honra. Mas, você tem razão, estávamos de saída, não é mesmo, meu amor? - Naome cantarolou feliz se aproximando do seu marido que nada mais tinha dito até aquele momento, estando parado no mesmo lugar como uma estátua.

-Sim, é claro. Estávamos de saída - ele falou ainda muito sério, segurando com um pouco mais de força a bengala que usava como apoio.

-Bem, estávamos indo. Mas, querido, não se esqueça que deve estar na estação às duas horas. Não se atrase, ou vai perder o trem - ela o avisou um pouco mais séria e centrada.

-Não se preocupem. Estarei lá neste exato horário.

-Ótimo. Nos vemos lá, então. Tchau minha querida Audrey, até mais. Vamos amor - ela completou segurando no braço do marido e o arrastando para fora, que apenas a seguiu sem nada falar.

Ambos ficaram quietos, a olhar um para o outro por alguns instantes. Mas, quando Colin percebeu que não seriam mais interrompidos, ele apenas sorriu de canto, a segurando pelo pulso sem nada falar, a arrastou para fora da sala.

Se surpreendeu com o gesto repentino, mas nada disse, se deixando levar por entre extensos corredores, até chegar aos fundos da casa.

Apenas o seguia, tensa com o silêncio que os rondava. Odiava isso, preferia quando estavam a falar, jogando conversa fora ou a tentar irritar um ao outro. Mas, ficou quieta, curiosa para saber onde ele estava a levando.

Não demorou muito para descobrir. Logo viu grandes portas de vidro de folha dupla sendo empurradas, sentindo de imediato a brisa suave e fria a atingir sua pele quando saíram da casa, se vendo no meio de um imponente jardim.

Seus olhos se arregalaram com a beleza que os inundaram. Era a coisa mais bela que já vira, e nem estavam na primavera. Não havia nenhuma flor, apenas folhas secas e neves amontoadas em todas as direções, mas, ainda era deslumbrante.

-Que lugar incrível - balbuciou maravilhada, se perguntando como deveria ser na primavera. Com toda a certeza era algo espetacular.

-Gostou? - Colin inqueriu feliz, parando de andar a olhando nos olhos com intensidade.

-Sim. É muito belo!

-Sabia que iria gostar - sorriu satisfeito, logo completando. - Me desculpe por tudo aquilo. Se soubesse que viria, com toda a certeza teria evitado que encontrasse meus tios.

-Não, está tudo bem. Não se preocupe.

-Tem certeza? Quando entrei naquela sala, você me parecia um cordeiro encurralado por leões.

-Não exagere. Eu estava me saindo muito bem, obrigada - retrucou não gostando muito da comparação, cruzando os braços à frente do corpo, fingindo indignação.

-Não foi o que parecia - continuou a falar sorrindo, na tentativa de irritá-la.

-Pare já com isso! Não vim aqui para que zombe de minha pessoa.

-Tem razão, me desculpe. Mas, estou muito surpreso com sua presença. Nunca poderia imaginar que viesse me visitar, já que sei de sua vergonha a entrar nesta casa.

-Não se trata de vergonha. É só que nunca achei que precisasse vir até aqui - tentou argumentar, não querendo demonstrar o constrangimento que sentia por estar ali.

-Ok. Vou fingir que acredito.

-Não ouse falar mais nada - advertiu levantando o dedo, mandona.

Tal gesto apenas o fez abrir ainda mais o sorriso, parecendo satisfeito consigo.

-Tudo bem. Mas, confesso que estou muito surpreso. A esperava na estação de trem.

-Bem, pois era o que pretendia. Mas, parecia que as horas não passavam e resolvi arriscar vir até aqui. Até porque, não estou com muita vontade de ir até a estação - revelou desviando o olhar, torcendo para que não percebesse que ela não queria vê-lo partindo. - Isso é algo que deve ser reservado apenas a seus familiares.

Esperou o ouvir reclamar, e dizer que o que ela falava era bobagem, mas, ao invés disso, ele apenas gargalhou, achando graça do comentário.

Se sentiu ultrajada, estando prestes a abrir a boca para o xingar, quando o sentiu se aproximando, a abraçando com intensidade, quase a esmagando entre seus braços fortes.

Ficou surpresa no primeiro instante, mas logo se deixou levar, retribuindo o abraço calorosamente, sentindo o calor de seu corpo contra o seu e de sua bela fragrância. Era um abraço carregado de ternura e carinho. Sentiu seu coração derreter no mesmo instante e os olhos se encherem de lágrimas ao se lembrar que não teria mais aqueles abraços por um bom tempo.

Parecendo sentir seu estado de espírito, Colin a apertou um pouco mais, levantando-a, a fazendo gritar de susto, pedindo que a colocasse de volta no chão.

Ele acatou o pedido, também se afastando, a olhando com afeto. Tal olhar a deixou de pernas bambas, com o estômago a revirar, mas nada disse, apenas se afastou, corada de vergonha.

-Não deveria fazer isso - ralhou em uma voz falha, que logo ganhou mais intensidade e coragem. - Imagina se alguém visse!? Você sabe como as pessoas são. Cheias de etiquetas e pensamentos errados. Se alguém visse isso, poderia até mesmo nos obrigar a se casar apenas porque estamos nos abraçando.

-E isso seria tão ruim? - ele inqueriu de supetão, achando graça da situação. - Você não se casaria comigo, Audrey? - terminou de perguntar um pouco mais sério, a olhando com intensidade, em busca de uma resposta.

Perdeu a voz, ficando completamente sem reação. Estando nervosa com as palavras do mais velho.

Ele só estava brincando, certo?

Balançou a cabeça para clarear as ideias. É claro que era somente uma brincadeira, nada mais do que isso.

-Eu... eu só tenho 15 anos e não pretendo me casar tão nova. E você acabou de completar 19 anos, Colin, e está indo para a faculdade agora. Não é um bom momento para que algo assim aconteça. Até porque, pretendo me tornar professora, como você mesmo já sabe. Não temos tempo para isso - conseguiu falar, apesar do embaraço inicial.

-Tem razão! - o moreno falou após alguns segundos em silêncio a encarando, logo começando a rir, completou. - Quem sabe no futuro.

Ficou novamente perdida com as últimas palavras, mas tratou de tirá-las da cabeça. Com toda a certeza era mais uma de suas brincadeiras. Colin adorava brincar com assuntos sérios.

Engolindo em seco começou a olhar a sua volta, dando alguns passos para poder ver melhor a bela paisagem, logo voltando a falar, na tentativa de mudar o assunto:

-Como está se sentindo com essa nova aventura? - inqueriu pensativa, o olhando com um pouco mais de serenidade. - Você está indo para Londres para começar os estudos. Vai conhecer novos lugares, novas pessoas. Tudo novo. Como se sente?

-Estaria mentindo se dissesse qualquer outra coisa que não fosse nervoso. Mas, estou, ao mesmo tempo, me sentindo ansioso. Não vejo a hora de tudo isso acontecer.

-Bem, pelo menos espero que não se esqueça das pessoas que está deixando para trás - comentou sentindo uma leve pontada no peito, com o medo que sentia de o perder.

Ele nada disse, apenas sorrindo, deixando uma fumaça branca escapar por entre seus lábios.

Se adiantando, segurou com afeto em sua mão, entrelaçando seus dedos com carinho. E depois de um breve olhar terno, Colin começou a andar, a levando novamente consigo.

Quis inquerir o que tudo aquilo significava, mas ele logo tratou de explicar:

-Algo assim seria impossível. Mesmo quando eu estiver lá, meus pensamentos sempre estarão aqui!

Não precisou de mais nada. Era tudo o que precisava ouvir. Se sentiu completa e muito feliz, começando a sorrir de satisfação.

Acabaram ficando em silêncio, apenas a andar vagorosamente pelos estreitos caminhos de pedra do jardim, até se afastarem consideravelmente da mansão.

Árvores altas e frondosas começaram a surgir ao redor, os protegendo do vento frio que começava a ficar mais forte. Olhando para trás, Audrey percebeu que eles tinham se afastado consideravelmente da casa, que praticamente tinha sumido do seu campo de visão. Sabia que poderia ir embora sem precisar voltar novamente para aquela casa.

Mais uns passos à frente, uma rajada de vento os atingiu, jogando seu xale para trás, descobrindo o colo que estava exposto, a deixando enregelada no mesmo instante.

Olhou para cima, para o céu cinzento, notando pequenos flocos de neve a cair rodopiante em sua direção. Sorriu largamente com tal visão, esticando sua mão livre para cima, na tentativa de sentir a maravilhosa sensação da neve a derreter contra sua pele quente.

-Está nevando! - comentou sonhadora, sorrindo feliz para Colin, que concordou tão animado quanto ela.

-Isso me fez lembrar do dia que nos conhecemos. Você lembra daquele dia? Como tinha nevado tanto... - comentou sonhador, olhando com admiração para o céu.

-Sim, eu me lembro - falou, se recordando com perfeição daquele dia, hà tantos anos.

· Oxfordshire, 1817

Em meio a neve acumulada no chão do parque, Audrey observava suas irmãs conversando com as amigas, todas sentadas em um pano estirado no chão, decorando suas bonecas com vestidos e laços.

Se sentia entristecida.

Queria correr, brincar, atirar bolas de neve. Mas seus pais diziam que esse não era o comportamento ideal para uma dama. Mas, não desistia de sonhar. Imaginava um dia que poderia brincar do jeito que gostaria.

Infelizmente, suas amigas sempre desaprovavam suas ideias e a ignoravam.

Imaginava um dia onde não precisaria se preocupar em sujar os vestidos pomposos que sua mãe lhe colocava. Detestava aqueles vestidos, mas era obrigada a vesti-los, mesmo que fossem desconfortáveis e a atrapalhassem a brincar do jeito que queria.

Queria que alguém pelo menos a escutasse, alguém para passar o tempo...

●Oxfordshire, 1824

-Me lembro daquele dia como se tivesse acontecido hoje mesmo - Colin comentou, a trazendo de volta a realidade.

-Sim. Estava nevando como hoje, e as ruas estavam repletas de neve.

-Sim. Eu tinha acabado de chegar e estava maravilhado com tanta brancura - ele comentou, olhando atentamente para o céu, parecendo se recordar com precisão do passado.

· Oxfordshire, 1817

Colin estava passeando pelo parque com seu pai e tio, fascinado com toda aquela neve que o rodeava e, principalmente, com todas aquelas pessoas que não conhecia.

Estava fascinado com a viagem que realizava com seu pai, que, pela primeira vez, tinha decidido levar o filho para uma de suas aventuras. Apesar de já ter 12 anos, não conseguia disfarçar toda a euforia.

Olhava tudo a sua volta com muita atenção, quando reparou em um pequeno ser sozinho em meio a imensidão branca que se estendia no chão.

Enquanto seu pai estava a dialogar com um conhecido que encontrara no caminho, conseguiu se afastar dos mais velhos, se esgueirando pelas árvores, até conseguir ver com nitidez a menina, que estava bem afastada da roda de garotas.

Não soube o porquê, mas seus pés o levaram de encontro a morena que chamou sua atenção. Ela parecia pensativa, não percebendo sua aproximação.

Estava a observar suas feições mais de perto, quando, por acidente, acabou pisando em um galho e, com o barulho, acabou atraindo a atenção da pequena. Uma sensação estranha percorreu seu rosto, estava esquentando gradativamente em suas bochechas.

Estou corando? Mas por quê?

A menina lhe sorriu simpática, achando graça do seu estado. Com uma feição alegre, resolveu começar um diálogo:

-Olá, você é novo no condado? Seus olhos são diferentes, parecem duas luas! Nunca te vi por aqui... - quando se preparou para respondê-la, ela tornou a tagarelar, sem o dar chances de falar. - Se bem que faz um bom tempo que não venho com minhas irmãs para cá. Prefiro ficar quentinha em casa do que vir e não poder brincar como quero. Bonecas são sem graça - falou emburrada, fazendo um belo bico de indignação. - Não gosto de vestidos pomposos, esteja eles em mim ou em bonecas. A propósito, qual é o seu nome? Eu me chamo Audrey! - disse apressada, o olhando com aquelas grandes íris em um tom mel.

-Me chamo Colin Wallace. Vejo que a senhorita está sozinha aqui. E, acredito que deveria estar com aquele grupo de meninas. Posso perguntar o porquê do afastamento?

-Ora, mas já disse o porquê. Detesto brincar de bonecas e é a única coisa que elas fazem. Nem ao menos para correr um pouco ou jogar um pouco de bola de neve. É muito chato - voltou a falar chateada, ficando emburrada.

-E porque não gosta das bonecas? - perguntou curioso, já que para ele, garotas sempre gostavam de bonecas.

-Porque não me divirto nada com elas. Como já disse, prefiro correr, pular, e me esconder entre o mato. Mas, ninguém faz isso.

-Como não? Pelo o que posso ver, aqueles meninos estão brincando de correr - falou apontando para um grupo de garotos que corriam alegremente envolta das árvores.

-Sim. Mas eles não deixam que eu brinque com eles. Falam que sou uma menina e que só iria atrapalhar. Uma idiotice, ao meu ver - bufou indignada.

-Pois, tem toda a razão. Tenho certeza que você deve correr mais rápido do que todos eles juntos. Vai ver que foi por este motivo que não deixaram, pois sabiam que iriam perder - comentou na tentativa de acalmá-la.

Não achava certo uma menina como ela ficar tão sozinha, sendo que poderia estar com os amigos.

-Você acha? -

-Com toda a certeza. Só estão com medo. Confie em mim, sei o que estou dizendo. A propósito, você gostaria de brincar? - perguntou mais animado, vendo seus olhos brilharem de imediato de animação.

- Sim! - falou aos berros se levantando rapidamente, deixando cair algo no chão, que acabou por chamar a atenção do pequeno Wallace.

-O que é isso? - o garoto inqueriu, o pegando, reconhecendo de imediato se tratar de um livro.

-Estava tentando ler para me distrair um pouco. Se não posso brincar, pelo menos posso ler.

-Ler? Quantos anos você tem? - inqueriu novamente surpreso com a descoberta. Ela era muito pequena para saber ler, ou era o que aparentava.

-Tenho oito anos, por que?

-Oito anos e sabe ler?! - perguntou ainda mais surpreso.

-Claro. Porquê da surpresa? Você não sabia ler com essa idade não?

-Bem, saber eu sabia, mas nunca que pegaria um livro para ler. Preferia fazer outras coisas como ficar correndo pelos campos atrás dos empregados da casa.

-Pois, como não tenho para onde correr, fico a ler um livro. Não me julgue por isso - falou desafiadora, o tomando o livro da mão.

-Não estou julgando, pelo contrário, estou admirado. Você é realmente muito surpreendente e interessante, Audrey.

-Não sei se posso dizer o mesmo de você.

-E ainda por cima é sincera. Gosto de você. Acho que vamos nos dar bem.

-Por que acha isso?

-Porque gosto de pessoas que são exatamente como você.

A pequena o olhou desconfiada por alguns instantes, logo deixando um largo sorriso transparecer na face, o contagiando com a felicidade.

-E então? Nós não íamos brincar?

· Oxfordshire, 1824

-Naquele dia tinha nevado muito - Audrey falou, o trazendo de volta à realidade, que acabou por concordar com sua observação.

-Me lembro perfeitamente bem, porque tinha acabado de chegar à cidade. Quando fui embora, pensei que demoraria a voltar, ou, até mesmo, que nunca mais voltaria. Quem diria que dali um mês voltaria para cá para morar com meus tios. Na segunda vez, os sentimentos foram bem diferentes da primeira. Me lembro com perfeição do medo e da agonia do desconhecido me invadindo. Só não foi pior porque acabei me lembrando que tinha a conhecido, e pensei que nem tudo seria ruim, porque, pelo menos, eu tinha uma amiga nesse lugar desconhecido.

-Eu sei que foram momentos difíceis para você. Fico feliz em saber que pude o proporcionar um pouco de conforto.

-Está brincando? Você me fez sentir acolhido e querido. Até hoje agradeço a Deus por ser tão curioso, por ter ido até o seu encontro naquele dia. Pois, foi a partir daquele momento que nossa amizade surgiu.

-Bem, você não foi o único que foi salvo naquele dia - Audrey comentou, começando a se recordar de um outro momento de sua vida.

· Oxfordshire, 1822

Estava atenta. Sua audição aguçada e com os olhos vasculhando a paisagem à procura de seu alvo.

Quando visualizou as madeixas castanhas esvoaçando por trás da árvore, atirou a bola de neve que acertou em cheio na nuca de seu "adversário".

-Sua mira está ainda melhor do que quando nos encontramos pela última vez. Andou treinando escondido, senhorita Green? - Colin falou arqueando a sobrancelha, por enquanto que se aproximava sorrateiramente.

-Você que está mais lento, foi fácil encontrá-lo! - com um sorriso no rosto, modelava mais uma bola em suas mãos geladas, que estavam desprovidas de luvas.

Sabendo que sua amiga iria lançar mais neve em seus cabelos, correu na direção da morena para impedir o próximo lançamento, mas acabou assustando-a, levando os dois amigos ao chão.

Gargalhadas sucederam a queda na neve.

-Tudo bem, chega de neve - em meio a risadas, Audrey colocou um fim na pequena diversão que ambos estavam desfrutando.

-Concordo, estou com água congelada até na orelha! Você é uma boa lançadora, pequena - comentou, apoiando o cotovelo no chão para poder observar a amiga deitada ao seu lado.

-Não me chame de pequena, sabes muito bem que não gosto deste apelido.

-Mas você é pequena e mais nova que eu, estou dizendo apenas a verdade - Colin argumentou, vendo o rosto da morena se avermelhar de raiva. - Tudo bem, falaremos de outro assunto - ele falou colocando uma mecha do cabelo da amiga para trás de sua orelha, a deixando rubra, mas agora de vergonha.

Audrey engoliu em seco com o contato íntimo, tentando se levantar. Colin, notando isso, acaba se afastando e a ajudando, segurando em suas mãos para levantá-la. Ele, ainda continuava a falar:

-Da última vez você acabou comentando que estava decidindo que queria ser professora. Conseguiu chegar a uma conclusão? Vai fazer o curso?

-Sim, estive pensando sobre o assunto.

-E o que decidiu?

-Bem, ainda tenho algumas questões a pensar, mas, o que eu tenho certeza mesmo é de que quero ajudar as pessoas. Quero transmitir o conhecimento para tantas crianças quanto eu puder. Acredito que todos têm o direito de poder pegar um livro para ler ou escrever alguma carta, saber fazer uma conta ou estudar sobre o mundo a nossa volta. Todos têm o direito a uma educação, independentemente de sua condição social. Eu amo ler e escrever, e acredito que todo mundo deveria ter essa mesma oportunidade. Meu sonho é ensinar outras pessoas. É o que eu quero. Não consigo pensar em mais nada além disso - falava sonhadora olhando para o céu escuro.

-Se esse é o seu maior desejo, então vá atrás dele. Se torne professora e transmita todo o conhecimento que tiver para tantas crianças quanto for possível. - ele falou sonhador. - Siga os seus sonhos.

-Obrigada - sussurrou envergonhada.

-Bem, mas você vai ter que sair da cidade para estudar - ele começou a falar, segurando em sua mão e a levando para que se sentassem em um banco de madeira, para que pudessem conversar melhor.

-Isso é verdade. Meus pais não vão gostar muito da ideia. Mas, darei um jeito de conseguir os convencer a deixar.

-Sei que vai. Mas, o que acontece se você for para outra cidade, ou eu também vá para longe para poder estudar? - o moreno inqueriu mais sério, a olhando em expectativa.

-Não vai ser para sempre e, de qualquer forma, podemos nos comunicar através de cartas.

-Promete? Que se, por algum motivo, nos separarmos, iremos manter contato por cartas?

-Claro, é uma promessa! - confirmou sorridente, mostrando o seu dedo mindinho levantado para que ele entrelaçasse seu dedo ao dela em um gesto de comprometimento.

-Colin! - uma voz mais grave se fez presente, chamando a atenção de ambos para o outro lado.

Audrey viu de imediato Brandan Wallace se aproximando vagarosamente por entre os montes de neve. Ele não parecia estar muito feliz.

-Sim, tio? - Colin se prontificou a responder, se levantando em respeito.

Seguiu seu gesto, ficando parada atrás de si, apenas os observando.

-Já está ficando tarde, vá para casa.

-Estava apenas conversando.

-Sei. Você não tem mais idade para ficar brincando ou conversando com crianças.

-Sim, senhor - ele respondeu visivelmente amargurado com a reprimenda do mais velho, abaixando a cabeça, aceitando. - Já estou indo - ele murmurou para si, olhando logo em seguida com desagrado na direção do mais velho.

Nada disse, os vendo se afastar gradativamente, a deixando sozinha. Ficou chateada com toda a situação, e muito incomodada com as palavras do senhor Wallace.

Perdeu o ânimo de ir embora para casa, voltando a se sentar no mesmo lugar, por enquanto que o via se afastando cada vez mais.

· Oxfordshire, 1824

Balançou a cabeça, voltando para a realidade. Se recordava com perfeição daquele dia e de como ficou sentada no mesmo lugar por horas, até a noite cair. Sua mãe ficou muito brava com ela e, qual não foi seu azar, quando contraiu um forte resfriado que a deixou acamada por três dias.

Durante todo aquele tempo ficou esperando pela visita do amigo, que nunca aconteceu.

Ficou muito chateada com o descaso, achando estranho tal atitude. Com toda a certeza, algo deveria ter acontecido.

Quis o questionar sobre o ocorrido, mas o tempo passou e acabou se esquecendo, até porque, sua amizade continuou a mesma de sempre e acabou por perder a coragem, deixando passar.

Quase o inqueriu naquele exato momento sobre o ocorrido, mas logo tirou a ideia da cabeça. Já fazia tanto tempo e não tinha mais importância. Ficara muito triste na época, mas o tempo passou . E, ao invés de falar sobre esse assunto, acabou o lembrando de outro:

-Acabei de me lembrar que um dia nós fizemos um trato de que sempre escreveríamos um para o outro quando estivéssemos longe. Por isso, pode ter certeza que sempre vou lhe enviar cartas. E, espero que faça o mesmo - terminou de falar de forma mais ameaçadora o lançando um olhar de esguelha intimidador.

Colin fechou a expressão, colocando a mão sob o queixo, fingindo pensar no assunto, a deixando nervosa com a demora da resposta. Mas, ele logo começou a rir de suas expressões, falando rapidamente:

-Mas, isso é óbvio. Me lembro muito bem da promessa e pretendo cumprir. A senhorita querendo ou não.

-Acho bom mesmo - comentou mais aliviada.

Voltaram a andar, admirando a bela paisagem de tom lúgubre a sua volta. Mas não demorou muito para o amigo revirar o bolso, pegando o relógio, fazendo uma expressão de desagrado.

-Está quase na hora de partir.

Mesmo já sabendo do que se tratava, teve esperanças de que fosse outra coisa. Ficou triste de imediato, sentindo o peito se apertar com a dor da separação eminente. Sabia que era inevitável, que a hora da partida chegaria.

Entretanto, isso não significa que ela não sentiria nada com a separação. Mas, tinha que se manter firme, até porque era por um bom motivo. Por isso, tinha que tentar parecer animada e feliz com a nova jornada do amigo e com suas futuras conquistas.

-Estou muito feliz por você. O ver indo estudar só me faz pensar no dia em que eu mesma irei fazer meu curso.

-Agora não vai demorar tanto. Logo estará partindo também.

Maneou a cabeça em concordância.

-Pretende voltar com frequência para casa?

-Sempre que der. Prometo - o moreno murmurou dando uma leve piscadela cúmplice.

Não aguentando mais, se jogou em seus braços, o apertando com força entre seus braços mirrados, tentando guardar em sua memória como era a sensação de tê-lo tão perto.

-Tenha uma ótima viagem - desejou sinceramente, se afastando. - E, espero que me escreva assim que chegar à capital. Quero que me conte tudo sobre a viagem e a cidade.

-Pode ter certeza. Não pouparei detalhes - concordou cordialmente.

-Assim espero.

-Até logo, pequena - falou docemente, soltando com delicadeza suas mãos, dando as costas começou a se afastar, sem olhar para trás.

Engoliu em seco, se sentindo deprimida de imediato. Não tinha forças para se afastar, acabando por se sentar no chão, escorada a um tronco. Se abraçou na tentativa dupla de se esquentar e se acalmar, por enquanto que o via ficar cada vez mais distante e inalcançável.

Naquele momento se sentia a pessoa mais solitária do mundo.

· Oxfordshire, 1830

Sentiu como se estivesse perdendo o ar, abrindo os olhos assustada, tentando recuperar o fôlego.

Olhou assustada a sua volta, percebendo que estava escuro.

Sua respiração descompassada, logo começou a se normalizar, por enquanto que reconhecia o ambiente a sua volta. Não demorou para recordar que estava deitada em uma cama e que ainda era noite.

Não reconheceu o cômodo de imediato, mas logo as lembranças voltaram a sua cabeça, a fazendo lembrar que estava passando um final de semana no campo, na casa dos Roberts.

Logo a lembranças do dia anterior surgiram, a fazendo recordar que o Wallace a prendera no escritório para procurar a prima em meio à chuva. Uma empregada ouviu seus gritos de socorro e se apressou a abrir a porta, a fim de libertá-la.

Desistiu da ideia de ir atrás de Colin quando percebeu a chuva torrencial que caia, tornando quase impossível cavalgar na tempestade.

Em seu âmago, começou a se preocupar com o moreno que se aventurou em busca de Davina, mas tratou de dispersar tais pensamentos quando se lembrou da atrocidade que ele cometera ao trancá-la naquele escritório por horas.

Ele iria se arrepender de tal feito, já que o mesmo nem sequer pensou em pedir desculpas por isso.

Mas, sobre a vingança, Audrey pensaria depois. Ainda estava confusa sobre o porquê de as lembranças aparecerem no seu sonho, apesar de que tinha ido dormir pensando em Colin, com raiva e mágoa das atitudes do mesmo.

Então, por qual motivo ela se lembrou de bons momentos que passaram juntos, há tantos anos?

Se acalmou ao ouvir a respiração mais profunda das irmãs nas camas a sua volta, a lembrando que estava bem acordada e no presente.

Se virou de lado, encostando a face no travesseiro macio de penas, encolhendo seu corpo o máximo que podia na tentativa de se esquentar.

As lembranças do sonho começaram a invadir sua mente, a deixando atordoada.

Tudo aquilo não passara de um sonho. Mas, tinha sido um sonho tão vívido do passado, que ainda sentia o arrepio no corpo do vento gelado que atingia sua pele desnuda.

Nunca antes algo assim tinha acontecido. E isso a atormentava. Parecia que ultimamente ela estava a recordar com muita frequência de seu passado com aquele homem.

Sentiu seu coração se apertando e um forte angústia a preenchê-la com todas aquelas lembranças. Era tão estranho pensar que, há seis anos, eles eram tão próximos ao ponto de ficar triste e depressiva com sua partida.

Mas, na época ela não podia imaginar que aquela seria a última vez o veria como um amigo de verdade, e isso acabou a deixando comovida.

Sentiu o gosto amargo subir à garganta e lágrimas preencherem seus olhos, as amaldiçoando. Há muito tempo tinha jurado a si mesma que nunca mais choraria por ele e agora falhava na promessa.

Aquilo era tão injusto!

Aquele sonho... Todas aquelas lembranças apenas serviram para fazer com que o odiasse ainda mais. Porque aquelas memórias a fazia lembrar que houve um tempo que Colin era seu melhor amigo, a sua pessoa. Mas, agora tinha se tornado um completo desconhecido.

Com lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto, em meio à madrugada fria, Audrey adormeceu novamente.

Personagens:

● Naome Wallace

● Brandan Wallace

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