Capítulo 2
3100palavras
Desceu da condução entrando apressadamente em casa para não se molhar, sendo seguida pelas irmãs que resmungavam com o medo de estragar as roupas.
Na sala foram recepcionas por Jennifer, que lhes lançou um olhar de reprovação por estarem molhando seu precioso carpete, mas nada disse, pois havia outra pessoa a acompanhando.
- Charlie...
Escutou Celine falar assustada, se aproximando apressadamente do rapaz que se levantava para cumprimentá-las.
Conhecia muito bem o rapaz, já que frequentava aquela casa desde criança, sempre vindo para brincar. Ele possuía uma feição muito bonita, com cabelos e olhos negros e pele pálida. Vestia um terno preto e calças beges, com botas pretas até a altura do joelho.
- Celine, meninas - ele as cumprimentou de forma bastante educada, apesar de não dispensar mais de dois olhares para elas, tendo apenas a mais nova em seu campo de visão.
- O que faz aqui? - Celine perguntou nervosa, olhando de soslaio para mãe, que os encarava com intensidade.
- Vim visitá-las, mas descobri que tinham saído.
- Sim, fomos fazer compras.
- Disse ao rapaz que poderia esperar se quisesse.
- Sim, e foi o que fiz. Mas, agora está ficando tarde e o dia já escureceu. Acho melhor ir embora e voltar outra hora.
- Não, fique. O jantar já deve estar quase na hora de ser servido, fique e nos faça companhia.
- Agradeço o convite, muito generoso de sua parte, minha cara amiga. Mas, prometi a minha mãe que não iria demorar muito. Espero que não se incomode.
- De forma alguma.
- Fico feliz em saber. De qualquer forma, vê-la já foi o suficiente.
Reparou de imediato na vermelhidão que surgiu na face da irmã, que ficou sem palavras com o comentário.
Olhou de relance para a mãe, que estava a olhar atentamente a cena.
Quem olhasse de fora pensaria que Dona Jennifer estaria desaprovando cada segundo daquele encontro, devido a seu olhar sério e atento, e a expressão facial de desagrado.
Sua semelhança com Celine era intragável, os cabelos dourados lhe davam uma aparência meiga e delicada, totalmente diferente de sua personalidade geniosa e explosiva.
Mas a conhecendo como conhecia, sabia muito bem que já deveria estar planejando qual seria o jantar servido na noite do casamento deles.
Sorriu com tal pensamento. A mãe, com seu corpo esguio de pele clara, queria ver com seus lindos olhos esmeraldas suas meninas se casando uma por uma, esse era um dos maiores desejos dela e não hesitaria em fazer de tudo para que isso acontecesse.
- Espero que volte outro dia para passar mais tempo conosco - Jennifer falou serenamente, ao socorro da filha que tinha perdido as palavras.
- Com certeza que virei. É só marcar o dia.
- Pois, providenciarei isso.
- Bem, preciso me retirar agora - ele disse novamente, começando a se despedir.
Mas logo a atenção de todos foi chamada para a entrada, onde um senhor bem vestido, com sua face em desagrado pousou seus olhos azuis celeste sobre o visitante, parecendo não gostar do que via.
Henry passou a mão nos fios loiros, claramente incomodado com a visita do Lancaster para ver sua amada filha. Seu corpo alto e robusto se tensionou ao ver o rosto corado de Celine, não gostando do que via.
- Charlie - ele falou simplesmente estendendo a mão para cumprimentar.
- Senhor Green. É um prazer encontrá-lo.
- É claro. Não acha que está tarde para uma visita? - ele perguntou seriamente.
- Sim, e por isso mesmo ele estava de saída, não é mesmo meu rapaz? - a mais velha falou novamente, retribuindo o olhar inquisidor do marido.
- Sim senhora - o jovem falou receoso, não tendo muita certeza do que falava.
- Celine, seja educada, demonstre toda a cortesia dos Greens, e o acompanhe até a porta - a matriarca continuou a falar, agora ignorando completamente o olhar reprovador do marido.
- Claro - a outra disse perdida, logo depois se afastando para a saída, sendo acompanhada pelo rapaz.
O clima ficou tenso no pequeno cômodo, e Audrey não entendia muito bem o que acontecia, mas tinha quase certeza que logo saberia. Até porque, tinha uma leve ideia do que se tratava.
Sabia muito bem que Celine e Charlie vinham nutrindo um romance há anos, desde quando ainda eram bem jovens. Isso não era um segredo para ninguém, já que toda a cidade e as redondezas sabiam disso. E, achava estranho seu pai estar agindo daquela maneira, já que isso não era novidade alguma para ele.
Olhou para Vivien a procura de respostas, mas a loira parecia tão desentendida quanto ela mesma. Voltou a olhar para mãe, que o retribuiu.
Percebeu que a mais velha sabia de algo, mas não estava disposta a falar naquele momento e querendo respostas, tratou de falar:
- O que foi tudo isso?
Todos a olharam, mas foi a mãe quem respondeu:
- Mais tarde conversamos. Agora, acho melhor as duas subirem e tomar um banho para se refrescarem. Logo o jantar ficará pronto e não quero atrasos.
Pensou em perguntar novamente, mas sabia que quando Jennifer dizia uma coisa, era melhor tratar de fazer logo.
Apenas deu de ombros, seguindo um corredor lateral, que dava para uma escada que levava para o andar superior, onde ficavam os quartos. A mais nova a seguiu, mas preferiu ficar quieta, não querendo levantar suposições sem antes saber o que de fato estava acontecendo.
Entrou no quarto, que era simples mas bastante aconchegante. Por ser a mais velha o tinha somente para si, diferente das irmãs que tinham que dividir um outro.
O seu quarto tinha uma cama de casal com um enorme dossel, com um cortinado de tecido leve e esvoaçante da cor verde-água. Além disso, tinha um guarda-roupa de madeira preta, que preenchia toda a parede lateral direita. Do lado esquerdo tinha uma cômoda com seus apetrechos, joias, perfumes, pentes e espelho. A janela era bem larga, permitindo que visualizasse toda a rua a sua frente. Do outro lado, havia um biombo, onde se trocava e uma banheira de metal para tomar o banho.
Se aproximou, vendo que a água esfumaçava, indicando que a empregada tinha acabado de enchê-la.
Guardou seus materiais de estudo e esperou até outra empregada chegar e a ajudar com a roupa. Tomou um banho rápido, mas relaxante, logo depois sendo ajudada novamente para vestir um outro vestido, agora limpo e bem mais leve.
Sempre o vestia em casa, já que era bem mais fácil de tirar, e podia usar sua camisola por baixo. Ele era de um tecido bem leve e bege, com babado em toda a sua extensão, com mangas compridas de renda e sem nenhum rodado.
Desceu para a sala de jantar, onde os pais tinham acabado de se sentar na mesa de mogno de oito lugares com cadeiras de estofado na cor bege e diversas velas espalhadas por sobre a mesma e nos candelabros presos às paredes.
Não demorou para Vivien chegar, com um vestido semelhante ao seu. Celine demorou um pouco mais, e ainda estava com a mesma roupa de quando tinham chegado, indicando que somente naquele momento tinha voltado para dentro de casa.
Não se importou com isso, começando a comer a ceia que era servida pelos cozinheiros. Como sempre, a comida era maravilhosa e lhe dava água na boca, comendo tudo o que era posto em seu prato com vontade.
Mas, apesar do jantar estar sendo maravilhoso, o clima ainda permanecia pesado, sem que ninguém falasse uma palavra, como se tivessem medo de pronunciar algo.
Estava começando a se sentir incomodada e prestes a perguntar o que estava acontecendo, quando seu pai resolveu quebrar o silêncio, comunicando de forma séria e sucinta:
- Não gostei da visita desse rapaz a essa hora da noite, Celine. E muito menos que estava lá fora conversando com ele até agora.
Todos olharam de imediato para a jovem, que ficou rubra de vergonha, com os olhos arregalados, sem saber o que falar.
Ficou com pena da irmã, pensando em algo para poder ajudá-la, mas A mãe foi mais rápida:
- Pois eu não vi nada demais. São amigos e estavam apenas conversando.
- Mesmo assim, não gostei muito disso.
- Não entendo o porquê. O senhor saber que nós dois somos amigos e nos vemos regularmente e, até hoje nunca disse nada. Por que agora resolveu se intrometer? - Celine disse por fim, conseguindo encontrar as palavras que soaram ríspidas e ousadas.
- Não fale assim comigo, sou seu pai e exijo respeito.
- Sim senhor, do mesmo jeito que exijo uma satisfação por estar agindo dessa maneira com Charlie. Pensei que gostasse dele.
- E gosto. Mas, depois de algum tempo pensando, cheguei a uma conclusão.
- Que conclusão? - a mais nova disse exasperada, ficando aflita com o que poderia acontecer.
- Que chegou a hora de tomar providências com relação a vocês três.
Olhou de imediato para o pai ao perceber que estava sendo incluída na conversa, atenta em cada palavra. Vivien não estava tão diferente dela.
- Que providências? - a loira perguntou receosa.
- Resolvi que minhas filhas devem se casar o quanto antes. Mas, me parece que algumas delas tem mais relutância nesse assunto do que outras - ele falou serenamente a olhando com intensidade.
Percebeu de imediato que a filha em questão era ela mesma. Não estava gostando do rumo da conversa, ficando apreensiva.
- Por esse motivo, tomei algumas providências para que nenhuma de vocês fiquem desamparadas quando eu vir a morrer.
- O senhor vai morrer? - Vivien perguntou exasperada, ficando com medo de imediato.
- Todos nós iremos morrer um dia, minha filha. Mas, não se preocupe, não pretendo morrer por agora. Mas, pensando nesse assunto, acabei fazendo um testamento e registrei em cartório essa semana. E, ele deve ser seguido, ou nenhuma de vocês três irá receber o dote que lhes pertencem.
- O que? - foi a vez da mãe exclamar, deixando claro que não sabia de todos os detalhes. - Como assim retirar os dotes delas? São suas filhas, não pode fazer isso - falava revoltada, o olhando com severidade.
- Não disse que vou retirar os seus dotes, apenas disse que devem seguir as condições desse documento para conseguir obtê-lo.
- E podemos saber que condições são essas? - foi sua vez de perguntar, não entendendo onde seu pai queria chegar.
Não se importava com seu dote, pois, não pensava em casar, mas sabia que suas irmãs pensavam diferente e estava ansiosa por elas.
- A condição é de que vocês devem se casar, mas apenas por ordem de nascimento.
- O que? Como assim? - Celine perguntou perdida.
Ela não era a única, todas as mulheres o olhavam confusas. Ao perceber isso, ele voltou a falar explicando com maiores detalhes:
- Como acabei percebendo que minha filha mais nova tem mais chances de se casar mais rápido do que minha filha mais velha. Que pelo o que sei nem se quer tem um pretendente à vista - ele falou a olhando com intensidade, chamando a atenção de todos para cima de si, não a agradando em nada. - Por esse motivo, com medo de que você, meu bem, acabe ficando solteira e desamparada, resolvi fazer esse documento no qual vocês só vão poder se casar por ordem de nascimento. Ou seja, Audrey, obrigatoriamente terá que se a primeira de vocês a se casar, logo em seguida Vivien, e por último, Celine. Nada diferente disso.
- Você não pode fazer isso! - a mais nova falou novamente, ficando indignada. - Charlie pretende me pedir em casamento, e com isso devemos nos casar, no mais tardar, no verão do ano que vem.
- Bem, se é o que realmente pretende fazer, então, acho melhor você tratar de encontrar maridos para suas irmãs o mais rápido possível.
- Isso é ridículo, o senhor só pode estar louco - Celine esbravejou se levantando em um rompante, derrubando a cadeira atrás de si. Era visível seu nervosismo. - Mãe, diga alguma coisa. Me ajude a tirar essa ideia idiota da cabeça dele.
- Já disse para se dirigir a mim com respeito. Vá para seu quarto agora mesmo e tente se acalmar - o pai falou a olhando com intensidade.
Sem ter nenhum apoio para o qual se segurar, ela apenas jogou sua taça de vinho no chão e saiu desesperada, com lágrimas a verterem como cascatas de seus olhos.
- Vivien, vá atrás de sua irmã e tente acalmá-la - ele voltou a falar, fazendo com que a loira se levantasse apressadamente, indo ao encalço da mais nova.
Tinha ficado quieta até aquele momento, mas quando viu as duas irmãs sumirem do campo de vista, voltou-se com fúria para o pai:
- Não acredito que fez isso. Está querendo colocar minhas irmãs contra mim?
- É claro que não. Estou fazendo isso apenas para o bem de vocês.
- Pois, não é o que me parece. De onde tirou essa ideia de nos obrigar a nos casar por ordem de nascimento? Compreende em que situação me colocou com isso?
- É claro. Foi por esse motivo que o fiz. Para que você encontre um pretendente e se case. Sei que ama muito suas irmãs para as deixarem desamparadas.
- Você quer que eu me case? Pois, está muito enganado se acha que irei fazer isso. Não pretendo me casar sem amor, e muito menos permitir que isso aconteça com minhas irmãs. Celine e Charlie se amam, e ele é um ótimo pretendente. Talvez, o melhor pretendente que Celine terá e, não irá encontrar outro igual.
- Não estou impedindo que fiquem juntos, só disse que eles vão se casar depois que você e Vivien já terem se casado.
- Sim, mas o que o senhor acha que vai acontecer quando o tempo começar a passar e eles não puderem se casar? Acha mesmo que ele vai ficar a esperando pelo resto da vida?
- Creio que não. Por isso, aconselho que comece a ir nos bailes e arrume um pretendente.
Bufou em frustração, fechando por alguns segundos os olhos, na tentativa de se acalmar. Desviou o olhar para a mãe que ainda não tinha dito nada. Tentou recorrer a ela:
- Por favor, diga alguma coisa para o fazer mudar de ideia.
- Se você soubesse o quanto já tentei o fazer mudar de ideia. Querida, eu não concordo com isso, mas quando seu pai coloca algo na cabeça, é difícil de mudar.
- Tudo bem. Mas, você só vai estar fazendo suas filhas sofrerem, nada mais do que isso. Principalmente, Celine. Você podia permitir que pelo menos ela se case.
- Não mesmo. Minha decisão já está tomada e não irei mudar. Além do mais, Charlie é um bom partido, concordo, mas apenas com relação ao nome. Os Lancasters são uma família bem antiga e prestigiada, com uma grande riqueza, mas, infelizmente, Charlie é apenas o terceiro filho e não irá herdar nada. No mais, conseguirá herdar algumas terras, mas poucas. Ele terá uma renda igual a minha, quem sabe nem isso. Sei muito bem que Celine consegue um partido bem melhor e com mais rendas.
- Nem tudo se trata de dinheiro e títulos.
- Vejo que é muito ingênua se ainda pensa assim.
- Desisto. Vou me deitar que ganho mais - falou por fim, irritada com tudo.
Levantou-se sem pedir permissão e saiu sem olhar para trás. Se sentia revoltada.
Passou na frente do quarto das irmãs e não pôde deixar de escutar um choro misturado a vozes abafadas.
Tinha que falar alguma coisa, não queria que a odiassem.
Abriu a porta com cautela, vendo ambas sentadas lado a lado na beirada da cama de solteiro, abraçadas, por enquanto que a mais nova chorava compulsivamente.
Se aproximou com cautela, fazendo com que notassem sua presença.
- Sinto muito. Não queria que isso acontecesse. Juro a vocês que não tenho nada a ver com isso e estou tão revoltada e perdida quanto vocês. Só quero que saibam que não quero magoá-las - as olhou por alguns instantes, e como não teve resposta continuou a falar. - Sinto muito, mas vocês sempre souberam que não pretendo me casar, e, mesmo com tudo isso, ainda não mudei de ideia. Não vou me casar, mas prometo a vocês que farei de tudo para convencer nosso pai a mudar de ideia.
No batente da porta, Jennifer esperava para entrar no quarto e conversar com suas amadas filhas.
Ao terminar de falar, saiu rapidamente, antes que fosse vítima de xingamentos ou algo pior. Sabia que não deveria ter dito tais palavras naquele momento, mas não iria enganar ninguém. Não pretendia se casar e, não iria fazer isso, muito menos por obrigação.
Entrou no seu quarto, tirando o vestido e ficando apenas de camisola. Soltou o cabelo, deixando grandes ondas castanhas caírem envolta do rosto, chegando a altura de sua cintura.
Olhou seu reflexo no espelho, pensando que talvez poderia encontrar alguém, apenas para deixar suas irmãs felizes, até porque a felicidade delas era muito mais importante do que qualquer coisa.
Mas, parada ali, olhando para seu rosto fino e nariz rebitado, percebia que seria difícil de alguém se interessar por ela. Não tinha atrativos, seu rosto era comum e o mau-humor afastava qualquer um.
Se fosse um décimo do que tinha ouvido falar de sua mãe, Lilian, ela poderia ter esperanças de encontrar alguém. Mas não era. E, tinha completa consciência disso.
Mesmo assim, começou a pensar em todos os homens que estavam disponíveis na cidade, desde os bens velhos até os mais novos que ela, e sabia que nenhum deles se interessaria por ela, assim como ela não se interessaria por eles.
Nesse meio tempo, infelizmente, não pôde evitar sua mente de se lembrar daquele maldito Wallace. Refutou a ideia de imediato, sentindo um calafrio com a perspectiva de o ter a cortejando. Aquela ideia era a mais ridícula de todas e a dava náuseas.
Nem que ele fosse o último homem da face da terra, iria se dar ao desprazer de se quer permitir que se aproximasse dela, muito menos com conotações românticas. Até porque, duvidada que o dito cujo soubesse o que significava ser romântico.
Balançou a cabeça com desgosto, sentindo o gosto do fel na boca. Foi para a cama, se deitando.
Se sentia perturbada por ter lembrado daquela figura odiosa e queria se livrar dos pensamentos rapidamente. Até porque, não era aquilo que queria. Não queria se casar, e não adiantava de nada ficar tentando se lembrar de alguém que fosse minimante apresentável e que pudesse despertar interesse por ela, já que seria perda de tempo.
Tentaria outros métodos, como convencer o pai a mudar de ideia, ou encontrar alguma outra solução.
Se decidiu que no dia seguinte conversaria com seu melhor amigo, Lucas. Ele, como jornalista, com certeza iria saber de alguma coisa, alguma lei que impedisse isso, ou algo do gênero. Mas, de uma coisa tinha certeza, a de que não iria se casar e, muito menos, de que suas irmãs iriam pagar por sua escolha.
♡♡
Personagens:
※ Charlie Lancaster ※
※Jennifer Green※
※ Henry Green※
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