Capítulo 18
Olá, trago mais um capítulo.
Espero que gostem!
Desejo a todos um ótimo ano novo!
♡♡
2400palavras
Andavam calmamente pelas ruas de Oxfordshire. O dia estava notavelmente agradável, com o céu limpo e um vento agradável.
Olhava com interesse o movimento a sua volta, tentando criar coragem para começar a falar.
É bem da verdade que tinha sido Davina a se oferecer a acompanhar Audrey, mas não tinha pensado muito além disso. Agora, não sabia no que falar para manter um diálogo.
Estava começando a incomodar o silêncio a sua volta, mas parecia que sua acompanhante não se importava.
De qualquer forma, aquela era a oportunidade perfeita para conversar sobre o que tanto ansiava.
Tomou coragem, inspirando, na tentativa de se acalmar e colocar as palavras em seu devido lugar, logo falando:
- Então... O que achou do baile da condessa Lancaster? - inqueriu o óbvio, se amaldiçoando por começar com uma pergunta tão trivial como essa.
Mas, primeiro queria quebrar o gelo entre elas, fazer com que a morena se sentisse mais confortável. E, para isso, achava que aquele assunto deveria ser o ideal.
- Bem, não foi um dos melhores - a respondeu depois de ficar um tempo pensativa, com um dedo sobre a bochecha como se tal gesto a ajudasse pensar.
- E, porque não? - inqueriu genuinamente curiosa. - A festa foi grandiosa - completou, não conseguindo se segurar.
- Não estou me referindo a festa, mas sim as pessoas que estiveram presentes - disse seca, a lançando um olhar de canto que logo foi desviado para a vitrine de uma loja de roupas, visivelmente fingindo interesse no que vislumbrava do outro lado, parecendo não querer continuar com aquela conversa.
Achou estranho, se enchendo de curiosidade.
O que tinha sido aquele olhar? Será que estava a falar dela?
Achava que não. Até porque, não fazia ideia do que poderia ter feito para a chatear.
É claro que tinha a atormentado com comentários não muito agradáveis, mas não achava que tinha sido o suficiente para incomodá-la.
Ou tinha?
Começou a se sentir nervosa com tal perspectiva, apertando as mãos uma na outra na tentativa de se acalmar.
Tal gesto acabou chamando a atenção da mais velha, que a olhou em indagação, a obrigando a soltar as mãos, as deixando livres ao lado do corpo. Logo começou a morder o lábio inferior, sabendo que agora tinha passado sua ansiedade para aquele pequeno gesto.
Desviou o olhar, suspirando em desânimo. Não queria ter começado daquele jeito. Não queria ter passado a impressão de ser uma garota chata e cheia de manias estranhas.
- Você está bem? - Audrey inqueriu a olhando com renovado interesse.
- Sim... Sim, estou - gaguejou, se sentindo uma idiota.
- Se acalme. Me parece muito nervosa. O que foi?
- Desculpe, mas... Deixe para lá - balançou a cabeça, tentando esquecer do assunto.
- Não, agora quero que me conte.
- Melhor esquecer.
- Não. Me fale agora - a morena insistiu a olhando com intensidade e genuíno interesse.
- É que, do jeito que falou, me fez pensar que eu possa ter sido uma dessas pessoas da festa. Se assim foi, me desculpa. Não foi minha intenção. Estava muito nervosa por ser meu primeiro baile, sendo apresentada oficialmente a sociedade, e acabei extrapolando um pouco com conversas sem muito sentido. Me perdoe - tentava se desculpar da melhor maneira que conseguia encontrar, com esperanças de que fossem sinceras o suficiente para a fazer acreditar.
Audrey parou de andar, a fazendo parar ao seu lado, a olhando com uma sobrancelha arqueada, sem saber o que dizer.
Ficou a balbuciar por alguns segundos, parecendo querer falar algo, mas desistindo no mesmo instante.
Até que acabou se surpreendendo a vendo rir.
Na verdade, a gargalhar.
Seu corpo se chacoalhava e lágrimas caiam por enquanto que um riso alto, que tentava conter de forma inútil com uma mão sobre os lábios, reverberava a sua volta, chamando a atenção dos transeuntes.
A olhou séria, não sabendo onde estava a graça de tudo aquilo. Começou a se sentir uma idiota por ter tentado se desculpar de forma sincera.
- Sinto muito se estou a incomodando com minhas conversas - disse frustrada e chateada com a situação, dando menção de que iria continuar a andar, a deixando para trás.
Mas, Audrey a segurou pelo pulso, pedindo como uma mão levantada para que esperasse, até que se recuperasse.
Após alguns segundos se recompondo, finalmente viu a mais velha a olhar com intensidade, logo falando:
- Me desculpa se a fiz pensar algo errado. Não foi minha intenção fazer você ficar preocupada desta maneira. É que não consegui parar de rir com sua conclusão.
- Minha conclusão? - inqueriu perdida.
- Sim. Não estava me referindo a você quando disse sobre algumas pessoas não terem me agradado. Longe disso. Na verdade, conversar com você foi um dos pontos alto da noite. Acredite! Mas, porque deduziu isto? Por que pensou que estava a falar de você?
- Porque quando disse, acabou me olhando sem querer, logo depois desviando o olhar. Ao ver sua atitude, acabei deduzindo que tinha sido minha culpa.
- É claro que não. Estava falando de outra pessoa. Acredite. Você é um doce. Fala de forma tão meiga e serena e sempre tem o cuidado de falar algo certo, que não magoe. É difícil atingir alguém desse jeito. Às vezes acho que deveria me inspirar um pouco em você, assim minha vida seria muito mais fácil.
Acabou percebendo de imediato o quão tola tinha sido. Não era sobre ela que estava falando, mas era sobre alguém que fazia parte de sua vida. Seu primo.
A olhou sem jeito, desviando o olhar, sem saber o que dizer. Audrey acabou por perceber que a mais nova tinha entendido a situação, ficando tão envergonhada quanto ela, fazendo com que o silêncio se instaurasse.
Nunca soube o motivo da desavença entre os dois e nunca fez muito questão de entender o porquê. Mas, lhe parecia ter sido algo bem grave para ter a deixado com tamanha desavença por seu primo.
Era difícil de imaginar o que teria sido, já que Colin, apesar de sua nítida frieza, sempre se mostrou bastante sensato.
Não era que não achasse que ele fosse capaz de fazer algo ruim, longe disso. Já tinha o visto ter alguns surtos de fúria e não tinha sido nada bonito, mas, não imaginava que ele tinha tido coragem de fazer algo tão grave a ponto de deixar a garota a seu lado tão amargurada e irritada, que não conseguia mais estar em sua presença.
De qualquer forma, tal assunto não era de sua conta e deveria ficar quieta, sem se intrometer no assunto, pois assim seria melhor.
- Sou muito nova, não sei nada da vida - disse por fim na tentativa de reatar a conversa, não sabendo muito bem o porquê de ter dito isso.
- E, às vezes, é bem melhor que nunca saiba - a outra disse se desanimando de imediato, olhando para um canto distante, sem de fato ver.
- Aconteceu alguma coisa? - agora foi sua vez de inquerir, chamando a atenção da mesma, que a olhou perdida.
- O que? Não. Não aconteceu nada. Só estou um pouco cansada. Mas, quando chegar na escola, tudo vai melhorar - conclui sorridente, voltando a andar, fazendo com que a seguisse.
Aquela era a sua deixa, o momento oportuno para iniciar o assunto que a levara até ali desde o começo.
- E como vão as coisas na escola? - inqueriu animada pelo rumo da conversa, chamando a atenção da outra, que deixou um largo sorriso surgir em sua face, tão satisfeita quanto ela pela mudança de assunto.
- Tudo maravilhosamente bem. As crianças são maravilhosas. Por sinal, são muito inteligentes. Dentre aquelas crianças existem muitos talentos que estão prontos para serem lapidados e expostos ao mundo - sua alegria era contagiante, e seus olhos brilhavam em nítida felicidade.
- Isso é bastante animador.
- Sim, mas me faz pensar em quantos talentos estão sendo deixado de lado em outros lugares, apenas porque essas crianças não possuem dinheiro para pagar um professor particular. É um absurdo o fato de que em várias aldeias ainda não haja escolas públicas para os menos afortunados. Isso é ridículo! Na verdade, nem existiria aqui se não fosse pela iniciativa do padre. Temos que agradecer a ele por essa oportunidade - sua expressão ficou mais severa e determinada, deixando claro seus pensamentos sobre o assunto.
- E o prefeito - disse a única coisa que sabia sobre o assunto, já que não era muito versada em políticas.
- O que? - a morena a olhou desconfiada, parecendo não entender o que dizia.
- O prefeito ajudou o padre Fausto com a abertura da escola. Pensei que soubesse. - concluiu tímida, temendo estar errada.
- Não. Como sabe disso? - inqueriu curiosa.
- Bem, Colin me contou, já que fez parte do comitê de aprovação - falou de forma automática o que sabia sobre o assunto, não se preocupando em pronunciar o nome do primo, até perceber o que tinha feito, arregalando os olhos, a olhando em expectativa.
- Não sabia de nada disso - a morena disse por fim, engolindo em seco, parecendo surpresa e não muito confiante no que acabara de descobrir.
- Isso não é de estranhar, já que foi há dois anos, quando a senhorita ainda estava fora da cidade. Mas, pensei que soubesse, já que seu pai é o vice-prefeito - concluiu não muito certa.
- Bem, vejo que deveria saber, mas não soube. De qualquer forma, isso não importa. O que importa é que a escola foi aberta e as crianças mais necessitadas estão sendo acolhidas e ensinadas. É isso que importa, e não a politicagem por trás de tudo.
- Sim - sussurrou ansiosa por mudar de assunto - Mas... posso te fazer uma pergunta? - inqueriu receosa, fazendo com que a outra parasse e a olhasse com intensidade.
- Claro.
- Como soube que queria ser professora? - disse por fim, de forma rápida e estabanada. Nem se quer tinha a certeza se a outra tinha a entendido.
Ficou com vergonha de olhá-la por algum tempo, mas logo a curiosidade falou mais alto, fazendo com que levantasse o olhar, para vê-la. Seu semblante era uma mistura de felicidade e anseio, e suas sobrancelhas estavam levantadas em indagação.
- Porquê da pergunta? - a inqueriu analítica.
- Bem... é que... que se dane - murmurou entre dentes, farta de tanta vergonha. Aquele era o momento de falar o que pensava, se abrir. - Sempre tive um sonho de me tornar professora. Não sei por que, mas tenho anseio por ensinar, adoro ler e escrever, também amo crianças. E, acho fascinante poder ensinar alguém, passar o conhecimento adiante. Não sei se isso faz algum sentido e se pode ser levado em consideração, mas é o que penso, o que sinto.
- Isso foi inusitado - Audrey disse séria, mas logo seu semblante se desnuviou em um largo e sincero sorriso de alegria. - Acho isso maravilhoso. Na verdade, penso que você tem um dom. Você é bem calma, serena e bondosa. Mas, acredito que precisa de um pulso firme também.
- Eu posso ser firme, severa - disse na tentativa de se valer.
- E não duvido disso - riu. - Você me perguntou quando eu soube que queria ser professora, certo? Bem, você já tem a resposta.
-Tenho? - ficou perdida, a olhando desconfiada.
- Sim. Você mesma acabou de dá-la. Tenho certeza que será uma ótima professora.
- Mesmo? - estava esperançosa, com olhos em súplica a marejar de lágrimas.
- Sim. Só precisa melhorar um pouco o pulso firme, mas, isso não é muita coisa. Na verdade, se precisar de alguma ajuda, é só me procurar - falava animada, tão eufórica quanto ela.
- Mesmo? É claro que farei isso. Sempre a olhei com admiração, por ter saído de casa, ido estudar para seguir os seus sonhos, para pode ensinar aos outros. Sempre achei isso incrível. É uma pena que nem todos pensem assim.
- É só não se importar com a opinião alheia. Apenas siga os seus sonhos e o resto se resolverá. Não vou mentir e te dizer que tudo vai ser as mil maravilhas, porque não vai. Ainda existe muito preconceito com relação às mulheres estudarem e trabalharem, mas todos sabem que há necessidade de professores, por isso estamos cada vez mais sendo aceitas para o trabalho. Mas, sempre se valorize e siga em frente, em busca de seus sonhos, que o resto acontecerá naturalmente.
- Obrigada. Já posso sair dizendo para todo mundo que você é minha nova heroína? - inqueriu brincalhona, mas com uma pontada de verdade.
- Não precisa de tanto. Mas, sempre que precisar de algo, me procure. Você sabe onde me encontrar - disse tímida, com suas bochechas ficando vermelhas de vergonha.
- Obrigada!
- Sempre que quiser, pode passar por aqui. Para saber como as coisas funcionam - falou apontando para o estabelecimento logo atrás de Davina, onde se podia ver um grande movimento de crianças.
- Sério? - inqueriu com renovada alegria, a olhando esperançosa.
- Claro. Sempre estou precisando de ajuda. Nem sempre consigo acompanhar todos. São muito hiperativos.
- É claro que venho. Muito obrigada! - disse animada a abraçando sem nenhuma cerimônia, não se importando com o que diriam.
Tal atitude fez com que Audrey risse ainda mais, feliz com a situação.
- Sabe Davina, você é uma pessoa muito boa. Tem certeza que é uma Wallace?
- Bem, sim - disse um pouco desconcertada, se afastando um pouco, como demandava a etiqueta.
- Ei!? Não fique desanimada. Me desculpa pelo comentário. Não deveria ter o feito.
- Não, está tudo bem.
- Espero que sim - disse a lançando um sorriso tímido. - Bem, a aula já está para começar, tenho que entrar.
- Claro. Me desculpa por estar ocupando seu tempo.
- Não se preocupe. Bem, já que está aqui, não quer ficar para saber como é uma aula de verdade? - perguntou a lançando um olhar faceiro.
Sorriu animada, curiosa para saber como seria, já que ela sempre teve aulas particulares, em casa, e nunca tido contato com outra criança que não fosse sua irmã mais nova.
Estava prestes a aceitar, quando acabou por se lembrar que realmente tinha prometido que iria voltar mais cedo para casa naquele dia, para poder ajudar a mãe com alguns afazeres. Não podia faltar. Tinha dado sua palavra e agora não podia descumpri-la.
Se desanimou de imediato, deixando transparecer sua tristeza.
- Desculpe, mas prometi que iria chegar mais cedo em casa hoje.
- Tudo bem. Não se preocupe. Ainda vão existir várias oportunidades.
- Obrigada - agradeceu voltando a ficar mais alegre.
- Mas, agora tenho que ir. Não quero chegar atrasada, senão o padre Fausto vai me dar um sermão. Até mais, Davina.
- Tchau! - disse animada, balançando a mão em despedida, por enquanto que via a mais velha a correr alegremente para dentro da sala, cumprimentando pelo caminho seus alunos.
Suspirou feliz e esperançosa. Aquela conversa tinha sido muito esclarecedora e revigorante. Agora, mais do que nunca, sabia o que deveria fazer de sua vida. Não iria ficar dependendo de um casamento arranjado ou de interesses políticos entre famílias. Ia seguir seu próprio rumo. E já sabia muito bem por onde começar.
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