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Ele mudou demais

Eu não sei o que aconteceu.

Eu costumava acordar com uma mensagem dele. E quando ele não mandava nada, eu digitava tão naturalmente um "bom dia, já estou saindo de casa" que foi muito estranho controlar as minhas ações, bloquear a tela do celular e me render a falta de contato.

Então era assim que as coisas seriam daqui para frente... E tudo bem, sabe? Amigos vêm e vão, mas eu queria saber o que aconteceu. O que foi que eu fiz dessa vez?

Porque eu conheço o Jimin desde que me entendo por gente. Isso quer dizer que, não importa o quanto eu olhe para trás, em todas as minhas memórias, ele está lá. Não dá pra ele simplesmente parar de falar comigo e fingir que eu não existo.

O pior de tudo é que a gente nem sempre foi tão próximo. Se tudo tivesse ficado exatamente do jeito que começou, talvez eu não estaria sofrendo agora.

Lembro de chegar chorando para o meu primeiro dia de escola, caminhar pelo corredor de salas segurando a mão da assistente da professora, olhar para trás e ver a minha mãe ao fundo e ao chegar na sala de aula, lá estava ele, desbravando todos os cantos daquele lugar novo, brincando com tudo que via pela frente e sendo impedido diversas vezes de fazer alguma besteira de criança.

Nesse dia, eu desejei ser como ele. Menos medroso, mais atirado pro mundo e me dar bem com todo tipo de gente. Claro que eu não tinha noção do que era esse sentimento, eu só queria a minha mãe e a minha casa de volta.

Mais tarde, começamos a aprender as letras e eu lembro dos nossos nomes serem ditos juntos quando a professora falava sobre o J. Mesmo depois de tanto tempo estudando juntos, aquela foi a primeira vez que eu notei a sua atenção sobre mim, não que eu ligasse muito para isso, afinal eu tinha o Namjoon como melhor amigo.

Eu e Namjoon gostávamos das mesmas coisas. Dos mesmos desenhos animados, dos mesmos jogos e das mesmas músicas. A diferença era que o Nam não tinha vergonha de dançar e foi assim que ele ficou amigo do Jimin. A professora não podia começar a cantar nenhuma música que os dois começavam a se remexer. Às vezes, assistíamos algum filme numa festa do pijama e os dois eram sempre os primeiros a se levantar para dançar.

Eu também queria dançar, mas não tinha coragem.

E, mais uma vez, eu desejei ser como o Jimin. Desejei tanto que, um dia, ele percebeu que a estagiária nova nos confundia porque o nosso nome começa com J e ele propôs de respondermos no lugar um do outro, de trocarmos de carteira, de mochilas, de estojo, de tudo. Foi a primeira vez que ele falou diretamente comigo sem ser devido a algum cartaz que devíamos fazer juntos, ou por algum jogo de queimada que eu estava perdendo. Ele só apareceu na minha frente e disse como se fosse a coisa mais natural do mundo, já que estudávamos juntos há anos.

Foi estranho mexer nas coisas dele. A borracha dele era em formato de hambúrguer e o lápis era um pouco mordido, estava até molhado de baba quando peguei, mas crianças de 7 anos não ligam muito pra isso.

Alguns meses depois, começamos a aprender a letra cursiva e eu me tranquei no banheiro para chorar. Sentia tanta raiva de mim mesmo por não conseguir fazer as letras e sentia tanta vergonha de ter a professora segurando na minha mão para me ensinar a fazer os movimentos, que eu não conseguia prestar atenção em nada, apenas nas minhas bochechas queimando.

Jimin veio atrás de mim e ficou abaixado em frente a cabine. Eu consegui ver os joelhinhos dobrados quando olhei por debaixo da porta e só pedi para ele ir embora. Jimin já sabia fazer letra cursiva, ele sempre arranjava um jeito de me fazer desejar ser como ele.

— Jeongguk, você só precisa subir a montanha e descer a montanha igual a tia fala.

Não queria ceder, mandei ele ir embora de novo e ele foi. Acho que não nos tornamos amigos logo de cara porque o Jimin sempre foi do tipo que só fica com reciprocidade e eu nunca fui do tipo que deixa qualquer pessoa se aproximar. Eu sei que sou mais difícil de lidar, talvez seja por isso que ele não quis ser mais meu amigo.

Várias coisas podem ter acontecido ao longo de todos esses anos. Tudo pode ter se acumulado e ele só decidiu dar um basta de uma vez por todas.

Como quando Namjoon disse que iria se mudar e naquela coisa idiota de criança que se acha adolescente de filme só por ter 10 anos, pediu para que o Jimin cuidasse de mim.

— Eu não preciso que ninguém cuide de mim, ainda mais um nanico desse. — Sim, foi o que eu disse.

Dei as costas e saí correndo para casa, chorei feito um bebê na minha cama, puto da vida porque estava perdendo um melhor amigo para a distância e ainda sendo visto como alguém que precisava de proteção. Não falei com o Jimin por uma semana e ele também não me procurou. A gente só voltou a se falar quando eu pedi emprestado o carimbo de dinossauro que ele tinha, pois era muito essencial para a confecção do meu cartaz sobre empatia.

Ninguém tocou no assunto. Não sei se ele esqueceu porque criança esquece das coisas muito rápido, ou se ele só não sabia muito bem como entrar nesses assuntos delicados. Sabe como é, inteligência emocional ainda em processo de construção, sei lá.

Alguns anos depois, eu lembro de ter comentado que eu ainda não me sentia pronto para beijar na boca e ele entendeu, disse que também se sentia assim e não via motivo para ter pressa. Acho que esse foi o ponto de virada da nossa amizade, porque até então, estudávamos juntos na mesma classe, conversávamos de vez em quando, dormíamos na casa um do outro quando as nossas mães organizavam uma noite especial para a turma inteira, mas eu nunca havia me sentido tão próximo do Jimin até aquele dia.

É estranho quando a gente percebe que finalmente temos um amigo de verdade. Eu ainda consigo sentir o sabor das skittles que eu mastigava, observando o movimento do jogo que acontecia na quadra e as meninas sentadas na arquibancada. Jimin estava ao meu lado e eu não me senti sozinho no mundo, tudo fez sentido de repente.

Estávamos unidos pelo mesmo motivo: não querer beijar na boca. E acho que os poucos anos que ficamos nessa, foram os melhores da nossa amizade. Fazíamos todos os trabalho em dupla juntos, era muito bom finalmente ter com quem contar, porque eu havia passado todos os outros anos esperando que alguém me escolhesse, ou fazendo dupla com quem também havia sobrado. Mas agora eu tinha Jimin, era automático. Eu e ele até o fim.

Íamos ao cinema do centro e assistíamos ao filme da semana, não importando qual fosse. Eu sempre fui maior que ele, então os vendedores achavam que eu tinha 16, ao invés de 13. Comíamos um saco enorme de pipoca e saíamos com a mão toda melecada de manteiga porque o vendedor fazia questão de caprichar pra gente.

E outra coisa que ele gostava além de pipoca amanteigada era do sol. Nos intervalos, deitava na grama e ficava lá, recebendo os raios solares na pele bronzeada. Às vezes, ele levantava a camisa para tomar sol na barriga e eu nunca entendia porque ele gostava tanto daquilo. Eu ficava sentado na sombra ao lado, esperando que ele ficasse satisfeito e quentinho. Ele nunca voltava do seu banho de sol suado, apenas com uma temperatura tão agradável que eu não resistia em tocar o seu braço. Uma vez ele levantou a camisa para que eu pudesse sentir o quão quentinha estava a sua barriga e eu tive uma crise de riso enquanto a usava de tambor e ele remexia os quadris de um lado para o outro. Nós éramos muito bobos.

As coisas começaram a mudar no final dos 14 anos. Uma aluna nova chegou na nossa classe e foi a primeira vez que o meu coração bateu forte por alguém.

— Suas bochechas ficaram vermelhas quando ela chegou. — Jimin notou, fazendo apenas uma constatação, seu tom de voz não indicava nada além de uma frase com ponto final.

— Acho que agora quero saber como é beijar na boca — disse, enquanto comia um pacote de salgadinho.

— É por causa dela?

— Acho que sim. — Dei de ombros. — Eu quero beijar a Mi-suk e ninguém mais.

Jimin assentiu e olhou para o lado, respondendo que ainda não pensava nisso.

Eu acabei beijando a Mi-suk algumas semanas depois. Lembro que todo o processo foi de muitas mãos trêmulas, gagueira e frio na barriga. Emocionante até, mas tudo foi apagado porque o beijo foi horrível. Ela ficou parada esperando e eu não sabia o que fazer. Como eu sempre fui maior que todo mundo, acho que ela achou que eu fosse experiente, mas mal sabia ela que a única coisa que fiz foi ler as dicas da revista adolescente que a minha irmã assinava. Não deu certo.

Jimin ficou distante por esse tempo. Ao invés de ficarmos na arquibancada da quadra juntos, ele preferia estar na sala de aula, assistindo vídeos sobre jogos com os outros meninos. O que foi uma merda porque eu não queria parecer um maníaco atrás da Mi-suk, mas no final das contas, foi melhor assim porque eu e ela conversávamos durante o recreio inteiro.

Depois do beijo horrível, não nos encontramos mais e eu fiquei meio desiludido. Eu nem tinha coragem de olhar na cara dela. Fingia que ela nem existia na sala de aula.

— Será que ela falou que eu beijo mal pra todo mundo?

— Provavelmente pra alguma amiga mais próxima, a Mi-suk é bem reservada, você sabe — Jimin respondeu, jogando no celular e deitado na minha cama.

— E agora?

— E agora o quê?

— É isso? Esse vai ser o meu único beijo da vida? — perguntei, jogando-me no tapete felpudo.

— Mas você tá com tanta pressa assim de beijar de novo? — Jimin me olhou de canto de olho e franziu o cenho.

— Claro, não deve ser tão ruim. Por que todo mundo só fala disso?

— Eu não falo.

— O que eu não entendo.

— Por quê?

— Você sempre foi atirado pra tudo, por que em relação a beijo você não é? Achei que beijaria antes de mim. — Sentei-me, olhando-o diretamente nos olhos. Ele acabou desistindo de jogar porque eu estava o distraindo demais.

— Porque eu tenho os meus princípios. Não vou beijar ninguém sem vontade.

— Você não tem vontade de beijar ninguém da escola?

— Não — respondeu, firme, sem nem pensar duas vezes e eu não pude fazer nada além de acreditar.

— Me leva pra uma dessas festas que você sempre vai.

— Nem pensar. — E ele voltou a pegar o celular, recusando-se a olhar para os meus grandes olhos de coelho pidão. Era assim mesmo que ele me chamava.

— Vai, Jimi, por favor...

— Não tem ninguém lá que você queira beijar.

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer que eu sei qual é o seu tipo.

— E qual é?

— Meninas. — Pigarreou. — Meninas fofas e tímidas. Provavelmente você foi o primeiro cara que Mi-suk beijou. Por que você não tenta beijar ela de novo?

— Como? — Acabei ignorando a parte sobre o meu tipo ideal, ele não estava tão errado no fim das contas, mas eu não acho que a minha cabeça era fechada para garotas diferentes da Mi-suk, eu só achava que ela me entendia melhor e achava que ela poderia me querer também. Essas meninas mais populares nunca olhariam para mim.

— Yoongi vai fazer uma festa de aniversário e chamou todo mundo. Sem distinção. Ela deve ir. — Visto que eu não disse nada, só fiquei parado pensando nas mil possibilidades de tudo ser uma merda e em todas elas estava incluído eu sentado em algum canto sozinho, Jimin continuou. — Para de ser antissocial, pra beijar você precisa sair e ver gente. E festas são os melhores lugares, até porque, só vai ter gente que você conhece por lá.

— Acho que esse é problema: todo mundo me conhece.

Eu sabia da ideia que as pessoas tinham sobre mim. E eu não era tão fechado como elas achavam, nem tão tímido ou trevoso. Eu só usava um moletom preto e todo mundo ficava tipo "uau, nossa, como ele é sério". E se eu fizesse algo que elas não esperavam, acabava recebendo muita atenção e isso passava longe do que eu queria. Ir a uma festa era uma delas.

— Ninguém espera que eu vá nessa festa. — Voltei a relaxar no chão, olhando para o teto empoeirado. Nessa idade, minha mãe deixou a arrumação do quarto por minha conta e eu nunca pensei que devesse passar a vassoura por ali.

— Por isso mesmo que você deveria ir.

— Mas eu não quero surpreender ninguém.

— Surpreenda a Mi-suk.

Eu apenas murmurei qualquer coisa e o silêncio se apossou de repente. Alguns segundos depois, ouvi os dedos de Jimin voltarem a teclar no celular, mas logo pararam de novo.

— Você tá gostando dela?

— Você quer saber se eu estou apaixonado?

— Sim.

— Não estou. Depois do beijo todo o encanto se quebrou e agora eu só estou curioso pra saber como é beijar sabendo o que fazer na hora.

— E agora você sabe?

— Não, mas tenho alguma ideia.

Acabei aceitando a ideia dele e fui naquela maldita festa. Fiquei sozinho em um canto como eu havia imaginado que aconteceria. Jimin era meio popular, não comentei nada sobre isso até agora porque pra mim nunca foi importante, ou fazia diferença. Na escola, a gente vivia grudado, eu ia na casa dele e ele na minha, então eu não me sentia deixado de lado, mas naquela festa... Puts, eu senti o peso que a presença dele sempre teve, mas eu nunca havia o visto tão fora da nossa aconchegante bolha.

Ele nunca parou de dançar. Sempre soube todas as coreografias dos grupos mais famosos, mas quando a gente chegou na adolescência, os quadris aprenderam o que deveriam fazer. E ele não tinha vergonha nenhuma de rebolar, mesmo sendo um menino. O que ninguém parecia ligar porque eu descobri que as meninas amam meninos que sabem dançar. Todo mundo parou pra olhar e eu também não consegui tirar os olhos dele. Alguma coisa na forma como o corpo dele se movia era hipnotizante e sem que eu percebesse, meu peito começou a ficar quente e por um minuto, eu esqueci que era o meu melhor amigo ali.

Ele olhava pra mim de vez em quando de uma forma estranha, mas eu gostei do que senti. Depois que ele ficou cansado, veio ao meu encontro com uma lata de coca na mão e sentou entre as minhas pernas na escada, jogando o corpo suado em cima de mim. Eu sempre gostei do calor da pele de Jimin, mas daquela vez foi diferente. Acabei passando os dedos entre os seus fios de cabelo molhado, desgrudando-os da testa e Jimin deitou a cabeça na minha coxa, olhando para mim. Eu sorri, estava feliz em estar com ele naquela festa, do nosso jeito.

Ele nunca me encheu o saco pra fazer nada que eu não quisesse. Tipo, mergulhar na piscina com um monte de gente em volta, ou me puxar para a pista de dança só pra eu não ser o único sentado. Jimin me entendia e parecia mais do que satisfeito em ter a minha companhia, mesmo que fosse do meu jeito deslocado, sempre tentando ser invisível.

— Vocês ficam fofos juntos. — Uma voz do além surgiu do nada, quebrando toda aquela coisa boa que eu sentia quando estava sozinho com Jimin. Era por isso que eu não gostava de me enfiar no meio das outras pessoas, elas sempre me fazem perceber coisas que eu jamais veria se continuasse a viver na minha bolha. E, sinceramente? Isso assusta muito às vezes.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei. O calor do corpo de Jimin já não estava junto ao meu e eu fiquei confuso por um tempo.

— Vocês não são tipo um casal? — Yerim perguntou, dando um gole na sua vodka saborizada, divertindo-se com a situação. Aos 20 anos, ela com certeza não ficaria mais bêbada, tamanha a resistência que beber desde os 15 a proporcionara.

— Não, ele é o meu melhor amigo — respondi, com a indignação pairando nas rugas da minha testa.

Nem eu sei porque me senti daquele jeito. As pessoas observavam a forma como eu e Jimin ficávamos perto um do outro e insinuavam coisas a nosso respeito?

Jimin se levantou e saiu da casa. Segui ele até o jardim dos fundos e quando ele parou em uma cerca de madeira, eu fiquei logo atrás, esperando que ele dissesse alguma coisa. Mas como estava demorando muito e eu não me aguentava, acabei perguntando:

— Você ficou chateado com a Yerim?

— Não. — Eu consegui ouvir a voz embargada, mas quando ele se virou, não havia qualquer sinal de que poderia começar a chorar a qualquer instante.

— É uma merda as pessoas ficarem falando essas coisas sobre a gente, né? — Aproximei-me, apoiando os cotovelos na cerca e observando a escuridão do campo que se abria logo depois.

— Por quê? — Jimin continuou encarando a festa dali, de braços cruzados. — Por que ela ter falado aquilo foi uma merda?

— Porque eu não gosto quando as pessoas aparecem cheias de suposições sobre todo mundo. Por que elas precisam ter opinião sobre tudo? Porra, eu não vou deixar de ficar perto de você porque elas acham que somos um casal.

— Somos um casal de amigos, não é? — Jimin sorriu, mas havia uma tristeza nos olhos dele que eu não entendi.

Eu não entendia o que estava acontecendo com ele. Achei que Jimin fosse dar uma resposta pra aquela garota, se impor de alguma forma... Acho que eu também estava tendo suposições sobre o que Jimin é, e, no fundo, ele não é tudo isso que eu penso e nem precisa ser.

— Quer ir embora? — perguntei, passando o braço pelo ombro dele.

— E fazer você perder a oportunidade de beijar na boca de novo? Nem pensar!

Lembro que passeamos pela festa a fim de encontrar a Mi-suk e a achamos bebendo com as amigas. Fiquei com medo de não saber o que falar ou o que fazer, mas quando ela me viu, abriu o maior sorrisão e me abraçou. Ela ficou com a cabeça repousada no meu peito por um longo tempo e as amigas só riam despreocupadas. Ela estava completamente bêbada.

— Você está bem? — perguntei a ela, mas olhei para Jimin logo em seguida, tentando descobrir o que eu poderia fazer, mas o semblante dele estava mais vazio do que o meu.

— Eu tô ótima — ela respondeu, com aquela voz de bêbada que eu só havia escutado em filmes.

Eu teria deixado ela ali com as amigas se ela não tivesse virado pro lado e vomitado todo o cachorro-quente que comeu antes de beber. Eu teria deixado ela ali se as amigas tivessem mostrado um pouco de preocupação, mas elas só riram como se aquilo fosse a coisa mais engraçada que poderia acontecer em uma festa de adolescentes. Francamente, tinha gente fumando maconha e falando coisas bizarras, tinha gente jogando UNO como se fosse final de copa do mundo, ver a amiga bêbada daquele jeito não era engraçado, muito menos colocá-la nos braços de um garoto que só estava passando com a intenção de beijá-la.

Jimin correu para pegar uma garrafa d'água e eu a sentei em uma cadeira próxima. Parecia que o susto do vômito a fez recobrar um pouco da consciência e eu ignorei as lágrimas que surgiram nos olhos dela porque ela fingia que não havia nada ali.

Ela bebeu a água que o Jimin trouxe em silêncio e se levantou, cambaleando um pouco. Não tentei ajudar, sabia que ela não cairia, mas fiquei observando o que faria a seguir.

— Quero ir pra casa — Mi-suk disse, para as amigas, que deram de ombros e só responderam.

— Vai. — Indicando a saída com as mãos. Elas não se moveriam e Mi-suk sabia disso, então, começou a andar como se fosse a única coisa que pudesse fazer.

Eu fiquei um pouco perplexo com a situação. Estava acostumado a ter amizades que fariam tudo por mim, seja o Jimin, ou o Namjoon. Eu ainda falava com ele toda semana pelo telefone e naquela idade a gente já tinha celular pra mandar mensagem de texto. Ver como a Mi-suk foi tratada pelas novas amigas me fez pensar que ela precisava de outros novos amigos, e não de alguém que quisesse beijá-la.

— Vamos levá-la em casa — disse a Jimin, que começou a me seguir sem discutir.

Não foi difícil alcançá-la porque parecia que ela andava querendo voltar para trás. Não sei se ela ficou mais confortável na presença de dois garotos, mas quando eu disse que a acompanharia, ela só concordou e seguiu muda até a casa dela que era alguns quarteirões dali.

Jimin estava estranhamente mudo. Achei que ele fosse começar uma conversa aleatória, só pra quebrar o constrangimento, ou fazer algo ainda mais constrangedor para que Mi-suk esquecesse que quase vomitou nos meus tênis, mas nada disso aconteceu. Ele andava ao lado dela, mas parecia estar há quilômetros luz dali e eu tive muita vontade de saber no que ele tanto pensava.

— Obrigada — Mi-suk disse de repente, parando em frente a uma casa com sinais de reforma na varanda. Os olhos dela ainda conseguiam ser gentis, mesmo com a mágoa aparente.

— A gente vai se falando, tá bom? — Eu levantei o meu polegar inconscientemente e hoje quando lembro disso, começo a rir. — Não precisa voltar a ser amiga daquelas meninas. Você pode ser a nossa amiga se quiser. — Abracei Jimin pelos ombros e não pude ver a reação dele, só escutei um "é claro" meio confuso.

— Tá bom. — Ela deu um sorriso estranho, os lábios quase não se moveram, e entrou na casa.

Mas acho que a minha ideia foi meio estranha mesmo. Ela parecia ser o tipo de garota que queria ter outras garotas como amigas, dois meninos como eu e Jimin não pareciam ser o tipo ideal de amizade que ela tinha em mente. Queria saber o que se passava na cabeça dela. O que ela deixou para trás quando se mudou para a nossa cidade. Quem eram as suas amigas e se elas eram parecidas com aquelas que deixamos na festa.

Percebemos que a casa de Jimin era mais perto dali e dormimos lá. Ele continuou meio quieto e logo pegou no sono. Pensei em mandar uma mensagem pra Mi-suk, mas deixei pra lá.

Nenhum de nós dois nos esforçamos para que aquela minha fala se concretizasse e o fato é que não nos tornamos amigos depois daquele dia, nem voltei a beijá-la. Ela se distanciou daquelas nojentas e eu a vi andando pela escola com uma galera legal, mais parecida com ela e a nossa história acabou por aí. Não sei o que ela pensa de mim, mas espero que ter acompanhado-a até em casa tenha apagado a memória do nosso péssimo beijo.

E o que só podia ter acontecido depois disso tudo foi que o tempo passou, como sempre passa. Acho que depois dos quinze eu me tornei mais eu e o Jimin se tornou mais o Jimin. Acabei de perceber, de repente, que eu não descrevi a aparência de ninguém, mas só lembrei disso agora porque foi nessa idade que começamos a mudar fisicamente e de maneira drástica. Eu cresci mais um tanto e o Jimin me acompanhou, hoje em dia ele é quase do meu tamanho e começou a gostar de música de verdade.

Lembro que quando éramos crianças ele fazia aula de piano por obrigação porque era algum tipo de tradição na família dele. A bisavó ainda era viva e fazia questão que todos os netos e bisnetos aprendessem piano como se ainda vivessem no século passado.

Sempre tinha música tocando na casa do Jimin e eu amava estar lá. Deve ser por isso que ele sempre foi de dançar. A casa dele é um daqueles casarões antigos com uma sala enorme, escada de madeira e janelas salientes. Às vezes preciso fazer algo na rua e acabo passando por lá e o vejo sentado em uma dessas janelas tocando ukulele.

Eu queria poder me entreter assim, tocar um instrumento só por diversão, mas eu não levo jeito pra esse tipo de coisa. Acho que é isso o que mais me encanta no Jimin, porque ele fica muito bem sozinho, se distrai com várias coisas legais, dança, toca, grava vídeos aleatórios, tira fotos de coisas bobas que ficam muito iradas. E mesmo sabendo apreciar a própria companhia, ele ainda escolhe passar um tempo comigo.

E eu não consigo me lembrar de nenhum momento ruim com ele. Sério. Não existe tédio ao lado do Jimin. Deve ser por isso que eu tô sempre agarrado nele, minha mãe disse que adolescentes passam por essa fase do tédio e eu acredito muito nas coisas que ela fala. Talvez isso se deva ao fato dela ser médica, mas isso é só um ponto sobre a minha vida.

Agora que eu e ele não nos falamos mais, eu fico lembrando de umas coisas bestas, sabe? Coisas que eu não achei que fossem tão importantes, mas acho que a importância mora nos pequenos detalhes. Tipo quando estava chovendo a beça e estávamos no quarto dele. Só escutávamos os pingos d'água batendo na janela e ele tinha uma luminária que projetava o universo no cômodo todo. Ficamos deitados nos colchões no chão, conversando sobre nem me lembro o quê. Eu queria voltar pra esse momento em que Jimin ainda me olhava nos olhos e me contava sobre o que se passava em sua cabeça.

É estranho, mas eu me lembro do cheiro dele. E o mais estranho ainda é que não é do perfume, e, sim, da fragrância natural dele, uma coisa que é só do Jimin, dá pra entender? Não dá pra comprar um frasco com o cheiro dele. E eu não só lembro, como sinto falta. A gente vivia abraçado e não é como se eu fosse ficar agarrado nele se ele fosse fedorento.

Queria conversar com alguém sobre isso, mas não consigo. É claro que o Namjoon sabe que Jimin parou de falar comigo, mas dizer a ele que sinto falta do cheiro do cara me parece... Inadequado.

E ah! O Namjoon voltou para a nossa cidade depois que fizemos dezesseis. Foi estranho no começo porque eu só falava com ele por telefone, vê-lo e escutar a voz dele pessoalmente foi diferente, mas já me acostumei. A nossa amizade não recomeçou do ponto onde paramos, Namjoon não é mais o meu melhor amigo porque eu coloco o Jimin em primeiro lugar em tudo.

Se o Namjoon me chama pra jogar video-game e depois o Jimin me chama pra ficar de bobeira na casa dele, é pro Jimin que eu vou. Eu sei que isso é um vacilo bem grande, mas uma parte de mim não consegue dizer não. Até pensei que pudesse ser uma mágoa mal resolvida porque o Namjoon foi embora e eu fiquei sozinho por um tempinho, mas eu sei que ele não tem culpa de nada, o pai precisou se mudar por causa do trabalho e não podia deixá-lo para trás, tá tudo bem. Mas a minha vida continuou sem ele aqui e agora eu priorizo o Jimin.

Enfim. Nessa idade, o Jimin deixou o cabelo crescer. Não ficou gigantesco nem nada, mas ele conseguia colocar a franja atrás da orelha e eu achava super legal ficar mexendo. Escorria fácil, fácil pelos meus dedos e quando a gente deitava pra dormir em algum final de semana que ficava tarde demais pra eu voltar pra minha casa, eu gostava de assistir os olhos dele ficarem pendurados de tanto sono enquanto eu fazia cafuné, até que eles se fechavam e ele já não estava mais ali.

Esses dias eu me peguei pensando que é preciso ter muita confiança pra dormir ao lado de alguém, porque é um estado que a gente fica inconsciente, a mercê de qualquer coisa. Doideira, não?

Jimin podia achar que eu fosse pegar algo dele, rabiscar o rosto dele ou amarrar bem forte os cadarços dos seus tênis preferidos. Mas ele só apagava ao meu lado e às vezes até me abraçava durante a noite. E eu não me afastava, até me aconchegava melhor em seu abraço e no seu cheiro, porque aquilo era uma coisa nossa e eu não via problema nenhum nisso.

Bom, você deve estar se perguntando quando o fatídico dia chegou. Quando eu acordei e percebi que ele não queria mais ser o meu amigo. Aí é que tá. Eu não sei, fui sentindo aos poucos as coisas mudarem entre a gente, tipo, acho que passamos um ano e meio parecendo estar em uma corda bamba. Sem saber se ele ainda era o meu melhor amigo, ou se me trocaria por outra pessoa.

Ele começou a ir em umas festas e nunca me convidava. Começou a ir bem mais cedo do que eu pensei em ir em algum evento do tipo, mas ele nunca me contava muito sobre como era. Aos quinze, ele ia só de vez em quando, mas aos dezessete, era quase todo final de semana virando a noite por lá e eu tinha que acobertá-lo porque ele dizia para os pais que estava na minha casa. O que não fazia muito sentido porque era eu quem dormia sempre na casa dele.

Chegou um tempo em que eu só o via durante a semana na escola. Ele começou a beber e a passar o domingo inteiro de ressaca, mal queria ver a luz do dia. E tudo bem, sabe? Ele pode fazer o que quiser com a vida dele, mas por que não me contava nada do que acontecia nessas festas? Eu sempre perguntava como havia sido e ele só dizia "legal", sem muitos detalhes.

E um fato muito importante passou batido: Jimin beijou na boca e eu não sabia quem era.

— Uma vez você disse que pra beijar na boca, a gente tem que sair e ver gente — falei, andando ao lado dele na calçada, empurrando a minha bicicleta. Dei a desculpa de que o pneu estava furado só para levarmos mais tempo até chegarmos em casa. — Agora que você sai todo final de semana, já beijou na boca?

— Já — ele respondeu, sem muita emoção, chutando as pedrinhas pelo caminho.

— Como assim? Por que você não me contou? Se eu não tivesse perguntado, você não teria contado? — Até parei de andar porque fiquei magoado de repente. Perguntei, martelando uma resposta na minha cabeça. Eu não podia acreditar que Jimin não havia me contado.

— Não sei. Não foi nada demais. — Ele parou, meio aborrecido. Ele fazia muito isso de bufar e jogar a cabeça para o lado, como se eu fosse a pessoa mais estúpida do universo.

— Achei que você só fosse beijar alguém quando quisesse muito. Isso não quer dizer que precisa ter sentimentos pela pessoa? — Naquele ponto, eu achava que Jimin havia se apaixonado e eu não fiquei sabendo.

— Jeongguk, eu disse isso anos atrás. As pessoas mudam. — E começou a andar devagar, não sabendo muito se queria me deixar para trás, ou me esperar.

— Qual é o nome dela?

Ele parou automaticamente e me olhou através do ombro.

— Emily.

— Emily? É uma estrangeira?

— Foi o nome que ela disse, não fiquei perguntando sobre a vida dela.

— E foi bom?

— Nah, tinha gosto de batom.

Ali eu percebi que as coisas não estavam como antes. Claro que as festas e o mistério que as cercavam me diziam alguma coisa, mas omitir a informação de que ele havia beijado na boca foi demais pra mim. Achava que aquilo fosse algo importante pra nós dois, adolescentes tem dessas coisas que parecem bestas pros adultos, mas aquilo foi o fim do mundo pra mim.

Andamos em silêncio pelo resto do caminho. Eu queria que Jimin pedisse desculpas, mas ele nem olhava na minha cara. Ele entrou dentro de casa e eu nem fiz questão que ele me dissesse tchau, montei na bicicleta e fiquei remoendo aquilo o dia todo.

Na manhã seguinte, fui igual a um idiota esperá-lo na frente da casa dele, como sempre fazíamos. Eu tinha a bicicleta e ele queria a carona. Até instalei um apoio para os pés no pneu traseiro pra que ele pudesse me acompanhar sem problemas. Minha bicicleta era daquelas que são usadas para fazer manobras em pistas de skate, não são propícias pra levar ninguém na garupa, mas eu fui lá e a transformei só pro Jimin e agora ele estava negando a minha carona.

Fiquei sabendo disso quando cheguei na escola e ele já estava lá, tomando café na cantina e com óculos escuros.

— O que aconteceu? — perguntei assim que o vi.

Queria jogar a mochila na cadeira, tirar o capuz do moletom e apoiar as mãos na mesa em uma pose de confronto, queria mostrar que estava puto. Puto com as festas que pareciam um segredo, com o beijo que eu não sei quando aconteceu e por ele não me avisar que sairia mais cedo de casa.

Mas eu só fiquei parado, com as mãos dentro do bolso do meu moletom canguru, tentando enxergar os olhos dele através das lentes escuras.

— Não tinha o que comer em casa, precisei sair mais cedo — ele disse, deixando que o vapor do café embaçasse os óculos.

— Por que não me avisou? Eu fiquei uns dez minutos esperando você sair de casa.

— Desculpa, não queria incomodar tão cedo.

— Tá, que seja... — Dei as costas e saí andando em direção à sala de aula e depois do recreio, tentei levar o dia como se nada tivesse acontecido. Porque essa era a minha tática do momento: ignorar essas birras do Jimin e esperar que ele voltasse ao normal.

Mas na aula de história, a professora começou a explicar sobre um seminário que deveria ser feito em dupla e o Jimin não me olhou em nenhum momento. Quando ela deu a permissão para que nos arranjássemos, Jimin virou para Taehyung e Namjoon tocou o meu ombro. Eu não consegui fazer nada além de aceitar e não mostrar que estava extremamente chateado. Namjoon não tinha nada a ver com aquilo e eu nem sabia se eu tinha algo a ver também. Nada se passava na minha cabeça além de uma tremenda interrogação.

E quem é Taehyung? Um menino que sempre estudou com a gente. Eu não falava muito com ele e nem ele comigo. Jimin conversava um pouco com todo mundo, então os dois decidirem fazer trabalho juntos não era estranho. O estranho era ele não querer fazer comigo. Nem consegui perguntar o que aconteceu, não ia me sujeitar a fazer isso pela segunda vez no mesmo dia. Eu me humilhava por ele de vez em quando, mas consigo guardar um pouco de amor próprio e usá-lo de vez em quando.

Saí da escola e nem quis saber de dar carona pra ele. Ele que andasse até em casa, da mesma forma que fez naquela manhã. Pedalei puto até a minha casa, acho que nunca cheguei tão rápido em toda a minha vida.

E o pior de tudo é: não consigo me lembrar de um trabalho que eu não tenha feito com o Jimin. Eu sou mais tímido, mas escrevo bem e manjo dos slides. Ele é mais extrovertido, então apresenta a maior parte do trabalho. É uma fórmula que funciona, nenhum dos dois questionava nada. Eu ficava confortável na minha e ele tendo a atenção de todo mundo, conseguindo responder as perguntas da professora com frases aleatórias e que faziam todo o sentido.

Fiquei completamente perdido no começo porque Namjoon também manjava do power point e queria fazer essa parte. Quando dividimos as partes, percebi que acabei ficando com mais coisas e me desesperei um pouco. Treinei as minhas falas como nunca havia treinado antes e na hora da apresentação, enfiei as mãos trêmulas no bolso do moletom e tentei manter uma pose despojada.

Acho que deu certo. A professora me elogiou e eu vi que Jimin sorria pra mim. Eu queria muito virar a cara, fazer o mesmo que ele fez comigo tantas outras vezes, mas eu não conseguia.

Duas semanas haviam se passado desde a formação das duplas. Duas semanas que eu não falei com ele e estava me retorcendo por dentro. Eu notava que ele me olhava durante a aula e começou a ir de óculos escuros quase todos os dias. Era muito difícil fingir que estava tudo bem, que eu não estava preocupado, que por mim tanto fazia se ele queria fazer o trabalho comigo ou não. Foram duas semanas que eu tentei aceitar toda aquela distância, me esforçando ao máximo para entender e daí, de repente, ele olha pra mim e sorri, todo orgulhoso do meu desempenho, anda na minha direção e eu desmorono.

— Você mandou bem — ele disse, vindo ao meu encontro quando os alunos começaram a sair da sala. E eu só sorri timidamente e me encaixei em seu abraço.

Foi só nesse momento que as minhas mãos pararam de tremer e o meu coração parou de bater forte. Ele ficou massageando as minhas costas enquanto eu me afundei na curva do seu pescoço e pensei em todo aquele pequeno conflito que fazer trabalho com uma dupla diferente causou em mim.

Eu não queria pensar que era emocionalmente dependente do Jimin. Fiquei chateado e meio perdido, mas consegui fazer. Me superei. Fiquei nervoso para um caramba e estou feliz agora que terminou.

E como eu não posso me apegar a presença dele se é ele que me dá paz? Ele acalma todas as partes confusas em mim. Eu posso estar perdido na maior parte do tempo, mas com ele eu sinto que tenho certeza sobre alguma coisa. Não me pergunte sobre o quê, porque é só uma sensação.

— A gente tá bem agora? — perguntei, quando me desenrosquei dele.

Ele mexeu os lábios e ficou pensando por alguns segundos. Eu queria muito saber o que se passa na cabeça dele quando eu faço essas perguntas que ele demora a responder.

— Desculpa, eu sei que andei vacilando.

— Mas o que aconteceu? De verdade, o que tá rolando? — Eu já nem sabia mais como perguntar. Talvez eu estivesse meio desesperado, mas como não estar quando parece que estou perdendo alguém importante?

E daí ele ficou me encarando sem dizer nada. Coçou a nuca e deu de ombros, como se gesticular demais fosse fazê-lo pensar em uma boa resposta.

— Eu só... — Ele pigarreou. — Eu só tive alguns problemas em casa e acabei descontando em você.

— Seus pais estão te enchendo o saco? Por que? Eles são sempre tão legais. — Cruzei os braços e sentei na mesa.

— Eles estão me fazendo repensar sobre o lance de querer seguir carreira nas artes. Ficam dizendo que não dá dinheiro e essas coisas.

Eu não aceitei aquela resposta, nem passei perto de acreditar, mas se ele iria usar aquilo como justificativa eu iria fingir por enquanto. Nem perguntei porque ele não quis fazer dupla comigo, só deixei pra lá e esperei muito que tudo aquilo não passasse de uma fase porque eu tinha muito medo daqueles episódios se repetirem ao ponto de eu achar insuportável e escolher não ser mais amigo do Jimin. Acho que ele teria que me magoar muito pra isso acontecer.

Fomos embora juntos e as coisas voltaram parcialmente ao normal. A gente fazia as mesmas coisas de sempre, mas na minha cabeça, eu já esperava que ele fosse responder alguma pergunta minha meio atravessado, bufasse e revirasse os olhos, ou perdesse a paciência por bobeira. Eu já estava na defensiva, esperando que tudo se repetisse e eu ficasse sem ação.

Mas isso não aconteceu. Eu voltei a dormir na casa dele de vez em quando, ele dormiu na minha também, mas acho que foi só uma desculpa pra manter a mentira que ele me fazia contar de vez em quando.

Ele ameaçava cortar o cabelo e eu dizia não. Afundava o meu nariz imenso nos seus fios e o abraçava tão forte que ele precisava gritar para que eu o soltasse. Estalava os seus dedos da mão sem perceber. Do nada, sentávamos juntos e eu sentia os calos nas pontas dos dedos dele, assim eu sabia que ele estava mais inclinado ao violão do que ao piano ultimamente.

Hoje em dia eu estalo os meu dedos e me lembro dele. Às vezes penso que só estou estalando os dedos porque lembrei dele, ou se estalei para lembrar dele. Tudo me faz lembrar dele e esse parágrafo ficou meio idiota. Eu sou um idiota e não preciso de consolo porque vou contar o motivo.

Meu aniversário é em 01 de Setembro. A gente não tinha nenhum tipo de ritual anual ou coisa do tipo. Minha mãe fazia um bolo, eu chamava alguns colegas pra cantar parabéns e a gente assistia filme depois. Algumas vezes fomos ao McDonald's, em outras comemoramos em um parque de diversões. Coisas bem diferentes umas das outras, mas em todas elas, o Jimin estava lá.

Mas em 2016, ele não apareceu. E em 2016 eu fiz 18 anos. Isso não tem muito tempo porque eu ainda tenho 18 anos.

E caralho, 18 anos, sabe? Eu fiquei falando disso uns três meses antes, convenci a minha mãe a deixar a gente comprar umas bebidinhas alcoólicas e a beber na garagem, o bolo seria de chocolate com morango de verdade no recheio e eu até comprei copos vermelhos de plástico pra esse evento. Jimin foi comigo até a loja, ele me ajudou a escolher o maldito copo e não foi até a minha casa pra ver como a decoração ficou. Ele me ajudou a fazer a playlist da festa porque ele conhece mais músicas do que eu e não foi lá para escutar comigo. Ele me ajudou a fazer o convite no computador, foi comigo até a gráfica para imprimir e rimos muito com a minha foto na capa, mas parece que ele fez questão de jogá-lo no lixo porque não foi na minha festa.

O fato é que eu não consegui aproveitar do jeito que queria. Fiquei pensando o tempo todo no que poderia ter acontecido, se eu deveria ir até a casa dele e perguntar se estava tudo bem. Mas era ele que me devia explicações, não achava certo eu ter que ir atrás delas.

Assim que tocou Sorry do Justin Bieber, Namjoon começou a cantar e a dançar como fazia na época da segunda série. E eu lembrei do Jimin. Quando colocamos aquela música na playlist ele disse que foi a música do ano e começou a fazer a coreografia exatamente do jeito que aparecia no clipe. Eu fiquei impressionado e não conseguia tirar os olhos dele. Eu queria que ele estivesse ali dançando junto com o Namjoon.

Queria acabar rindo ao olhar pros copos e pensar "finalmente estou bebendo algo alcoólico nesse tipo de copo" e brindar com ele, como se eu estivesse passando por um ritual de iniciação e ele estivesse ali, como sempre esteve em todos os momentos importantes da minha vida.

Cantamos parabéns e assoprei a vela fazendo um pedido: "quero entender o que está acontecendo com o Jimin", porque era só nisso que eu conseguia pensar.

Comi o bolo e pensei nele quando o azedinho do morango se contrastou com o doce do chocolate. Se ele estivesse ali, eu diria que era por isso que gostava tanto de bolo de morango e ele teria que concordar porque estava realmente uma delícia.

E daí eu bebi umas três Smirnoff Ice, a única bebida que a minha mãe me deixou comprar, e pensei que talvez a minha vida fosse daquele jeito dali pra frente. Tudo se resumiria a passar por novas experiências sem que Jimin estivesse por perto, mas sempre imaginando que ele estivesse ali.

Não sei se fiquei bêbado, me senti meio mole e triste, daí decidi parar por ali. Yoongi estava lá, ele não parava de falar, mas eu não me lembro de nenhum tema que ele levantou em alguma conversa. Taehyung também foi e ficava me olhando de canto de olho, mas não trocou muitas palavras comigo. Acho que ninguém conseguiu falar muito comigo porque eu não consigo disfarçar quando estou triste, ou quando estou sentindo qualquer coisa. Eu queria ser mais dissimulado em algumas coisas, porque estava na cara que eu só queria que todo mundo fosse embora e eu pudesse ir para a minha cama dar uma choradinha, finalmente sofrer pelo luto da minha amizade com Jimin.

Perguntaram-me algumas vezes onde ele estava e eu sentia um nó surgir na garganta todas as vezes.

— Eu também queria saber — era o que eu respondia e as pessoas ficavam confusas, talvez perguntando-se como o melhor amigo do cara não sabia onde ele estava, porque não estava ali e o que andava se passando pela cabeça dele.

Passei o resto do final de semana esperando por uma mensagem, olhando o contato dele para ver se estava online e acabei apagando toda a nossa conversa quando o vi entrando e saindo do aplicativo de mensagens.

Na segunda-feira, não esperei ele pra ir pra escola. Não procurei por ele, evitei contato na sala de aula, fui embora sem me despedir e assim a semana seguiu. Na verdade, semanas se seguiram, o aniversário dele também passou, é um mês depois do meu e eu não o procurei. Dezembro já está chegando, vamos entrar de férias da escola e nunca mais vamos voltar para lá porque terminaremos o ensino médio. A faculdade vai começar. Eu sei que vou para a Yonsei e não sei para onde Jimin vai porque ele pode muito bem ter mudado de ideia e não querer estudar no mesmo lugar que eu pelos próximos quatro, ou cinco anos. Eu não vou dividir o dormitório com ele e isso me deixa muito triste, que merda, eu estou chorando agora.

Várias coisas que eu e ele planejamos não vão mais acontecer porque ele quis sumir da minha vida e não me contou o motivo. Eu já nem sei o que me machuca mais, se é essa quebra de expectativas de coisas que eu tinha certeza que iam acontecer, ou se é saber que ele não liga pra mim, que eu tô aqui na merda e ele nem lembra que eu existo.

Esse é o ponto que estamos agora e eu não sei se desisto e sigo em frente, ou se tento pelo menos uma última vez conversar com ele. 


notas:

oie, tudo bem?

bem que eu poderia fazer um capítulo de avisos, mas não vou pq não tem nada demais para avisar kkkk essa fanfic tem duas playlists, uma delas é bem importante, mas vocês só vão ficar sabendo mais pra frente. voces podem encontrá-las no meu perfil no spotify, ta linkado na minha bio

no mais, espero que tenham gostado

essa é a primeira fanfic inédita que to postando no meu novo perfil :( wattpad vc me paga

beijos e até a próxima (vai ser muito em breve, eu prometo)

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