09| Cry baby
Ninguém falava dentro do carro.
Ninguém olhava para Jungwon, com medo do que podia acontecer.
Ninguém nunca viu o líder do Enhypen daquele jeito.
Ninguém.
Após o término do desfile, os manager's substitutos estavam revendo a agenda privada de cada integrante. O grupo recebeu muitos convites de parceria com outras marcas de roupas famosas, e tudo estava sendo organizado para o mais rápido possível.
— Mas... Estamos em um período de férias... — Jake murmura ao receber o novo cronograma atualizado.
— Parece que não estamos mais. — Sunoo fala, alto e lançando aos homens responsáveis por aquilo um olhar torto. Típico do Kim, ele simplesmente era expressivo de mais, e por mais que fosse conhecido por seu carisma e fofura com as engenes, Kim Sunoo era um homem de pouca paciência.
— Quanto mais rápido completarmos isso, mais rápido vocês poderão retornar para as férias. — Um deles respondeu, como se aquilo fosse um incentivo.
— Isso não faz sentido. — Jake retruca.
Os dois integrantes olharam para seu líder esperando uma resposta, Jungwon apenas encarava aquela lista enorme de programação quieto.
— É o combinado, já foi repassado pra empresa e...
— Repassado pra empresa? — De repente a voz do Yang foi ouvida, depois de muitas horas em silêncio. — Ou seja, isso tudo era uma programação futura?
— Há algum problema, Jungwon?
— Problema? — Jungwon finge uma risada e simplesmente amassa o cronograma e joga na direção da lixeira, a acertando. — Ainda perguntam?
— Que comportamento é esse?
— Eu te digo qual é. É o comportamento de um homem cansado, exausto, e cheio de ódio. Rodamos esse mundo fazendo shows sem parar, trabalhando incansavelmente, comeback atrás de comeback, fazendo covers, indo a programas, indo a rádios, fazendo um trabalho árduo e sendo alvos de críticas e fofocas sobre a nossa vida privada, com uma direção que não faz o mínimo para proteger nossa dignidade e só se importa com os ganhos.
Ele então aponta o dedo ofensivamente para os dois manager's a sua frente.
— O trabalho de vocês era nos ajudar com nossa agenda e nos acompanhar em eventos, não era decidir o quê iriamos fazer ou definir o tempo das nossas férias. Eu sequer estou de férias direito, ainda me falta dias dentro daquela casa cercada de câmeras e convivendo com uma mulher que eu nem conheço mais... — Ele respirou fundo ao falar de Karin. — Vocês não irão fazer a mesma coisa com eles.
— Você não pode...
— Eu posso! — Se alterou. — Eu posso, sabe por que? Por quê eu sou a droga do líder disso aqui. E o seu trabalho não é isso, nossos outros manager's não trabalhavam assim. E só por que vocês já trabalharam com os grupos antigos famosos da Hybe isso não significa que vocês vão nos fazer de escravos. E se você, se vocês dois, acharem ruim o quê estou dizendo, que vão os dois até a diretoria da Belift e marquem uma reunião comigo, mas eu não aceito que vocês me tratem ou tratem os meus colegas como se fossemos obrigados a viver e morrer por essa palhaçada toda.
Todos tinham ficado em choque.
O carro estaciona em frente à casa onde Jungwon estava ficando com Karin. Dentro do veículo só estava o motorista particular deles, Sunoo e Jake.
Jungwon encarou a casa pela janela e depois olhou no relógio em seu pulso.
Uma hora da manhã.
— Esperem aqui. — Falou e saiu do carro. A chuva o deixou molhado por completo, ele sequer havia tirado a roupa do desfile e agora ela estava toda encharcada.
Jungwon insere a chave na porta e a abre com tudo. Caminhou pelo lugar, os sapatos fazendo barulhos altos e as roupas e cabelos pingando.
Ao chegar na cozinha ele vê a figura baixinha de costas, cozinhando algo. Ele conseguia ouvir o barulho da faca que ela usava batendo na tábua de carne enquanto ela cortava os pedaços.
De repente ela se vira para trás. De início ela começou a sorrir, mas para depois de notar a expressão sombria no rosto de Jungwon.
— Nossa, o desfile foi tão ruim assim?
Ele não respondeu.
Ela então se virou mais uma vez e continuou cortando o pedaço de carne.
— Está com fome? Eu fiquei e como suspeitei que você também iria chegar com fome eu decidi fazer um...
— Por que não me contou que era a Gatinha Apaixonada?
Karin surpresa com o que ouviu se distrai, e acaba cortando os próprios dedos. Mas ela estava tão assustada que sequer se permitiu fazer algum som.
O sangue escorria sobre a pia e um nó se formava, cada vez pior em sua garganta.
— Eu te fiz uma pergunta. — Jungwon insiste, andando para perto dela.
Karin se vira na direção dele e esconde a mão ferida atrás do corpo.
— Eu disse que ia te achar, mas você duvidou, não foi? — Ele levantou as sobrancelhas, com um olhar desafiador. Karin nunca tinha visto Jungwon daquele jeito. — E você ficou quietinha enquanto eu abria o meu coração pra você. E por quê? Por acaso vai escrever outra coisa estilo "Querido CEO" e mostrar ao mundo as minhas fraquezas e a minha instabilidade emocional?
— Eu jamais faria isso. — Ela conseguiu dizer em meio ao choro que se formava.
— Eu queria muito acreditar em você. Mas simplesmente não consigo mais. E pensar que eu falei pra você sobre a Gatinha Apaixonada... — Ele força uma risada. — Aposto que você estava rindo pelas minhas costas.
— Não, por favor não pense assim de mim...
— Como não vou pensar assim de você se eu confiei a você os meus segredos e depois eu descubro que era você o motivo de eu estar sendo alvo de piadas.
— O-o que... Co-como... — Ela gagueja.
— Você acha mesmo Karin, que a repercussão que a sua história teve só ficou dentro da bolha engene? Hein? Acha que só os seus fãs que conhecem "Querido CEO"? Não. Eu andei olhando a situação das nossas redes sociais na vinda pra cá. As pessoas do Instagram postaram prints e marcam o perfil do grupo, pessoas estão reagindo à sua fanfic no tiktok e batendo meu nome pra tudo quanto é lado.
Karin abaixa cabeça se sentindo extremamente culpada. Jungwon segura em seu queixo e levanta seu rosto a obrigando olhar para ele.
— Está satisfeita?
— Jungwon...
— Está? — Ele insiste naquela pergunta. Ele vê que Karin não consegue mais evitar as lágrimas e elas começam a rolar pelo seu rosto.
Jungwon odiou vê-la daquele jeito, mas ele estava nervoso de mais por causa de tudo o que aconteceu. Sua mente estava a mil e ele ainda por cima estava sentindo dor.
Ele a larga, se recusando a ter que olhar para aquele rosto por mais tempo.
— Eu estou decepcionado com você.
Dito isso ele lhe dá as costas, a deixando sozinha na casa. Retorna ao carro e avisa aos amigos que iria voltar com eles para onde moravam.
Sozinha, Karin encarava o nada à sua frente. Lágrimas silenciosas desciam por seu rosto e o sangue continuava pingando de sua mão.
O som do vazio parecia tão forte que chegava a ser insuportável. O frio trazido pela chuva forte do lado de fora não era nada se comparado com o frio que Karin sentia por dentro. Aquela onda escura e torturante do desespero vagando pelo seu corpo, carregando até sua mente memórias, memórias estas de coisas do passado a qual ela não queria lembrar. Não podia lembrar.
Mas a situação se repetindo, e tudo por culpa dela. Sua mente parecia um corredor cheio de espinhos, a espetando com lembranças dolorosas e profundas de suas próprias decisões. Atacando com tudo o que conseguia para desmoroná-la.
Mas ela não queria desmoronar. Não queria reviver a sensação de fraqueza e insuficiência que esteve com ela durante tanto tempo.
— Ele está... decepcionado... comigo?
A culpa não era de Jungwon, no lugar dele ela também ficaria furiosa. Mas o fato dela simplesmente ter acabado com a confiança que ele tinha nela a quebrava.
Por que ela sempre fazia isso. Sempre, de alguma forma, ela conseguia chatear as pessoas mais importantes para ela. Assim como foi com seus pais.
Ela tentou ao máximo não se apegar muito ou parecer indiferente quando o assunto era sentimentos, pois tinha medo de estragar tudo. Conseguir ter feito amizade com Yejin, a garota com quem dividia o apartamento já foi algo inesperado, mais a outra já sabia como Karin era, e as duas se davam muito bem.
Mas com Jungwon...
Céus... Ela sempre gostou tanto dele.
E agora, quando ela estava gostando ainda mais, não como fã, mas sim sentir atração por ele, o vendo com homem, isso acontece.
Ela estragou tudo. E não no sentido romântico, pois ela achava impossível que rolasse algo real entre eles, mas a amizade que eles criaram... isso ela estragou. Ela sempre estragava tudo.
Mascarar seus sentimentos com olhares debochados, agir como se não se importasse com nada e fazendo piadinhas foi seu disfarce desde que saiu de casa.
Ela não podia mais sustentar aquela máscara que tinha criado. Ela parecia velha de mais para viver uma vida de mentiras.
Karin olha para o relógio na parede. Uma e vinte um da manhã.
Ela fazia vinte e um.
[...]
Jungwon passou a noite acordado, seus amigos o acompanharam para ele não se sentir sozinho, apesar do Yang não querer falar sobre o assunto.
Em algum momento quando deu próximo das seis da manhã ele conseguiu dormir. Mas acordou duas horas depois.
Seu tornozelo estava melhor, mas apenas ele. O resto de Jungwon estava triste, chateado e ele tinha vontade de chorar, mas ele não conseguia chorar. Parecia que a mesma barreira que o impedia de descansar o impedia de chorar também.
Sunoo mandou uma mensagem no grupo, pedindo que todos se encontrassem ali para uma pequena reunião. Essa reunião na verdade era pra conversar com Jungwon e descobrir o que tinha acontecido.
Os seis só conseguiram ficar juntos após o almoço.
— E então? — Ni-ki perguntou. — O quê tá acontecendo entre você e a Karin?
— Nada. — Jungwon resmunga.
— Nada? — Jay pergunta sem acreditar. — Pelas coisas que você falava pra gente quase podíamos jurar que vocês iam sair namorando no final do We Got Married.
Jungwon suspira pesado.
— A gente sabe que a relação de vocês é boa, a questão é: por quê você tá aqui e não junto com ela? — Heeseung foi direto. Jungwon havia desligado o "modo líder" e ativado o "modo maknae".
— Eu descobri que a Karin era a criadora daquela fanfic.
O rosto dos garotos era de puro choque.
— "Querido CEO"? — Sunghoon estava quase rindo, mas se conteve.
— É.
— Eu ainda não sei o quê tinha nessa fanfic de tão grave. — Jay pergunta e Jungwon balança a cabeça em negação.
— Vai por mim, você não vai querer ler.
— Era muito explícito. — Sunoo explica.
— Você leu? — Jay perguntou e o Kim negou.
— As engenes comentaram na live.
— Foi algo maldoso? — O japonês quis saber.
Jake da um sorriso sem graça.
— Não exatamente... Depende do quê você considera maldoso.
— Aish, chega! Não quero mais ouvir sobre isso.
— Agora que eu fiquei curioso? — Ni-ki resolve procurar na Internet e Jungwon apenas desiste do mais novo.
— Não importa o que ela tenha escrito. Isso foi o suficiente pra você deixar ela sozinha? — Jay voltou a falar, agora sentado ao lado de Jungwon.
— Não foi só por isso que eu saí de lá.
— E então?
— Eu fiquei chateado. Não por causa da fanfic em si, mas por quê eu confiei a ela muitas coisas que eu nunca tive coragem de dizer antes, para depois descobrir que ela poderia usar essas informações contra mim quando bem entendesse. Ela sabia que eu tinha ficado incomodado com a repercussão da história, e ela se fez de desentendida durante todo esse tempo. — Jungwon fecha os olhos com força. — Eu confiei a ela o meu coração. Eu me sinto um idiota... Mas eu sinto que se eu pudesse voltar no tempo eu teria feito tudo de novo, mesmo sabendo da verdade.
— Isso significa...
— Eu tô afim dela.
Um silêncio pairou no local.
— Mas eu não posso estar gostando dela ao mesmo tempo em que estou furioso.
Jungwon não sabia exatamente o que sentia. Era uma mistura de sentimentos. O ódio e a atração andando lado a lado.
— Gente? — Ni-ki chama a atenção dos mais velhos. — "Querido CEO" sumiu.
Todos eles voaram para o lado do Nishimura. O perfil de Karin estava aberto. A oneshot "Querido CEO" foi removida e uma chuva de comentários desesperados dos leitores surgiram no quadro de avisos do perfil. Todos loucos para saber o quê tinha acontecido.
Jungwon abriu o wattpad no próprio telefone e percebe que, com a página atualizada, o número de seguidores de Karin caiu. Não foi muita coisa, mas uma boa parte desapareceu.
— Ela deve estar arrependida. — Sunoo diz a Jungwon, mas ele não dá atenção.
Ela realmente fez aquilo.
Ele abre a ala de notificações, e vê que há horas atrás, na madrugada anterior, Karin fez uma postagem. Ele abriu a publicação, e viu um link anexado no capítulo. Apenas isto.
Ele saiu de perto dos amigos indo para seu quarto, copiou o link e jogou no google. O que abriu foi um arquivo do drive com o título ECLIPSE.
Mesmo com aquele misto de emoções em seu peito, algo em Jungwon o dizia para ler aquilo.
E ele leu, do início ao fim.
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