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G L O S S Á R I O
Ahjumma: modo de se referir a uma mulher mais velha.
Aigoo: expressão usada para demonstrar surpresa.
Aish: expressão usada para demonstrar descontentamento.
Eomma: mãe.
Eomeonim: modo de chamar a sogra.
Kimbap: a versão do sushi japonês na Coreia. É feito de arroz, normalmente recheado com espinafre, rabanete em conserva, bolo de peixe e omelete cortado.
Omo: expressão usada para demonstrar surpresa.
Oppa: forma mais íntima de uma garota se referir a um rapaz mais velho. Pode ser usado entre amigos, irmãos e namorados.
Unnie: forma de uma garota referir-se a uma outra que seja mais velha. O significado literal é "irmã mais velha".
NOTA: O café da manhã na Coreia do Sul é muito diferente do que estamos acostumados no Brasil. Lá, a refeição equivale a um almoço ou janta, contando com arroz, vários pratos típicos de comida e acompanhamentos (como kimchi).
NOTA2: A maioridade na Coreia do Sul é atingida aos 19 anos de idade.
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ACORDAR CEDO NUNCA foi algo que Lisa particularmente detestasse. Mas quando se passa noite inteira em claro, sem conseguir pregar os olhos por mais de três horas seguidas, levantar da cama equivalia à tortura física, e a agonia era tanta que ela tinha certeza de que morreria antes de conseguir colocar os dois pés para fora do quarto.
Para quem antes era capaz de dormir feito uma pedra, aquela era, sem dúvidas, uma mudança de hábitos bem drástica e que jogava seu humor na lama. E embora as pessoas tivessem dificuldade de recordar, ela não costumava ser tão azeda no passado.
Era o tipo de garota que gostava de correr pela manhã só para aproveitar os raios mornos de sol e inspirar a brisa fresca. Gostava de andar de bicicleta, confeitar bolos de aniversário para seus amigos, ler mangás shoujo e suspirar com filmes românticos. Talvez muito tempo tivesse passado. Sim, ela concordou consigo mesma, fazendo um rabo de cavalo em frente ao espelho. Tudo estava diferente.
Agora ela sofria de insônia. Ou pelo menos era isso que dizia quando a questionavam sobre sua indisposição para atividades físicas e sobre as manchas arroxeadas debaixo dos olhos. O que ninguém se importava em perguntar era o motivo das alterações em seu sono. As pessoas não queriam realmente descobrir se ela não dormia porque não conseguia ou porque não podia.
Lisa terminou de passar o delineador nas pálpebras e foi até a cozinha em busca de qualquer coisa para encher o estômago. Não havia muita coisa nos armários, apenas as compras da semana feitas por sua irmã – que consistiam em comida pré-pronta industrializada – e restos de delivery das noites anteriores. Cheirou um pote que tirou da geladeira e franziu o nariz, descartando o conteúdo na lixeira. Conferiu o relógio e viu que já eram nove horas, então decidiu sair sem comer mesmo.
Quando estava chegando à porta de casa, escutou o namorado da mãe a chamando.
— Lisa, aproveite que está em pé e traga uma garrafa de soju pra mim. — Disse ele.
Lisa bufou e quase o mandou levantar a bunda do sofá se quisesse alguma bebida, mas mordeu a língua e fez seu caminho de volta até a geladeira. Arrumar confusão tão cedo só traria dor de cabeça.
— Toma. — Arremessou a garrafa para Dae Chul.
— Você não tem aula? — Ele ignorou a carranca dela e abriu a tampa.
— Hoje é sábado.
— Hum. — Dae Chul bebeu do gargalo e fez uma careta, o líquido queimando ao descer por sua garganta. Lisa desejou que o álcool derretesse o estômago dele.
— Cadê minha mãe?
— Dormindo. A noite de ontem foi intensa. — Ele riu com maldade e mudou o canal da tevê, coçando a barba por fazer. — Quer sentar? — Bateu o pé sobre o espaço vazio ao seu lado no sofá.
Dae Chul era um homem atraente de vinte e sete anos, mas tudo que ela conseguia sentir ao olhar para ele era aversão. Não passava de um preguiçoso que não parava mais de seis meses no mesmo emprego porque sempre fazia besteira. Um idiota que vivia sugando o dinheiro suado da mãe de Lisa, quinze anos mais velha que ele. Mas essa nem era a pior parte.
Assim, sem se dignar a gastar saliva com quem não merecia, Lisa deu as costas e saiu marchando rumo à casa dos vizinhos, seus cabelos alaranjados balançando a cada passo.
Para seu deleite, foi Seok Jin quem atendeu a porta. Deveria ser considerado um crime ele conseguir roubar seu fôlego mesmo estando com os cabelos desgrenhados e o rosto amassado. E ele parecia tão fofo, tão quentinho, macio e convidativo que Lisa não pôde se conter.
— O que você tá fazendo? — Jin esfregou os olhos e bocejou, ainda desorientado. Também não dormira nada naquela noite, porém seu problema tinha nome próprio e personalidade difícil. Eun Byul não deixava sua mente em paz nem quando estava longe. E, para piorar, existia aquela vozinha interior que o atormentava incessantemente, alertando que ele estava entrando numa enrascada. Rá, como se ele fosse dar ouvidos aos conselhos de sua própria consciência.
— Te abraçando. — Lisa murmurou, apertando os braços ao redor dele. A visita pela manhã tinha funcionado. Após uma semana inteira sem vê-lo, ela finalmente conseguira encontrá-lo em casa. — Você sempre faz meu dia melhorar, oppa. — Complementou, esfregando a bochecha contra o peito dele.
— Jin, pare agora mesmo de agarrar nossa vizinha menor de idade e vá fazer alguma coisa de útil na sua vida. — Ji Won ralhou, dando um peteleco na nuca do irmão.
Hae Sook, ouvindo a confusão, colocou uma cabeça para fora da cozinha querendo espiar a conversa. Ela amava acompanhar aquelas interações entre os jovens, eram sempre tão animadas e revigorantes.
— Aigoo, se nossa Lisa fosse um pouco mais velha... — A matriarca dos Cha secou a mão no pano de prato e se aproximou do grupo. — Quer que eu espante as pretendentes dele até você completar dezenove? — Riu, divertida, ruguinhas adoráveis se formando ao redor de seus olhos.
Jin franziu a testa e Lisa aproveitou o momento de distração para depositar um beijo rápido na bochecha dele. Em seguida, saltitou até Hae Sook e a abraçou apertado.
— Você é a melhor, eomeonim. — Disse ela, sorridente. Lisa não tinha só uma paixão indiscreta pelo primogênito daquela casa. Ela amava aquela família por inteiro, como se fosse sua. Secretamente, sempre quis que fosse.
— Você não conseguiria bancar a sogra má nem se quisesse, eomma. — Jin acrescentou, adulando a mãe.
— E que mulher iria querer namorar com esse cabeça de vento? — Ji Won retornou da cozinha com um kimbap e o enfiou na boca. — Sem ofensas, Lisa.
Jin rolou os olhos. De jeito nenhum confessaria que estava de caso com a ex-namorada do colégio – que, a propósito, nunca fora apresentada à família — apenas para comprovar que fazia sucesso entre o público feminino. Sua mãe ficaria tão eufórica com a novidade que planejaria todos os detalhes do casório em menos de uma semana. Mas isso não significava que ele não podia retrucar a provocação da irmã na mesma moeda.
— E quem iria se envolver com uma garota que tem problemas para controlar a raiva? — Jin rebateu. — Os homens prezam pelo que carregam entre as pernas, Wonie. — Pôs a mão no local para elucidar, fazendo Lisa corar e abrir um sorriso torto.
— YAH! — Ji Won gritou, seguindo-o enquanto ele tentava fugir para dentro da cozinha.
Mais um dia agitado, pensou Hae Sook, rindo consigo mesma. Seus bebês acabariam devorando todos os pratos do café da manhã antes que ela tivesse a chance de dizer kimchi três vezes sem enrolar a língua.
— Você não vem? — Perguntou, virando-se para fitar a jovem ainda paralisada na porta de entrada.
— Hã? — Lisa piscou.
— Tomar café da manhã. — Hae Sook esclareceu, passando o braço ao redor dos ombros estreitos da garota. — Você está tão magrinha, querida. — Um vinco de preocupação surgiu em sua testa. — Temos arroz, sopa de broto de feijão, kimchi, tofu macio e ovos cozidos. Coma bastante, sim?
Lisa deixou-se guiar e se sentou à mesa da cozinha. Agradeceu ao receber uma tigela cheia de arroz, serviu-se dos acompanhamentos e mastigou ao som dos irmãos Cha discutindo ferrenhamente, como de costume. Em dado momento, ela enxugou os olhos e fungou, engolindo com dificuldade e sentindo sua garganta fechar. Desde quando acordar cedo a deixava tão emocional?
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Após terminar de lavar a louça do café da manhã, Ji Won foi para o quarto na companhia do irmão, Lisa e três integrantes do staff do reality show que tinham acabado de chegar, enviados a mando do programa com o intuito de registrarem a cena dela arrumando as malas para ir morar com seu novo marido, Song Min Ho.
A interrupção das filmagens na subprefeitura, embora tenha irritado o diretor, não trouxe grandes problemas. Os recém-casados gravaram, inclusive, uma cena em que dividiam um pedaço de bolo de casamento, fingindo estarem felizes. O que não foi de todo mentira. Ji Won amou cada minuto em que pôde errar a mira e melecar o rosto e roupas de Mino com glacê.
— Vocês vão morar juntos de verdade, unnie? — Lisa perguntou, curiosa, quando o pessoal do programa enfim se retirou do quarto, satisfeitos com a quantidade de takes feitos.
— É só fingimento. — Ji Won dobrou uma blusa e a pôs na mala apoiada no chão. — Mas acho que vamos precisar passar a noite juntos, porque é o único horário que ele tem disponível pra gravar. Parece que a agenda de trabalho daquele pervertido está cheia de compromissos pelo resto da semana.
— Quer dizer que você vai passar a noite com um cara, unnie. — Lisa arregalou os olhos e pulou sobre o colchão. — Um oppa super quente. — Abanou o rosto. — Mas cuidado. Exceto o Jin oppa, homens não prestam. — Alertou, de repente séria.
— Ele não é doido de encostar um dedo na minha irmã. — Jin resmungou, vincando a testa. — E você não vai levar isso. — Tomou o pijama de babados da mão dela e o arremessou para o outro lado do quarto.
— Yah, se não vai ajudar, some daqui. — Ji Won bufou, separando uma blusinha limpa para o caso de precisar. — Pega meu pijama do chão agora, porque minhas coisas não são lixo! — Crispou os olhos.
— Leve esse aqui. — Jin jogou um par de blusa e calça compridas no rosto dela.
— Isso é roupa de frio. Eu vou assar dentro dessa coisa! — Ela exclamou, livrando-se do pijama flanelado. — Estamos no verão, Jin! Você é estúpido ou o quê?
— Eu sou seu oppa e eu mando. — Ele cruzou os braços, irritado.
— E o quarto é meu e eu mando você sair. — Ela rebateu, fechando o zíper da mala.
— Unnie, será que você e o Mino vão dividir a mesma cama? — Lisa especulou, interrompendo a milésima discussão do dia. Pôs um travesseiro debaixo da cabeça e deitou, espalhando suas madeixas alaranjadas sobre o edredom. — Para as filmagens do reality, você sabe.
Ji Won fitou a lâmpada no teto, mordendo o interior da bochecha. Se isso acontecesse, seria um pesadelo. Estava convicta de que Mino iria tentar alguma gracinha, já que o novo objetivo de vida dele parecia ser tirá-la do sério.
— Acho que só se o diretor quiser gravar uma cena da gente fingindo dormir. — Respondeu, por fim.
— E se pedirem pra vocês se beijarem, unnie? — A garota girou o corpo e apoiou-se sobre os cotovelos. — Você tem coragem?
— O quê?! Não! — Seok Jin arregalou os olhos. Mino já havia feito isso uma vez, poderia muito bem tentar de novo. — Eu proíbo. Nenhum cara vai encostar as mãos na minha Wonie. — Foi até a irmã e se jogou sobre ela, sufocando-a com seu peso de propósito.
— Aish, sai de cima de mim! — Ji Won berrou. — Yaaaaaaaah!
— Também quero. — Lisa uniu-se aos dois e pulou sobre as costas de Jin, dando risadinhas. Não tinha como resistir, ele era mesmo quentinho e ela precisava aproveitar ao máximo antes de partir.
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No momento em que Ji Won chegou arrastando sua mala de rodinhas, Song Min Ho já estava na entrada do apartamento duplex, escorado contra o batente da porta e parecendo relaxado. Ele vestia uma blusa de malha branca devidamente ajustada ao corpo, e Ji Won acabou admirando por mais tempo do que deveria, pois, quando voltou a fita-lo nos olhos, deparou-se com um sorrisinho pretensioso cintilando nos lábios dele.
— Achei que você nunca fosse chegar, Wonie. — Mino bloqueou o caminho dela e abriu os braços, pedindo um abraço em tom de deboche. — Senti falta da minha esposinha.
— Não mexa comigo, Mino, porque eu não estou pra brincadeira hoje. — Ji Won crispou os lábios, desgostosa. — Pervertido. — Murmurou ao passar por ele, trombando propositalmente em seu ombro.
— Não era eu quem estava encarando como se quisesse arrancar um pedaço. — Ele murmurou de volta enquanto a seguia para dentro do apartamento, onde o pessoal do programa os esperava.
O reality costumava alugar uma casa pequena e modesta para servir de cenário para os recém-casados, porém as coisas seriam diferentes naquele ano. O produtor explicou que, como aquela era uma edição dedicada aos fãs, usar a verdadeira residência dos famosos participantes tornaria tudo mais interessante, além de atiçar a curiosidade da audiência.
— Instalamos câmeras na casa inteira. Vamos gravar também alguns takes de perto e depois vocês estarão por conta própria. — Disse o diretor, virando-se para encarar Ji Won. — Sabemos que você não é atriz, por isso será mais espontâneo se você agir sem roteiro. Mas não precisa ficar nervosa, o Mino receberá todas as orientações de como conduzir as situações. — Tentou tranquiliza-la. — Como fã, apenas aproveite o momento e aja naturalmente que a gente cuida do resto, ok?
— Ah... — Ji Won exibiu um sorriso amarelo. — Claro.
Era interessante ver como aquilo funcionava. Para os telespectadores, a coisa toda parecia muito real, tanto que as pessoas quase se esqueciam que o relacionamento amoroso exibido na tevê não passava de fingimento e começavam a acreditar que os pseudo-casais realmente desenvolviam sentimentos um pelo outro. O que poucos sabiam era que todas as atividades e cenas eram previamente orquestradas pelos roteiristas do reality.
Naquela temporada, contudo, como estavam usando fãs, estas não eram obrigadas a atuar. Precisavam apenas ser elas mesmas e curtir ao máximo a proximidade com as celebridades. Assim, repassados os últimos detalhes, a gravação finalmente teve início.
Ji Won subiu as escadas do loft e logo tratou de organizar suas coisas no espaço que Mino abrira para ela em seu guarda-roupa. Não que ela engolisse aquele falso ato de gentileza, mas precisava sorrir para as câmeras. Aproveitou também para infiltrar, entre as roupas dele, algumas peças confeccionadas na alfaiataria de seu pai. Depois, respirou fundo, reunindo coragem e paciência antes de descer para continuar aquele teatro esquisito.
Uma vez na cozinha, os dois constataram que estavam com fome e decidiram preparar seu primeiro jantar como casal.
— Quer dizer que você sabe cozinhar? — Mino aproximou-se da bancada onde Ji Won estava trabalhando. Assobiou ao notar a agilidade com a qual ela fatiava os legumes e verduras. — Estou impressionado.
Ji Won olhou para o lado apenas para dar de cara com o rosto de Mino, claramente invadindo seu espaço pessoal. De novo. Aquele pervertido podia até enganar o público, mas ela não engolia aquela pose bom moço. Desconfiava que ele estivesse preparando terreno para algum golpezinho sujo com a intenção de provoca-la.
Será que aquele ego ferido nunca se recuperaria do soco que levara? Envergonhá-la era a forma distorcida dele de descontar por ter sido rejeitado durante o fatídico beijo? Céus, garotos dificilmente amadureciam.
— Aprendi com minha mãe. — Ela explicou com ares de casualidade. — Quer tentar, oppa? — A apontou a lâmina da faca na direção ele.
Mino saltou por reflexo e logo tentou disfarçar o evidente constrangimento. Coçou o pescoço, pigarreou e sorriu para o cameraman. Depois retornou para perto da esposa postiça e parou atrás dela, quase colando seu corpo em suas costas. Ji Won podia sentir a respiração dele fazendo cócegas em seu pescoço.
— Então me ensina. — Pediu, passando os braços ao redor dela. Fez com que ela lhe entregasse a faca e finalizou o serviço, fatiando o pimentão e as cenouras devagar, torturando Ji Won a cada lento segundo. — Fui bem? — Perguntou.
E era óbvio que tinha ido bem. Não precisava ser nenhum especialista para perceber. Mino passava a errônea impressão de não conseguir nem acender um fogão elétrico sozinho, mas a verdade é que ele escondia, debaixo das mangas, sua habilidade especial para cozinhar, adquirida após uma adolescência inteira auxiliando sua tia durante os jantares.
Poucas coisas eram mais sedutoras do que um homem que sabe exatamente o que está fazendo dentro de uma cozinha, e Ji Won partilhava dessa opinião, mas ela não admitiria isso nem sob pena de morte. Se alguém alimentasse mais o ego daquele galanteador barato, ele acabaria explodindo.
— Oppa, você quer se oferecer para terminar de fazer o nosso jantar e está com vergonha de dizer, não é? — Perguntou, dengosa, virando-se para encará-lo. — Ya-áh. — Disse com voz amanteigada, dando um tapinha de leve no ombro dele.
— Mas eu nã-
— Você é tão gentil, oppa. Eu realmente estou bem cansada por conta da mudança. Vou tirar um cochilo lá em cima, está bem? —Desvencilhou-se da armadilha dele com um sorriso triunfante.
Lançou um olhar enviesado para o cameraman, proibindo que ele a seguisse, e subiu as escadas em direção ao quarto, martirizando-se por ter corado tanto. Por que mesmo ela se submetia àquele tipo de tortura? Sim, sim. A alfaiataria. Somente mais cinco meses e estaria tudo terminado.
Ji Won jogou-se sobre a cama de Mino e resmungou com satisfação ao sentir lençóis tão macios, recordando-se da primeira vez que visitara o apartamento. Fitou as câmeras instaladas no canto das paredes e grunhiu, espichando-se ainda mais pelo colchão. Só de pensar que o pessoal da edição do reality assistiria a tudo posteriormente, ela se sentia como um peixe dentro de um aquário.
A ansiedade era tamanha que ela estava uma pilha de nervos, a ponto de transbordar. Por isso, decidiu descarregar a energia bisbilhotando ao redor do cômodo. Não havia muitos itens pessoais. A decoração era bem genérica e chique, exceto por um porta retrato de Mino ao lado do primo e de uma ajuhmma remotamente familiar. De onde ela a conhecia mesmo? Coçou a cabeça, pensativa.
Desistiu de tentar lembrar e continuou sua pequena jornada investigativa. Abriu todas as gavetas de Mino, experimentou alguns perfumes, riu de algumas camisas excêntricas e, então, encontrou algo que fisgou sua atenção. Um álbum de fotografias, o melhor lugar para encontrar coisas constrangedoras.
Seus dedos praticamente pinicavam querendo folheá-lo, e ela não viu motivo para se privar de descobrir mais sobre o passado de seu marido postiço. Na condição de esposa, era quase sua obrigação saber, certo?
Assim, abafando qualquer bom senso, ela se sentou na cama com o álbum no colo e começou a passar as fotografias uma por uma. Mino bebê, criança, adolescente. Mino na escola, em casa, brincando com o primo. Cortes de cabelo que deram errado, dentes de leite que caíram. Mino adulto, recebendo prêmios, beijando o rosto da ex-namorada... sim, a ex-namorada.
Go Eun Byul era bonita e delicada. Somando isso ao seu talento, não era de se espantar que fosse considerada uma das mulheres mais atraentes de toda Coreia do Sul. Quando ela comparecia a programas de variedades e entrevistas, esbanjava tanto carisma que cativava qualquer um. Ela era perfeita em todos os sentidos da palavra, Ji Won suspirou. Parecia loucura pensar que Mino havia traído uma garota daquelas ao beijá-la no restaurante.
A última foto do álbum estava dobrada no meio e Ji Won a retirou do plástico para analisa-la melhor. Era Mino, provavelmente na faixa dos oito anos, parecendo tão feliz que ela se flagrou sorrindo de volta para a imagem daquela criança adorável. Mas quando seus olhos pousaram sobre a mulher que estava de mãos dadas com ele, Ji Won ficou pálida. Por que aqueles dois tinham uma foto juntos? Que tipo de conexão os unia?
— O jantar está... — Mino parou de falar ao ver o que Ji Won estava fazendo. Assumindo uma expressão sombria, ele tomou o álbum e a foto da mão dela e os guardou de volta na gaveta. Ainda sem nada dizer, cerrou a mandíbula e desceu pisando duro na escada, visivelmente aborrecido.
Ji Won soltou o ar e pôs a mão sobre o coração. Aquilo a assustara, nunca tinha visto Mino sério. Ao menos ele não tinha gritado, porque, se o fizesse, ela não saberia como reagir. Deveria pedir desculpas por bisbilhotar? Talvez sim.
Ao chegar na sala, ela encontrou o jantar arrumado sobre uma mesa de pés baixos no meio do cômodo, e logo tratou de sentar-se sobre uma das almofadas postas ao redor, cruzando as pernas em seguida.
Mino veio da cozinha alguns minutos depois, trazendo consigo a pasta de feijão vermelho e as panquecas de legumes e lula picada. Para o espanto de Ji won, ele estava bem humorado e não hesitou em se sentar bem do lado dela, agindo como se nada tivesse acontecido.
— Espero que esteja gostoso. — Disse ele, colocando um pedaço de peixe sobre a tigela de arroz dela. — Coma bastante, Wonie. — E então ele sorriu de um jeito que a fez sentir calafrios.
Aquele sorriso dizia muitas coisas e nenhuma delas era boa.
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Gente, sei que prometi a presença do Yoon Gi, mas é que tive que dividir o capítulo em duas partes e ele vai aparecer só na próxima. Essa visita da Wonie à casa do Mino também ainda não terminou! haha
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Obrigada pela leitura :)
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