Rowan Parker está ocupando o lugar em que eu me sentava antes de ser interrompida por sua chegada. Marshmallow pede por carinho, ela não vacila um único segundo antes de agarrá-lo com ambas as mãos; Apple Pie assiste de longe, a encarando com a desconfiança de uma fera selvagem.

— Qual é o nome da fofura? — Rowan pergunta, com uma voz infantilizada, o tom destinado a bichos e crianças.

— Esse é o Marshmallow — respondo da poltrona na lateral do sofá. A televisão está pausada em Steve Carell no meio de um grito. (A série seguiu sem mim quando fui atender a porta.) — E a outra é a Apple Pie.

— Os seus gatos têm nomes de comida? — De volta a sua voz normal.

— Cada um cria o seu conceito. — Fico na dúvida se estou sendo criticada, então economizo no tom ácido; o arrependimento de ter aberto a porta volta, se sobressaindo a minha pena. Deveria estar encaminhando para o final de mais um episódio de The office, não encarando uma estrela pop acariciando o meu gato (que está muito confortável na companhia dela). — Você quer me contar o que precisa?

— Ah, me desculpe. — Rowan arruma sua postura e, por fim, me encara. Ela parece tão normal sentada no meu sofá, sem a maquiagem das apresentações, as roupas coloridas e brilhantes dos shows. — Eu preciso de uma música... não, talvez um álbum, mas para começar quero só uma música.

— Você não está em uma turnê de divulgação do último álbum? A gravadora já está planejando o próximo?

— Não exatamente. Meu empresário disse as exatas palavras "você está no meio da maior turnê da sua carreira até agora, foque só nisso".

— Me parece sensato. — Cruzo os braços. Não é incomum artistas gravarem outros discos em meio a turnês: com um bom isolamento acústico e um microfone de qualidade, pode-se gravar de qualquer lugar do mundo. E Rowan é uma promessa, a previsão é que seus próximos trabalhos sejam verdadeiros fenômenos mundiais (o tipo que quebra recordes).

— Não preciso de sensatez. — Ela se coloca em pé em um salto; Marshmallow se assusta. Rowan caminha em voltas na frente do sofá. — Eu preciso de algo que ninguém seja capaz de ignorar.

— Eu não estou entendendo a sua necessidade. — Começo a ficar zonza com as suas voltas intermináveis. — Seu último hit está indo bem nas listas, melhor do que muitos podem se gabar, em um nível de fama como o seu. E todo mundo espera que seu próximo álbum seja ainda maior.

— Também espero, porque você vai trabalhar comigo.

— Vamos com calma, Rowan. — Fico em pé também. Ela por fim para com suas voltas e me observa.

— Ronald Bush me falou que não existe fracasso com você.

— Ah... Obrigada? — Havia trabalhado com Ronald em seu álbum mais recente, a primeira vez em que o cantor country havia de fato colaborado com compositores.

— Quero uma música, pensamos sobre o álbum depois. E quero que você componha para mim.

— Eu não só escrevo a música para as pessoas — justifico. — Sei que muitos compositores chegam com algo pronto, mas eu prefiro trabalhar com o artista. Minha função é te ajudar a chegar na letra que sozinha não consegue.

— Perfeito! — Seu rosto é radiante, bem diferente da imagem chorosa da porta. — Onde ficam os seus instrumentos?

Rowan adentra ainda mais a minha casa; Apple Pie mostra os dentes para ela quando passa ao seu lado.

— Meu Deus! — Sigo em seu encalço. Se antes sentia pena, agora estou mais próxima da raiva. — Você vai entrando na casa das pessoas desse jeito?

A cantora para em um cômodo adjacente à sala de jantar, seus passos travam na porta. É o lugar menos organizado de toda a casa, mas também o mais aconchegante. De um lado um piano vermelho de cauda, o mesmo que passei anos namorando na vitrine de uma loja e a primeira coisa que adquiri com meu trabalho (na época, mal cabia no apartamento em um bairro questionável de Los Angeles). Violões ficam pendurados na parede junto das guitarras, um atrás do outro, como o mostruário de uma loja, com a diferença de que esses exercem a função para a qual foram construídos: produzir música. No lado oposto ao piano está uma bateria, rodeada por outros instrumentos de percussão.

Mas o verdadeiro encanto do cômodo está nas paredes de vidro. Acho que foi uma estufa, a estrutura já estava acoplada a casa quando a comprei, apenas reaproveitei e transformei no estúdio perfeito, com um bom isolamento acústico, mas sem perder a visão de todo o jardim.

— Isso é lindo — Rowan pronuncia em uma voz sufocada, soando mais como um pensamento que escapou por sua boca. As luzes do jardim estão acesas, iluminando todo o verde que nos rodea. — Agora eu entendo porque as suas músicas sempre são as melhores. — Ela me observa em suas costas.

Deveria me agarrar à raiva de ter uma desconhecida invadindo a minha casa, infiltrando-se pelos cômodos como se eu a tivesse convidado em primeiro lugar. No entanto, mais uma vez sou pega por um sentimento empático; existe outra coisa por trás da necessidade de Rowan. Estrelas não apareciam na minha porta, no meio da noite, só porque precisavam de uma canção.