04 - MEMÓRIAS QUE ASSOMBRAM
04.
memórias que assombram
2010
ERA FIM DE INVERNO E A GEADA FORMAVA uma fina camada no solo, as solas das botas que usavam não eram as mais indicadas para aquele clima, então precisavam pisar com cuidado. Não tinham muito para comer e o pouco que tinham deixava Rebecca enjoada, estava mais calada que o habitual e distante de uma forma ansiosa.
O clima frio e o gelo impossibilitavam o percurso recorrente até a Zona de Quarentena, Rebecca e Jake estavam liderando um grupo de cinco pessoas contando com eles. Uma troca de cargas e suprimentos entre duas Zonas de Quarentena que levaria alguns dias, mas naqueles tempos era sempre difícil saber já que muita coisa poderia acontecer pelo caminho. E de fato, a situação acabou se transformando em uma das tarefas mais difíceis que tiveram que desempenhar.
O clima frio era um reflexo da tensão entre Rebecca e Jake, por vários dias o silêncio era a única coisa que permanecia entre eles. Eles discordavam da forma de como tratar as outras pessoas do grupo, enquanto Rebecca continuava com uma postura firme e distante, Jake era mais passivo e compreensível - o que por muitas vezes resultava em conflitos e dinâmicas pouco práticas para situações mais sérias.
A discordância entre os dois foi o que causou o insucesso da tarefa, porque tendo perdido três pessoas do grupo na ida, na volta Jake parou o veículo na beira da estrada para ajudar um andarilho. Rebecca pediu para que ele continuasse dirigindo, mas Jake Kline tinha um senso heróico mais forte. Acabou por ser uma emboscada de um grupo pequeno, eles reagiram e correram para fora da estrada buscando abrigo na mata, e assim perderam o último componente do grupo, o veículo e os suprimentos que haviam conseguido.
Há pouco mais de um dia estavam a pé procurando um abrigo nas redondezas para que pudessem descansar e com sorte se alimentar até conseguirem retomar o caminho para a ZQ de Boston. Rebecca estava furiosa e Jake um pouco irritado, ambos sentiam que nos últimos meses os desentendimentos eram mais frequentes e houve uma tentativa de Rebecca de solicitar que fosse designada para outras tarefas de forma que pudessem trabalhar separados. Mas naquele caso eram os que tinham mais experiência em missões fora da ZQ.
Estava começando a escurecer e o ar quente da respiração dos dois começava a se tornar visível, o solo da mata estava bem mais escorregadio e Rebecca já não sentia os dedos do pé devido ao frio que aumentava. Os dois usavam jaquetas e lucas, Jake se ofereceu para dar à ela sua jaqueta, mas Rebecca balançou a cabeça em um sinal negativo sem o olhar.
— Nós dois sabemos que não pode ficar brava para sempre, Becca. — Jake murmurou oferecendo a ela o último gole de água que tinham na garrafa.
Rebecca recusou novamente. Seus passos se tornaram mais vacilantes e ela parou por um instante sentindo a tontura, quando Jake a alcançou ela voltou a caminhar na frente dele.
— Acho que precisamos conversar, você está brava o tempo todo ultimamente. — O tom calmo da voz de Jake acabava por irritar mais Rebecca.
— Então você toma algumas decisões ruins e eu deveria continuar feliz? — Ela murmurou. — Jake, você quer salvar todo mundo o tempo todo, mas isso nos coloca em risco!
— Eu sei que não podemos salvar todo mundo. — Jake falou sério enquanto acaminhava atrás dela. — Nem mesmo podemos salvar um ao outro. Mas não quer dizer que não podemos tentar.
— Mas tentar requer correr riscos e precisamos avaliar se vale a pena correr todos os riscos sempre. — Ela insistiu enquanto seu pé direito escorregava na mata coberta pela geada, perdeu o equilíbrio por um instante, mas conseguiu corrigir os passos. E eu não posso correr riscos, Jake. Nós dois não podemos.
— Então foda-se os outros agora? Foda-se a humanidade, a sociedade… — Ele soava um pouco irritado naquele momento.
Rebecca se virou para ele e falou sem conseguir conter a raiva:
— Que humanidade, Jake? Que sociedade? Tudo se foi! Agora é nós contra todo o resto. Sobreviver é a única regra, a única que importa. — Ele começou a balançar a cabeça como se discordasse, Rebecca respirou fundo sentindo o coração pesar com a decisão que estava tomando naquele momento e então continuou a falar. — Não podemos correr riscos pelos outros, a não ser nós. Jake…
Enquanto o último raio de sol deixava o céu para a noite que o cobria, Jake olhou nos olhos de Rebecca.
— Faz uma semana que estou atrasada.
Ele abriu a boca para perguntar algo como se não tivesse entendido, e então a compreensão aliviou suas feições.
— Então vamos ter um bebê? — Ele estendeu a mão e tocou o rosto dela, Jake sorriu. — Se você quiser, vamos cuidar dele. Podemos fazer isso, Becca.
— Podemos? Nesse mundo? — A voz dela falhou um pouco. — Sempre falamos que queríamos uma criança, mas isso foi antes. Eu não sei se quero trazer uma criança para viver em um mundo como esse.
— Eu sei que posso acreditar no altruísmo e negar que existe um lado ruim para tudo, sei que você se irrita com meu bom humor e modo positivo de levar as coisas. — Ele se aproximou dela até que Rebecca pudesse sentir a respiração dele em seu rosto. — Mas eu acredito que esse é um risco que vale a pena correr.
Ela respirou fundo tentando organizar os pensamentos. Ainda duvidava de que poderiam lidar com uma criança e enfrentando tudo o que precisavam encarar para simplesmente sobreviver.
— Vou pensar nisso, ainda não é nenhuma certeza. Talvez seja só um atraso mesmo. — Ela falou mais para ela do que para ele.
Ainda pensando em como seria terrível criar uma criança com todos os perigos que os cercavam, Rebecca sentiu o pé direito escorregar novamente, mas a queda foi muito mais brusca do que esperava. Sentiu o corpo rolar para baixo e o tornozelo torcer, bateu a cabeça e o cotovelo no solo e ouviu Jake gritar atrás dela.
Uma vertigem lhe atingiu e ela precisou piscar várias vezes seguidas e respirar fundo.
— Becca! — A voz de Jake vinha de um lugar acima dela.
Rebecca olhou ao redor e só viu a escuridão, estendeu as mãos e para se levantar e tocou a parede na sua frente. Quando ergueu a cabeça e viu a silhueta de Jake distante acima dela, se deu conta de que havia caído em um buraco.
— Você está bem? Se machucou? — Jake soou um tanto alarmado.
— Só o meu tornozelo. — Ela tentou se poiar na perna, mas não conseguiu. A dor e a queimação se estenderam pela perna. — Não acho que quebrei, devo só ter torcido.
De repente Jake se colocou de pé e levantou as duas mãos olhando para algo que ela não conseguia ver.
— Por favor, minha mulher caiu nesse buraco. Pode nos ajudar? — Jake pediu.
Um calafrio passou por Becca ao perceber que se algo acontecesse com Jake, não iria conseguir ajudá-lo presa ali.
Uma outra silhueta surgiu acima dela e mesmo não conseguindo enxergar o rosto, sabia que era um homem e ele segurava uma arma.
O homem não falou nada, apenas se afastou por um instante e retornou com uma escada. Rebecca se afastou até o canto oposto do buraco enquanto o estranho colocava a escada. Com dificuldade de apoiar o pé ela subiu devagar, sentindo pontadas de dor toda vez que utilizava o tornozelo.
Quando chegou em cima, Jake a puxou com cuidado para perto dele lhe dando apoio.
O estranho apontou a luz da lanterna para eles.
— Muito muito obrigado! — Jake falou. — Não queremos incomodar, mas ela está machucada e precisa de ajuda. Andamos por mais de um dia sem comida, você teria…
— Não. — O homem falou cortando Jake com um tom seco.
Rebecca e Jake o encararam por um momento.
— Ele quis dizer "não vamos deixá-los dessa maneira nessa mata à noite". — Disse uma voz, era um outro homem próximo a uma das árvores. Rebecca não tinha reparado em sua silhueta no escuro.
O homem armado pareceu desconfortável com a resposta do outro enquanto ele se aproximava. Os dois trocaram um olhar e naquele gesto simples ela reconheceu que os dois eram um casal. Existe uma comunicação pautada no afeto e na irritação que um casal consegue desempenhar em um olhar, e Rebecca percebeu aquilo neles.
— Eu sou o Frank. — Falou o homem que concordou em ajudá-los. — E esse é o meu marido, Bill. Venham, chegaram bem na hora do jantar.
— Perfeito, nós estávamos mesmo começando a ficar com fome. — Jake sorriu com seu bom humor, o que fez Rebecca o encarar irritada.
Ela não queria confiar em dois estranhos e um deles não queria confiar nela e em Jake também. O tom natural com que Jake e Frank pareciam estar falando de um jantar com amigos era um desconforto para ela e para Bill, o outro estranho mal humorado.
Mas naquele momento, ela decidiu que era um risco que valia a pena correr.
2023
10 milhas a oeste de Boston
O CLIMA ERA MAIS FRIO DEVIDO À VEGETAÇÃO E AO RIO QUE ESTAVAM PRÓXIMOS. Uma neblina pairava ao amanhecer sobre a figura de uma mulher, um homem e uma criança. Em outro tempo e em outras circunstâncias poderiam ter sido vistos como uma família de férias pelas cidades do estado de Massachusetts, um passeio para ficar mais próximos da natureza e ver as montanhas que se estendiam para além do rio.
Mas as três figuras que poderiam ser a mãe, o pai e a filha, eram mais complexas do que um mero retrato de família. Os laços que os uniam eram a necessidade e a sobrevivência o que dava pouco espaço para afeto, e depois de uma perda e de um silêncio esmagador durante a caminhada, o clima não era nada familiar.
Depois de terem deixado para trás o Capitólio e visto o lugar explodir, as chamas que se tornaram a cova de Tess continuaram a queimar enquanto eles se afastavam, e certamente continuaram a queimar na mente de Joel que não falou mais nada. No final da noite escolheram um lugar entre as árvores e se acomodaram para passar a noite.
Quando amanheceu, Joel foi o primeiro a levantar e ir até a margem do rio para encher as garrafas de água. Rebecca percebeu que ele havia deixado a jaqueta sobre Ellie enquanto ela dormia. Quando Ellie acordou, Rebecca estava arrumando suas coisas e deixou um pacote de biscoito envelhecidos ao lado da garota.
Ellie olhou ao redor como se estivesse procurando por Joel.
— Acha que ele me culpa? — Ellie perguntou a ela.
Rebecca a observou com cuidado e então balançou a cabeça.
— Acho que ele culpa a si mesmo. — A mulher respondeu. — Mas ele não vai saber o que fazer com essa culpa, pelo menos por agora.
Ellie ficou pensativa e Joel voltou para perto delas, entregou a garrafa de água para Rebecca e outra para Ellie. A garota parecia apreensiva e ansiosa para quebrar o silêncio.
— Quer sua jaqueta de volta? — Ellie perguntou para Joel.
Ele balançou a cabeça de forma negativa e se virou para pegar a mochila. Ellie olhou para Rebecca, ela percebeu que a garota estava odiando aquele clima e olhava para ela como se precisasse falar ou fazer alguma coisa. Rebecca fez um sinal com a cabeça indicando Joel silenciosamente sugerindo que ela tentasse falar com ele de novo.
— Olha, eu não vou dizer que sinto muito, porque não foi minha culpa. Vocês escolheram me levar, vocês decidiram que iam fazer isso por causa de uma bateria de carro e… — Ellie olhou para Rebecca percebendo que não sabia porque exatamente ela estava ali e então continuou falando de forma firme. — O que quer que ela precise, mas vocês escolheram assumir esse risco. Não é culpa minha, então não desconte em mim.
Joel pareceu curioso e depois pensativo por um instante, e então ele concordou com a cabeça e finalmente verbalizou algo:
— Vamos continuar.
Rebecca ficou surpresa com a franqueza de Ellie e a rapidez com que ela percebeu que era necessário estabelecer um limite para que ninguém ali projetasse as frustrações na garota. As duas pegaram suas mochilas e seguiram Joel.
— Quanto tempo para a gente chegar? — Ellie aparentava estar novamente mais tranquila e cheia de sua energia implicante.
— Vamos caminhar o dia inteiro. — Joel olhou para Rebecca como se a parte a seguir precisasse da atenção dela. — Vamos parar no caminho, tem um lugar onde guardei algumas coisas.
— Tudo bem. Se seguirmos nessa direção, dificilmente encontraremos algum agente ou posto da FEDRA. — Ela falou observando Ellie ir na frente com passos animados. — Então recapitulando o plano, vamos até o Wyoming para encontrar o seu irmão Thomas e tentar contatar os Vagalumes.
— Certo. — A forma como Joel falava pouco e apenas o necessário fez Rebecca segurar um sorriso.
— Mas antes, vamos encontrar um amigo seu para conseguir mais suprimentos. — Lembrou Rebecca. — Qual o nome dele?
Joel pensou se deveria contar aquilo à ela.
— Bill. — Ele disse por fim.
— Bill e Frank? — Rebecca sentiu o nome soar na voz dela enquanto ela pensava alto. Observou a direção em que estavam indo e começou a ligar os pontos.
Joel olhou para ela estudando sua expressão. Eles alcançaram a beira da estrada e prosseguiram andando, Ellie cantava alguma coisa enquanto ia na frente.
— Conhece eles?
— Sim. — Rebecca confessou. — Me ajudaram uma vez. E Jake sempre tentava levar algo para eles no natal.
O sol estava se erguendo com mais força tomando o céu para si, Rebecca abriu a garrafa de água e tomou um gole.
— Jake e Frank gostavam da ideia de manter uma amizade. Eu tentei ficar mais distante.
— Por quê? — Joel perguntou pensando que ele mesmo procurava se manter distante até das pessoas mais próximas, assim como foi com Tess.
— Porque nesse mundo nada dura e nada importa além da sobrevivência. E eu era da FEDRA, se descobrissem de alguma forma, viriam bater na porta dele. — Becca suspirou. — E eles tem algo muito bom para ser perdido dessa forma.
Ele balançou a cabeça de forma compreensiva, Ellie parou um pouco para que pudessem alcançá-la. Quando os dois seguiram ao lado da garota, ela soltou:
— Quanto mais velhos ficamos, mais devagar também?
Joel revirou os olhos e como sempre não se deu o trabalho de responder. Mas Rebecca fez questão de acrescentar:
— Nossas pernas podem não aguentar muito, mas somos rápidos no gatilho.
Ellie riu e então seus olhos se arregalaram como se ela tivesse acabado de ter uma ideia genial.
— Sabe, eu estava pensando se já não seria bom eu ter uma arma…?
— Não! — Joel e Rebecca responderam em uníssono no mesmo tom de indignação.
Ellie bufou e acelerou o passo para caminhar na frente deles mudando um "chatos para caralho" enquanto ia na frente.
— Por que uma agente da FEDRA está ajudando os Vagalumes? — Joel perguntou e assim que a voz dele soou, Rebecca soube que era uma pergunta ele estava se fazendo desde que iniciaram aquilo.
Rebecca passou os dedos pelo pingente dos Vagalumes que carregava consigo e o puxou para fora da camisa.
— Dizem que ela pode ser a cura. Não nos resta muitos motivos para continuar, eu nunca fui de acreditar em nada. — Ela falou. — Devo isso a Jake. Tenho colaborado com os Vagalumes desde que ele se foi e quando contaram que dessa vez pode dar certo, eu larguei tudo e vim.
Os dois observavam a estrada que estendiam diante deles e Ellie que seguia entusiasmada como se fosse uma viagem divertida, e de fato para ela poderia ser a primeira viagem que fazia na vida.
— Você é uma daquelas pessoas que acha que a FEDRA é bom? — A cautela na pergunta de Joel quase a fez sorrir.
— Se quer saber, Joel Miller, eu entrei no exército assim que terminei a escola. Depois dos atentados em Nova York, o país se encheu com uma onda patriota e naquele idade todo mundo queria ser herói e lutar por algo. — Ela contou enquanto caminhavam, o sol estava tomava o céu o clima ameno era de certa forma confortável. Joel passou a olhar mais para o rosto dela enquanto a ouvia. — Eu romantizava muito essa coisa de ser parte do exército e defender a pátria.
— E o que aconteceu depois?
Rebecca notou que ele queria saber mais.
— Eu fui para a guerra, conheci a realidade lá, entendi que nada justifica uma guerra. — Ela deu de ombros. — Eu achava que sabia de tudo e que o quê o mundo precisava era de ordem, voltei com um estresse pós traumático e dois dias depois de voltar do Iraque, a infecção começou.
— Quase como se o terror não tivesse fim. — Joel murmurou.
— Exatamente.
Um pouco distante em uma interseção da estrada era possível ver uma loja de conveniência. Joel apontou para o local:
— Vamos até lá, escondi umas coisas lá há um tempo atrás.
Eles prosseguiram acelerando os passos agora que tinham uma perspectiva de chegada, poderiam fazer uma pausa ntes de retomar até a a casa de Bill e Frank. Ellie esperou por eles e os acompanhou enquanto entravam na conveniência com as armas prontas.
— Tem alguma coisa legal aqui? — Ellie correu para a máquina de fliperama. — Tá de brincadeira! Eu sempre quis jogar um desse!
— Não vai encontrar nada de útil, esse lugar foi limpo há muito tempo atrás. — Joel explicou indo até o canto direito avaliando o local ali.
A máquina obviamente não funcionava mais, ainda assim Ellie fingiu que estava jogando.
Rebecca caminhou por entre as prateleiras que estavam completamente vazias, Joel procurava por alguma coisa no chão.
Logicamente qualquer coisa útil que pudesse ter ali fora levada há muito tempo, Ellie procurou em uma sala nos fundos e Rebecca afastou as prateleiras caídas no canto da loja. No meio de algumas prateleiras amontoadas, ela conseguiu ver algo no fundo e cometa afastar uma por uma para alcançar.
Joel continuava analisando o chão do outro lado quando ela perguntou a ele:
— Como era a sua relação com Tess? Estavam juntos?
— Não, ela era família para mim. Quando nos conhecemos tivemos sim um breve envolvimento, mas não passou disso. — Joel se abaixou saindo do campo de visão de Becca. — Depois de anos no mesmo grupo, ficamos em Boston depois de ter restado só nós e passamos a trabalhar juntos.
Rebecca se abaixou e se esgueirou pelo vão entre as prateleiras caídas uma sobre as outras e alcançou as caixinhas que tinha visto. Conseguiu tirar uma cartela de analgésicos, outra de relaxante muscular e por último a de um anticoncepcional. Ela os guardou na mochila e caminhou até Joel.
— De qualquer forma, eu sinto muito. — Ela falou, ele a olhou nos olhos e balança cabeça uma vez.
O tipo de silêncio que era confortável, que indicava que estava tudo bem.
Mas o silêncio era algo natural de Joel, havia algo que geralmente era um barulho constante e irritante e a ausência daquilo deixou Rebecca em alerta.
— Ellie? — Ela gritou.
Nenhuma resposta.
Joel fechou o compartimento que tinha no chão onde havia guardado uma arma e retirado outra. Ele arrastou uma prateleira para cobrir o compartimento o escondendo melhor.
— Ellie! — Joel chamou.
Os dois se olharam ao ver que não tiveram resposta da garota, os dedos de Becca desceram até a arma colocada no cós da calça. Ela e Joel avançaram até a sala no fundo, quando de repente Ellie saiu com um olhar convencido.
— Disseram que não teria nada de bom, não é? — Ela exibiu a embalagem de absorventes que havia encontrado e andou em direção à porta.
Rebecca e Joel seguiram a garota para continuar a caminhada do dia. Becca tirou um dos comprimidos analgésicos e estendeu para Joel.
— Pode ajudar a aliviar a sua mão. — Ela explicou.
Joel aceitou e tomou o comprimido, os nós em seus dedos está sem roxos ainda. Eles continuaram caminhando, em uma colina distante a forma de um avião caído foi se tornando mais visível conforme se aproximavam.
Ellie subitamente ficou ainda mais animada.
— Eu não acredito que vocês entravam nessa coisa e voavam de um lugar para outro! — Ela exclamou.
A vivacidade dela diante de algo que era tão trivial para eles anos atrás, deixava Rebecca intrigada. E em alguns momentos era difícil acompanhar toda a energia de Ellie, mas em outros era quase como se ela segurasse a risada ou o sorriso por algo que a garota havia comentado.
Ela continuou enfatizando o quanto era incrível que Joel e Rebecca tivessem voado algumas vezes e estado no céu, ela tinha uma visão quase que mágica das coisas. Lembrou de Rebecca de que pessoas assim eram delicadas demais para aquele mundo.
— Não vamos por aí, vamos dar a volta. — Joel alertou a menina. — Tem coisas que eu não quero que você veja.
Aquilo instigou a garota ainda mais.
— Agora sim vamos precisar ir por esse caminho, eu quero ver. — Ela falou em seu tom decidido e continuaram a caminhar.
Alguns metros à diante havia uma vala próxima à beira da estrada, ossos e tecidos desgastados se espalhavam pelo local. Era algo difícil de digerir, mas Ellie observou por um instante e depois seguiu em frente, lembrando à Rebecca que ela havia nascido naquele mundo - portanto, não era fraca para enfrentar nenhum daqueles fatos.
Os três continuaram a caminhada até os portões de entrada da cidade, eles eram grandes e a cerca de segurança feita por Billy parecia ainda mais intimidadora do que da última vez que Rebecca a tinha visto.
Joel se aproximou do interfone e chamou por Bill.
Não houve resposta, ele suspirou e digitou a senha.
— Será que estão bem? — Rebecca perguntou.
Joel não respondeu, e ela soube que aquilo significava que provavelmente não estavam bem. E Becca percebeu que estava começando a conhecer e interpretar Joel Miller sem que ele precisasse falar.
notas: acho que esse capítulo foi sutil para mostrar o início do vínculo que eles estão formando. achei que poderia começar com Joel e Becca se olhando mais, se ouvindo mais. mas ainda vamos ter discussões, conflitos de ideais. eu já estou finalizando o próximo capítulo e já já publico mais! gente, eu agradeço demais todo o retorno que vocês dão através de comentários, isso incentiva muito. essa semana eu achei que não ia conseguir aguentar muita coisa, a rotina de ter dois empregos e com a volta das aulas acaba com toda energia. mas eu consegui graças ao incentivo de vocês. ❤️
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