Uma disposição bem planejada pode guiar o olhar do leitor e destacar os pontos mais importantes. Antes, porém, precisamos falar sobre a regra dos terços. Esta é uma técnica de composição visual que divide qualquer imagem em nove partes iguais, utilizando duas linhas horizontais e duas linhas verticais. Os pontos onde estas linhas se cruzam são conhecidos como pontos de interesse, e a regra sugere que a colocação dos elementos mais importantes da imagem nestes pontos (ou próximos a eles) pode criar uma composição mais equilibrada e atraente.

A regra dos terços é uma orientação útil porque ajuda a criar uma sensação de movimento e dinamismo na capa. Em vez de colocar o elemento principal no centro da capa, o que pode resultar em uma composição estática, chapada, você pode colocá-lo o mais perto possível de um desses pontos de interesse para criar uma composição mais dinâmica.

Abaixo, trago como exemplo a capa da antologia As Janelas da Alma e outros contos de terror com as linhas da regra dos terços em vermelho, destacando os quatro pontos de interesse. Quando fiz essa pintura (uma mulher idosa de berrando enquanto uma aranha caranguejeira sai de sua boca), eu quis destacar dois pontos. Na parte superior, os olhos dessa personagem, escondido atrás dessa faixa preta que traz o título da antologia. Na parte inferior, meu destaque foi a aranha saindo da boca da idosa. Perceba como o olhar é "puxado", direcionado, para os dois pontos de interesse sobre o título e que se confundem com os olhos da mulher, as nossas "janelas da alma". Então, o olhar passeia até cair nos pontos inferiores, sobre a aranha. Pronto: eu contei a história central desse livro usando a regra dos terços.

#PraTodosVerem | Descrição da imagem: ao fundo, vê uma mulher idosa de cabelos desgrenhados, os olhos vendados por uma tarja preta, gritando enquanto uma aranha caranguejeira, patas peludas, veneno ao redor, sai da boca dela.

No entanto, isso não significa que a centralização dos elementos seja sempre inadequada. Em certos casos, como por exemplo quando a simplicidade ou a simetria são desejadas, o posicionamento central dos elementos pode ser efetivo. A chave é ter um entendimento claro de qual é o foco da capa e como você quer que ele seja percebido. Observe abaixo a capa do livro O Anjo Pornográfico – A Vida de Nelson Rodrigues, de Ruy Castro. O que vemos aqui é uma fotografia em preto e branco do autor Nelson Rodrigues, totalmente desfocada nas bordas e nítida apenas na parte central, no rosto do escritor. Aqui, essa questão de centralização foi usada para conferir dramaticidade. Simbolicamente, essa composição indica que Nelson Rodrigues é o sol ao redor do qual circunda parte do escopo da literatura nacional; o autor é tão impactante que desfoca tudo ao redor.

#PraTodosVerem | Descrição da Imagem: fotografia em preto e branco do autor Nelson Rodrigues, desfocada nas bordas e nítida apenas na parte central, no rosto do escritor. À frente, em vermelho, o título O Anjo Pornográfico seguido do subtítulo A Vida de Nelson Rodrigues.

Outra consideração importante é a qualidade das imagens. As imagens nítidas são essenciais para uma capa de livro atraente. Inclusive, digo que essa deveria ser a tua prioridade: priorizar a qualidade das artes que você vai usar. As imagens borradas ou de baixa resolução podem dar a impressão de falta de profissionalismo e afastar os leitores. Além disso, as imagens nítidas permitem que os detalhes sejam claramente vistos, mesmo quando a capa é visualizada em miniatura.

Fale para mim: quantas vezes você não vê capas borradas ou em baixíssima resolução aqui no Wattpad?

Além disso, a forma como os elementos interagem entre si na capa é essencial. Isso inclui a relação entre as imagens, o texto e o espaço em branco. Uma boa composição equilibra esses elementos para criar uma imagem global harmoniosa. O espaço em branco, por exemplo, não deve ser visto como um espaço vazio, mas como um elemento que ajuda a destacar e a enquadrar os outros elementos. Pensando como artista plástico, lembro que chamamos esse espaço em branco de silêncio da tela. Assim como na vida, em uma arte, em uma fotografia, o silêncio é fundamental para que nós consigamos imergir na mensagem passada ali.

Pare de querer preencher cada pequeno espaço vazio.

Deixe o olhar respirar.

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