98. Cuidado para não viver na defensiva
#praTodosVerem | Descrição da imagem: vê-se o autor diante de uma parede branca. Ele segura uma faca diante dos olhos.
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O maior problema de viver na defensiva é que você não consegue desfrutar de situação alguma, pois vive em eterno pensamento de que todos estão prestes a te atacar. Fazer este "Wattpad: guia de sobrevivência" tem sido um interessante observatório dessa atitude. Muitas pessoas não veem a reflexão que há em cada publicação e, ao invés disso, "vestem carapuças" que não são para elas.
Calma.
Vivemos em uma sociedade que enaltece o ditado "A melhor defesa é o ataque". E de "defesa" em "defesa", ninguém consegue conversar. Hoje, se alguém pisar no meu pé, eu tenho que logo pedir desculpas, pois andamos sobre um barril de pólvora. No Wattpad, então, você corre o risco de ser atacado apenas por falar certas verdades.
Uma atitude defensiva impede que você tenha a oportunidade de conhecer outras pessoas, aprimorar o teu texto, repensar certas narrativas, mudar personagens, aprender mais sobre o ambiente literário, interagir com a galera, criar conexões com os escritores. Há muitos usuários da plataforma que leem algumas destas publicações, por exemplo, e enviam mensagens privadas com reclamações como se eu tivesse escrito aquilo para aquela pessoa!
Viu como a atitude defensiva te deixa exposta? Você veste uma carapuça que é genérica, mera reflexão social, e expõe culpas internalizadas que meu texto fez emergirem do subconsciente. Hoje, eu conheço fragilidades de pessoas que foram em xingar de graça pelo chat privado... É muito estranho.
No artigo de número 16 ("Por que você não escreve sobre o Brasil?") uma menina me disse que odiava quem dizia isso porque não viviam "em uma cidade idiota e de gente de merda" (sic). Ou seja: a raiva dessa pessoa a fez abrir para mim, inconscientemente, revelações sobre a forma como ela vê o lugar onde mora, como lida com as pessoas e o sentimento de fuga que tem.
Artigos depois, em "Pare de romantizar o estupro", número 19, um cara, dessa vez pelo Instagram, mandou mensagem me chamando de comunista, militante, esquerdista e finalizou com a mensagem que transcrevo abaixo:
"[...] e esse negócio de cultura de estupro é pura mentira, idiota. Isso é coisa que gente do PT e desses partidos comunistas jogam pra passar lei que destrua a família e gente burra como você cai na mentira. Meu pai até teve problemas com mulheres, mas não estuprou ninguém. É mentira. Nós somos homens, paciência. Tu eu não sei se é, mas eu sou."
Não é interessante o que as entrelinhas nos trazem?! O que esse cara me revelou: que provavelmente votou no Bolsonaro, que nutre uma raiva por partidos de esquerda, que acha que mulheres têm alguma culpa quando são estupradas, que homens gays, bi, trans, pan ou assexuais não são "homens". Está tão imerso na misoginia e na raiva que acabou me contando, sem eu pedir, que o pai dele está envolvido com algum problema relacionado a estupro e, pelo modo veemente como o defendeu, talvez já haja até alguma medida policial.
E isso vale para tudo. Leu algo na internet de que não gostou? Um livro, um artigo, uma notícia? Deixe as pedras de lado e vá pesquisar mais sobre aquele assunto. Não saia verbalizando por aí sem antes ter compreensão do porquê aquele texto te afeta tanto. Pergunte-se: "Ok, isso me incomodou. Por quê? Por que esse texto, essas palavras, fizeram algo reverberar tão forte na minha mente?"
E uma pergunta ainda mais essencial é:
"O texto reverberou em mim porque ele de fato é uma droga que precisa ser combatida, ou será que ele revela um equívoco que eu cometo, mas me recuso a reconhecer?"
Eu faço esse exercício há alguns anos e vou te dizer: é transformador. Antes de deixar que os teus dedos digitem o que vier à tua mente, respire fundo e filtre tuas emoções. Guarde as pedras para usar nos momentos certos, nas batalhas certas. E reconheça os teus erros, olhe-se no espelho sem medo, queira mudar.
Ninguém é unanimidade.
E outra: nem tudo o que te dizem é uma indireta. O que afeta você é a tua consciência.
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