#praTodosVerem | Descrição da imagem: foto aproximada de escritos em uma página de caderno, com um lápis e uma borracha sobre a folha.

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Se há algo que eu nunca compreendi cem por cento é o motivo que leva algumas pessoas a esconderem que escrevem. Sim, eu sei que há vários fatores por trás dessa decisão, como medo de ser pressionada, medo de ser avacalhado, falta de confiança no próprio texto, ausência de um estímulo para a leitura, vir de uma família que não lê, machismos, a própria sociedade que não incentiva a educação... Mesmo assim, eu creio que no momento em que você bate o pé no chão e decide sair da bolha de conforto que é o esconderijo, a máscara, você ganha muitas coisas boas.

E a maior delas é a certeza de que você é uma pessoa que tem coragem de ir atrás dos teus objetivos.

As pessoas ao nosso redor podem ser cruéis. Ah, sim, eu bem sei. E eu não falo apenas da crueldade óbvia, aquela exposta, escancarada. Eu falo daquela crítica que está no olhar; que está nos almoços de família quando alguém comenta que você escreve e muitos dos teus parentes te olham com aquele ar de "tá certo, Clarice Lispector! Senta lá!" ou então vêm com a famigerada pergunta: "E tu já lançou algum livro?"

Do alto do meu papel de "esquisito" da família e com três décadas anos nas costas, seria muito fácil eu dizer para você dar uma resposta atravessada caso algo assim aconteça contigo. Contudo, eu sei que nem todo mundo tem essa coragem e, acima disso, a força de arcar com as consequências de mandar aquele teu tio mala ir pra PQP. Vai muito da idade, bagagem que trazemos, desconstruções mentais que encaramos, reconceituação do conceito de família, afastamentos, empoderamento, enfim, dezenas de peças deste grande quebra-cabeça que é a vida.

Sendo assim, o melhor que posso dizer é "prove que a tua escrita merece ser lida". A forma mais simples de calar a boca das pessoas é mostrar que a tua habilidade de escrita, o teu trabalho, não é só uma brincadeira. E um detalhe: não caia no estereótipo do "só sou escritora se tiver livros físicos". Se você acreditar nisso, se você alimentar esse preconceito, quando vierem te confrontar você abaixará a cabeça.

Não abaixe a cabeça. Olhe as pessoas olho no olho. E aqui, sim, independente de quem seja: mãe, pai, avô, amigo, não importa. Você pode ser adolescente ainda e pode sim exigir que seja escutado, que seja respeitada.

Algo que eu dizia muito para a minha mãe e fez minha relação com ela ser de confiança e de amizade é: eu lhe respeito não porque a senhora é a minha mãe, eu respeito porque a senhora me respeita de volta.

Fuja da armadilha da "preservação do sangue", aquele movimento que vem muito do cristianismo de que você deve valorizar e elevar a família independente do que aconteça, independente dos erros que a pessoa cometa.

Não.

Relações saudáveis são feitas em primeiro lugar com respeito.

No momento em que você esconde quem é, você alimenta preconceitos; você reforça muros. Eu sei que não é algo fácil de se fazer e sei que, dependendo da tua realidade, você nem vê possibilidade de se empoderar a esse ponto. Mas acredite: é um plantio. Dia após dia, uma etapa por vez, olhar por olhar, você crescerá.

Erga a cabeça.

Respeite o teu texto e o teu esforço.

Respeite-se para conquistar respeito.

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