87. Tenha orgulho do teu passado literário
#praTodosVerem | Descrição da imagem: vê-se uma foto antiga do autor - tanto que a criatura ainda tem cabelo. Ele se debruça sobre pilhas e mais pilhas de livros e tem a testa apoiada em uma delas.
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Eu comecei a escrever muito cedo. Tinha por volta dos onze anos. Lembro que cheguei até a ganhar um concurso de poesias feito no meu colégio. Foi a minha primeira incursão na literatura e no papel de escritor, pois, veja só!, teve até noite de autógrafos para os selecionados para a "Coletânea de Poesias do Colégio Girassol". Boas lembranças. Depois disso, é claro, continuei a escrever. Eu gostava de pegar os meus livros paradidáticos da escola e reescrever as história para "dar mais emoção". É claro que ficava uma grande confusão, mas a experiência serviu como aula de escrita criativa, mesmo que eu nem soubesse o que era isso.
Na foto deste post eu estou com dezenove anos. Eu escolhi essa imagem porque lembro que nessa época, adolescente como a maioria dos usuários do Wattpad, eu olhava para os meus textos antigos e tinha vontade de queimar todos. É natural. A adolescência é uma fase bonita e peculiar, não é?! Vivemos ao redor dos nossos problemas, orbitamos em torno de nossos umbigos, mas também somos sujeitos às vontades externas, mesmo que não admitamos isso. Quando adolescentes, alguns mais, outros menos, temos o nariz empinado, um quê de rebeldia e uma certeza de sermos diferentes de todo o resto. No entanto, devido à proximidade com a infância, ainda balançamos entre a necessidade de amadurecer, a vontade de se provar para a sociedade e a questão de apenas querermos viver em paz. E isso, é claro, se reflete nos nossos textos.
O fato é que hoje, tantos anos depois dessa foto, percebo o quanto o meu passado literário fez e ainda faz parte do meu processo criativo. A criança que escrevia poesias, o menino que criava mundos de RPG, o garoto que começou a escrever contos próprios depois de ler "O meu pé de laranja-lima" e "Harry Potter", todos eles impulsionaram quem eu sou hoje. Eles foram as raízes do Henggo. E a forja desse pseudônimo é um reflexo disso.
Se eu não tivesse mergulhado na escrita, se não tivesse tido todo o apoio da minha mãe para escrever, ler e estudar, não faria sentido moldar esse nome, pois eu o usaria onde? Em casa? O Henggo nasceu no instante em que eu deixei vergonhas para trás e vislumbrei a escrita e as artes plásticas com serenidade. Juntei as iniciais do meu nome completo (HENrique Gomes GOnçalves) e eu quis ser o Henggo. Esse nome reflete uma trajetória.
E eu conto isso aqui para que você reflita sobre a própria trajetória literária.
Independentemente da idade que você tenha, orgulhe-se de quem você foi. O teu texto de ontem pode não ser uma prova de qualidade técnica, mas é a semente do teu esforço e da tua coragem para ser uma escritora, um escritor melhor. Não deixe que opiniões alheias e que as tuas próprias concepções sobre os teus textos do passado influenciem em quem tu és hoje.
Nós somos um conjunto de erros e de acertos; somos um conjunto de mergulhos em equívocos e em glórias que moldam nosso caráter.
Não se envergonhe de quem você foi e de quem você é.
E aqui voltamos à questão da adolescência, pois hoje em dia tem um fator que eu não tive quando adolescente: as redes sociais. Se hoje você têm à disposição mecanismos que te apresentam para o mundo, você também tem um ônus, um fardo gigantesco, que é a pressão psicológica que essas redes exercem.
Você deve seguir o "padrão de beleza", você deve publicar tantas vezes por dia para ter seguidores, você deve ser influenciador digital, você pode ganhar dinheiro com teu perfil nas redes sociais, você precisa de curtidas, você tem de ter o melhor conteúdo, a melhor foto, seguir as modinhas, entrar nas ondas, escolher as tags corretas, marcas pessoas, entrar em promoções, ter uma boa câmera, ter muitos votos no Wattpad, vangloriar-se pela quantidade de visualizações... Ufa! Calma!
É complicado, mas não permita que essas redes te influenciem a esse ponto. E cuidado, pois elas influenciam sem você nem perceber. Quantas vezes você já não deixou de publicar algo no Wattpad porque achou estava "muito ruim" ou que ririam de você ou ainda porque julgou que "não era bom o suficiente"? Quantas vezes as opiniões dos teu leitores de influenciaram? Quantas vezes você já não publicou algo, não obteve votos e leituras e achou que era porque o texto estava ruim? Quantos eu já não vi e vejo por aqui que, ano após ano, excluem os textos antigos por pura vergonha?
Não esconda o teu passado literário.
Uma coisa é você revisar um texto antigo. Outra é você ou excluir ou reescrever de modo a adequar aquele passado ao teu eu de hoje. Se fizeres isso, tu ficarás em um eterno conflito, pois a vida é evolução. O que eu pensei ontem já mudou hoje e o pensamento de hoje mudará amanhã, evoluirá. E aí? Eu vou ficar reescrevendo o primeiro conto que publiquei no Wattpad quantas vezes por ano só para alimentar o meu ideal de perfeição? O Henggo de 26 anos que publicou "95 filmes para o fim do mundo" definitivamente não é o Henggo de 32 anos que está aqui com este artigo literário. Paciência. Vida que segue.
Repito: revise antiguidades, mas não as esconda. E o "não esconder" não significa "publique". É não esconder de ti mesmo. Conheço pessoas que queimaram (literalmente) os textos que faziam quando crianças porque "eram muito ruins". Não. Eles eram a personificação de uma vontade de escrever; eram o símbolo de uma busca por expressão. Isso é bonito. Valorize. Guarde tuas memórias.
Teus textos antigos são a prova do teu amor e do teu respeito pelas palavras.
Acima de tudo, eles são a prova de que você erra, aprende com os erros, respira fundo e segue adiante para errar mais e mais e mais, e aprender mais e mais e mais.
Bem-vindo, bem-vinda, à vida que, longe das perfeições que nos impõem na internet, existe, resiste e persiste.
Pois, então, viva.⠀
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