75. Um desabafo literário
#praTodosVerem | Descrição da imagem: diante de um fundo azul, sentado em uma janela e envolto por luz e penumbra, vê-se apenas a silhueta do autor.
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Esses dias estive pensando em como o Wattpad mascara nossas angústias, sabe? Assim como uma rede social comum, podemos ser quem quisermos através de um perfil na Internet. No Wattpad, então, uma plataforma que lida com sonhos, podemos moldar uma personalidade auto suficiente, forte, perfeita e altiva. Porém, no desligar da tela, apenas respiramos fundo e tentamos impedir que a frase "Por que eu continuo com isso?" domine nossos corações.
É difícil.
Eu fui criado para ser perfeito. Fui criado em um padrão de "só quero nota 10, hein?!". Cobravam muito de mim e eu embarquei na cobrança. Resultado: 32 anos nas costas, a máscara de força no rosto e um choro entalado na garganta. E isso se reflete no meu Wattpad.
É cansativo.
Eu ainda me cobro muito. Fui editor de jornalismo por algum tempo e esse fato se mostrou agridoce. Ganhei a habilidade de sentir se um texto funciona ou não apenas ao ler as primeiras linhas. No entanto, devido à construção social que tive ao longo da vida, eu uso essa habilidade para me sabotar.
O chicote que eu carrego estrala com ainda mais força em mim. É auto flagelo.
E isso agora se reflete no fato de eu não conseguir mais imergir na maioria dos livros do Wattpad. O motivo? O meu "super hiper mega idiota" padrão de qualidade faz com que eu me irrite com histórias mal elaboradas. O problema disso? O Wattpad é uma plataforma de testes; uma plataforma onde as pessoas podem escrever suas angústias sem precisar de um esmero técnico.
É um laboratório.
Há dez anos, quando entrei na plataforma, eu compreendia isso. Hoje, não mais. E isso me consome. A maturidade literária me trouxe ganhos maravilhosos, como o fato de ter ganhado diversos concursos literários externos à plataforma, com textos que nunca vieram para cá. Ir para esses concursos me fez sair da zona de conforto, mas tem me afastado do meu lugar de fala, o Wattpad.
Eu brigo para ficar por aqui. Como mencionei artigos atrás, eu recusei propostas de editoras que exigiam que eu retirasse o livro do Wattpad. Eu os escrevi para a plataforma e eles ficarão na plataforma. Ponto. E não me arrependo. O problema é que ao mesmo tempo que tenho essa consciência, eu tenho também uma crescente dificuldade de imersão.
Estou tentando. Uns dias mais, outros menos, o balanceamento desse meu lado crítico é volátil, necessário, complexo. É um processo de amadurecimento que, sei disso, continuará até o dia em que minha essência retorne ao Cosmo.
Enfim, foi apenas um desabafo. Tem dias que você só quer jogar tudo pro alto e recomeçar.
Fica bem por aí. 😉
P.S: este texto foi escrito quando o "Guia de Sobrevivência" ainda estava na minha página do Instagram. Hoje, outubro de2020, saí de todas as minhas redes socais (só fiquei com plataformas de texto: oWattpad, o Filmow e o Medium) e percebo como isso me fez bem. O ambiente do Wattpad no Facebook e no Instagram tem uma disputa velada por notoriedade, uma toxicidade que se esgueira por esses lugares apesar das pessoas maravilhosas que ainda estão por lá. Por mais desconstruídos que sejamos, tudo isso nos afeta. Eu decidi deixar esse texto no curso dos artigos para que as pessoas vejam que nem tudo são flores. Longe disso. A vida é um jardim de rosas, sim, mas muitas dessas rosas têm espinhos. E precisamos falar de nossos espinhos para que as pessoas que por ventura venham a se ferir percebam que está tudo bem; percebam que elas não estão sozinhas.
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