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72. O "pink money" no Wattpad

#praTodosVerem | Descrição da imagem: vê-se a bandeira do arco-íris ao fundo. Diante dela, um emoji tristonho em preto e branco está em destaque.

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"Pink money" é uma expressão usada como sinônimo do poder aquisitivo da comunidade LGBTQ+. Na cultura pop, então, a expressão ganhou relevância nos últimos anos quando empresas e artistas começaram a atentar para esse mercado e passaram a voltar seus produtos para conquistar essa parcela dos consumidores. E é aí que cantores e cantoras que nunca falaram sobre o tema, nunca lutaram por direitos ou fizeram qualquer menção ao assunto, passaram a investir no segmento. Logo, ficou óbvio como havia pessoas tentando se aproveitar da "onda arco-íris", todo um esforço voltado apenas para os ganhos financeiros que a comunidade LGBTQ+ pode trazer. No Wattpad, infelizmente, não é diferente.

A quantidade de livros com temática LGBTQ+ (com destaque para obras com personagens gays) na plataforma é algo louvável, sem dúvida. Porém, se você investigar mais a fundo, verá como as histórias sempre pendem para a padronização dos personagens, os estereótipos: corpos esculturais, clichés do "hétero que se descobre gay" ou do "gay que se apaixona pelo xxx (amigo / primo / irmão / pai do amigo / Faustão / etc)" e, em sua maioria, com capas de homens sem camisa, musculosos e de padrão estético europeu. E a quantidade de autoras e de autores que escrevem sobre essa temática apenas por acharem "bonitinho" dois homens se beijando é algo a se considerar.

É a união entre interesses escusos dos autores e o modo como o público fetichiza o tema.

Há uma diferença grande entre você "dar visibilidade a uma causa" e entre você "mascarar obras genéricas com a desculpa de dar visibilidade" apenas para conquistar público. Muitas dessas histórias não trazem a problemática vivida por um homem gay. Muitas dessas histórias caem no escopo dos clichés que mencionei acima e não discutem, por exemplo, o fardo que os gays da terceira idade vivem, não discutem a padronização dos corpos (e vai MUITO além de incluir um "gay gordinho" na tua história, pois dentro da comunidade gay essa questão é muito mais delicada do que o peso); não discutem a misoginia de muitos homens gays, não discutem o preconceito que a própria comunidade gay tem com afeminados, drag queens e travestis, não discutem a invisibilidade bissexual, não discutem a exclusão dos transsexuais (você sabia que muitos homens transsexuais não são aceitos por terem vagina? Pois é). Percebe a diferença entre "escrever só por achar fofo" e "escrever para gerar debate, mesmo que sejam fofuras"?

E quer um exemplo de como muitos no Wattpad se aproveitam das "ondas sociais"? Agora, com a ascensão do movimento #blacklivesmatter (vidas negras importam) você já notou como muitos autores e autoras têm divulgado livros aos gritos de:

"MENINXS, eu tenho um personagem NEGRO!!!! Leiam meu livro!"?

Sejamos sensatos: pinçar um ator negro e incluir entre as fotos dos teus personagens sem ter uma história pujante por trás não te faz um diferencial. Muitos desses personagens nada mais são do que "atores negros colocados para viver a vida de pessoas brancas".

É preciso mergulhar na problemática, gerar debate, contribuir para a mudança e não para a padronização. Se você não é LGBTQ+, estude, converse, aprofunde-se, saia do ambiente lindo do Instagram onde tudo parece um sonho e veja, por exemplo, como uma lésbica da periferia sofre todo dia. Continue escrevendo histórias "fofas", mas busque transformar o teu texto em um trampolim para a visibilidade, não em correntes para a manutenção do status quo.

Conheço autoras héteros que adoram dizer que "tentam fazer o papel de dar visibilidade, mas a comunidade é muito chata e não quer ajuda". Óbvio que não! Você pega um livro com um ator pornô seminu na capa e com uma narrativa estereotipada ao máximo, que parece o roteiro de uma obra pornográfica. Isso ajuda em que no debate? Um dos maiores estigmas em torno da comunidade LGBTQ+ é sobre a "promiscuidade". Religiosos adoram falar sobre a "desvirtuação" e o "pecado" que essas pessoas promovem (padres pedófilos, pastores corruptos, beleza!). Um livro que segue o padrão da "perfeição" contribui só para alimentar esse preconceito.

A pessoa entra no Wattpad, procura por histórias gays, por exemplo, e é recebida com barrigas e peitorais à mostra, sorrisos lânguidos e testosterona a cada página. Essa pessoa vai pensar o quê?

Claro que há espaço para obras assim. Sempre houve e sempre haverá. É uma fuga da realidade que tem seu lugar no mercado literário. No entanto, quando a maioria dos livros pendem apenas para isso, quando os personagens gays parecem um bando de homens no cio, há algo errado. Muito errado.

Usar de estereótipos e de fetiches para alcançar visibilidade é não ver como o preconceito destrói. Somos o país que mais mata pessoas LGBTQ no mundo. Dados de 2019 da Secretaria de Políticas Sociais da Central Única de Trabalhadores do estado de São Paulo aponta que no Brasil um LGBTQ é morto a cada 23 horas. E um detalhe: esse número equivale apenas aos casos registrados como homofobia. Fora disso, a estimativa é que a realidade seja um número muito maior.

Portanto, contribua para diminuir esses números. E não, não é questão de "falar só sobre mazelas e tristezas", como me disse uma autora famosinha da Amazon que só escreve livros gays com esses estereótipos. É, sim, trazer a realidade, mostrar que a vida de uma pessoa LGBTQ+ é cheia de desafios, mas também é tão banal quanto a de qualquer outra pessoa.

Se for escrever história LGBTQ+ só porque viu que um outro autor alcançou milhares de visualizações, sinceramente, o nome disso é ser hipócrita.

Tenha respeito pelas pessoas.

Mostre a vida, não o fetiche.             

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