
40. Sobrevivendo à pandemia
#pratodosverem | Descrição da imagem: a foto traz um caderno espiralado onde se vê um texto cheio de marcações. Sobre ele, há um frasco pequeno de álcool em gel e uma caneta vermelha e outra azul.
* publicado originalmente em maio de 2020
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Escreva.
Sim, eu sei que a situação está difícil e sei principalmente que, por mais que não liguemos a televisão nos jornais, por mais que evitemos o bombardeio de informações via redes sociais, há uma espécie de "ambiente coletivo de desespero". É complicado. Eu mesmo, nos primeiros dias das notícias sobre a pandemia no Brasil, fiquei travado. Não conseguia evoluir. Eu pegava o caderno ou o celular ou o notebook para escrever e não vinha nada. Minha mente estava voltada para as notícias sobre o coronavírus e o fato de eu ser jornalista só piorou as coisas. Eu vou atrás da informação, já faz parte do meu DNA. E para um repórter, por mais que eu esteja afastado da área há algum tempo, o momento atual guarda algo entre o excitante e o desespero.
Mas eu precisava parar. Eu precisava parar de ver tantos jornais porque estava me matando. Não o vírus, mas o desalento.
Se há algo que eu sempre reclamei do Jornalismo é o modo como há uma busca pela desgraça. E, sim, isso é um fato. Por mais que não haja notícias tão "boas" por estes tempos, percebo que também há um transbordamento de notícias ruins. Não, não é a "histeria" dita irresponsavelmente pelo presidente. Longe disso. Mas, sejamos sensatos, a divulgação de minuto a minuto do número de casos e mortes no Brasil e no Mundo, as tabelas, as coletivas, os gráficos, os depoimentos, o choro, a raiva, o desespero, tudo contribui para minar resquícios de esperança; minar nossa saúde mental.
No entanto, é a função do Jornalismo: informar. Eles estão certos. Paciência.
Nossa função, portanto, é FILTRAR.
Saber que morreu alguém de 12 anos na Bélgica fará alguma diferença na tua vida? Ver as projeções de gráficos com centenas de milhares de mortos nos Estados Unidos impactará em tua vida? Acompanhar minuto a minuto as notícias te trará o quê além de ansiedade? Se você não tiver tranquilidade e serenidade para lidar com tudo o que absorver, as chances de surtar são elevadas. Não surtar de enlouquecer, mas surtar de entristecer.
Afasta-se.
Algo que fiz foi determinar horários para assistir ou procurar pelos jornais. Assim, eu leio alguns de manhãzinha, assisto ao jornal local ao meio-dia e ponto. Acabou. O restante das minhas horas são dedicadas a fazer cursos online, ler, Netflix, cozinhar, brincar com a minha cachorra e, sim!, escrever. Eu me afastei do turbilhão de notícias e, paralelamente, o turbilhão da minha mente cessou. Voltei a escrever como fazia antes.
O ponto é: não pare de escrever.
Eu digo muito que a escrita é um abraço à distância e nunca precisamos de tantos abraços virtuais como agora.
Mantenha a cabeça erguida, respire fundo e escreva.
Pode demorar, mas vai passar.
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