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31. Como escrever cenas de ação?

#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se a fotografia de uma cena de luta com dois Henggo saindo no  soco. Ambos vestem calções pretos e calçam luvas. O da esquerda parece prestes a cair, desequilibrado após o soco desferido pelo Henggo do lado direito.

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Conduzir o leitor por uma narrativa que consiga exprimir todos os sentimentos necessários, ambiente-o de modo a que aquele cenário soe plausível e balanceie as descrições para não cair no exagero, é um desafio e tanto. Uma frase a mais, uma palavra fora do lugar, uma sequência de movimentos mal construída e a atenção do público pula para fora do texto que nem pipoca. E essa necessidade de prender a pessoa e imprimir agilidade, angústia e surpresa é ainda mais necessária quando falamos sobre cenas de ação.

Um exercício que me ajudou muito a escrever cenas assim foi pegar o trecho de algum filme, sei lá, "Velozes e Furiosos", e descrever o que estou vendo na tela, quadro por quadro. Sim, é chato! Mas calma... Depois, eu lia essa transcrição em voz alta, via quais partes ficavam incoerentes ou cansativas e aos poucos fazia ajustes na narrativa para ganhar fluidez. Com o tempo, esse processo ficou mais tranquilo e a cada filme, a cada cena que eu me desafiava a transcrever, a escrita da sucessão de ações se tornava mais automática.

Creio que o ponto central é não descrever soco por soco, chute por chute, pois aí fica cansativo. É necessário dinamizar o enredo, trazer algo que vá além do óbvio e jogar a mente de quem está lendo para várias direções. Por exemplo:

"[...] Artur ergueu o punho e levou em direção a Daniel, mas o primo conseguiu ser mais rápido e agachou-se. Aproveitou o embalo para chutar a canela do outro. Contudo, tal qual uma borracha que vai de encontro a um poste, percebeu na hora a burrice do ato: ele escutou o osso de sua perna se quebrar. Quando ele rolou de lado com um grito de dor, Artur aproveitou para dar uma chicotada em seu rosto. O golpe o levou para lembranças do passado, quando apanhara na escola. E foi isso que o fez se erguer e partir com tudo para cima do ex-amigo [...]"

Você precisa apontar para onde o leitor deve olhar assim como uma diretora aponta a câmera para aquilo que é mais relevante em um filme. Contudo, diferente de uma narrativa visual, nos livros você tem o bônus de entrar na mente desses personagens durante a cena sem sair daquele momento de batalha. Enquanto briga contra Artur, Daniel relembra do passado e isso o faz se enfurecer ainda mais. É uma frase na descrição que expande as possibilidades da trama; dá outra perspectiva. Um excessivo descritivo seria prejudicial à cena. Imagine algo como

"[...] Artur ergueu o punho direito e com rapidez levou em direção à face de Daniel quase lhe acertando um soco no lado esquerdo do rosto. O menino, então, mesmo assustado, agachou-se de encontro ao chão duro daquele lugar e aproveitou para chutar a canela direita do seu pior inimigo para tentar desequilibrar o garoto e fazê-lo cair. [...]".

É a mesma descrição? Sim. No entanto, aqui dá a sensação de mais rapidez. A narração da cena usa mais adjetivos e advérbios e direciona a percepção dos leitores para momentos específicos da ação, como se fossem quadros de uma história em quadrinho. Funciona? Sim, também funciona. Mas aqui usamos apenas uma sentido: a visão.

Lembre-se de usar todos os nossos sentidos, brincar com as sensações. Faça com que o público ouça essa batalha, sinta o gosto da terra quando o personagem cair no chão, cheire o sangue que escorre do nariz, tateie em busca de uma arma, veja as possibilidades ao entorno e tenha emoções com tudo o que acontece.

Assim, fica a regra: quanto mais descrições durante cenas desse tipo, mais você reduzirá a velocidade dos movimentos e mais dará a sensação de que tudo está sendo filmado em slow motion, em câmera lenta. Sabe quando nos filmes dois personagens lutam e a câmera foca na gota de suor no rosto de um, na veia que pulsa no pescoço do outro, no olhar, no esgar da boca e só aí vem um golpe? Quando traduzimos a luta por meio das sensações, o efeito é semelhante. Por outro lado, quando tudo é mais frenético, quase em um modo quadro-a-quadro, sem muito tempo para suposições ou pausas para respirar, a sucessão de efeitos é mais rápida e tem foco somente da batalha.

Aí, vai da tua decisão do que usar e perceber o que a trama pede. Em ambos os casos, a palavra-chave é moderação.

E não se esqueça da regra de ouro do nosso ofício: escrever é só o primeiro passo, é na reescrita que ajustamos as coisas. Portanto, vai fazer cenas assim? Treine bastante, escreva e reescreva. Não tenha medo de cortar algumas partes. Quando sentir que a cena tem dinâmica e chega mesmo a tirar fôlego, verás que o ponto ideal chegou.

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