#pratodosverem | Descrição da imagem: foto aproximada de uma folha de papel onde se leem vários tópicos referentes a estudos de escrita criativa. Entre as palavras, destacam-se os termos "enredo", "trama" e "fatia de vida". Sobre o papel, à direita, veem-se dedos que seguram uma caneta.

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1) Observe as pessoas no teu entorno. Observação de trejeitos e maneirismos é essencial. "Pesque" o modo de olhar, como as mãos se movem, os pequenos detalhes da sedução, o peso jogado de uma perna para a outra, os medos, a respiração, as pausas; atente para o ritual de tocar no cabelo, como dirigem, como movimentam as mãos a depender da emoção vivenciada. Observe para onde os olhos das pessoas passeiam enquanto elas conversam. Deguste os vícios de linguagem, como as pessoas gaguejam, como algumas falam mais rápido, outras mais lento e note como isso influencia na fala. E preste atenção às pausas! Lembre-se: um diálogo também está no silêncio e na qualidade desses silêncios;

2) Escreva os diálogos de modo a deixar a conversa fluir. Não tenha medo de praticamente transcrever como falamos na vida real. Claro, precisamos adaptar para o papel, contudo, essa transcrição frase a frase já é um ótimo treino. Um exercício é pegar a cena de um filme que você gosta e passar tudo para o papel. Transcreva as falas e também descreva o percurso do diálogo, o entorno, a sucessão de ações das personagens. Quer um exemplo? Note o diálogo abaixo:

"[...] Antônio coçou a cabeça e tomou fôlego ao olhar para o rapaz.

— Quanto isso via me custar?

— Sei lá, pai... Uns trezentos, quatrocentos reais! Eu não perguntei...

— Tu não perguntaste?! – O homem balançou a cabeça e olhou pela janela. Aquela seria uma tarde de chuva, fora e dentro de casa. Ao menos, pensou, esperava que a água lavasse certas sujeiras. — Tá certo, Lúcio. Tá certo. Tu não perguntaste o preço.

Levantou-se da cadeira e caminhou até o aparador da sala. A mãe lhe dera aquele móvel quando ele se mudara para aquela casa. E nada mais. "Conquiste tuas próprias coisas agora. Formou família? Sustente.", ela lhe dissera. Antônio passou a mão pelo tampo de vidro e batucou com os dedos. Atrás de si, ele sabia, Lúcio acompanhava cada um dos seus movimentos. O homem abriu uma gaveta e retirou algo de dentro. Ao se virar, o filho arregalou os olhos.

— Ah, não!

— Ah, sim! Vai, sim! Eu não vou te dar trezentos reais de graça, não senhor! Se quiser o dinheiro, vai ter que me ajudar.

— M-Mas... O pessoal!

— O que tem o pessoal?

— Eles... Eles vão zoar com minha cara quando me verem entregando papel!

Antônio sustentou o contato visual com o rapaz por tempo suficiente para notar os primeiros pelos da barba, a mudança na musculatura do rosto e o quanto ele parecia cada vez mais disposto a mostrar traços da mãe.

"Inclusive no pensamento...", concluiu.

— Tá certo, Lúcio. Então, tu vais lá no "pessoal" e pede dinheiro para eles. Tá bom? Eu – jogou os panfletos no aparador — só tenho isso pra te oferecer.

E saiu da sala. [...]" (trecho de um conto do autor)

Perceba os momentos de silêncio, o modo como a cena flui, como a fala de um personagem puxa a fala do outro; a forma como o cenário imerge no diálogo e é usado para enfatizar certas coisas e deixar no leitor um mistério. O corpo se movimenta, o personagem olha pela janela, caminha, toca, percebe, pensa... Nós fazemos isso. Pois leve esses elementos para o teu texto a fim de dar uma sensação de progressão na cena e gerar empatia com o público;

3) Abuse do conjunto de pontuações que temos na língua portuguesa. Reticências, ponto e vírgula, vírgula, hífen. Ponto final, ponto continuando, travessões, aspas, parênteses, tudo faz parte da riqueza de um diálogo. Saiba onde e como usar e você recheará teus diálogos com emoções. Reticências, por exemplo, causam aquela sensação de quebra, de uma frase incompleta porque a pessoa pode estar receosa de continuar a falar. Exclamações podem enfatizar algo, indicar gritos sem precisar recorrer a letras maiúsculas no meio do texto. Aspas trazem escárnio, ironia para alguma expressão ou alguma palavra dita pelos personagens. Enfim, você tem um leque de possibilidades ao teu dispor. Use-as;

4) Reescreva teus diálogos até o ponto em que, quando tu leres, sinta o texto "correr", com frase puxando frase, ideia conectada à ideia. Sinta até mesmo as pausas para respirar. Esse é o ponto de um diálogo bem estruturado: quando parece que você está de fato conversando com alguém. Você chega até a escutar as vozes dos personagens. Busque por essa sensação;

5) Leia em voz alta. Sério: essa é a maior dica e serve para o texto inteiro. Lendo em voz alta, tu descobrirás pausas desnecessárias, lentidão e ausências. Essencial. Fazemos muito isso nas redações de jornal para verificarmos se o texto tem "barrigas" (partes que quebram a fluidez do texto), erros ortográficos e também para perceber como está o encaixe entre frases, palavras e parágrafos. Experimente;

6) Lembre-se de que "diálogos desaceleram a trama, descrições a aceleram", assim, cuide de balancear o uso dos dois. Há pessoas que descrevem tanto, mas tanto!, que o texto engessa. Por outro lado, há aquelas que de tantos diálogos transformam o livro quase em um roteiro de falas para o teatro. Cuide para harmonizar esse jogo;

7) Busque por leitores betas. Um leitor beta sincero te indicará como esses diálogos soam e se fazem sentido para o contexto da obra. Principalmente, não tenha medo de escutar críticas. E não tenha medo de perguntar! "Esse diálogo te causou qual sensação?", "Você acha que o personagem falaria isso?", "Essa conversa entre eles leva a algum lugar?". Questione. Só tome cuidado para que você diferencie o que é birra do leitor do que de fato é uma dica útil. Por isso, a necessidade de leitores betas eficientes e dispostos a te ajudar.

Diálogos bem construídos e coerentes com a trama prendem o leitor e geram empatia. É sucesso.

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