#praTodosVerem | Descrição da imagem: o personagem Henggoinho aparece sentado sobre o símbolo do infinito.

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Tem muitos no Wattpad que pensam que representatividade é entupir o texto com pessoas gays, lésbicas, trans, negros, mulheres, gordos, cegos, etc... Sem contexto, sem cuidado, sem revelar a realidade vivida por cada grupo, isso só serve para inflar o ego do autor que dirá aos berros que "MEU LIVRO É UNIVERSAL E REPRESENTATIVO". Não, não é. Teu livro é só uma farsa que busca se aproveitar do fato de que, ainda bem!, a sociedade está debatendo mais esses temas. E se você quer fazer parte disso, por favor, faça com respeito.

Como o próprio nome sugere, representatividade basicamente é a representação de um grupo que é considerado como minoria social. Contudo, tenha em mente que essa minoria não é quantitativa, mas uma minoria de representação de fala. Por exemplo, algumas pesquisas sugerem que cera de 10% da população mundial seja LGBTQIAP+. Se essa porcentagem se confirmar, sejamos sensatos que setecentos e cinquenta milhões de pessoas não são uma minoria, né? No entanto, devido a fatores religiosos, políticos, ideológicos, formação das sociedades, violência, etc, a maioria dessas pessoas não se declara e isso diminui o poder de representatividade, além de dar aos detratores a falsa sensação de que "é só um punhado de gente querendo mais direitos".

Mas se falarmos sobre a população negra, por exemplo, o conceito de minoria fica ainda mais difuso. Se olharmos apenas para o Brasil, os negros são quase 60% da população brasileira. Portanto, há quantidade, mas falta representatividade. E é nesse ponto que os nossos livros entram.

Nossos textos, nossas histórias, são púlpitos que conseguem gerar reflexão de forma lúdica. Sem precisarmos de tons professorais, formais, nós entramos na mente das pessoas, as puxamos para dentro de nossas narrativas e temos a oportunidade de gerar mudanças, mesmo que seja em apenas uma única pessoa.

É uma semente plantada.

O problema é quando a pessoa tem essa vontade de traduzir a obra com personagens que tragam representatividade, mas ela acaba por reproduzir estereótipos que não contribuem para o debate.

Assim, surgem mulheres que aceitam estupradores como se fosse normal, surgem homens que são abusados e gostam, surgem relacionamentos aparentemente "perfeitos", mas que são abusivos; surgem personagens negros que nada mais são do que uma pessoa negra vivendo a vida de pessoas brancas, surgem periferias europeizadas, mulheres fortes, mas que reproduzem o estereótipo de beleza sueco; temos pessoas gordas que não enfatizam o orgulho do próprio corpo, personagens que parecem aglutinar em si todos os distúrbios psicológicos do planeta e assim vai.

Observe: existem pessoas que se encaixam nos exemplos que dei acima? Sim, é claro. Somos sete bilhões e meio de habitantes neste planeta. Portanto, temos sete bilhões e meio de formas de ver o mundo e sete bilhões e meio de possibilidades. Contudo, tenha a sensatez de perceber que os exemplos citados não contribuem em nada para desmistificar padrões sociais e gerar mais equidade social.

Os exemplos citados são a exceção da exceção, não a regra.

Empodere as pessoas. Faça com que uma mulher negra e lésbica que leia o teu livro e encontre uma personagem que seja negra e lésbica, faça com que essa leitora seja impulsionada a erguer a cabeça.

Sendo assim, se pegarmos os mesmos exemplos citados antes, molde mulheres que denunciam seus estupradores e lutam junto com outras mulheres para condenar o agressor. Exalte essa força de mulheres apoiando mulheres, a sororidade. Faça com que os homens que foram abusados enfrentem as piadinhas, encarem a polícia e denunciem sem medo de serem taxados de gays. Mostre os relacionamentos aparentemente "perfeitos", mas aproveite para desconstruir o amor romântico e alertar para como coisas "fofas" podem esconder abusos. Traga personagens negros que vivenciem as dores de uma pessoas negra, lute contra o racismo e empodere-se para peitar a sociedade. Estude afrofuturismo. Largue as periferias europeizadas e olhe para cá! Nós temos muitos problemas. Olhe para as nossas periferias e aproveite teu livro para alertar para a falta de saneamento básico, para a falta de escolas, para a falta de cultura, para a cegueira que o estado tem em relação a esses lugares. Faça mulheres fortes brasileiras que encaram nossas cidades. Mulheres pretas, mulheres trans, mulheres lésbicas, mulheres da favela, mães solteiras, avós que criam os netos, mulheres que tiveram a ousadia de ser mais do que o país impõe. Dê força para essas mulheres. Mostre pessoas gordas que têm orgulho do próprio corpo e que enfatizam isso a todo o momento. Mostre a luta delas. Vai fazer um personagem com problemas psicológicos? Ótimo. Estude! Você gostaria de ter um problema e ler um livro onde ele é estereotipado ao ponto de ser quase ridicularizado?

Já há muitos livros mal escritos no Wattpad. Faça diferente. Uma menina me disse que fazia como os outros porque tentou fazer diferente e os leitores reclamaram. Mande-os pro inferno. É sério. Ou tu vais fazer o errado só para ganhar mais visibilidade? Se for assim, entra pra política.

Se não for para ajudar as pessoas que já sofrem muito e morrem muito, por favor, fica no básico e não atrapalhe o árduo processo de amadurecimento e de conscientização que o país precisa passar.

E enquanto fica lá no básico, no café com leite que a maioria gosta, vá estudar para sair da bolha.  

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