#praTodosVerem | Descrição da imagem: vê-se uma foto aproximada do rosto do autor. Ele está com nariz e orelhas de porco e tem até bochechas com bolotas rosadas e fofas. A Peppa Pig barbuda chegou.

***

Semanas atrás eu fui desafiado pela  Vitória Melo (VitorialMelo), meio que de brincadeira, a perceber algo sobre a Peppa Pig para ver o que a personagem traria como lição para nós, wattpaders. E aceitei o desafio, vejam só! Foi interessante fazer essa reflexão.

Peppa Pig é uma personagem de desenho infantil, mais voltada para crianças muito pequenas (menos de sete anos de idade), que busca estimular nos pequeninos a curiosidade, a criatividade e a percepção de mundo através da repetição. Em constantes quebras da quarta parede, a porquinha e sua família conversa com o público, faz perguntas e aponta questões de modo muito simples. E funciona, afinal, Peppa é condizente com o público-alvo da atração.

A questão que nos conecta com o Wattpad é o modo como muitos autores da plataforma trazem esse tom professoral para os seus textos, por vezes gerando ondas e ondas de repetições para enfatizar uma ideia. É como se a pessoa não confiasse ou na própria habilidade para explicar alguma coisa ou na capacidade intelectual dos leitores dela.

O bonito do nosso ofício literário é a oportunidade que temos de estender a mão para que as pessoas embarquem em jornadas de conhecimento através dos nossos textos. Explicamos coisas, pesquisamos, estimulamos, questionamos, apontamos soluções, provocamos reflexões. Contudo, devemos ter um limite para não "emburrecer" os nossos textos. Há pessoas, por exemplo, que explicam as mesmas coisas capítulo a capítulo. Só faltam escrever no meio do parágrafo uma mensagem do tipo "Olha, você está vendo isso aqui que eu estou apontando? Isso aqui é importante, viu?". E, frases depois, faz a mesma coisa.

Calma.

É meio agoniante ficar nessa dúvida se alguma ideia ficou clara ou não. Por isso, a necessidade de ter leitores beta ou, se não tiver, terminar a escrita e deixar o texto descansar por um tempo antes de pegar para reescrever. Isso porque, diante desse tempo de descanso, quando você retornar àquela obra, o teu olhar estará menos apegado e você conseguirá perceber as falhas, inclusive, se alguma ideia precisa ou não ser elaborada melhor.

Diferente da nossa adorada porquinha Peppa Pig, se o teu público-alvo não for de crianças na primeira e segunda etapa da infância, você não precisa explicar tudo da tua obra. Um adolescente que lerá o teu livro tem plena capacidade de entender entrelinhas. Estimule isso. E se lembre: um texto também é feito de silêncios. Nem tudo deve estar explícito, pois são essas pequenas ausências calculadas que enriquecem a narrativa.

Os silêncios estimulam os leitores a moldarem a história nas próprias mentes e criarem as próprias conclusões.

E vou te dizer: quando os leitores pegam um livro onde há esse jogo, onde eles se sentem estimulados a pensar, a ir atrás, a fazer conexões entre as ideias, esses leitores se apegam aos livros.

Diferente disso, se o teu texto for cheio de obviedades e parecer que você trata o público como pequenas crianças incapazes de tirar conclusões por si mesmas, você afastará as pessoas.

Deixe a Peppa Pig com as crianças e pare de encher o texto com obviedades.

***