108. Cuidado na hora de criar surpresas no texto
#praTodosVerem | Descrição da imagem: vê-se uma imagem muito aproximada (muito mesmo!) dos olhos do autor arregalados por trás dos óculos.
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Uma das sensações mais loucas que já tive no Wattpad foi quando eu acompanhava um livro e, do nada, em uma cena que pipocou no meio do texto, o personagem pegou uma faca e cortou as duas pernas. Não, o livro não era de terror. Era uma fantasia infanto-juvenil. O dito cujo era um elfo de dez anos de idade que decidiu impactar o reino onde vivia.
Impactou, né? O reino e o público.
Veja: o problema não é a cena em si. O problema é que o autor fez isso apenas para gerar uma surpresa nos leitores; fez para "causar". A trama, o percurso narrativo até ali, não havia criado uma base para que essa cena ganhasse relevância. No intuito de "chocar" o público, ele destruiu a própria história, perdeu-se dois capítulos depois e não finalizou a obra.
Surpresas são bem-vindas. Elas deixam nos leitores aquele gostinho de "quero mais", sabe? Aquela sensação de mistério; sensação de que "Opa, esta história aqui tem uma reviravoltas tensas...". Mas isso só acontece se houver um sentido para a inserção dessa surpresa no texto. Quando a pessoa gera esse clima surpreendente sem a elaboração de um conflito anterior que desemboque nesse ponto e ciente do que virá em seguida, fica claro para o público que aquela cena foi feita sem planejamento algum. E outro problema relacionado é quando essa surpresa vem "sem querer", por causa de um erro na elaboração da história.
Por exemplo, imagine que no capítulo quatro a personagem, Joanna, se casa com um homem, tem filhos e isso é reiterado ao longo da narrativa. Então, chega o capítulo dezessete e a primeira frase é "Joanna e a esposa chegaram à clínica de fertilização e deram-se as mãos." Como assim? Cadê o fulano, o marido? Aí, a autora respondeu: "Eita, foi mal!". E ficou por isso mesmo! Surpresa! E sim, isso aconteceu em um livro.
Impacte os leitores nos momentos certos, ciente do que você faz. Ao fazer isso com planejamento, você toma as rédeas das sensações que o público terá e pode até mesmo manipular esses sentimentos. Brinque com isso, mas desde que você organize antes.
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